Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
Levanto-me da cadeira. Não me sinto tão tonta quanto há alguns minutos; o efeito do soro já está passando. O mundo gira e eu procuro a porta. Não costumo fugir das coisas, mas quero fugir disso.
Todos começam a sair da sala, exceto Anahí. Ela continua parada no mesmo
lugar de antes, e começa a abrir os punhos cerrados. Seus olhos encontram os meus, mas parece que não os enxergam. Há lágrimas em seus olhos, mas ela não está chorando.
– Anahí – digo, mas a única palavra na qual consigo pensar, perdão, parecemais um insulto do que um pedido de desculpa. Perdão é o que você pede quando esbarra em alguém ou interrompe uma pessoa falando. O que sinto merece mais do que perdão. – Ele estava armado. Ia atirar em mim. Estava sob o efeito da simulação.
– Você o matou – diz ela. Suas palavras soam maiores do que as palavras costumam soar, como se houvessem crescido dentro de sua boca antes que ela as dissesse. Durante alguns segundos, ela me encara como se não me reconhecesse,depois desvia o olhar.
Uma menina mais jovem com a mesma cor de pele e a mesma altura de
Anahí segura a mão dela. É sua irmã mais nova. Eu a vi no Dia da Visita, há mil anos. O soro da verdade faz a imagem delas dançar diante dos meus olhos, ou talvez sejam as lágrimas que se acumulam dentro deles.
– Você está bem? – pergunta Uriah, surgindo do meio da multidão e tocando
meu ombro. Não o vejo desde antes do ataque da simulação, mas não tenho energia o bastante para cumprimentá-lo.
– Estou.
– Ei. – Ele aperta meu ombro. – Você fez o que precisava, certo? Para evitar que
virássemos escravos da Erudição. Ela vai acabar enxergando isso. Quando a tristeza passar.
Não consigo nem assentir com a cabeça. Uriah sorri para mim e vai embora.
Alguns membros da Audácia passam por mim e murmuram o que parecem ser palavras de gratidão, de conforto ou elogios. Outros passam longe, encarando-me com olhos desconfiados.
Os corpos vestidos de preto se misturam diante de mim. Estou vazia. Tudo derramou de mim.
Christopher fica parado ao meu lado. Preparo-me para sua reação.
– Peguei nossas armas de volta – informa ele, oferecendo-me a faca.
Enfio-a no bolso de trás sem olhá-lo.
– Podemos falar sobre isso amanhã – diz ele. Calmamente. Com Christopher, calma significa perigo.
– Tudo bem.
Ele desliza o braço sobre meus ombros. Minha mão encontra o quadril dele, e eu o puxo para perto de mim.
Agarro-me a ele com força enquanto caminhamos juntos até os elevadores.
+++
Ele encontra duas camas dobráveis para nós no final de um corredor. Deitamos com as cabeças a poucos centímetros de distância uma da outra, sem conversar.
Quando sei que ele caiu no sono, escapo das cobertas e desço o corredor, passando por várias pessoas adormecidas da Audácia. Encontro a porta que leva à escada.
Enquanto subo, degrau por degrau, com os músculos começando a arder e os pulmões clamando por ar, sinto-me aliviada pela primeira vez em dias.
Posso até ter resistência para correr em solo plano, mas subir escadas é algo completamente diferente. Massageio um espasmo na parte de trás da coxa ao passar pelo décimo segundo andar e tento recobrar um pouco do fôlego. Sorrio, com as pernas e o peito queimando. Estou usando a dor para aliviar a dor. Não faz muito sentido.
Quando alcanço o décimo oitavo andar, minhas pernas parecem ter liquefeito.
Arrasto-me até a sala onde fui interrogada. Ela está vazia, mas os bancos de anfiteatro ainda estão lá, assim como a cadeira na qual me sentei. A lua brilha por trás de uma nuvem rala.
Apoio a mão no encosto da cadeira. Ela é simples: é feita de madeira e range um pouco. É estranho que algo tão simples tenha sido o instrumento da minha decisão de arruinar um dos meus relacionamentos mais importantes e prejudicar outro.
Como se não bastasse eu ter matado Afonso, não ter pensado rápido o bastante para encontrar outra solução, agora preciso viver com o julgamento de todos, além do meu, e com o fato de que nada, nem mesmo eu, jamais será igual novamente.
Os membros da Franqueza adoram se vangloriar da verdade, mas nunca revelam o quanto ela custa.
A beirada da cadeira machuca as palmas das minhas mãos. Eu a estava apertando mais forte do que imaginava. Encaro a cadeira por alguns segundos, depois a levanto, equilibrando-a, com as pernas para cima, sobre meu ombro saudável. Vasculho os cantos da sala atrás de uma escada que possa me ajudar a subir. Tudo o que consigo ver são os bancos do anfiteatro, altos, sobre o chão.
Caminho até o banco mais alto e levanto a cadeira acima da minha cabeça. O banco quase encosta no peitoril sob um dos espaços das antigas janelas. Pulo,
empurrando a cadeira para a frente, e ela desliza para cima do peitoril. Meu ombro dói. Não deveria estar usando o braço. Mas estou pensando em outras coisas.
Dou um salto, agarro o peitoril e me puxo para cima, com os braços tremendo.
Jogo a perna para cima do peitoril e arrasto o resto do corpo em seguida. Fico deitada sobre o peitoril por alguns segundos, respirando com dificuldade.
Levanto-me e fico em pé diante da beirada, sob o arco do que costumava ser uma janela, e encaro a cidade. O rio morto faz uma curva ao redor do edifício e desaparece. A ponte, com a tinta vermelha descascando, se estende sobre a lama.
Do outro lado do rio, há prédios, a maioria deles vazia. É difícil imaginar que já houve gente o bastante nesta cidade para preencher todos eles.
Durante alguns segundos, permito-me retornar à memória do interrogatório. A inexpressividade de Christopher; sua raiva depois, reprimida pelo bem da minha sanidade. O olhar vazio de Anahí. Os sussurros “Obrigado por sua honestidade.”
É fácil falar isso quando o que fiz não os afeta.
Agarro a cadeira e lanço-a para fora do edifício. Solto um grito surdo. Ele cresce, tornando-se um berro, depois um urro, e, de repente, estou sobre a beirada do Merciless Mart, gritando com toda a força enquanto a cadeira desaba em direção ao chão, urrando até que a minha garganta arde. Então, a cadeira se choca contra o chão, despedaçando-se como um esqueleto frágil. Sento-me na beirada, encostando o corpo contra a armação da janela e fechando os olhos.
De repente, penso em Al.
Quanto tempo será que Al ficou na beirada, antes de se lançar para dentro do Fosso da Audácia?
Ele deve ter ficado muito tempo, fazendo uma lista de todas as coisas terríveis que havia feito, entre elas quase me matar, e outra lista de todas as coisas boas, heroicas e corajosas que não havia feito, depois deve ter decidido que estava cansado. Cansado não apenas de viver, mas de existir. Cansado de ser quem era.
Abro os olhos e encaro os pedaços de cadeira que mal consigo ver na calçada abaixo. Pela primeira vez, sinto que o entendo. Estou cansada de ser Dul. Fiz coisas ruins. Não posso desfazê-las, e elas se tornaram parte de quem sou. Na maior parte do tempo, parecem ser a única coisa que sou.
Inclino o corpo para a frente, para o ar, segurando a armação da janela com uma
das mãos. Se me mover mais alguns centímetros, o peso do meu corpo me puxará para o chão abaixo. Não seria capaz de impedi-lo.
Mas não consigo fazer isso. Meus pais perderam suas vidas pelo amor que sentiam por mim. Perder a minha vida sem um bom motivo seria uma maneira terrível de pagar pelo sacrifício deles, independente do que eu tenha feito.
“Deixe que a culpa lhe ensine como agir da próxima vez”, diria meu pai.
“Eu te amo. Independente de qualquer coisa”, diria minha mãe.
Parte de mim gostaria de apagá-los da minha mente, para que eu nunca precisasse sofrer por eles. Mas outra parte teme o que eu me tornaria sem eles.
Com a visão turva pelas lágrimas, desço novamente para a sala de interrogatório.
+++
Volto para a cama dobrável no início da manhã e Christopher já está acordado. Ele se vira e caminha em direção aos elevadores, e eu o sigo, porque sei que é isso o que ele quer que eu faça. Ficamos parados no elevador, um ao lado do outro. Há um zumbido em meus ouvidos.
O elevador desce até o segundo andar, e eu começo a tremer. Primeiro são minhas mãos, mas depois o tremor sobe até os braços e o peito, até que pequenos arrepios atravessam todo o meu corpo, sem que eu consiga detê-los. Paramos entre os elevadores, sobre outro símbolo da Franqueza, a balança desequilibrada.
O símbolo que também está desenhado no meio da espinha dele.
Durante um longo tempo, ele não olha para mim. Ele fica parado com os braços cruzados e a cabeça abaixada até que eu não aguento mais e sinto vontade de gritar. Eu deveria falar alguma coisa, mas não sei o que dizer. Não posso pedir perdão, porque eu apenas disse a verdade e não posso transformar a verdade em mentira. Não posso inventar desculpas.
– Você não me contou. Por que não?
– Porque eu não... – Balanço a cabeça. – Eu não sabia como.
Ele faz uma careta.
– É bem fácil, Dul...
– Ah, é – digo, acenando com a cabeça. – É muito fácil. Só preciso chegar para você e dizer: “Aliás, eu matei o Afonso, e agora a culpa está me destruindo por dentro, mas o que há para o café da manhã?” Não é? Não é?
De repente, não aguento mais e não consigo mais me conter. Lágrimas enchem os meus olhos e eu grito:
– Por que você não mata um dos seus melhores amigos e depois tenta lidar com a culpa?
Cubro o rosto com as mãos. Não quero que ele me veja soluçando outra vez. Ele toca meu ombro.
– Dul – diz ele, gentilmente dessa vez. – Desculpe-me. Eu não deveria fingir que entendo. Eu só queria dizer que... – Ele se esforça por um instante: – Eu gostaria que você confiasse em mim o bastante para me contar coisas assim.
Mas eu confio em você, é o que quero dizer. Mas isso não é verdade. Não acreditei que ele fosse continuar me amando, apesar das coisas terríveis que fiz.
Não acredito que ninguém seja capaz disso, mas isso não é problema dele, é meu.
– Quer dizer – continua ele –, fiquei sabendo pelo Caleb que você quase se afogou em um tanque de água. Isso não é estranho?
Logo quando eu estava prestes a pedir desculpa.
Enxugo as bochechas com as pontas dos dedos e o encaro.
– Tem coisas bem mais estranhas – digo, tentando suavizar a voz. – Como descobrir que a mãe do seu namorado, que deveria estar morta, ainda está viva ao vê-la em pessoa. Ou entreouvir os seus planos para se juntar aos sem-facção, sem que ele fale qualquer coisa a respeito. Isso me parece um pouco estranho.
Ele tira a mão do meu ombro.
– Não finja que esse problema é só meu – digo. – Se eu não confio em você, você também não confia em mim.
– Pensei que ainda não estava na hora de falarmos sobre essas coisas. Preciso falar tudo na hora?
Sinto-me tão frustrada que fico sem palavras por alguns segundos. Minhas bochechas esquentam.
– Meu Deus, Quatro! – exclamo, irritada. – Você não quer me contar tudo na hora, mas eu preciso contar tudo imediatamente? Você não vê o quanto isso é idiota?
– Em primeiro lugar, não use esse nome como uma arma contra mim – retruca ele, apontando para mim. – Em segundo lugar, eu não estava planejando me aliar aos sem-facção; estava apenas considerando isso. Se eu tivesse tomado uma decisão, teria falado alguma coisa. E, em terceiro lugar, seria diferente se você pelo menos tivesse a intenção de me falar sobre Afonso em algum momento, mas está claro que não tinha.
– Eu falei para você sobre Afonso! Aquilo não foi o soro da verdade, fui eu. Falei aquilo por escolha própria.
– Do que você está falando?
– Eu estava consciente. Sob o efeito do soro. Eu poderia ter mentido; poderia ter escondido isso de você. Mas não menti, porque pensei que você merecia saber a verdade.
– Que maneira de me contar! – exclama ele, franzindo a testa. – Na frente de mais de cem pessoas! Quanta intimidade!
– Ah, então não é o bastante eu ter contado; precisa ser na situação ideal? –
Levanto as sobrancelhas. – Da próxima vez, quer que eu traga uma xícara de chá e escolha a iluminação ideal para o aposento?
Christopher solta um grunhido de frustração e vira as costas para mim, depois anda alguns passos. Quando ele se vira novamente, suas bochechas estão coradas. Acho que nunca tinha visto seu rosto ficar de outra cor.
– Às vezes não é fácil estar com você, Dul.
Ele desvia o olhar.
Quero dizer que sei que não é fácil, mas que eu não teria sobrevivido à última semana sem ele. Mas apenas o encaro, com o coração pulsando nos ouvidos.
Não posso falar que preciso dele. O fato é que não posso precisar dele. Na realidade, não podemos precisar um do outro, porque quem sabe quanto tempo vamos durar nesta guerra?
De repente, toda a minha raiva desaparece.
– Desculpe. Eu devia ter sido honesta com você.
– É só isso? É só isso o que você tem a dizer? – Ele franze a testa.
– O que mais você quer que eu diga?
Ele apenas balança a cabeça.
– Nada, Dul. Nada.
Olho para Christopher enquanto ele vai embora. Sinto que um vão se abriu dentro de mim, um vazio que cresce tão rapidamente que vai me despedaçar.
manoellaaguiar_: continuando linda, o que ta achando da fic?
Comentem!!!
Autor(a): Fer Linhares
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
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manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
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manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
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manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
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manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
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manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
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manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
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Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa