Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
O disparo não vem. Ele me encara com a mesma ferocidade, mas permanece imóvel. Por que não atira em mim? Com a palma da mão, sinto seu coração batendo forte. Ele é Divergente. Ele pode lutar contra esta simulação. Contra qualquer simulação.
– Christopher – digo. – Sou eu.
Dou um passo para a frente e o envolvo em meus braços. Seu corpo está rígido. Seu coração bate mais rápido. Consigo senti-lo contra minha bochecha. Um ruído surdo contra minha bochecha. Um ruído surdo da arma caindo no chão. Ele agarra meus ombros com força demais, cravando os dedos na pele sobre o local onde a bala estava enterrada. Eu solto um grito enquanto ele afasta meu corpo. Talvez ele apenas planeje me matar de uma maneira mais cruel.
– Dul – diz ele, e é o Christopher novamente. Sua boca vem de encontro à minha.
Seus braços me envolvem e ele me levanta do chão, apertando meu corpo contra o seu, com as mãos agarradas às minhas costas. Seu rosto e sua nuca estão molhados de suor, seu corpo treme, e meu ombro está ardendo de dor, mas eu não me importo, não me importo, não me importo.
Ele me coloca novamente no chão e me encara, acariciando minha testa, minhas
sobrancelhas, minhas bochechas, meus lábios.
Uma mistura de soluço, suspiro e gemido escapa da sua boca e ele me beija outra vez. Seus olhos brilham com lágrimas. Nunca pensei que veria Christopher chorar. A visão dói em mim.
Eu me encosto em seu peito e choro em sua camisa. Minha cabeça volta a latejar, meu ombro volta a doer, e meu corpo parece subitamente pesar o dobro do que pesava. Eu me apoio nele, e ele me sustenta.
– Como você conseguiu? – digo.
– Não sei – fala ele. – Apenas ouvi a sua voz.
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Depois de alguns segundos, me lembro do motivo que me trouxe aqui. Eu me afasto dele e enxugo o rosto com as costas das mãos, voltando-me novamente para os monitores. Vejo que um deles filma o bebedouro. Christopher ficou muito paranoico quando eu falei mal da Audácia ali.
Ele ficava olhando o tempo todo para a parede sobre o bebedouro. Agora entendo o motivo.
Ficamos parados ali por alguns instantes, e acho que sei o que ele está pensando, porque eu estou pensando a mesma coisa: como é possível algo tão pequeno controlar tantas pessoas?
– Era eu que estava controlando a simulação?
– Acho que você estava mais monitorando do que controlando – digo. – Ela já está
completa. Não sei como, mas Jeanine a programou para rodar inteiramente sozinha.
Ele balança a cabeça.
– É... incrível. Terrível, maligno... mas incrível – diz ele.
Vejo algo se movimentando em um dos monitores e identifico meu irmão, Víctor e Peter no andar térreo do prédio. Eles estão cercados por soldados da Audácia, todos de preto e armados.
– Christopher – digo rapidamente. – Agora!
Ele corre até o monitor do computador e começa a digitar alguma coisa nele. Não consigo olhar para o que está fazendo. Só consigo olhar para meu irmão. Ele está com a arma que lhe dei apontada para a frente, pronto para atirar. Eu mordo o lábio. Não atire. Christopher bate os dedos contra o monitor mais algumas vezes, digitando letras que não fazem o menor sentido para mim. Não atire.
Vejo um clarão, uma centelha, de uma das armas, e perco o ar. Meu irmão, Víctor e Peter estão agachados no chão, com as mãos sobre as cabeças. Depois de alguns instantes, todos eles se movem, e eu percebo que estão vivos. Os soldados da Audácia avançam sobre eles.
Uma mancha negra ao redor do meu irmão.
– Christopher – digo.
Ele toca o monitor mais uma vez, e todos no andar térreo ficam parados.
Seus braços desabam para o lado de seus corpos.
De repente, os membros da Audácia se movem. Suas cabeças giram de um lado para o outro, e eles soltam as armas no chão, e suas bocas movem-se como se eles estivessem gritando, e eles empurram-se, e alguns deles caem de joelhos no chão, com as mãos na cabeça, balançando os corpos para frente e para trás, para frente e para trás.
Toda a tensão em meu peito se desfaz e eu me sento, soltando um suspiro.
Christopher se agacha perto do computador e retira a lateral da torre.
– Preciso retirar os dados – diz ele –, ou vão simplesmente reiniciar a simulação.
Assisto à confusão que se desenrola no andar térreo pelo monitor. Deve estar ocorrendo a mesma confusão nas ruas. Eu procuro, entre os monitores, algum que mostre o setor da Abnegação. Há apenas um, no canto inferior da sala. Os membros da Audácia que vejo nos monitores estão atirando uns contra os outros, empurrando-se, gritando, em um cenário caótico. Homens e mulheres com roupas pretas desabam no chão. Pessoas correm em todas as direções.
– Consegui – diz Christopher, segurando o disco rígido do computador. É um pedaço de metal com o tamanho aproximado da palma da sua mão. Ele o oferece para mim, e eu o enfio no bolso de trás da minha calça.
– Precisamos ir – digo, levantando-me. Aponto para a tela à minha direita.
– Precisamos mesmo. – Ele sustenta meus ombros com o braço. – Vamos.
Caminhamos juntos e dobramos o corredor. O elevador me lembra de meu pai. Não consigo deixar de procurar seu corpo.
Encontro-o perto do elevador, cercado pelos corpos de vários guardas. Um grito sufocado escapa da minha garganta. Eu viro o rosto. Minha garganta é invadida por bile e vomito na parede.
Por um instante, sinto como se tudo dentro de mim estivesse ruindo, e eu me agacho ao lado de um cadáver, respirando pela boca para não sentir o cheiro de sangue. Cubro a boca com as mãos para abafar um soluço. Só preciso de cinco segundos. Mais cinco segundos de fraqueza e eu me levantarei. Um, dois. Três, quatro. Cinco.
+++
Não tenho muita consciência do que acontece ao meu redor. Sei que há um elevador, um salão de vidro e um sopro de vento frio. Há uma multidão de soldados da Audácia, vestidos de preto e gritando. Procuro o rosto de Caleb, mas não o encontro, até que saímos do prédio de vidro e somos cercados pela luz do sol.
Caleb corre até mim quando atravesso a porta de saída, e eu caio sobre ele. Ele me abraça com força.
– E papai? – pergunta.
Eu apenas balanço a cabeça.
– Bem – diz ele, quase engasgando –, ele gostaria de que fosse assim.
Vejo Christopher atrás do Caleb, parando de repente. Seu corpo inteiro endurece e ele encara Víctor. Na minha pressa em destruir a simulação, esqueci de avisá-lo que Víctor veio junto comigo.
Víctor caminha até Christopher e envolve o filho em seus braços. Christopher continua imóvel, com os braços abaixados e uma expressão apagada. Vejo seu pomo de Adão subir e descer em seu pescoço e seus olhos se voltando para o alto.
– Filho – suspira Víctor.
Christopher faz uma careta.
– Ei – digo, me afastando de Caleb. Lembro-me do cinto queimando o meu pulso na paisagem do medo de Christopher e me coloco entre eles, empurrando Víctor para trás. – Ei. Afaste-se dele.
Sinto a respiração de Christopher no meu pescoço; ele respira de maneira forte e aguda.
– Fique longe dele – digo, com raiva.
– Dulce, o que você está fazendo? – pergunta Caleb.
– Dul – responde Christopher.
Víctor me lança um olhar escandalizado, que me parece falso. Seus olhos estão
arregalados demais e ele abre a boca de uma maneira exagerada. Se conseguisse arrancar-lhe este olhar a tapas, eu o faria.
– Nem todos aqueles artigos da Erudição eram completamente falsos – digo, encarando Víctor com olhos semicerrados.
– Do que você está falando? – diz Víctor baixinho. – Não sei o que você ouviu falar sobre mim, Dulce, mas...
– Eu só não atirei em você até agora porque acho que seu filho é quem deveria fazer isso – digo. – Mas se você não ficar longe dele, eu decidirei pelo contrário.
As mãos de Christopher deslizam sobre meus braços e me apertam. Víctor mantém seus olhos focados em mim por alguns instantes, mas eu só consigo enxergá-los como cavidades escuras, como na paisagem do medo de Christopher. Então, ele vira o rosto.
– Precisamos ir – diz Christopher de maneira instável. – O trem deve estar passando a qualquer momento.
Caminhamos pelo solo firme em direção aos trilhos. A mandíbula de Tobias está contraída e ele olha diretamente para a frente. Sinto uma pontada de arrependimento. Talvez eu devesse ter deixado ele lidar com o pai sozinho.
– Desculpe – murmuro.
– Você não precisa pedir desculpa – diz ele, segurando minha mão. Seus dedos ainda estão trêmulos.
– Se nós pegarmos o trem na direção oposta, em direção à saída da cidade e não ao centro, chegaremos à sede da Amizade – digo. – É para lá que os outros foram.
– E a Franqueza? – pergunta meu irmão. – O que você acha que eles farão?
Não sei como a Franqueza responderá aos ataques. Eles não se uniriam à Erudição; eles não seriam tão traiçoeiros. Mas talvez se recusem a lutar contra eles.
Ficamos parados ao lado dos trilhos por alguns minutos antes que o trem chegue. Christopher acaba me pegando no colo, porque já não me aguento mais em pé, e eu encosto a cabeça em seu ombro, respirando fundo o cheiro da sua pele. Desde que ele me salvou do ataque no Fosso, eu associo seu cheiro à segurança. Se eu me concentrar nele, conseguirei me sentir segura agora.
Mas a verdade é que não me sentirei inteiramente segura enquanto Peter e Víctor estiverem conosco. Tento não olhar para eles, mas sinto sua presença, como um cobertor cobrindo meu rosto. Por crueldade do destino, sou obrigada a viajar com pessoas que odeio e deixar pessoas que amo para trás, mortas.
Mortas ou acordando como assassinas. Onde estarão Anahí e Maite agora? Vagando pelas ruas, perseguidas pela culpa de seus atos? Ou voltando as suas armas contra as pessoas que as obrigaram a praticar estes atos? Ou será que elas também estão mortas? Eu gostaria de saber.
Mas, por um lado, espero nunca descobrir. Se Anahí ainda estiver viva, ela encontrará o corpo de Afonso. E se ela me encontrar novamente, tenho certeza de que seus olhos treinados pela Franqueza irão saber que fui eu que o matei. Tenho certeza disso, e a culpa me sufoca e me oprime, então sou obrigada a esquecer. Eu me esforço para esquecer.
O trem chega, e Christopher me coloca novamente no chão para que eu possa embarcar. Corro por alguns metros ao lado do vagão, depois jogo o corpo para o lado, aterrissando sobre meu braço esquerdo. Eu me arrasto para dentro e me sento com as costas contra a parede. Caleb senta-se à minha frente e Christopher ao meu lado, formando uma barreira entre mim, Víctor e Peter. Meus inimigos. Seus inimigos.
O trem faz uma curva e vejo a cidade atrás de nós. Ela irá se tornar cada vez menor, até conseguirmos ver o final dos trilhos, nas florestas e nos campos que eu vi pela última vez quando era jovem demais para dar valor. A bondade da Amizade nos acolherá por um tempo, embora não possamos ficar lá para sempre. Em breve, a Erudição e os líderes corruptos da Audácia vão procurar por nós, e teremos que seguir em frente.
Christopher me puxa para perto dele. Nós dobramos os joelhos e os pescoços para nos fecharmos em um pequeno espaço só nosso, sem conseguirmos ver aqueles que nos incomodam, misturando o ar que respiramos.
– Meus pais – digo. – Eles morreram hoje.
Mesmo tendo dito estas palavras e mesmo que eu saiba que elas são verdadeiras, a morte deles não parece real para mim.
– Eles morreram por mim – digo. Sinto que isso é algo importante.
– Eles amavam você – responde ele. – Para eles, não havia maneira melhor de demonstrar isso.
Eu concordo com a cabeça, e meus olhos seguem a linha do seu queixo.
– Você quase morreu hoje – diz ele. – Quase atirei em você. Por que você não atirou em mim, Dul?
– Eu não conseguiria. Seria como atirar em mim mesma.
Ele faz uma expressão de sofrimento e se inclina para mais perto de mim, tocando seus lábios levemente nos meus enquanto fala.
– Preciso lhe dizer uma coisa.
Acaricio os tendões da sua mão com os dedos e olho para ele.
– Eu talvez esteja apaixonado por você. – Ele esboça um sorriso. – Mas estou esperando para lhe dizer quando eu tiver certeza.
– É uma decisão sensata – digo, sorrindo de volta. – Precisamos encontrar um papel para que você possa fazer uma lista, uma tabela ou algo assim.
Sinto sua risada contra meu corpo, e ele desliza o nariz em meu queixo, depois encosta os lábios atrás da minha orelha.
– Talvez eu já tenha certeza – diz ele –, mas não queira assustar você.
Eu solto uma pequena risada.
– Até parece que você não me conhece – digo.
– Está bem – diz ele. – Então, eu te amo.
Eu o beijo enquanto o trem entra em um território desconhecido e mal-iluminado. Eu o beijo pela quantidade de tempo que desejo, por mais tempo do que eu deveria, considerando que meu irmão está a menos de um metro de distância.
Enfio a mão no bolso e pego o disco rígido que contém os dados da simulação. Giro-o em minha mão, deixando que a luz tênue do sol reflita sobre ele. Os olhos de Víctor seguem avidamente seu movimento. Não é seguro, penso. Não completamente.
Aperto o disco rígido contra o peito, encosto a cabeça no ombro de Christopher e tento dormir.
+ + +
A Abnegação e a Audácia estão fragmentadas e seus membros se dispersaram. Somos como os sem-facção agora. Não sei como serão nossas vidas, separadas de uma facção. A sensação é de rompimento, como uma folha separada da árvore que a sustenta. Somos criaturas da perda; deixamos tudo para trás. Não tenho lar, nem caminho, nem certezas. Não sou mais Dul, a altruísta, ou Dul, a corajosa.
Acho que agora terei que me tornar mais do que as duas coisas.
Amanhã começo a postar insurgente!
Espero que comentem! bjs e até amanhã
Autor(a): Fer Linhares
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Acordo com o nome dele na boca.Afonso.Antes de abrir os olhos, vejo-o desabar sobre o asfalto novamente. Morto.Pelas minhas mãos.Christopher se agacha na minha frente, apoiando a mão sobre meu ombro esquerdo.O vagão do trem chacoalha sobre os trilhos, e Víctor, Peter e Caleb estão de pé aolado da porta. Respiro fundo e prendo o ar, t ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
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manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
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manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
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manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
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manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
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manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
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manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
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Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa