Fanfics Brasil - Capítulo 12 (2ª Temporada) Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.)

Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente


Capítulo: Capítulo 12 (2ª Temporada)

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– Vou fazer uma série de perguntas simples, para que você se acostume com o soro enquanto ele começa a fazer efeito – diz Niles. – Agora. Qual é o seu nome?
Christopher está sentado com os ombros caídos e a cabeça abaixada, como se o seu corpo fosse pesado demais para ele. Ele faz uma careta, se contorce na cadeira e, através de dentes cerrados, responde:
– Quatro.
Talvez não seja possível mentir sob o efeito do soro da verdade, mas sim escolher qual versão da verdade queremos contar: Quatro é o seu nome, mas ao mesmo tempo não é.
– Esse é o seu apelido – diz Niles. – Qual é o seu nome verdadeiro?
– Christopher.
Anahí me cutuca com o cotovelo.
– Você sabia disso?
Respondo que sim com um aceno de cabeça.
– Como se chamam seus pais, Christopher?
Christopher abre a boca para responder, depois cerra o maxilar, como se tentasse evitar que as palavras derramassem de sua boca.
– Que relevância tem isso? – pergunta Christopher.
Os membros da Franqueza ao meu redor sussurram uns com os outros. Alguns fazem caretas. Levanto uma sobrancelha e olho para Anahí.
– É muito difícil não responder às perguntas imediatamente quando se está sob o efeito do soro da verdade – explica ela. – Isso significa que a força de vontade dele é extremamente forte. E que ele está escondendo alguma coisa.
– Talvez não tivesse relevância antes, Christopher – diz Niles –, mas, agora que você resistiu a responder a pergunta, ela se tornou relevante. Diga-me os nomes dos seus pais, por favor.
Tobias fecha os olhos.
– Alexandra e Víctor Uckermann.
Nossos sobrenomes são apenas uma forma adicional de identificação, e servem apenas para evitar confusões nos registros oficiais. Quando casamos, um dos cônjuges deve assumir o sobrenome do outro, ou os dois devem escolher um sobrenome novo. No entanto, embora carreguemos nossos nomes de família para as facções, raramente os mencionamos.
Mas todos reconhecem o sobrenome de Víctor. Percebo isso pelo clamor que surge na sala depois das palavras de Christopher. Todos da Franqueza sabem que Víctor é o membro do governo mais influente, e alguns deles provavelmente leram o artigo publicado por Jeanine a respeito da maneira cruel como ele tratava seu filho. Foi uma das poucas coisas verdadeiras que ela escreveu. E agora todos sabem que o tal filho é Christopher.
Christopher Uckermann é um nome poderoso.
Niles espera a plateia ficar em silêncio, depois continua:
– Então, você se transferiu de facção, certo?
– Sim.
– Você se transferiu da Abnegação para a Audácia?
– Sim – responde Christopher, rispidamente. – Não é óbvio?
Mordo o lábio. Ele deveria se acalmar; está se entregando demais. Quanto mais ele relutar em responder uma pergunta, mais determinado Niles ficará para ouvir a resposta.
– Um dos propósitos deste interrogatório é determinar a quem você é leal – diz Niles. – Portanto, preciso perguntar: por que você se transferiu?
Christopher encara Niles e mantém a boca fechada. Passam-se segundos de completo silêncio. Quanto mais ele tenta resistir ao soro, mais difícil isso parece se tornar: suas bochechas coram e sua respiração torna-se rápida e pesada. Meu peito dói por ele. Os detalhes da sua infância deveriam permanecer dentro dele se deseja que fiquem lá. É crueldade da Franqueza forçá-lo a expô-los, roubando-lhe a sua liberdade.
– Isso é terrível – digo a Anahí, com raiva. – É errado.
– Qual é o problema? É uma pergunta simples.
Balanço a cabeça.
– Você não entende.
Anahí me oferece um pequeno sorriso.
– Você realmente gosta dele.
Estou ocupada demais assistindo Christopher para res ponder.
– Vou perguntar mais uma vez – diz Niles. – É importante que compreendamos o seu nível de lealdade à facção que escolheu. Então, por que você se transferiu para a Audácia, Christopher?
– Para proteger a mim mesmo – diz Christopher. – Eu me transferi para proteger a mim mesmo.
– Proteger-se do quê?
– Do meu pai.
Todas as conversas na sala cessam, e o silêncio que resta é pior do que os murmúrios. Imagino que Niles insistirá na questão, mas não é o que faz.
– Obrigado por sua honestidade – diz Niles. Os membros da Franqueza repetem a frase, baixinho. Por toda a minha volta, ouço as palavras “Obrigado por sua
honestidade” em volumes e tons diferentes, e minha raiva começa a se dissipar. As
palavras sussurradas parecem aceitar Christopher, receber e depois descartar seu segredo mais obscuro.
Talvez não seja crueldade, afinal, mas apenas o desejo de compreender que os motiva. Mas isso não faz com que eu sinta menos medo de ficar sob o efeito do soro.
– Sua aliança pertence à sua atual facção, Christopher?
– Minha aliança pertence a qualquer um que não concorde com o ataque à Abnegação – responde ele.
– Por falar nisso – diz Niles –, acho que devemos nos concentrar no que ocorreu aquele dia. Quais são as suas recordações do período em que esteve sob o efeito da simulação?
– A princípio, eu não estava sob o efeito da simulação – explica Christopher. – Ela não funcionou.
Niles solta uma pequena risada.
– Como assim? Ela não funcionou?
– Uma das características que definem os Divergentes é que suas mentes são resistentes a simulações – diz Chtistopher. – E eu sou Divergente. Portanto, não, ela não funcionou.
Mais sussurros. Anahí me cutuca com o cotovelo.
– Você também é? – pergunta ela, perto do meu ouvido, para não fazer barulho. – É por isso que ficou consciente?
Eu a encaro. Passei os últimos meses com medo da palavra “Divergente”, apavorada com a possibilidade de alguém descobrir o que eu sou. Mas não serei mais capaz de esconder isso. Aceno afirmativamente com a cabeça.
Os olhos de Anahí ficam tão grandes que parecem querer saltar do rosto. Não consigo identificar sua expressão. Será que ela está chocada? Será que está com medo?
Será que está maravilhada?
– Você sabe o que isso significa? – pergunto.
– Ouvi falar disso quando era criança – diz ela, com um sussurro de admiração.
Com certeza, ela está maravilhada.
– Como se fosse uma história de fantasia. “Existem pessoas com poderes especiais entre nós!” Coisas desse tipo.
– Bem, não é nenhuma fantasia, e não é nada de mais. É como a simulação da paisagem do medo. Você tinha consciência de que estava sob o efeito dela e podia manipulá-la. Mas, para mim, é assim em todas as simulações.
– Mas, Dul – diz ela, apoiando a mão no meu cotovelo. – Isso é impossível.
No centro da sala, Niles está com a mão erguida, tentando silenciar a multidão, mas há sussurros demais, alguns hostis, outros de pavor e outros maravilhados, como os de Anahí. Finalmente, Niles se levanta e grita:
– Se vocês não fizerem silêncio, serão convidados a se retirar!
Finalmente, todos fazem silêncio. Niles se senta.
– Quando você fala que é resistente a simulações, o que quer dizer exatamente?
– Normalmente, isso significa que permanecemos conscientes durante as
simulações – diz Christopher. Ele parece se dar melhor com o soro da verdade quando responde perguntas factuais, e não emocionais. Agora, nem parece estar sob o efeito do soro da verdade, embora a postura caída e os olhos perdidos indiquem que está. – Com a simulação do ataque foi diferente, porque ela usava um tipo de soro de simulação singular, que respondia a transmissores de longa distância. Os transmissores não funcionaram nos Divergentes, porque acordei no meu estado normal aquela manhã.
– Você disse que não estava sob o efeito da simulação a princípio. Pode explicar
o que quer dizer com isso?
– Quero dizer que fui descoberto e levado até Jeanine, e ela me injetou uma versão do soro de simulação especialmente desenvolvida para os Divergentes. Durante essa simulação eu estava consciente, mas isso não adiantou muita coisa.
– Os vídeos de segurança do complexo da Audácia mostram que você estava controlando a simulação – diz Niles, em um tom sombrio. – Como exatamente você explica isso?
– Quando eu estava sob o efeito da simulação, meus olhos ainda eram capazes de ver e processar o mundo ao meu redor, mas meu cérebro não conseguia compreendê-lo. Mas, de alguma maneira, ele ainda era capaz de saber o que eu estava vendo e onde estava. Uma das características dessa nova simulação é a capacidade de registrar minhas respostas emocionais a estímulos externos –
explica Christopher, fechando os olhos por alguns segundos – e responder a eles alterando a aparência desses estímulos. A simulação transformava meus inimigos em amigos, e meus amigos em inimigos. Pensei que estava desligando a
simulação. Na realidade, eu estava recebendo instruções sobre como mantê-la funcionando.
Anahí concorda com a cabeça ao ouvi-lo falar. Fico mais calma quando percebo que a maior parte da multidão ao meu redor está fazendo o mesmo. Me
dou conta de que esse é o benefício do soro da verdade. Dessa maneira, o depoimento de Tobias torna-se irrefutável.
– Vimos vídeos do que acabou acontecendo com você na sala de controle, mas eles são confusos – diz Niles. – Por favor, descreva a situação para nós.
– Alguém entrou na sala, e eu pensei que fosse uma soldada da Audácia tentando impedir que eu destruísse a simulação. E estava lutando contra ela e... –
Christopher faz uma careta, esforçando-se para prosseguir. – Mas, de repente, ela parou, e eu fiquei confuso. Mesmo se eu estivesse acordado, teria ficado confuso. Por que ela se renderia? Por que simplesmente não me matou?
Seus olhos vasculham a multidão até encontrarem meu rosto. Meu coração pulsa
na minha garganta, nas minhas bochechas.
– Até hoje não entendo – diz ele suavemente – como ela sabia que ia funcionar.
Pulsa nas pontas dos meus dedos.
– Acho que o meu conflito de emoções confundiu a simulação. E então, ouvi a voz dela. De alguma maneira, isso me deu forças para lutar contra a simulação.
Meus olhos ardem. Já tentei não pensar sobre esse momento, quando achei que o havia perdido e que logo estaria morta, quando tudo o que eu queria era sentir o bater do coração dele. Tento não pensar nisso agora; pisco para afastar as lágrimas.
– Finalmente, a reconheci. Voltamos para a sala de controle e paramos a
simulação.
– Qual é o nome dessa pessoa?
– Dul. Quer dizer, Dulce Saviñón.
– Você já a conhecia antes disso acontecer?
– Sim.
– Como você a conhecia?
– Fui instrutor dela. Agora, estamos juntos.
– Tenho uma última pergunta a fazer – diz Niles. – Na Franqueza, antes de aceitarmos uma pessoa na nossa comunidade, ela precisa expor-se completamente para nós. Considerando a situação grave na qual nos encontramos, exigimos a mesma coisa de você. Portanto, Christopher Uckermann, do que você mais se arrepende?
Eu o olho dos pés à cabeça, dos seus tênis surrados aos seus dedos longos e suas sobrancelhas retas.
– Me arrependo... – Christopher inclina a cabeça para o lado e solta um suspiro. – Me arrependo da minha escolha.
– Qual escolha?
– A Audácia. Nasci para a Abnegação. Estava planejando deixar a Audácia e tornar-me um sem-facção. Mas aí eu a conheci e... Pensei que talvez pudesse dar um novo significado à minha decisão.
A conheci.
Por um instante, é como se eu estivesse vendo uma pessoa diferente dentro da
pele de Christopher, que não leva uma vida tão simples quanto eu imaginava. Ele queria deixar a Audácia, mas ficou por minha causa. Ele nunca me disse isso.
– Escolher a Audácia para escapar do meu pai foi um ato covarde. Me arrependo dessa covardia. Ela significa que não sou digno da minha facção. Me arrependerei disso para sempre.
Espero que os membros da Audácia gritem, indignados, ou que pulem na cadeira e o espanquem. Eles são capazes de atos muito mais instáveis do que isso. Mas não fazem nada. Apenas ficam parados, silenciosos como estátuas, com rostos inexpressivos como estátuas, encarando o jovem que não os traiu, mas que também nunca sentiu que realmente pertencia ao mundo deles.
Por alguns instantes, todos nós permanecemos calados. Não sei quem começa a sussurrar; parece que o som parte de uma coisa, e não de uma pessoa. Mas alguém sussurra:
– Obrigado por sua honestidade.
– Obrigado por sua honestidade – repete o restante da sala.
Não me junto a eles.
Sou a única coisa que o manteve na facção que ele queria abandonar. Não sou digna disso.
Talvez ele mereça saber.


 


 


                                                 


 


                                                      +++


 


 


 


 


Niles está em pé no meio da sala, com uma seringa na mão. As luzes sobre ele fazem a seringa brilhar. Ao redor de mim, os membros da Audácia e da Franqueza esperam que eu dê um passo à frente e exponha a minha vida inteira.
O pensamento me ocorre novamente: Talvez eu consiga lutar contra o soro. Mas não sei se devo tentar. Talvez seja melhor para as pessoas que amo se eu
simplesmente revelar a verdade.
Caminho, tensa, até o centro da sala, enquanto Christopher se retira. Ao passarmos um pelo outro, ele segura a minha mão e aperta meus dedos. Depois, ele se vai, e ficamos apenas eu, Niles e a seringa. Passo o lenço antisséptico no pescoço, mas, quando ele aproxima a seringa de mim, me afasto.
– Prefiro fazer isso eu mesma – digo, estendendo a mão. Nunca mais deixarei que alguém me injete algo com uma seringa novamente. Não depois que deixei
Eric me injetar com o soro da simulação de ataque, depois do meu teste final. Não posso mudar o conteúdo da seringa injetando-a eu mesma, mas, pelo menos dessa maneira, serei o instrumento da minha própria destruição.
– Você sabe como fazer isso? – pergunta ele, levantando suas sobrancelhas
espessas.
– Sei.
Niles me oferece a seringa. Eu a posiciono sobre a veia do meu pescoço, enfio a agulha e aperto o êmbolo. Quase não sinto a picada. Estou sob o efeito da adrenalina.
Alguém se aproxima com uma lata de lixo, e eu descarto a seringa. Sinto os efeitos do soro imediatamente. Ele faz o sangue nas minhas veias parecer chumbo.
Quase desabo ao caminhar até a cadeira. Niles precisa segurar meu braço para me guiar até lá.
Alguns segundos depois, o silêncio domina minha mente. Sobre o que eu estava pensando mesmo? Isso não parece importar. Nada importa, exceto pela cadeira sob mim e o homem sentado à minha frente.
– Qual é o seu nome?
Assim que ele faz a pergunta, a resposta salta da minha boca:
– Dulce Saviñón.
– Mas você responde por Dul?
– Sim, respondo.
– Como se chamam os seus pais, Dul?
– Fernando e Blanca Saviñón.
– Você também se transferiu de facção, certo?
– Sim – respondo, mas um novo pensamento surge, baixinho, no fundo da minha mente: Também? Ele está se referindo a outra pessoa, e essa pessoa é Christopher.
Franzo a testa ao tentar me lembrar do rosto de Christopher, mas é difícil fazer com que a imagem dele surja na minha mente. Mas acabo conseguindo. Eu o vejo, depois vejo uma imagem dele sentado na mesma cadeira onde estou.
– Você veio da Abnegação? E escolheu a Audácia?
– Sim – confirmo novamente, mas, dessa vez, a resposta sai tensa. Não sei bem por quê.
– Por que você se transferiu?
Essa pergunta é mais complicada, mas, mesmo assim, sei a resposta. A frase “Eu não era boa o bastante para a Abnegação” está na ponta da minha língua, mas outra a substitui: “Eu queria ser livre.” Ambas são verdadeiras. Quero responder as duas coisas. Aperto os braços da cadeira enquanto tento lembrar-me de onde estou, do que estou fazendo. Vejo pessoas ao meu redor, mas não sei por que elas estão aqui.
Eu me esforço, da mesma maneira que costumava me esforçar quando quase conseguia me lembrar da resposta para a questão de uma prova, mas ela me escapava. Eu costumava fechar os olhos e imaginar a página do livro didático onde a resposta se encontrava. Tento me esforçar por alguns segundos, mas não consigo; não consigo me lembrar.
– Eu não era boa o bastante para a Abnegação – respondo – e queria ser livre. Por isso, escolhi a Audácia.
– Por que você acha que não era boa o bastante?
– Porque eu era egoísta
– Você era egoísta? Não é mais?
– Claro que sou. Minha mãe costumava dizer que todo mundo é egoísta, mas me tornei menos egoísta na Audácia. Descobri que havia pessoas por quem eu lutaria.
Por quem eu morreria, até.
Fico surpresa com minha resposta. Mas por quê? Contraio os lábios por um
instante. Porque é a verdade. Se estou falando isso aqui, deve ser verdade.
Essa ideia me oferece a peça que faltava na linha de pensamento que eu estava tentando encontrar. Estou aqui para me submeter a um teste de detecção de mentiras. Tudo o que eu disser é verdade. Sinto uma gota de suor escorrendo
sobre a minha nuca.
Um teste de detecção de mentiras. Soro da verdade. Preciso me lembrar disso. É fácil demais me perder na honestidade.
– Dul, você poderia nos dizer o que aconteceu no dia do ataque?
– Acordei, e todos estavam sob o efeito da simulação. Portanto, fingi que também estava até encontrar Christopher.
– O que aconteceu depois que você e Christopher se separaram?
– Jeanine tentou me matar, mas minha mãe me salvou. Ela já tinha sido da Audácia, então sabia usar uma arma. – Meu corpo está ainda mais pesado agora, mas não está mais frio. Sinto algo mexendo dentro do meu peito, que é pior do que tristeza, pior do que arrependimento.
Sei o que está por acontecer. Minha mãe morreu, e eu matei Afonso em seguida; atirei nele; eu o matei.
– Ela distraiu os soldados da Audácia para que eu pudesse fugir, e eles a mataram – conto. 


Alguns deles correram atrás de mim, e eu os matei. Mas há membros da Audácia ao meu redor, da Audácia, e eu matei algumas pessoas da Audácia e não devo falar sobre isso aqui.
– Continuei correndo. E... – E Afonso me perseguiu. E eu o matei. Não, não. Sinto o suor se acumulando no topo da minha testa.
– E eu encontrei meu irmão e meu pai – termino, com a voz tensa. – Bolamos um plano para destruir a simu lação.
A ponta do braço da cadeira machuca a palma da minha mão. Eu omiti parte da
verdade. Certamente isso conta como uma mentira.
Lutei contra o soro. E, por um breve momento, venci.
Deveria me sentir vitoriosa. Mas sinto apenas o peso do que fiz me esmagando
novamente.
– Nós nos infiltramos no complexo da Audácia, e eu e meu pai seguimos para a
sala de controle. Ele lutou contra soldados da Audácia, o que lhe custou sua vida.
Cheguei à sala de controle, e Christopher estava lá.
– Christopher disse que você lutou contra ele, mas depois parou. Por que você fez isso?
– Porque me dei conta de que um de nós teria que matar o outro, e eu não
queria matá-lo.
– Você desistiu?
– Não! – respondo, rispidamente. Balanço a cabeça. – Não, não exatamente.
Lembrei algo que havia feito na minha paisagem do medo, na iniciação da Audácia... em uma simulação, uma mulher exigiu que eu matasse minha família, mas eu deixei que ela atirasse em mim. Pensei que, já que isso havia funcionado na simulação... – Belisco o dorso do meu nariz. Minha cabeça está começando a doer, estou perdendo o controle, e meus pensamentos estão escorrendo como palavras. – Eu estava tão frenética, mas só conseguia pensar que havia alguma coisa por trás daquilo; alguma força naquilo. E eu não conseguiria matá-lo, então precisava tentar.
Pisco, afastando as lágrimas dos meus olhos.
– Então você nunca esteve sob o efeito da simulação?
– Não. – Esfrego os pulsos nos olhos, afastando as lágrimas antes que elas escorram sobre as bochechas, onde todos conseguiriam vê-las.
– Não – digo mais uma vez. – Não, eu sou Divergente.
– Só para deixar claro: – diz Niles – você está nos dizendo que foi quase assassinada pela Erudição... depois invadiu, lutando, o complexo da Audácia... e
depois destruiu a simulação?
– Sim.
– Acho que falo por todos quando afirmo que você fez por merecer o título de membro da Audácia.
Ouço gritos surgindo do lado esquerdo da sala, e borrões em forma de punhos socando o ar escuro. A minha facção, gritando o meu nome.
Mas não, eles estão errados. Não sou corajosa, não sou corajosa, atirei em Afonso e não consigo nem admitir isso, não consigo nem admitir isso...
– Dulce Saviñón – diz Niles –, do que você mais se arrepende?
Do que me arrependo? Não me arrependo de escolher a Audácia ou de deixar a Abnegação. Nem me arrependo de atirar nos guardas do lado de fora da sala de controle, porque era muito importante que eu passasse por eles.
– Me arrependo...
Meu olhar se afasta do rosto de Niles e vagueia pela sala, parando em Christopher.
Ele está inexpressivo, com a boca em uma linha firme e o olhar vazio. Suas mãos, cruzadas sobre seu peito, estão agarradas aos seus braços com tanta força que os ossos dos punhos estão brancos. A seu lado, encontra-se Christina. Meu peito aperta e não consigo respirar. Preciso contar a eles. Preciso contar a verdade.
– Afonso. – Parece um arquejo, como se viesse direto do meu estômago. Não há
mais como voltar atrás. – Atirei em Afonso enquanto ele estava sob o efeito da simulação. Eu o matei. Ele ia me matar, mas eu o matei. Meu amigo.
Afonso, com a ruga entre as sobrancelhas, com os olhos verdes como aipo e a capacidade de citar o manifesto da Audácia de cor. Sinto uma dor tão intensa no
estômago que quase solto um gemido. Lembrar-me dele dói. Todas as partes do meu corpo doem.
E há outra coisa ainda pior, que eu não havia percebido antes. Eu estava mais
disposta a morrer do que a matar Christopher, mas nem pensei nisso quando estava diante de Afonso. Decidi matar Afonso em uma fração de segundo.
Sinto-me nua. Não havia percebido que vestia meus segredos como uma armadura, até que eles se foram, e agora todos conseguem me ver como realmente sou.
– Obrigado por sua honestidade – dizem eles.
Mas Christopher e Anahí ficam calados.




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Autor(a): Fer Linhares

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 13



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  • manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23

    Continua ❤️

  • manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21

    Brigadaaa! Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35

    Continuaaa! Faz maratonaaa!

  • manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08

    Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!

  • manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24

    Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora

  • manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16

    Cnttt

  • manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10

    Continuaaa

  • Postado em 25/09/2016 - 21:24:21

    Aaai deusss! Continuaaa


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