Fanfics Brasil - Capítulo 36 Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.)

Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente


Capítulo: Capítulo 36

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Três soldados da Audácia me perseguem. Eles correm em uníssono, e o som de seus pés ecoa pelo beco. Um deles atira, e eu mergulho, arranhando as palmas das mãos no chão. A bala atinge o muro à minha direita, e pedaços de tijolo voam por toda a parte. Eu dobro a esquina em um salto e engatilho minha arma.
Eles mataram minha mãe. Aponto a arma para o beco e atiro cegamente. Não foram exatamente eles, mas isso não importa, não pode importar e, assim como a própria morte, não pode parecer real neste instante.
Ouço apenas uma pessoa correndo agora. Seguro a arma com as duas mãos e me posiciono no final do beco, apontando-a para o soldado da Audácia. Meu dedo aperta o gatilho, mas não com força o suficiente para atirar. O homem correndo na minha direção não é um homem, mas um garoto. Um garoto com o cabelo desarrumado e uma ruga entre as sobrancelhas.
Afonso. Seu olhar é vago e sua mente está vazia, mas mesmo assim é Afonso. Ele interrompe a corrida e me encara, com os pés fixos no chão e a arma levantada. Imediatamente, vejo seu dedo sobre o gatilho e ouço o som de sua arma sendo engatilhada, e atiro. Meus olhos estão bem fechados. Não consigo respirar.
A bala atingiu sua cabeça. Sei disso porque foi onde eu mirei.
Viro-me sem abrir os olhos e me afasto do beco, cambaleante. Esquina da North com a Fairfield. Preciso conferir a placa de rua para descobrir onde estou, mas não consigo lê-la; minha visão está embaçada. Pisco algumas vezes. Estou a apenas alguns metros do prédio onde se encontra o que sobrou da minha família.
Ajoelho-me ao lado da porta. Christopher diria que é tolice fazer qualquer barulho, pois poderia atrair os soldados da Audácia.
Encosto a testa na parede e solto um grito. Depois de alguns segundos, cubro a boca com as mãos para abafar o som e solto outro grito, um grito que se transforma em soluço. A arma cai ruidosamente no chão. Ainda posso ver o Afonso.
Nas minhas lembranças, ele sorri. Seu lábio está curvado. Seu dentes são retos. Há luz em seus olhos. Ele ri, graceja, mais vivo em minha memória do que eu estou no mundo real. Era ele ou eu. Eu escolhi a mim. Mas me sinto morta também.


 


 


 


 


                                                 +++


 


 


 


 


 


Esmurro a porta duas vezes, depois mais três vezes e depois mais seis, como a minha mãe disse que eu deveria fazer.
Enxugo as lágrimas do meu rosto. Esta será a primeira vez em que verei meu pai desde que o abandonei e não quero que ele me veja arrasada e soluçando.
A porta se abre e vejo Caleb diante de mim. Fico atordoada ao vê-lo. Ele me encara por alguns segundos, depois me agarra em seus braços, pressionando a mão contra a ferida em meu ombro. Mordo o lábio para reprimir um grito de dor, mas mesmo assim deixo escapar um gemido, e Caleb se afasta repentinamente.
– Dulce. Meu Deus, você levou um tiro?
– Vamos entrar – digo, com a voz fraca.
Ele passa o dedão sob os olhos, enxugando-os. A porta bate atrás de nós.
A sala está mal iluminada, mas vejo rostos conhecidos, de antigos vizinhos, colegas de escola, companheiros de trabalho do meu pai. Meu pai, que me encara como se eu fosse uma assombração. Víctor. Só de olhar para ele, sinto uma pontada no peito. Christopher...
Não. Não farei isso; não pensarei nele.
– Como você descobriu este lugar? – diz Caleb. – Mamãe encontrou você?
Eu concordo com a cabeça. Também não quero pensar na minha mãe.
– Meu ombro – digo.
Agora que estou segura, a adrenalina que me ajudou a chegar até aqui está diminuindo e a dor está piorando. Eu caio de joelhos. A água pinga da minha roupa sobre o chão de cimento.
Um soluço surge dentro de mim, desesperado para ser liberado, e eu o engulo de volta.
Uma mulher chamada Tessa, que vivia na nossa rua, desenrola uma esteira para mim. Ela era casada com um membro do conselho, mas não o vejo aqui. Ele provavelmente está morto.
Outra pessoa traz uma luminária de um canto da sala até o outro, para que tenhamos luz.
Caleb pega um kit de primeiros socorros e Susan traz uma garrafa de água para mim. Não há lugar melhor para precisar de ajuda do que um recinto cheio de membros da Abnegação. Eu olho para Caleb. Ele está usando roupas cinza novamente. A lembrança dele no complexo da Erudição parece ter sido apenas um sonho agora.
Meu pai vem até mim, coloca meu braço sobre seus ombros e me ajuda a atravessar o
quarto.
– Por que você está molhada? – pergunta Caleb.
– Eles tentaram me afogar – respondo. – Por que você está aqui?
– Fiz o que você pediu. O que mamãe pediu. Eu pesquisei o soro de simulação e descobri que a Jeanine estava desenvolvendo transmissores de longa distância para que seu alcance fosse maior, o que me levou a descobrir informações a respeito da Erudição e da Audácia... de qualquer maneira, eu abandonei a iniciação quando descobri o que estava acontecendo. Eu queria avisar você, mas já era tarde demais – diz ele. – Sou um sem-facção agora.
– Não, você não é – diz meu pai severamente. – Você está conosco.
Ajoelho-me na esteira e Caleb corta um pedaço da minha camisa com uma tesoura médica.
Ele retira o pedaço quadrado de tecido, revelando primeiro a tatuagem da Abnegação no meu ombro direito, depois os três pássaros na minha clavícula. Caleb e meu pai encaram as duas tatuagens com o mesmo olhar de fascinação e susto, mas não dizem nada a respeito.
Deito-me de barriga para baixo. Caleb aperta minha mão contra a sua enquanto meu pai pega o soro antisséptico do kit de primeiros socorros.
– Você já retirou balas de alguém alguma vez na vida? – pergunto, com uma risada trêmula por trás da minha voz.
– Você ficaria surpresa com as coisas que eu sei fazer – responde ele.
Eu poderia me surpreender com muitas coisas a respeito dos meus pais. Penso na tatuagem da minha mãe e mordo o lábio.
– Isso irá doer – diz ele.
Não vejo a faca entrando, mas sinto. A dor se espalha pelo meu corpo e grito por entre dentes cerrados, esmagando a mão de Caleb. Por trás do meu grito, ouço a voz do meu pai me pedindo para relaxar as costas. Lágrimas escorrem dos cantos dos meus olhos e sigo sua ordem. A dor começa novamente e sinto a faca mexendo-se sobre a minha pele, e continuo gritando.
– Consegui – diz ele. E solta algo no chão, que faz um som metálico.
Caleb olha para meu pai, depois para mim e então solta uma risada. Faz tanto tempo que não o ouço rir que o som faz com que eu chore.
– Qual é a graça? – digo, fungando.
– Pensei que nunca mais veria a gente juntos novamente – diz ele.
Meu pai limpa a pele ao redor da ferida com algo gelado.
– Hora de costurar – fala.
Faço que sim com a cabeça. Ele passa o fio na agulha com tanta facilidade que parece já ter feito isso um milhão de vezes.
– Um – começa ele –, dois... três.
Eu contraio a mandíbula e me mantenho quieta desta vez. De todas as dores que senti hoje, desde a dor de levar um tiro, quase morrer afogada e retirar a bala, à dor de encontrar e perder minha mãe e Christopher, esta é a mais fácil de suportar.
Meu pai termina de suturar a ferida, dá um nó no fio e cobre os pontos com um curativo.
Caleb me ajuda a sentar e separa as bainhas de suas duas camisas, tirando a de manga comprida e oferecendo-a para mim.
Meu pai me ajuda a passar o braço direito pela manga da camisa, e a gola pela minha cabeça. Ela é larga e tem um cheiro fresco, o cheiro do Caleb.
– E então – diz meu pai suavemente. – Onde está sua mãe?
Eu abaixo a cabeça. Não quero dar-lhe a notícia. Não queria nem saber dela eu mesma.
– Ela se foi – digo. – Ela me salvou.
Caleb fecha os olhos e respira fundo.
A expressão do meu pai é de dor, mas ele rapidamente se recompõe, desviando os olhos úmidos e acenando com a cabeça.
– Isso é bom – diz ele, com a voz contida. – É uma boa morte.
Se eu falar agora, irei me descontrolar, e não posso fazer isso agora. Então, apenas aceno de volta.
Eric disse que o suicídio de Al foi um ato de coragem, mas ele estava errado. A morte da minha mãe foi um ato de coragem. Lembro o quão calma e determinada ela estava. Não foi corajosa apenas por ter morrido por mim; foi corajosa por ter feito isso sem dizer nada, sem hesitar e sem ter aparentado considerar outra opção. Meu pai me ajuda a levantar. Agora é hora de encarar os outros que estão ali. Minha mãe me pediu que os salvasse. Por isso e por que sou da Audácia, é minha responsabilidade liderá-los. Mas não tenho ideia de como assumir essa responsabilidade agora.
Víctor se levanta. A imagem dele atingindo meu braço com um cinto invade minha mente quando o vejo, e meu peito aperta.
– Não estaremos seguros aqui por muito tempo – diz Víctor finalmente. – Precisamos sair da cidade. Nossa melhor opção é alcançar o complexo da Amizade e esperar que eles nos acolham. Você sabe alguma coisa a respeito da estratégia da Audácia, Dulce? Eles irão parar de lutar à noite?
– Isso não tem nada a ver com a estratégia da Audácia – digo. – Tudo isso foi bolado pela Erudição. E eles não estão exatamente dando ordens.
– Não estão dando ordens? – diz meu pai. – O que você quer dizer com isso?
– O que eu estou tentando dizer é que noventa por cento da Audácia agora é composta de sonâmbulos – digo. – Eles estão em uma simulação e não sabem o que estão fazendo. O único motivo para eu não estar como eles é que eu sou... – Hesito antes de terminar a frase. – O controle mental não me afeta.
– Controle mental? Então eles não sabem que estão matando pessoas? – pergunta meu pai, com os olhos arregalados.
– Não.
– Isso é... terrível. – Víctor balança a cabeça. O tom solidário de sua voz soa falso para mim. – Imagina quando eles acordarem e descobrirem o que fizeram...
O silêncio toma conta da sala, provavelmente enquanto os membros da Abnegação se imaginam no lugar dos soldados da Audácia, e é aí que eu me dou conta do que devemos fazer.
– Precisamos acordá-los – digo.
– O quê?
– Se nós acordarmos os membros da Audácia, eles provavelmente se revoltarão quando descobrirem o que está acontecendo – explico. – A Erudição não terá mais um exército. Os membros da Abnegação não serão mais assassinados. Tudo isso irá terminar.
– Não será tão simples assim – diz meu pai. – Mesmo sem a Audácia para ajudá-los, a Erudição encontrará outra maneira de...
– E como iremos acordá-los? – pergunta Víctor.
– Encontramos os computadores que controlam a simulação e destruímos os dados – digo. – O programa. Tudo.
– Isso é mais difícil do que parece – diz Caleb. – Ele poderia estar em qualquer lugar. Não podemos simplesmente ir até o complexo da Erudição e começar a vasculhar tudo.
– Ele está... – Franzo as sobrancelhas. Jeanine. Jeanine estava falando algo importante quando eu e Christopher entramos em seu escritório. Importante o bastante para desligar o telefone assim que chegamos. Não podemos simplesmente deixá-lo desprotegido. E, então, quando ela estava mandando Christopher embora: enviem-no para a sala de controle. A sala de controle onde Christopher costumava trabalhar. Com os monitores de segurança da Audácia. E os computadores da Audácia.
– Ele está na sede da Audácia – digo. – Faz sentido. É lá que todos os dados a respeito dos membros da Audácia estão armazenados, então por que não controlar eles de lá?
Percebo vagamente que eu usei a palavra eles. Desde ontem, me tornei tecnicamente um membro da Audácia, mas não me sinto um. Também não sou da Abnegação.
– Você tem certeza? – pergunta meu pai.
– É um palpite informado, e é a melhor teoria que eu posso oferecer agora.
– Então, precisamos decidir quem vai e quem segue até a Amizade – fala ele. – De que tipo de ajuda você vai precisar, Dulce?
A pergunta me surpreende, assim como a expressão em seu rosto. Ele me encara como uma igual. Ele se dirige a mim como uma igual. Ou ele aceitou o fato de que eu agora sou uma adulta, ou aceitou o fato de que não sou mais sua filha. A segunda opção é a mais provável, e a mais dolorosa.
– Qualquer um que saiba e esteja disposto a disparar uma arma – digo –, e que não tenha medo de altura.



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Autor(a): Fer Linhares

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 13



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  • manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23

    Continua ❤️

  • manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21

    Brigadaaa! Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35

    Continuaaa! Faz maratonaaa!

  • manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08

    Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!

  • manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24

    Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora

  • manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16

    Cnttt

  • manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10

    Continuaaa

  • Postado em 25/09/2016 - 21:24:21

    Aaai deusss! Continuaaa


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