Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
Confiro meu relógio. São sete da noite. Faltam apenas doze horas até que possamos ouvir o que Jeanine tem a dizer a Jack Kang. Conferi meu relógio no mínimo dez vezes na última hora, como se isso fosse fazer o tempo passar mais rápido. Estou ansiosa para fazer alguma coisa. Qualquer coisa que não seja ficar sentada no refeitório com Lynn, Tobias e Lauren, brincando com minha comida e olhando de soslaio para Anahí, que está sentada com sua família da Franqueza
a uma das outras mesas.
– Será que conseguiremos voltar ao nosso antigo estilo de vida depois que tudo
isso passar? – indaga Lauren. Christopher e ela passaram os últimos cinco minutos conversando sobre os métodos de iniciação da Audácia. Deve ser a única coisa que eles têm em comum.
– Isso se sobrar alguma facção quando tudo passar – diz Lynn, colocando seu purê de batata dentro de um pão.
– Não acredito que você vai comer um sanduíche de purê de batata – digo,
chocada.
– Vou sim, e daí?
Um grupo de membros da Audácia passa entre a nossa mesa e a mesa ao lado.
Eles são mais velhos que Christopher, mas não muito. O cabelo de uma das meninas é de cinco cores diferentes, e seu braço tem tantas tatuagens que não consigo ver um centímetro de pele vazia. Um dos meninos inclina-se para perto de Christopher, que está de costas para eles, e sussurra:
– Covarde.
Alguns dos outros o imitam, sussurrando “covarde” perto da orelha de Christopher enquanto passam. Ele fica parado, com sua faca encostada no pão e um pedaço de manteiga pronto para ser espalhado, e encara a mesa.
Espero, tensa, pela sua explosão.
– Que idiotas – diz Lauren. – A Franqueza também, por fazer você expor sua história de vida na frente de todo mundo... eles também são idiotas.
Christopher não responde. Ele abaixa a faca e o pedaço de pão e se afasta da mesa.
Ergue os olhos e se concentra em algo que está do outro lado do refeitório.
– Isso precisa parar – diz ele, com uma voz distante, depois começa a caminhar em direção à coisa que está encarando, antes que eu consiga perceber o que é.
Isso não é um bom sinal.
Ele desliza por entre as mesas e as pessoas como se fosse mais líquido do que sólido, e eu corro atrás dele, pedindo desculpas ao empurrar as pessoas do
caminho.
De repente, vejo exatamente para onde Christopher está indo. Víctor. Ele está sentado com alguns dos membros mais velhos da Franqueza.
Christopher o alcança e o agarra pela nuca, arrastando-o para fora do banco. Víctor abre a boca para falar algo, mas isso é um erro, porque Tobias acerta um soco forte em seus dentes. Alguém grita, mas ninguém corre para ajudar Víctor. Afinal de contas, estamos em um salão repleto de membros da Audácia.
Christopher empurra Vícotor para o centro do refeitório, onde há um espaço entre as mesas com um símbolo da Franqueza. Víctor tropeça e cai sobre uma das balanças da Franqueza, cobrindo o rosto com a mão, o que me impede de ver o estrago causado por Christopher.
Christopher empurra Víctor no chão e apoia a sola do sapato em sua garganta.
Víctor bate na perna de Christopher, com sangue escorrendo dos lábios, mas, mesmo que estivesse em sua melhor forma, não seria tão forte quanto o filho. Christopher abre a fivela de seu cinto e o solta da calça.
Ele retira o pé da garganta de Vícitor e levanta o cinto.
– Isso é para o seu próprio bem – diz ele.
Lembro-me de que foi isso que Víctor e suas muitas manifestações disseram
para Christopher em sua paisagem do medo.
Depois, o cinto zune no ar e acerta o braço de Víctor. Seu rosto está completamente vermelho, e ele cobre a cabeça no golpe seguinte, que acerta suas costas. Ao redor de mim, ouço risadas vindas das mesas da Audácia. Mas eu não estou rindo. Não consigo rir de algo assim.
Finalmente, recupero os sentidos. Corro e agarro o ombro de Christopher.
– Pare! Christopher, pare com isso agora!
Espero ver um olhar de selvageria em seu rosto, mas, quando ele olha para mim, não é isso o que vejo. Seu rosto não está ruborizado e sua respiração está normal.
O ataque não foi realizado no calor do momento.
Foi um ato calculado.
Ele solta o cinto e enfia a mão no bolso, de onde tira um cordão prateado com um anel pendurado. Víctor está ao seu lado lutando para respirar. Christopher joga o anel no chão, ao lado do rosto do seu pai. O anel é feito de um metal manchado e embotado; uma aliança da Abnegação.
– Minha mãe manda lembranças – diz Christopher.
Christopher se afasta, e demoro alguns segundos para voltar a respirar. Quando finalmente recupero o fôlego, deixo Víctor se contorcendo no chão e corro atrás de Christopher. Só consigo alcançá-lo no corredor.
– O que foi aquilo?
Christopher aperta o botão DESCER do elevador sem olhar para mim.
– Foi necessário.
– Necessário para quê?
– Que foi? Está com pena dele agora? – pergunta Christopher, voltando-se para mim com uma expressão carrancuda. – Sabe quantas vezes ele fez isso comigo? Como você acha que eu aprendi a fazer aquilo?
Sinto-me frágil, como se estivesse prestes a desabar. Realmente, o ataque pareceu algo ensaiado, como se Christopher tivesse seguido uma lista de ações programadas e ensaiado as palavras na frente do espelho. Ele as sabia de cor, mas estava fazendo o outro papel dessa vez.
– Não – digo, baixinho. – Não, não sinto pena dele, nem um pouco.
– Então, qual é o problema, Dul? – Sua voz é dura, e talvez seja ela que me faça desabar. – Há uma semana que você não dá a mínima para o que eu faço ou digo; o que há de diferente dessa vez?
Estou quase com medo dele. Não sei o que dizer quando vejo seu lado desequilibrado, e ele está presente agora, borbulhando sob a superfície das suas ações, como às vezes acontece com meu lado cruel. Ambos travamos uma guerra dentro de nós. Às vezes, isso nos mantém vivos. Outras vezes, ameaça nos destruir.
– Nada – respondo.
O elevador apita ao chegar. Ele entra e aperta o botão FECHAR, e a porta se fecha entre nós. Encaro o metal polido e tento repassar os últimos dez minutos na minha cabeça.
– Isso precisa parar – disse ele. “Isso” era a zombaria, resultante do interrogatório em que admitiu ter se juntado à Audácia apenas para escapar do pai. Por isso ele espancou Víctor. Espancou-o publicamente, onde todos da Audácia puderam ver.
Por quê? Para recuperar o seu orgulho? Não pode ser. Seu ato foi intencional demais para isso.
+++
No caminho de volta para o refeitório, vejo um homem da Franqueza levando
Víctor para o banheiro. Ele caminha devagar, mas não está com o corpo inclinado, o que indica que Christopher não causou nenhum estrago mais sério. Vejo a porta do banheiro bater atrás deles.
Havia quase me esquecido do que ouvi no complexo da Amizade, sobre a
informação pela qual meu pai arriscou sua vida. Ou supostamente arriscou sua
vida, penso. Talvez não seja sensato confiar nas palavras de Víctor. E eu prometi a mim mesma que não perguntaria mais nada sobre isso a ele.
Espero do lado de fora do banheiro até que o homem da Franqueza sai, e entro antes de a porta se fechar completamente. Marcus está sentado no chão, do lado da pia, segurando um bolo de toalhas de papel na boca. Ele não parece feliz em me ver.
– Que foi? Veio se vangloriar? – pergunta ele. – Vá embora.
– Não.
Por que estou aqui, exatamente?
Ele me encara, esperando uma reação.
– E aí?
– Decidi refrescar a sua memória. Seja lá o que você quer pegar da Jeanine, não conseguirá fazer isso sozinho, nem só com a ajuda da Abnegação.
– Achei que tivesse deixado isso bem claro. – Sua voz é abafada pelas toalhas de
papel. – A ideia de que você pudesse ajudar...
– Não sei de onde você tira essa loucura de que sou inútil, mas não passa disto: uma loucura. Só vim dizer que, quando você deixar essa loucura de lado e começar a se desesperar porque é incapaz de resolver isso sozinho, já sabe a quem recorrer.
Deixo o banheiro no exato momento em que o homem da Franqueza volta com
um saco de gelo.
Autor(a): Fer Linhares
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Fico parada diante da pia do banheiro feminino, no andar recentemente tomado pela Audácia, com uma arma sobre a palma da mão. Lynn colocou a arma na minha mão há alguns minutos. Ela pareceu confusa pelo fato de eu não ter segurado a arma e a guardado em algum lugar, em um coldre ou na cintura da minha calça jeans. ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
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manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
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manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
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manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
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manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
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manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
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manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
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Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa