Fanfics Brasil - Capítulo 17 (2ª Temporada) Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.)

Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente


Capítulo: Capítulo 17 (2ª Temporada)

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Christopher me conta sua história:
Quando os membros da Erudição alcançaram a escada do saguão, uma de suas integrantes não foi até o segundo andar. Ela subiu correndo até um dos andares mais altos do edifício. Lá, evacuou um grupo de membros leais da Audácia, entre eles Christopher, até uma saída de incêndio que não havia sido trancada pelos traidores. Esses membros leais da Audácia reuniram-se no saguão e se dividiram em quatro grupos, que subiram simultaneamente as diferentes escadas, cercando os traidores, que haviam se concentrado no hall dos elevadores.
Os traidores da Audácia não estavam preparados para tanta resistência. Eles acreditavam que todos estariam inconscientes, menos os Divergentes, e, por isso, fugiram.
A mulher da Erudição era Cara. A irmã mais velha de Afonso.


 


 


 


 


                                                      +++


 


 


 


 


Com um suspiro, deixo a jaqueta cair dos meus braços e examino meu ombro. Um disco de metal mais ou menos do tamanho da unha do meu dedo mindinho está preso à minha pele. Ao redor dele há uma área com filamentos azuis, como se alguém tivesse injetado tinta azul nas pequenas veias sob minha pele. Franzindo a testa, tento arrancar o disco de metal do meu braço e sinto uma dor lacerante.
Rangendo os dentes, enfio o lado cego da minha faca sob o disco e forço-o para cima. Solto um grito com a boca cerrada, e a dor atravessa o meu corpo, fazendo minha visão falhar por um instante. Mas continuo empurrando o disco com o máximo de força possível, até que ele se solta da minha pele o bastante para que eu consiga segurá-lo com os dedos. Há uma agulha presa sob o disco.
Engasgada de dor, agarro o disco com as pontas dos dedos e puxo uma última vez. Dessa vez, a agulha solta. Ela tem o tamanho do meu dedo mindinho e está coberta de sangue. Ignoro o sangue que escorre do meu braço e seguro o disco e a
agulha contra a luz, sobre a pia.
A julgar pelo líquido azul no meu braço e na agulha, eles devem ter injetado algo em nós. Mas o quê? Veneno? Um explosivo?
Balanço a cabeça. Se eles quisessem nos matar, como a maioria de nós já estava inconsciente, só precisariam atirar em nós. Seja lá o que tenham nos injetado, sua intenção não era matar.
Alguém bate à porta. Não sei por quê. Afinal, estou em um banheiro público.
– Dul, você está aí dentro? – pergunta a voz abafada de Uriah.
– Estou – respondo.
Uriah está com uma aparência melhor do que há uma hora. Ele limpou o sangue da boca e seu rosto já está mais corado. De repente, fico surpresa com sua beleza.
Todos os seus traços são proporcionais, seus olhos são escuros e alertas, e sua pele é bronzeada. Ele deve ter sido bonito assim a vida inteira. Apenas meninos que foram bonitos a vida inteira carregam esse ar de arrogância no sorriso.
Diferente de Christopher, cujo sorriso é quase tímido, como se o simples fato de alguém ter se dado o trabalho de olhar para ele fosse uma surpresa.
O olhar de Uriah se desvia do meu rosto para a agulha na minha mão, depois
para o sangue que escorre do meu ombro até o pulso.
– Que nojento.
– Não estava prestando atenção – respondo. Coloco a agulha sobre a pia e
agarro um lenço de papel, limpando o sangue do meu braço. – Como estão os outros?
– Marlene está fazendo piadas, como sempre. – O sorriso de Uriah cresce, criando covinhas em suas bochechas. – Lynn está resmungando. Espera aí, você arrancou isso do seu braço? – Ele aponta para a agulha. – Meu Deus, Dul. Você
não tem nervos, não?
– Acho que preciso de um curativo.
– Acha, é? – Uriah balança a cabeça. – Você também deveria colocar gelo no
rosto. Estão todos acordando agora. Está uma loucura lá fora.
Levo a mão ao queixo. O local onde Eric me acertou com a arma está doendo.
Preciso de um pouco de loção de cura.
– Eric está morto? – Não sei qual resposta estou esperando: sim ou não.
– Não. Alguns dos membros da Franqueza decidiram cuidar dele. – Uriah encara a pia com uma careta. – Eles falaram algo sobre tratamento justo de prisioneiros.
Kang o está interrogando em particular agora. Ele disse que não nos quer lá, perturbando a paz ou algo assim.
Bufo.
– É. De qualquer maneira, ninguém entendeu nada – diz ele, apoiando-se na pia ao lado da minha. – Por que atacar o edifício daquele jeito, atirar essas coisas em nós e nos apagar? Por que não nos mataram de uma vez?
– Não faço ideia – respondo. – O único objetivo que consigo imaginar é que isso lhes permitiu descobrir quem é Divergente. Mas esse não pode ser o único motivo.
– Não entendo por que estão atrás de nós. Quer dizer, quando estavam tentando criar um exército, controlando nossas mentes, tudo bem, mas agora? Isso me parece inútil.
Franzo a testa enquanto pressiono uma toalha limpa de papel contra o ombro, para estancar o sangramento. Ele está certo. Jeanine já tem um exército. Por que matar os Divergentes agora?
– Jeanine não quer matar a todos – digo lentamente. – Ela sabe que isso seria ilógico. Nossa sociedade só funciona com todas as facções, porque cada uma delas treina seus integrantes para funções específicas. O que ela quer é controle.
Levanto o rosto e encaro meu reflexo no espelho. Meu maxilar está inchado e ainda há marcas de unhas em meus braços. Que nojo.
– Ela deve estar planejando outra simulação – sugiro. – Igual à de antes, mas, desta vez, ela quer se assegurar de que todos estarão sob sua influência ou mortos.
– Mas a simulação só dura um período determinado de tempo. Só é útil se ela estiver tentando alcançar algo específico.
– Certo. – Solto um suspiro. – Não sei. Não entendo. – Seguro a agulha. – Também não entendo o que é isso. Se for como as outras injeções indutoras de simulações, foi criada para um único uso. Então, por que atirar isso em nós só para nos apagar? Não faz nenhum sentido.
– Não sei, Dul, mas agora temos que lidar com um edifício enorme cheio de pessoas em pânico. Vamos arrumar um curativo para você.
Ele faz uma pausa e depois fala:
– Você pode me fazer um favor?
– O quê?
– Não conte a ninguém que sou Divergente. – Ele morde o lábio. – Shauna é minha amiga, e não quero que ela passe a ter medo de mim.
– Claro – digo, forçando um sorriso. – Minha boca é um túmulo.


 


 


 


                                                          +++


 


 


 


 


Passo a noite acordada, removendo agulhas dos braços das pessoas. Depois de algumas horas, paro de tentar ser gentil. Apenas puxo o mais forte possível.
Descubro que o menino da Franqueza baleado na testa por Eric chamava-se Bobby, que a condição de Eric está estável e que, das centenas de pessoas dentro do Merciless Mart, apenas oitenta não estão com os braços feridos. Dessas, setenta
são da Audácia, entre elas Anahí. Passo a noite inteira refletindo sobre seringas, soros e simulações, tentando pensar como meus inimigos.
Chegada a manhã, não encontro mais agulhas para remover e vou para o refeitório esfregando os olhos. Jack Kang anunciou que haverá uma reunião ao meio-dia, e talvez eu consiga tirar uma boa soneca depois de comer.
Mas, quando entro no refeitório, vejo Caleb.
Caleb corre até mim e me abraça com cuidado. Solto um suspiro de alívio. Pensei que, a esta altura, não precisaria mais do meu irmão, mas acho que nunca vou deixar de precisar. Relaxo, apoiada nele por um instante, depois vejo Tobias me olhando.
– Você está bem? – pergunta Caleb, afastando-se de mim. – Seu maxilar...
– Não é nada. Só está inchado.
– Soube que eles juntaram vários Divergentes e começaram a atirar neles.
Graças a Deus que não encontraram você.
– Na verdade, eles encontraram. Mas só mataram uma pessoa – digo. Belisco o dorso do nariz para tentar aliviar um pouco a pressão na minha cabeça. – Mas estou bem. Quando você chegou?
– Há cerca de dez minutos. Vim com Víctor. Como nosso único líder político oficial, ele sentiu que era seu dever estar aqui. Só ficamos sabendo do ataque há uma hora. Um dos sem-facção viu os soldados da Audácia invadindo o edifício, e demora um pouco para as notícias correrem entre eles.
– Víctor está vivo? – pergunto. Não o vimos ser morto quando escapamos do complexo da Audácia, mas presumi que era isso o que havia acontecido. Não sei exatamente como me sinto agora. Talvez desapontada, porque o odeio pela maneira como ele tratou Christopher. Ou aliviada, porque o último líder da Abnegação ainda está vivo. Será possível sentir as duas coisas?
– Ele e Peter escaparam e caminharam de volta para a cidade – explica Caleb.
Não me sinto nem um pouco aliviada em descobrir que Peter ainda está vivo.
– E onde ele está?
– Onde você esperaria que ele estivesse? – responde Caleb.
– Com a Erudição – digo. Balanço a cabeça. – Ele é um...
Não consigo encontrar uma palavra forte o bastante para descrevê-lo. Acho que preciso aumentar meu vocabulário.
Caleb contorce o rosto rapidamente, depois acena com a cabeça e apoia a mão
em meu ombro.
– Você está com fome? Quer que eu busque alguma coisa para comer? – pergunta ele.
– Sim, por favor – respondo. – Já volto, está bem? Preciso falar com Christopher.
– Tudo bem. – Caleb aperta meu braço e se afasta, provavelmente para entrar na enorme fila do refeitório. Eu e Christopher ficamos parados, a metros de distância um do outro, por alguns segundos.
Ele se aproxima lentamente.
– Você está bem? – pergunta.
– Se tiver que responder a isso mais uma vez, acho que vou vomitar – respondo.
– Não levei um tiro na cabeça, levei? Então estou bem.
– Seu maxilar está tão inchado que parece que você está com comida na boca, e você acabou de esfaquear Eric – diz ele, franzindo a testa. – Não posso nem perguntar se você está bem?
Solto um suspiro. Eu deveria falar para ele sobre Víctor, mas não quero fazer isso aqui, no meio de tantas pessoas.
– Sim, estou bem.
Ele puxa o braço para trás, como se estivesse pensando em encostar em mim, mas decidiu não fazer isso. Depois, ele pensa outra vez e desliza o braço ao redor do meu corpo, puxando-me para junto de si.
De repente, penso em talvez deixar que outra pessoa corra todos os riscos.
Talvez eu comece a agir de maneira egoísta, para que possa ficar perto de Christopher sem machucá-lo. Tudo o que quero fazer é mergulhar o rosto em seu pescoço e esquecer o mundo.
– Desculpe-me por ter demorado tanto para ir buscar você – sussurra ele, com a boca encostada em meu cabelo.
Suspiro e toco suas costas com as pontas dos dedos. Eu poderia ficar em pé aqui até desmaiar de exaustão, mas não devo; não posso.
Afasto o corpo e digo:
– Preciso falar com você. Podemos ir para um lugar mais tranquilo?
Ele concorda com a cabeça e deixamos o refeitório. Um dos membros da Audácia
que passa por nós grita:
– Olha só! É o Christopher Uckermann!
Eu havia me esquecido do interrogatório e do nome que ele revelou para toda a Audácia.
Outra pessoa grita:
– Vi seu pai aqui mais cedo, Uckermann! Você está indo se esconder?
Christopher ajeita o corpo e fica duro, como se alguém estivesse apontando uma arma para o seu peito, e não caçoan do dele.
– É. Vai se esconder, covarde?
Algumas pessoas ao redor riem. Agarro o braço de Christopher e o guio em direção aos elevadores antes que consiga reagir. Ele parece estar prestes a socar alguém.
Ou fazer algo pior.
– Eu já ia contar... ele veio com Caleb – digo. – Peter e ele escaparam da
Amizade...
– O que você estava esperando? – pergunta ele, mas sem aspereza. Parece que sua voz está distante dele, como se estivesse flutuando entre nós.
– Não é o tipo de notícia que você dá em um refeitório.
– Tem razão.
Esperamos pelo elevador em silêncio, e Christopher morde o lábio e olha para o nada.
Ele faz isso até chegarmos ao décimo oitavo andar, que está vazio. Lá, o silêncio me abraça como Caleb fez, acalmando-me. Sento-me em um dos bancos na beirada da sala de interrogatório, e Christopher puxa a cadeira de Niles para se sentar na minha frente.
– Não havia duas dessas? – pergunta ele, franzindo a testa e olhando para a
cadeira.
– É verdade. Eu, é... ela foi jogada pela janela.
– Estranho. – Ele se senta. – Então, sobre o que você queria falar? Era sobre
Víctor?
– Não, não era isso. Você... está bem? – pergunto, cuida dosamente.
– Não levei um tiro na cabeça, levei? – responde ele, encarando as mãos. – Então estou bem. Vamos mudar de assunto.
– Quero falar sobre simulações. Mas, antes, há outra coisa. Sua mãe disse que o próximo alvo de Jeanine seria os sem-facção. É claro que ela estava errada, mas
não sei por quê. Não é como se a Franqueza estivesse pronta para a guerra...
– Pense bem. Pense como alguém da Erudição.
Olho para ele, irritada.
– O que foi? Se você não conseguir fazer isso, nenhum de nós conseguirá.
– Tudo bem. É... deve ter sido porque a Audácia e a Franqueza eram os alvos mais lógicos. Porque... os sem-facção estão por toda a parte, mas nós estamos em um único lugar.
– Certo. Além disso, quando Jeanine atacou a Abnegação, ela roubou todos os dados da facção. Minha mãe me disse que a Abnegação havia documentado as populações de Divergentes sem-facção, o que significa que, depois do ataque, Jeanine deve ter descoberto que a proporção de Divergentes entre os sem-facção é mais alta do que na Franqueza. Isso os tornaria um alvo ilógico.
– Certo. Agora, fale-me sobre o soro novamente. Há partes diferentes nele, certo?
– Duas partes – diz ele, acenando com a cabeça. – O transmissor e o líquido que
induz a simulação. O transmissor comunica informações do computador para o cérebro e vice-versa, e o líquido altera o cérebro, colocando-o no estado de simulação.
Aceno com a cabeça.
– Mas o transmissor só funciona para uma simulação, certo? O que acontece com ele depois disso?
– Ele se dissolve. Que eu saiba, a Erudição ainda não conseguiu desenvolver um transmissor que dure mais de uma simulação, embora a simulação de ataque tenha durado mais tempo do que qualquer outra simulação que eu já tenha visto.
Não consigo parar de pensar nas palavras “que eu saiba”. Jeanine passou a maior parte da sua vida adulta desenvolvendo soros. Se ela ainda está caçando Divergentes, provavelmente continua obcecada com a criação de versões avançadas da tecnologia.
– O que está acontecendo, Dul?
– Você já viu isto? – pergunto eu, apontando para o curativo cobrindo o meu
ombro.
– De perto, não. Eu e Uriah passamos a manhã inteira carregando feridos da
Erudição para o quarto andar.
Descolo a ponta do curativo, revelando a ferida criada pela agulha, que, felizmente, não está mais sangrando, e a mancha de tinta azul, que não parece
estar desaparecendo. Depois, enfio a mão no bolso e retiro a agulha que estava enfiada no meu braço.
– Quando eles atacaram, não estavam tentando nos matar. Usaram isto como munição.
Sua mão toca a pele pintada ao redor da ferida. Não havia percebido antes,
porque aconteceu diante dos meus olhos, mas ele está diferente da época da iniciação. Deixou a barba crescer um pouco, e eu nunca tinha visto seu cabelo tão longo. Está tão comprido que percebo que é castanho, e não preto.
Ele pega a seringa da minha mão e bate com o dedo no disco de metal.
– Isto deve ser oco. Devia conter esse treco azul que está em seu braço. O que
aconteceu depois que atiraram em você?
– Eles lançaram cilindros que soltavam fumaça na sala, e todos ficaram inconscientes. Quer dizer, todos menos eu, Uriah e outro Divergente.
Christopher não parece surpreso. Semicerro os olhos.
– Você já sabia que Uriah é Divergente?
Ele dá de ombros.
– É claro. Administrei as simulações dele também.
– E você nunca me contou?
– Informação privilegiada. Informação perigosa.
Sinto uma onda de raiva. Quantas coisas será que ele vai esconder de mim?
Tento reprimir minha ira. É claro que ele não me avisou que Uriah é Divergente.
Estava apenas respeitando a privacidade dele. Faz sentido.
Limpo a garganta.
– Você salvou nossas vidas, sabia? Eric estava tentando nos caçar.
– Acho que já passamos do ponto de ficar lembrando quem salvou a vida de
quem. – Ele me encara por longos segundos.
– De qualquer maneira – digo para romper o silêncio –, depois que descobrimos
que todos estavam dormindo, Uriah correu para o alto do prédio, a fim de alertar as pessoas que estavam lá em cima, e eu fui até o segundo andar, para descobrir o que estava acontecendo. Eric estava reunindo todos os Divergentes ao lado dos elevadores e tentando decidir quais ia levar. Ele disse que só podia levar dois. Mas nem sei por que queria fazer isso.
– Estranho.
– Tem alguma ideia?
– Acho que a seringa injetou transmissores em vocês, e o gás era uma versão em aerossol do líquido que altera o cérebro. Mas por que... – Uma ruga surge entre suas sobrancelhas. – Ah. Ela apagou todos para descobrir quem eram os
Divergentes.
– Você acha que esse é o único motivo para ela ter nos injetado transmissores?
Ele balança a cabeça, fixando os olhos nos meus. O azul deles é tão escuro e familiar que sinto que ele poderia me engolir inteira. Por um instante, desejo que isso fosse possível, para que eu pudesse escapar desse lugar e de tudo o que aconteceu.
– Acho que você já decifrou tudo, mas quer que eu a contradiga. E eu não vou contradizer.
– Eles desenvolveram um transmissor de longa duração.
Ele assente com a cabeça.
– Então, agora estamos todos programados para simulações múltiplas. Talvez
tantas quanto Jeanine desejar.
Ele assente novamente.
O ar tremula ao escapar da minha boca.
– Isso é muito ruim, Christopher.


 


 


 


                                                      +++


 


 


 


No corredor, do lado de fora da sala de interrogatório, ele para, apoiando-se contra a parede.
– Então, você atacou Eric. Isso foi durante a invasão? Ou foi quando vocês estavam ao lado dos elevadores?
– Ao lado dos elevadores.
– Há algo que não entendo. Você estava no térreo. Poderia ter fugido. Mas decidiu se meter sozinha no meio de um monte de soldados armados da Audácia. E
aposto que você não estava armada.
Aperto os lábios um contra o outro.
– Estou certo?
– Por que você acha que eu estava desarmada? – pergunto, de cara feia.
– Você não consegue tocar em uma arma desde o ataque. Até entendo, por causa do que aconteceu com Afonso e tudo, mas...
– Afonso não tem nada a ver com isso.
– Não? – Ele levanta uma sobrancelha.
– Fiz o que precisava ser feito.
– É. Mas agora isso já deveria ter acabado. – Ele se afasta da parede e me encara. Os corredores da Franqueza são largos. Largos o bastante para que eu consiga manter a distância que quero dele. – Você deveria ter ficado com a Amizade. Você deveria ter ficado longe disso tudo.
– Não, não deveria. Você acha que sabe o que é melhor para mim? Você não tem a menor ideia. Eu estava enlouquecendo na Amizade. Aqui, sinto-me... sã novamente.
– Isso é estranho, se considerarmos o fato de que você está agindo como uma psicopata. Não é nada corajoso escolher a posição que escolheu ontem. É mais do que idiota, é suicida. Você não tem o menor respeito por sua própria vida?
– Claro que tenho! Eu estava tentando fazer algo de útil!
Durante alguns segundos, ele apenas me encara.
– Você é mais do que Audácia – diz ele, baixinho. – Mas, se quiser simplesmente ser como eles, se colocando em situações ridículas sem razão e se vingando de seus inimigos sem se preocupar com a ética, fique à vontade. Pensei que você fosse mais do que isso, mas talvez eu estivesse errado!
Cerro os punhos e os dentes.
– Você não deveria insultar a Audácia. Eles o acolheram quando você não tinha
mais para onde ir. Deram-lhe um bom emprego. Eles o apresentaram a todos os seus amigos.
Encosto-me na parede, encarando o chão. Os ladrilhos do Merciless Mart são sempre brancos e pretos e, aqui, são organizados em um padrão quadriculado. Se eu desfocar os olhos, consigo ver exatamente aquilo em que os membros da
Franqueza não acreditam: o cinza. Talvez Christopher e eu também não acreditemos.
Não de verdade.
Meu corpo está muito pesado, muito mais do que consigo suportar. Tão pesado que eu poderia atravessar o chão.
–Dul.
Continuo a encarar o chão.
– Dul.
Finalmente, olho para ele.
– Só não quero perder você.
Ficamos parados por alguns minutos. Não falo o que estou pensando, que ele talvez esteja certo. Há uma parte de mim que quer se perder, que se esforça para se juntar aos meus pais e a Afonso, para que eu não sofra mais por eles. Uma parte de mim que quer descobrir o que há além.


 


 


 


                                                    +++


 


 


 


 


– Então, você é irmão dela? – pergunta Lynn. – Acho que já sabemos quem herdou a beleza.
Rio ao ver a expressão de Caleb, que contrai os lábios e arregala os olhos.
– Quando você precisa voltar? – pergunto, cutucando-o com o cotovelo.
Mordo o sanduíche que Caleb pegou para mim na fila do refeitório. Estou nervosa por ele estar aqui, misturando os restos tristes da minha vida de família aos restos tristes da minha vida na Audácia. O que ele pensará dos meus amigos, da minha facção? O que a minha facção pensará dele?
– Em breve. Não quero que ninguém fique preocupado.
– Não sabia que Susan havia mudado seu nome para “Ninguém” – digo, erguendo uma sobrancelha.
– Rá, rá! – responde ele, com uma careta.
Provocações entre irmãos deveriam parecer naturais para nós, mas não são. A Abnegação desencorajava qualquer coisa que pudesse fazer alguém se sentir desconfortável, incluindo provocações.
Dá para sentir a cautela que temos um com o outro agora que descobrimos uma maneira diferente de nos relacionar diante das nossas novas facções e da morte dos nossos pais. Sempre que olho para ele, percebo que é a única família que me sobrou, e fico desesperada, desesperada para mantê-lo por perto, desesperada para diminuir a distância entre nós.
– Susan é outra desertora da Erudição? – pergunta Lynn, fincando o garfo em
uma vagem. Uriah e Christopher continuam na fila do refeitório, esperando atrás de uns vinte membros da Franqueza que estão ocupados demais, discutindo para pegar a comida.
– Não, ela era nossa vizinha de infância. Ela é da Abnegação – explico.
– E você tem uma relação com ela? – pergunta ela para Caleb. – Não acha isso
um pouco idiota? Quer dizer, quando tudo isso acabar, vocês estarão em facções diferentes, vivendo em lugares completamente diferentes...
– Lynn – diz Marlene, tocando o ombro dela –, que tal calar a boca?
Do outro lado do salão, algo azul chama minha atenção. Cara acabou de entrar no refeitório. Abaixo o sanduíche, sem apetite, e olho para ela com a cabeça baixa.
Ela caminha até o canto do refeitório, onde alguns refugiados da Erudição estão sentados. A maioria deles abandonou o azul e veste roupas pretas e brancas, mas continua a usar óculos. Tento concentrar-me em Caleb, mas ele também está olhando para os membros da Erudição.
– Não posso voltar para a Erudição, nem eles – diz Caleb. – Quando isso passar, não terei uma facção.
Pela primeira vez, percebo sua tristeza ao falar da Erudição. Não havia percebido o quão difícil deve ter sido para ele a decisão de deixá-los.
– Você poderia ir se sentar com eles – digo, acenando em direção aos refugiados da Erudição.
– Não os conheço. – Ele dá de ombros. – Só passei um mês lá, lembra?
Uriah joga sua bandeja na mesa, irritado.
– Ouvi uma pessoa da fila falando sobre o interrogatório de Eric. Parece que ele
não sabia praticamente nada sobre o plano de Jeanine.
– O quê? – Lynn bate com o garfo na mesa. – Como isso é possível?
Uriah dá de ombros e se senta.
– Isso não me surpreende – diz Caleb.
Todos o encaram.
– O que foi? – Seu rosto fica corado. – Seria burrice revelar todo o plano para uma única pessoa. Certamente, é mais inteligente revelar apenas pequenas partes dele para cada pessoa que trabalha para ela. Assim, se alguém a trair, a perda não será tão grande.
– Ah – diz Uriah.
Lynn pega o garfo e volta a comer.
– Fiquei sabendo que a Franqueza fez sorvete – diz Marlene, virando o rosto para olhar para a fila do refeitório. – Sabe, algo tipo “que droga termos sido atacados, mas pelo menos temos sobremesa”.
– Já estou me sentindo bem melhor – diz Lynn, secamente.
– Provavelmente, não será tão gostoso quanto o bolo da Audácia – diz Marlene, lugubremente. Ela suspira, e uma mecha de cabelo castanho-claro cai sobre seus olhos.
– Nosso bolo realmente era gostoso – conto para Caleb.
– Nós tínhamos refrigerantes – diz ele.
– Ah, mas vocês tinham um rio subterrâneo? – pergunta Marlene, agitando as sobrancelhas. – Ou uma sala onde era possível encarar todos os seus pesadelos ao mesmo tempo?
– Não – diz Caleb. – E, para falar a verdade, fico feliz por isso.
– Ma-ri-cas – cantarola Marlene.
– Todos os seus pesadelos? – pergunta Caleb, com os olhos brilhando. – Como isso funciona? Quer dizer, os pesadelos são produzidos pelo computador ou pelo cérebro?
– Meu Deus. – Lynn apoia a cabeça nas mãos. – Lá vamos nós.
Marlene começa a descrever as simulações, e deixo sua voz e a voz de Caleb me embalarem enquanto termino o sanduíche. Depois, mesmo com todo o barulho de talheres e o ronco criado pelas centenas de conversas ao meu redor, encosto a
cabeça na mesa e caio no sono.



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Autor(a): Fer Linhares

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 13



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  • manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23

    Continua ❤️

  • manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21

    Brigadaaa! Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35

    Continuaaa! Faz maratonaaa!

  • manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08

    Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!

  • manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24

    Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora

  • manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16

    Cnttt

  • manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10

    Continuaaa

  • Postado em 25/09/2016 - 21:24:21

    Aaai deusss! Continuaaa


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