Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
Fico parada diante da pia do banheiro feminino, no andar recentemente tomado pela Audácia, com uma arma sobre a palma da mão. Lynn colocou a arma na minha mão há alguns minutos. Ela pareceu confusa pelo fato de eu não ter segurado a arma e a guardado em algum lugar, em um coldre ou na cintura da minha calça jeans. Apenas a deixei pousada sobre a palma da mão e caminhei até o banheiro antes de entrar em pânico.
Não seja idiota. Não posso ir fazer o que farei sem uma arma. Seria loucura.
Portanto, preciso resolver meu problema nos próximos cinco minutos.
Fecho o dedo mindinho sobre o punho da arma primeiro, depois o dedo anelar e
os outros. O peso da arma me parece familiar. Meu indicador desliza sobre o
gatilho. Solto a respiração.
Começo a erguer a arma, levando a mão esquerda à direita, para estabilizá-la.
Aponto a arma para a frente, com os braços tesos, como Quatro me ensinou quando este ainda era seu único nome. Usei uma arma como essa para defender meu pai e meu irmão de soldados da Audácia sob o efeito da simulação. Usei-a para evitar que Eric atirasse na cabeça de Christopher. A arma não é inerentemente má.
Ela é apenas uma ferramenta.
Vejo um pequeno movimento no espelho e, antes que eu consiga me conter, encaro meu reflexo. É assim que ele me viu, penso. É assim que ele me viu quando atirei nele.
Solto um gemido, como um animal ferido, largo a arma e aperto o estômago.
Quero soluçar, porque sei que isso fará com que eu me sinta melhor, mas não posso me forçar a chorar. Apenas me encolho no banheiro, encarando os ladrilhos
brancos. Não consigo. Não consigo levar a arma.
Eu nem deveria ir; mas vou mesmo assim.
– Dul? – Alguém bate à porta. Levanto-me e descruzo os braços enquanto a porta se abre alguns centímetros. Christopher entra no banheiro.
– Zeke e Uriah me disseram que você vai ouvir a conversa de Jack escondida.
– É mesmo?
– Você vai?
– Por que eu deveria contar a você? Você não me conta todos os seus planos.
Ele franze as sobrancelhas retas.
– Sobre o que você está falando?
– Estou falando sobre você espancar Víctor na frente de todos da Audácia sem motivo aparente. – Dou um passo em sua direção. – Mas existe um motivo, não é?
Porque não é do seu feitio perder o controle. Ele não fez nada para provocá-lo, então deve haver um motivo!
– Eu precisava provar para a Audácia que não sou um covarde. Só isso. Foi só
isso o que aconteceu.
– Por que você precisaria... – Começo a dizer.
Por que Christopher precisaria provar algo para a Audácia? Só se for porque ele quer que o respeitem. Só se for porque quer se tornar um líder da Audácia. Lembro-me da voz da Alexandra, no escuro do esconderijo dos sem-facção: O que estou sugerindo é que você se torne importante.
Christopher quer que a Audácia alie-se aos sem-facção e sabe que a única maneira de garantir que isso aconteça é se ele mesmo fizer com que aconteça.
Mas não entendo por que ele não compartilhou seu plano comigo. Antes que eu
consiga perguntar, ele diz:
– E aí? Você vai ouvir a reunião ou não?
– O que importa?
– Você está se expondo ao perigo sem razão outra vez. Como você fez quando subiu para enfrentar a Erudição com nada mais do que... um canivete para se proteger.
– Há um motivo. Um bom motivo. Não saberemos o que está acontecendo, a não ser que escutemos a reunião deles, e precisamos realmente descobrir o que está acontecendo.
Ele cruza os braços. Não é parrudo como outros garotos da Audácia. Algumas garotas podem achar que suas orelhas são de abano, ou que o nariz se curva de um jeito estranho, mas para mim...
Engulo o pensamento. Ele veio aqui me dar uma bronca. Tem escondido coisas
de mim. Seja lá qual for a nossa relação agora, não posso ficar pensando sobre o quanto o acho atraente. Isso só me atrapalhará a fazer o que precisa ser feito. E agora isso significa ouvir o que Jack Kang tem a dizer à Erudição.
– Você não está mais cortando o cabelo como um membro da Abnegação – digo. – É porque você quer se parecer mais com um membro da Audácia?
– Não mude de assunto. Já há quatro pessoas indo ouvir a reunião. Você não precisa ir.
– Por que você está insistindo tanto para que eu fique? – Aumento o volume da minha voz. – Não sou o tipo de pessoa que fica parada e deixa que os outros se arrisquem!
– Enquanto você for o tipo de pessoa que não parece valorizar a própria vida... o tipo de pessoa que não consegue nem erguer e disparar uma arma... – Ele se inclina em minha direção. – Você deveria ficar parada e deixar que outras pessoas se arrisquem.
Sua voz tranquila pulsa ao meu redor como um segundo batimento cardíaco.
Ouço as palavras “não parece valorizar a própria vida” se repetindo na minha cabeça.
– O que você vai fazer? – pergunto. – Vai me trancar no banheiro? Porque só assim você vai conseguir me impedir.
Ele encosta a mão na testa, depois a deixa deslizar pelo lado do rosto. É a primeira vez que vejo seu rosto murchar assim.
– Não quero parar você. Quero que pare a si mesma. Mas, se você quer ser imprudente, não pode impedir que eu vá junto.
+++
Ainda está escuro, mas não muito, quando alcançamos a ponte, que conta com dois andares e colunas de pedra em cada um dos lados. Descemos a escada ao lado de uma das colunas de pedra e nos esgueiramos silenciosamente ao alcançarmos o nível do rio. Grandes poças de água parada brilham, refletindo a luz do dia. O sol está nascendo; precisamos assumir nossas posições.
Uriah e Zeke estão em prédios dos dois lados da ponte, para terem uma visão melhor e poderem nos cobrir a distância. A mira deles é melhor do que a de Lynn e Shauna, que veio porque Lynn pediu que viesse, apesar do seu escândalo no Espaço de Reunião.
Lynn move-se primeiro, com as costas encostadas na pedra, enquanto se esgueira pela parte inferior dos apoios da ponte. Eu a sigo, acompanhada por Shauna e Christopher. A ponte é apoiada por quatro estruturas curvas de metal, que a prendem ao muro de pedra, e por um emaranhado de vigas estreitas sob o andar inferior. Lynn se aperta sob uma das estruturas de metal e escala rapidamente, mantendo as vigas estreitas sob seu corpo enquanto segue até o meio da ponte.
Deixo que Shauna vá na minha frente, porque não sei escalar muito bem. Meu braço esquerdo treme quando tento me equilibrar sobre a estrutura de metal. Sinto a mão fria de Christopher na minha cintura, equilibrando-me.
Agacho-me para entrar no espaço entre o fundo da ponte e as vigas sob meu corpo. Não vou muito longe antes de precisar parar, com um pé em uma viga e o braço esquerdo em outra. E eu precisarei ficar naquela posição por muito tempo.
Christopher segue por uma das vigas e coloca a perna esquerda sob meu corpo. Ela é longa o bastante para se esticar sob mim, até outra viga. Solto a respiração e sorrio para ele, agradecida. É a primeira vez que trocamos olhares desde que deixamos o Merciless Mart.
Ele sorri de volta, mas com um ar sombrio.
Esperamos em silêncio. Respiro pela boca, tentando controlar os tremores dos meus braços e pernas. Shauna e Lynn parecem se comunicar sem palavras. Elas trocam expressões faciais que eu não consigo decifrar, acenando com a cabeça e sorrindo quando chegam a um entendimento. Nunca pensei sobre como seria ter
uma irmã. Será que eu seria mais próxima de Caleb se ele fosse uma menina?
A cidade está tão quieta esta manhã que os passos ecoam ao se aproximarem da ponte. O som vem de trás de mim, o que deve significar que são de Jack e seus guardas da Audácia, e não dos membros da Erudição. Os guardas da Audácia sabem que estamos aqui, mas Jack Kang, não. Se ele olhar para baixo por alguns segundos, talvez consiga nos ver por entre a malha de metal sob seus pés. Tento respirar o mais baixo possível.
Christopher confere seu relógio, depois levanta o braço para me mostrar o visor. São exatamente sete horas.
Levanto a cabeça para ver entre a teia de aço acima de mim. Pés passam sobre a minha cabeça. De repente, ouço sua voz.
– Olá, Jack.
É Max, que indicou Eric para o posto de líder da Audácia a pedido de Jeanine e que implementou políticas de crueldade e brutalidade na iniciação da Audácia.
Nunca falei diretamente com ele, mas o som da sua voz me faz estremecer.
– Max – diz Jack. – Onde está Jeanine? Pensei que ela ao menos teria a cortesia de vir em pessoa.
– Eu e Jeanine compartilhamos responsabilidades, de acordo com nossas
especialidades. Isso significa que tomo todas as decisões militares. Acho que isso inclui o que estamos fazendo hoje.
Franzo a testa. Não ouvi Max falando em muitas ocasiões, mas há algo nas palavras que ele está usando, em seu ritmo, que soa... estranho.
– Tudo bem – diz Jack. – Vim para...
– Devo informar-lhe que isso não será uma negociação – diz Max. – Para que pudéssemos negociar, teríamos que estar no mesmo patamar, e você, Jack, não está.
– O que quer dizer com isso?
– Quero dizer que vocês são a única facção descartável. A Franqueza não nos oferece proteção, sustento ou inovação tecnológica. Portanto, para nós, vocês são dispensáveis. Além disso, vocês não se esforçaram muito para agradar seus hóspedes da Audácia – diz Max. – Por isso, vocês são completamente vulneráveis e inúteis. Portanto, sugiro que você faça exatamente o que eu digo.
– Seu desgraçado – diz Jack, entre dentes cerrados. – Como ousa...
– Não precisa ficar nervosinho – diz Max.
Mordo o lábio. Devo confiar em meus instintos, e meus instintos me dizem que há algo errado aqui. Nenhum homem respeitável da Audácia usaria a palavra “nervosinho”. Nem reagiria com tanta tranquilidade a um insulto. Ele está falando como outra pessoa. Está falando como Jeanine.
Sinto um arrepio na nuca. Faz total sentido. Jeanine não confiaria em ninguém para representá-la, especialmente um membro instável da Audácia. A melhor solução para esse problema seria colocar um fone de ouvido em Max. E o sinal de um fone de ouvido só alcança cerca de quarenta metros.
Chamo a atenção de Christopher e lentamente ergo a mão e aponto para a minha orelha. Depois, aponto para cima, tentando ao máximo indicar o lugar onde Max está.
Chritopher franze a testa por um instante, depois acena com a cabeça, mas não tenho certeza de que entendeu.
– Tenho três exigências – diz Max. – Primeiro, que você devolva o líder da Audácia que tem mantido preso. Segundo, que permita que seu complexo seja revistado por nossos soldados, para que possamos extrair os Divergentes de lá. E terceiro, que você nos forneça os nomes daqueles que não foram injetados com o soro de simulação.
– Por quê? – pergunta Jack, amargamente. – O que estão procurando? E por que precisam desses nomes? O que pretendem fazer com eles?
– O propósito da nossa revista seria a localização e a remoção de todos os Divergentes do complexo. Quanto aos nomes, não é da sua conta.
– Não é da minha conta?! – Ouço passos rangendo acima de mim e olho para cima, através do emaranhado de metal. Pelo que posso ver, Jack agarrou a gola da camisa de Max.
– Solte-me! – diz Max. – Ou ordenarei que meus guardas atirem!
Franzo a testa. Se Jeanine está falando por Max, ela teria que conseguir vê-lo para saber que ele foi agarrado. Inclino-me para a frente a fim de conseguir ver os prédios do outro lado da ponte. À minha esquerda, há uma curva no rio, com um pequeno prédio de vidro na margem. Ela deve estar lá.
Começo a escalar para trás, em direção à estrutura de metal que sustenta a
ponte e à escada de metal que leva à Wacker Drive. Christopher segue-me imediatamente, e Shauna cutuca o ombro de Lynn. Mas Lynn está fazendo outra coisa.
Eu estava tão preocupada com Jeanine que não notei que Lynn havia sacado sua arma e começado a escalar em direção à beirada da ponte. Shauna abre a boca e arregala os olhos quando Lynn lança o corpo para a frente, agarrada à beirada da ponte, e joga o braço por cima dela. Seu dedo aperta o gatilho.
Max arfa, agarrando o peito, e tropeça para trás. Quando ele afasta a mão, ela está escura, manchada de sangue.
Não me preocupo mais em escalar. Salto até a lama, e Christopher, Lynn e Shauna me seguem. Minhas pernas afundam no brejo, e meus pés fazem ruídos de sucção quando os solto. Perco meus sapatos, mas continuo correndo até alcançar o concreto. Armas disparam e balas atingem a lama perto de onde estou. Jogo-me
contra o muro sob a ponte para que eles não consigam mirar em mim.
Christopher se aperta contra a parede atrás de mim, tão perto que seu queixo flutua sobre a minha cabeça e consigo sentir seu peito encostado em meu ombro. Ele está me protegendo.
Posso correr até a sede da Franqueza, até uma segurança temporária. Ou posso encontrar Jeanine no que provavelmente será o estado mais vulnerável no qual ela jamais estará.
Nem há o que escolher.
– Vamos! – digo. Começo a subir a escada correndo, com os outros me seguindo.
No andar inferior da ponte, nossos guardas da Audácia atiram contra os traidores.
Jack está seguro, encolhido, com um guarda da Audácia protegendo suas costas.
Corro mais rápido. Atravesso a ponte correndo sem olhar para trás. Já consigo ouvir os passos de Christopher. Ele é o único que consegue me acompanhar.
Localizo o prédio de vidro. Depois, ouço mais passos e mais tiros. Corro em ziguezague, para evitar que os traidores da Audácia me acertem.
Estou perto do prédio de vidro, a apenas alguns metros de distância. Cerro os dentes e me esforço para correr mais rápido. Minhas pernas estão dormentes; quase não sinto o chão sob meus pés. Mas, antes que eu consiga alcançar a porta, vejo um movimento no beco à minha direita. Viro o corpo e sigo o movimento.
Três figuras estão correndo no beco. Uma é loira. A outra é alta. E a última é
Peter.
Tropeço e quase caio.
– Peter! – grito. Ele ergue a arma e, atrás de mim, Christopher ergue a sua. Estamos a poucos metros uns dos outros, paralisados. Atrás de Peter, a mulher loira, que provavelmente é Jeanine, e o traidor alto da Audácia viram a esquina. Embora eu não tenha uma arma, nem um plano, quero correr atrás deles, e talvez fizesse isso se Christopher não tivesse agarrado o meu ombro e me mantido no lugar.
– Seu traidor – digo para Peter. – Eu sabia. Eu sabia.
Um grito corta o espaço. É um grito feminino angustiado.
– Parece que seus amigos precisam de vocês – diz Peter, esboçando um sorriso ou apenas exibindo os dentes cerrados, não sei ao certo. Ele mantém sua arma firme.
– Então, vocês têm uma escolha. Podem nos deixar ir embora e ir ajudá-los ou
podem morrer tentando nos seguir.
Quase solto um grito. Nós dois sabemos o que eu vou fazer.
– Espero que você morra – digo.
Ando para trás, até esbarrar em Christopher. Depois, continuamos a recuar, até atingirmos a entrada do beco, onde viramos e corremos.
Autor(a): Fer Linhares
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+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Shauna está deitada no chão, com o rosto para baixo e uma mancha de sangue crescendo em sua camisa. Lynn ajoelha-se ao seu lado. Ela a encara, mas não faz mais nada.– A culpa é minha – murmura ela. – Não deveria ter atirado nele. Não deveria...Encaro a mancha de sangue. Ela foi alvejada nas costas. N&atild ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
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manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
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manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
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manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
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manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
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manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
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manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
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Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa