Fanfics Brasil - Capítulo 37 Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.)

Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente


Capítulo: Capítulo 37

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As forças da Erudição e da Audácia estão concentradas no setor da Abnegação, então, se conseguirmos escapar dele, teremos menos chances de encontrar dificuldades.
Não cheguei a decidir quem viria comigo. Caleb foi uma escolha óbvia, já que ele conhece boa parte do plano da Erudição. Marcus insistiu em vir, apesar da minha oposição, porque ele é bom com computadores. E meu pai agiu como se seu lugar no grupo já estivesse implícito desde o princípio.
Observo por alguns segundos os outros correrem na direção contrária, em direção à Amizade e à segurança, depois me viro, em direção à cidade e à guerra. Encontramo-nos ao lado dos trilhos do trem, que nos levarão até o perigo.
– Que horas são? – pergunto a Caleb.
Ele confere o relógio.
– Três e doze.
– Ele vai passar a qualquer instante.
– Ele vai parar? – pergunta ele.
Balanço a cabeça.
– Ele passa devagar pela cidade. Nós seguiremos o vagão por alguns metros, depois subiremos nele.
Pular para dentro de trens em movimento parece algo fácil para mim agora, natural. Não será tão fácil para os outros, mas não podemos parar agora. Eu olho para trás e vejo os faróis brilhando, dourados, em meio ao cinza dos prédios e das ruas. Faço um pequeno aquecimento com as pernas enquanto as luzes dos faróis aumentam cada vez mais, e então o vagão dianteiro passa por mim, e começo a correr. Assim que vejo um vagão aberto, acelero o passo para me manter ao lado dele e seguro a barra de metal à minha esquerda, lançando o corpo para dentro.
Caleb pula, caindo com força no chão e rolando o corpo para o lado para entrar, depois ajuda Víctor. Meu pai cai de barriga no chão, depois puxa as pernas para dentro. Eles se afastam da porta, mas eu me mantenho na beirada, com uma mão segurando a barra, assistindo à cidade passar por mim.
Se eu fosse Jeanine, mandaria a maior parte dos soldados da Audácia para a entrada acima do Fosso, no prédio de vidro. Seria mais inteligente entrar pela porta de trás, que requer que saltemos do topo de um prédio.
– Imagino que agora você se arrependa de ter escolhido a Audácia – diz Víctor.
Fico surpresa de não ter sido meu pai a dizer isso, mas ele, como eu, está assistindo a cidade passar. O trem passa pelo complexo da Erudição, que está escuro agora. O lugar parece tranquilo a distância, e deve estar tudo tranquilo mesmo dentro das suas paredes, distantes do conflito e da realidade que seus membros causaram.
Eu balanço a cabeça.
– Nem mesmo após os líderes da sua facção decidirem se juntar a uma conspiração para derrubar o governo? – pergunta Víctor rispidamente.
– Eu precisava aprender algumas coisas.
– Como ser corajosa? – diz meu pai suavemente.
– Como ser altruísta – digo. – As duas qualidades muitas vezes são a mesma coisa.
– É por isso que você tatuou o símbolo da Abnegação no ombro? – Caleb pergunta. Estou quase certa de que vejo o traço de um sorriso no semblante do meu pai.
Eu também esboço um sorriso e aceno com a cabeça.
– E o da Audácia no outro.


 


 


 


 


                                             +++


 


 


 


 


O prédio de vidro acima do Fosso reflete a luz do sol que bate em meus olhos. Eu estou em pé, segurando a barra ao lado da porta para manter o equilíbrio. Estamos quase lá.
– Quando eu disser para vocês pularem – digo –, pulem, o mais longe que conseguirem.
– Pular? – pergunta Caleb. – Estamos a sete andares de altura, Dul.
– Até um telhado... – continuo. Ao ver seu olhar de espanto, explico: – É isso o que eles chamam de teste de coragem.
Boa parte da coragem depende da perspectiva. Na primeira vez em que fiz isso, foi uma das coisas mais difíceis que eu já havia feito na vida. Agora, me preparar para saltar de um trem em movimento me parece algo insignificante, porque fiz coisas mais difíceis nas últimas semanas do que a maioria das pessoas farão em todas as suas vidas. Mesmo assim, nada disso se compara ao que estou prestes a fazer no complexo da Audácia. Se eu sobreviver, provavelmente farei coisas ainda mais difíceis no futuro, como viver sem uma facção, algo que nunca imaginei que fosse possível.
– Pai, vá você primeiro – digo, dando um passo para trás para ele poder se aproximar da beirada. Se ele e Víctor forem primeiro, posso calcular o tempo para que eles saltem da distância mais curta. Se tudo der certo, eu e Caleb conseguiremos pular longe o bastante para conseguir também, já que somos mais jovens. É um risco que preciso assumir.
O trem faz uma curva e, quando ele se alinha à beirada do prédio, eu grito:
– Pule!
Meu pai dobra os joelhos e se lança para a frente. Eu não espero para ver se ele conseguiu.
Empurro Víctor para a frente e grito:
– Pule!
Meu pai aterrissa no telhado, tão perto da beirada que fico sem ar. Ele se senta sobre os cascalhos, e empurro Caleb para a frente. Ele caminha até a beirada do vagão e salta sem que eu tenha que pedir. Dou alguns passos para trás para ter espaço para pegar impulso e me lanço para fora do carro logo que o trem alcança o final do telhado.
Por um instante, fico suspensa no vazio, depois, meus pés se chocam no cimento e eu caio para o lado oposto da beirada do telhado. Meus joelhos doem, e o impacto faz meu corpo estremecer e meu ombro latejar. Eu me sento, com a respiração pesada, e olho para o resto do telhado. Caleb e meu pai estão na beirada, com as mãos agarradas aos braços de Víctor. Ele não alcançou o telhado, mas também não caiu.
Alguma parte maligna dentro de mim torce: caia, caia, caia.
Mas ele não cai. Meu pai e Caleb o puxam para cima. Eu me levanto, limpando os cascalhos da calça. Pensar no que faremos a seguir me preocupa. Uma coisa é pedir para que pessoas pulem de um trem, e outra do telhado de um prédio.
– O que faremos a seguir é o motivo pelo qual perguntei se vocês têm medo de altura – digo, caminhado até a beirada do telhado. Ouço o som confuso dos seus passos atrás de mim e subo na mureta sobre a beirada. O vento atinge a lateral do prédio e afasta o tecido da camisa da minha pele. Eu olho para baixo, encarando o buraco no chão sete andares abaixo de mim, depois fecho os olhos enquanto o vento atinge meu rosto.
– Há uma rede no fundo – digo, olhando para trás. Eles parecem confusos. Ainda não entenderam o que estou pedindo que eles façam.
– Não pensem. Apenas pulem.
Eu me viro e, ao fazer isso, inclino o corpo para trás, desequilibrando-o. Desabo como uma pedra, com os olhos fechados e um dos braços esticados para sentir o vento. Relaxo os músculos o máximo possível antes de atingir a rede, que parece uma barra de cimento contra meu ombro. Eu cerro os dentes e rolo o corpo até a beirada, agarrando a barra de metal que sustenta a rede e lançando a perna para fora. Caio de joelhos na plataforma, com lágrimas embaçando meus olhos.
Caleb solta um grito curto, enquanto a rede se estende sob seu corpo, depois volta à posição original. Eu me levanto com certa dificuldade.
– Caleb! – sussurro. – Aqui!
Com a respiração pesada, Caleb se arrasta até a beirada da rede e joga o corpo para fora, atingindo a plataforma com força. Com uma careta de dor, ele se levanta com dificuldade e me encara, boquiaberto.
– Quantas vezes... você... já fez isso? – pergunta ele, arfando.
– Contando com esta, duas – respondo.
Ele balança a cabeça.
Quando meu pai atinge a rede, Caleb o ajuda a sair. Ao se levantar na plataforma, ele inclina o corpo para fora e vomita. Eu desço a escada e, ao terminar, ouço Víctor atingindo a rede e soltando um grunhido.
A caverna está vazia e os corredores se estendem em direção à escuridão.
Pelo que Jeanine disse, não há mais ninguém no complexo da Audácia além dos soldados que ela mandou de volta para vigiar os computadores. Se conseguirmos encontrar os soldados da Audácia, encontraremos os computadores. Eu olho para trás. Víctor está parado sobre a plataforma, branco como um fantasma, mas inteiro.
– Então, este é o complexo da Audácia – diz.
– Sim – falo. – E daí?
– E daí que eu nunca pensei que o conheceria – responde ele, passando a mão em uma das paredes. – Não precisa ser tão defensiva, Dulce.
Eu nunca havia percebido que seus olhos eram tão frios.
– Você tem algum plano, Dulce? – diz meu pai.
– Tenho. – E eu tenho mesmo. Só não sei quando exatamente o bolei.
Também não sei se ele irá funcionar. Posso contar com alguns fatores: não há muitos membros da Audácia no complexo, eles não costumam ser muito sutis, e eu farei de tudo para pará-los.
Descemos o corredor que leva ao Fosso, que conta com um foco de luz branca a cada três metros. Quando alcançamos o primeiro, ouço o som de um disparo e me atiro no chão. Alguém deve ter visto a gente. Eu me arrasto até a faixa de escuridão seguinte. A centelha do disparo brilhou no fundo do corredor, perto da porta que leva ao Fosso.
– Estão todos bem? – pergunto.
– Sim – responde meu pai.
– Então, fiquem aqui.
Eu corro até o canto do corredor. Os focos de luz são projetados da parede e, por isso, diretamente abaixo de cada um, há um fiapo de sombra. Sou pequena o bastante para me esconder neles se eu me virar de lado. Posso me esgueirar pelo canto do corredor e surpreender o guarda que atirou em nós antes que ele consiga ter a oportunidade de acertar um tiro no meu cérebro. Talvez.
Uma das coisas que eu devo à Audácia é a minha capacidade de estar sempre preparada para o perigo, o que ajuda a eliminar meu medo.
– Quem quer que esteja aí – grita uma voz –, entregue suas armas e levante as mãos sobre a cabeça!
Eu viro o corpo de lado e encosto as costas contra a parede de pedra. Eu me movimento rapidamente, passando um pé na frente do outro e me esforçando para enxergar à meia-luz.
Outro tiro rompe o silêncio. Eu alcanço o último foco de luz e paro por um instante sob a sombra, permitindo que meus olhos se adaptem à escuridão.
Não conseguirei vencer uma luta, mas, se eu me mover rápido o bastante, nem precisarei lutar. Pisando com cuidado, caminho em direção ao guarda que se encontra ao lado da porta.
Quando me encontro a poucos metros de distância, percebo que, mesmo na escuridão, reconheço o seu cabelo escuro, que está sempre brilhante, e seu nariz comprido com uma haste estreita.
É Peter.
Um calafrio atravessa a minha pele, passando em volta do meu coração, até as profundezas do meu estômago.
Seu rosto está tenso; ele não é um sonâmbulo. Olha ao redor, mas seus olhos vasculham o espaço acima e atrás de mim. A julgar pelo silêncio, ele não pretende negociar conosco; irá nos matar com certeza.
Molho os lábios com a língua, corro os últimos passos e jogo as costas da mão para cima. O golpe atinge seu nariz e ele grita, cobrindo o rosto com as duas mãos. Meu corpo é impulsionado por uma energia nervosa e, enquanto ele se esforça para tentar enxergar o que está acontecendo, eu chuto a sua virilha. Ele cai de joelhos e sua arma desaba no chão. Eu a agarro e encosto o cano na parte de cima da sua cabeça.
– Como você está acordado?
Ele levanta a cabeça e eu engatilho a arma, movendo uma sobrancelha enquanto o encaro.
– Os líderes da Audácia... avaliaram meu histórico e me retiraram da simulação – ele diz.
– Porque eles perceberam que você já tem tendências homicidas e não se importaria em assassinar algumas centenas de pessoas em plena consciência – digo. – Faz sentido.
– Não sou... homicida!
– Nunca conheci alguém da Franqueza que mentisse tanto. – Bato levemente com o cano da arma em sua cabeça. – Onde estão os computadores que controlam a simulação, Peter?
– Você não vai atirar em mim.
– As pessoas costumam superestimar meu caráter – digo baixinho. – Elas pensam que só porque eu sou pequena, ou uma menina ou uma Careta, eu não consigo ser cruel. Mas elas estão erradas.
Miro a arma oito centímetros para a esquerda e atiro em seu braço.
Seus gritos preenchem o corredor. Seu sangue jorra da ferida e ele solta outro grito, encostando a testa no chão. Volto a apontar a arma para sua cabeça, ignorando a pontada de culpa que sinto no peito.
– Agora que você já percebeu o seu erro – digo –, vou lhe dar mais uma chance de me dizer o que quero saber, antes que eu atire em algum lugar pior.
Há ainda mais um fato com o qual eu posso contar: o Peter não é altruísta.
Ele vira a cabeça e me encara com um de seus olhos brilhantes. Seus dentes mordem o lábio inferior e ele exala o ar de maneira trêmula. Depois inala e exala novamente, da mesma maneira.
– Eles estão escutando – diz, rispidamente. – Se você não me matar, eles matarão. Eu só falarei se você me ajudar a sair daqui.
– O quê?
– Me leve... ai... com você – diz ele, com uma careta de dor.
– Você quer que eu leve você, a pessoa que tentou me matar... comigo?
– Quero – grunhe ele. – Se você quiser uma resposta para a sua pergunta.
Parece ser uma escolha, mas não é. Cada minuto que eu gastar encarando Peter, pensando em como ele assombra meus pesadelos e como me fez mal, significa a morte de dezenas de membros da Abnegação nas mãos do exército de sonâmbulos da Audácia.
– Tudo bem – digo, quase engasgada com as palavras. – Tudo bem.
Ouço passos atrás de mim. Segurando a arma com firmeza, olho para trás. Meu pai e os outros caminham em nossa direção.
Meu pai retira sua camisa de manga comprida. Ele está usando uma camiseta cinza por baixo. Ele se ajoelha ao lado do Peter e passa a camisa sob seu braço, amarrando-a firmemente. Ao pressionar o tecido contra o sangue que escorre do braço de Peter, ele olha para mim e diz:
– Você realmente precisava ter atirado nele?
Eu não respondo.
– Às vezes, a dor serve a um bem maior – diz Víctor calmamente.
Na minha cabeça, vejo-o diante de Christopher com um cinto em punho e ouço o eco da sua voz.
Isso é para o seu próprio bem. Eu o encaro por alguns segundos. Será que ele realmente acredita nisso? Parece-me algo que alguém da Audácia diria.
– Vamos – digo. – Levante-se, Peter.
– Você quer que ele caminhe? – Caleb pergunta. – Você está louca?
– Eu atirei na perna dele? – digo. – Não. Ele vai caminhar. Para onde vamos, Peter?
Caleb ajuda-o a se levantar.
– Para o prédio de vidro – diz ele, com uma careta de dor. – Oitavo andar.
Ele lidera o caminho, atravessando a porta.
Eu entro no Fosso, banhado pelo ronco do rio e pela luz azul do prédio, que está mais vazio agora do que eu jamais havia visto. Passo os olhos pelos seus paredões, procurando algum sinal de vida, mas não vejo nenhum movimento e nenhuma pessoa em meio a escuridão.
Mantenho a minha arma na mão e me direciono ao caminho que leva ao teto de vidro. O vazio me faz tremer. Ele me lembra os campos intermináveis dos meus pesadelos com os corvos.
– O que a faz pensar que você tem o direito de atirar em alguém? – diz meu pai, enquanto me segue pelo caminho. Passamos em frente ao estúdio de tatuagens. Onde estará Maite agora?
E Anahí?
– Agora não é a hora de discutirmos ética – digo.
– Agora é a hora perfeita – diz ele – porque em breve você terá a chance de atirar em outra pessoa, e se você não se der conta de que...
– Me der conta de quê? – pergunto, sem me virar. – De que cada segundo que eu perco significa mais um membro da Abnegação morto e mais um membro da Audácia transformado um assassino? Já me dei conta disso. Agora é a sua vez.
– Há uma maneira certa de fazer as coisas.
– E o que o faz ter tanta certeza de que sabe qual é? – digo.
– Por favor, parem de brigar – interrompe Caleb, com um tom de reprovação. – Temos coisas mais importantes para fazer agora.
Eu continuo subindo, com o rosto quente. Há algumas semanas, eu nunca teria falado com o meu pai desta maneira. Nem há algumas horas. Mas algo mudou quando eles atiraram na minha mãe. Quando eles levaram Christopher.
Ouço meu pai bufando por trás do ruído da corrente de água. Eu havia me esquecido de que ele é mais velho do que eu, de que sua estrutura não consegue mais sustentar o peso de seu corpo.
Antes de subir a escada de metal que atravessa o teto de vidro, espero na escuridão, observando a luz que o sol projeta nas paredes do Fosso. Observo até uma sombra se mover na parede iluminada pelo sol e conto o tempo até que a sombra seguinte apareça. Os guardas fazem as rondas a cada um minuto e meio, ficam parados por vinte segundos, depois seguem adiante.
– Há homens com armas lá em cima. Quando eles me virem, irão tentar me matar – digo ao meu pai, silenciosamente. Eu estudo seus olhos. – Devo permitir que eles façam isso?
Ele me encara por alguns segundos.
– Vá – diz ele. – E que Deus a ajude.
Eu subo as escadas cuidadosamente, parando logo antes que minha cabeça surja no andar de cima. Espero, vendo as sombras se movendo, e, quando uma delas para, subo o resto da escada, aponto minha arma e atiro.
O tiro não atinge o guarda, mas quebra o vidro atrás dele. Atiro novamente, desviando, enquanto balas atingem o chão ao meu redor e produzem ruídos agudos. Ainda bem que o teto de vidro é à prova de balas, ou ele estilhaçaria e eu desabaria para a morte.
Pronto, um guarda a menos. Respiro fundo e mantenho o corpo sob o teto de vidro,
levantando apenas a mão acima do vão e olhando através do vidro para localizar meu alvo.
Inclino a arma para trás e atiro no guarda que vem correndo em minha direção. A bala o acerta
no braço. Por sorte, é o braço com o qual atira, e ele derruba a arma, fazendo com que ela deslize no chão.
Com o corpo tremendo, eu me lanço pelo vão do teto e pego a arma caída antes que ele a alcance. Uma bala passa voando perto da minha cabeça, tão perto de me atingir que move
parte do meu cabelo. Com os olhos arregalados, lanço o braço direito por cima do meu ombro, causando uma dor terrível por todo o meu corpo, e atiro três vezes para trás. Por algum milagre, um dos tiros acerta um guarda. Meus olhos enchem-se incontrolavelmente de lágrimas causadas pela dor no meu ombro. Acabei de arrebentar os pontos da minha ferida.
Tenho certeza disso.
Outro guarda está diante de mim. Eu deito no chão, com a barriga para baixo, e aponto as duas armas para ele, com os braços apoiados no vidro. Eu encaro o pequeno ponto preto do tambor da sua arma a distância.
De repente, algo surpreendente acontece. Ele faz um movimento brusco com o queixo para o lado. Está indicando que devo seguir adiante.
Ele deve ser Divergente.
– Tudo limpo! – grito.
O guarda mergulha para dentro da sala de paisagens do medo e desaparece.
Eu me levanto devagar, segurando o braço direito contra o peito. Estou focada em um objetivo. Estou seguindo este caminho e não conseguirei parar, não conseguirei pensar em mais nada, até que eu alcance o final.
Eu entrego uma arma a Caleb e prendo a outra no meu cinto.
– Acho melhor você e Víctor ficarem aqui com ele – digo, acenando a cabeça na direção do Peter. – Ele seria apenas um atraso para nós. Certifique-se de que ninguém nos siga.
Espero que ele não entenda o que estou fazendo, mantendo-o aqui para que ele fique seguro, mesmo sabendo que daria a vida para nos ajudar. Se eu subir este prédio, provavelmente não descerei novamente. O máximo que posso esperar é que eu consiga destruir a simulação antes que alguém me mate. Quando será que decidi embarcar nesta missão suicida? Por que será que a decisão não foi mais difícil?
– Não posso ficar aqui enquanto você vai lá e arrisca a vida – diz Caleb.
– Eu preciso que você fique – retruco.
Peter cai de joelhos no chão. Seu rosto está reluzente de suor. Por um instante, quase me sinto mal por ele, mas então me lembro do Edward e do tecido pinicando meus olhos quando meus agressores os vendaram, e o ódio toma o lugar da piedade. Caleb acaba acenando com a cabeça.
Aproximo-me de um dos guardas caídos e pego sua arma, desviando o olhar da ferida que o matou. Minha cabeça lateja. Eu não comi nada; não dormi nada; não solucei ou gritei ou até mesmo parei por um segundo. Mordo o lábio e me direciono aos elevadores na lateral do salão. Oitavo andar.
Quando a porta do elevador se fecha, eu encosto a cabeça no vidro e ouço os apitos a cada andar pelo qual passamos.
Olho para meu pai.
– Obrigado. Por proteger Caleb – diz meu pai. – Dulce, eu...
O elevador alcança o oitavo andar e a porta se abre. Dois guardas nos esperam com armas em punho e rostos inexpressivos. Meus olhos se arregalam e eu me jogo no chão, de barriga, quando os disparos começam. Ouço o som das balas atingindo o vidro. Os guardas desabam no chão, um ainda vivo e gemendo, o outro se esvaindo rapidamente. Meu pai está parado sobre eles, com a arma apontada para a frente.
Eu me levanto desajeitadamente. Guardas descem correndo pelo corredor a minha esquerda.
A julgar pela sincronia dos seus passos, eles são controlados pela simulação. Eu poderia correr pelo corredor à direita, mas, se eles estão vindo da esquerda, então é lá que se encontram os computadores. Jogo-me novamente no chão, entre os guardas que o meu pai acabou de acertar, e permaneço o mais imóvel possível.
Meu pai salta do elevador e desce o corredor à direita correndo, fazendo com que os guardas da Audácia o sigam. Cubro a boca com as mãos para sufocar um grito. O corredor irá terminar.
Tento esconder o rosto para não ver, mas não consigo. Eu olho por detrás das costas do guarda caído. Meu pai atira para trás, contra os guardas que o perseguem, mas ele não é rápido o bastante. Um deles acerta um tiro em sua barriga, e ele solta um gemido tão alto que eu quase posso senti-lo ressoando em meu peito.
Ele agarra a barriga, batendo com o ombro contra a parede, e atira outra vez e mais outra.
Os guardas estão sob o efeito da simulação; eles continuam correndo, mesmo depois que os tiros os acertam, até que seus corações parem, mas não alcançam meu pai. O sangue escorre da mão do meu pai e seu rosto empalidece. Seu último tiro derruba o último guarda.
– Pai – digo. Minha intenção era gritar, mas a palavra sai quase como um chiado.
Ele desliza até o chão. Nossos olhares se encontram como se não existisse qualquer distância entre nós.
Sua boca se abre, como se ele estivesse prestes a dizer algo, mas seu queixo apenas encosta no peito e seu corpo relaxa.
Meus olhos ardem e estou fraca demais para me levantar; o cheiro de suor e sangue me dá náuseas. Tenho vontade de encostar a cabeça no chão e deixar que tudo termine assim. Quero dormir agora e nunca mais acordar.
Mas o que eu disse ao meu pai mais cedo é verdade. A cada segundo que eu gasto, outro membro da Abnegação é assassinado. Só uma coisa me resta no mundo agora: destruir a simulação.
Levanto-me com dificuldade e desço o corredor correndo, virando à direita no final. Só há uma porta na minha frente. Eu a abro.
Deparo-me com uma parede composta inteiramente de monitores, cada um com cerca de trinta centímetros de altura e trinta centímetros de largura. Há dezenas deles, cada um exibindo um local diferente da cidade. A cerca. O Eixo. As ruas no setor da Abnegação, agora repletas de soldados da Audácia. O andar térreo deste edifício, onde Caleb, Víctor e Peter aguardam meu retorno. É uma parede composta de tudo o que eu já vi, tudo o que eu conheço.
Em um dos monitores, há uma linha de códigos. Atravessa o monitor tão rápido que não consigo ler. É a simulação, o código já compilado, uma lista complicada de comandos que antecipam e direcionam milhares de resultados diferentes.
Em frente a este monitor, há uma cadeira e uma mesa. Um soldado da Audácia está sentado na cadeira.
– Christopher – digo.



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Autor(a): Fer Linhares

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 13



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  • manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23

    Continua ❤️

  • manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21

    Brigadaaa! Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35

    Continuaaa! Faz maratonaaa!

  • manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08

    Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!

  • manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24

    Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora

  • manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16

    Cnttt

  • manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10

    Continuaaa

  • Postado em 25/09/2016 - 21:24:21

    Aaai deusss! Continuaaa


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