Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
Menos de dez minutos depois de escolhermos nossos novos líderes, um sinal soa em um pulso longo, seguido de outros dois mais curtos. Caminho em direção ao som, com a orelha voltada para a parede, e encontro um alto-falante suspenso do teto.
Há outro do outro lado da sala.
De repente, a voz de Jack Kang ressoa por toda a sala:
– Atenção todos os ocupantes da sede da Franqueza. Há algumas horas,
encontrei-me com um representante de Jeanine Matthews. Ele me lembrou de que a Franqueza está em uma posição frágil e que dependemos da Erudição para a nossa sobrevivência, e disse que, se eu quiser manter a nossa facção livre, terei que cumprir algumas exigências.
Encaro o alto-falante, chocada. O fato de o líder da Franqueza estar sendo tão direto não deveria me chocar, mas não esperava um anúncio público.
– Para que possamos cumprir essas exigências, peço que todos se direcionem ao
Espaço de Reunião, para dizer se foram injetados com um implante ou não – diz ele. – A Erudição também ordenou que todos os Divergentes se entreguem a eles.
Não sei por que motivo.
Ele soa apático. Derrotado. Bem, ele realmente foi derrotado, penso. Porque estava fraco demais para resistir.
Uma coisa que a Audácia sabe fazer, e a Franqueza não, é lutar, mesmo quando
isso parece inútil.
Às vezes, sinto que estou colecionando as lições que cada facção tem a me ensinar e guardando-as em minha mente, como um guia para me virar no mundo.
Há sempre algo a aprender, sempre algo que é importante entender.
O anúncio de Jack Kang termina com os mesmos três sinos com os quais começou. Os membros da Audácia se espalham rapidamente pela sala, jogando
suas coisas dentro de malas. Alguns jovens cortam o lençol que está prendendo a
porta, gritando algo sobre Eric. Alguém me pressiona contra a parede e fico parada, assistindo, enquanto o pandemônio se intensifica.
Por outro lado, uma coisa que a Franqueza sabe, e a Audácia não, é como não perder o controle.
+++
Os membros da Audácia estão em pé em um semicírculo ao redor de uma cadeira de interrogatório na qual Eric está sentado. Ele parece estar mais morto do que vivo. Seu tórax está inclinado para a frente, com gotas de suor brilhando na testa.
Ele encara Christopher com a cabeça caída, fazendo com que seus cílios se misturem às suas sobrancelhas. Tento manter meus olhos concentrados nele, mas seu sorriso – a maneira como seus piercings se afastam quando seus lábios se esticam – é quase terrível demais para suportar.
– Você quer que eu liste os seus crimes? – indaga Maite. – Ou prefere listá-los
você mesmo?
A chuva bate do lado de fora do prédio e escorre pelas paredes internas.
Estamos na sala de interrogatório, no andar superior do Merciless Mart. O som da tempestade da tarde é mais alto aqui em cima. Cada ronco de trovão e lampejo de relâmpago arrepia minha nuca, como se houvesse eletricidade dançando sobre
minha pele.
Gosto do cheiro de concreto molhado. O cheiro quase não chega aqui em cima, mas, quando tivermos terminado com isso, todos da Audácia vão descer correndo as escadas e deixar o Merciless Mart para trás, e o único cheiro que sentirei será do concreto molhado.
Já estamos com nossas bagagens. A minha é um saco feito com um lençol e
algumas cordas. Dentro dele levo minhas roupas e um par de sapatos extra. Estou
usando a jaqueta que roubei da traidora da Audácia. Quero que Eric a veja, caso
olhe para mim.
Eric olha para a multidão por alguns segundos, e seus olhos param em mim. Ele entrelaça os dedos e os pousa delicadamente sobre o estômago.
– Gostaria que ela os listasse. Já que foi ela quem me esfaqueou, tenho certeza
de que os conhece muito bem.
Não sei aonde ele quer chegar com isso ou qual é o objetivo de me provocar, especialmente agora, logo antes da sua execução. Ele demonstra um ar de arrogância, mas percebo que seus dedos tremem ao se mexer. Até Eric tem medo da morte.
– Deixe-a fora disso – diz Christopher.
– Por quê? Porque você está transando com ela? – Ele solta um risinho debochado. – Ah, é. Esqueci. Caretas não fazem esse tipo de coisa. Eles apenas
amarram os cadarços e cortam os cabelos uns dos outros.
A expressão de Christopher não muda. Acho que compreendo: Eric não liga para mim.
Mas ele sabe exatamente como atingir Christopher e com que força fazê-lo. E uma das maneiras de atingir Christopher com o máximo de força é me atingir.
É isso o que eu queria evitar: que meus altos e baixos se tornassem os altos e baixos de Christopher. É por isso que não posso permitir que ele me defenda agora.
– Quero que ela os liste – repete Eric.
Falo no tom mais uniforme que consigo:
– Você conspirou com a Erudição. Você é responsável pela morte de centenas de membros da Abnegação. – Enquanto sigo com a lista, não consigo mais manter a voz firme. Começo a cuspir as palavras, como veneno: – Você traiu a Audácia. Você atirou na cabeça de uma criança. Você é um joguete ridículo de Jeanine Matthews.
Seu sorriso se desfaz.
– Mereço morrer?
Christopher abre a boca para interromper, mas eu respondo antes:
– Sim.
– Tem razão. – Seus olhos estão vazios, como fossos, como noites sem estrelas.
– Mas será que você tem o direito de decidir isso, Dulce Saviñón? Como você decidiu o destino daquele outro garoto? Qual era o nome dele mesmo? Afonso?
Não respondo. Ouço meu pai falando, enquanto lutávamos para entrar na sala de controle da sede da Audácia:
– O que a faz pensar que você tem o direito de atirar em alguém?
Ele me disse que havia uma maneira certa de fazer as coisas e que eu precisava descobrir qual era. Sinto algo na minha garganta, como uma bola de cera, tão grossa que mal consigo engolir, mal consigo respirar.
– Você cometeu todos os crimes puníveis por execução dentro da nossa facção –
diz Christopher. – Nós temos o direito de executá-lo, pelas leis da Audácia.
Ele se agacha ao lado das três armas que estão no chão, ao lado dos pés de Eric.
Um por um, ele esvazia os carregadores de munição. As balas quase retinem ao atingir o chão, depois rolam e param contra a ponta do sapato de Christopher. Ele pega a arma do meio e coloca uma bala no primeiro espaço do carregador.
Depois, move as três armas no chão, de um lado para outro, até que meus olhos já não conseguem mais seguir a arma do meio. Não sei mais qual delas está carregada. Ele pega as armas e oferece uma a Maite e outra a Harrison.
Tento pensar na simulação de ataque e no que ela causou à Abnegação. Todos
os inocentes, vestidos de cinza, mortos nas ruas. Nem sobraram membros o suficiente da Abnegação para cuidar dos corpos, que ainda devem estar jogados lá.
E tudo isso não teria sido possível sem Eric.
Penso no garoto da Franqueza, que Eric matou sem hesitar, e como seu corpo estava rígido quando atingiu o chão ao meu lado.
Talvez não sejamos nós que estamos decidindo se Eric vive ou morre. Talvez tenha sido ele mesmo quem decidiu, quando fez todas essas coisas terríveis.
Mesmo assim, é difícil respirar.
Olho para ele sem malícia, sem ódio e sem medo. As argolas em seu rosto
brilham, e uma mecha de cabelo sujo cai sobre seus olhos.
– Esperem. Tenho um pedido a fazer.
– Não aceitamos pedidos de criminosos – diz Maite. Ela está em pé sobre uma perna só há alguns minutos. Sua voz soa cansada. Ela provavelmente quer acabar logo com isso, para poder sentar-se novamente. Para ela, a execução é apenas uma inconveniência.
– Sou um líder da Audácia. E tudo o que peço é que Quatro seja a pessoa a atirar.
– Por quê? – pergunta Christopher.
– Para que você seja obrigado a viver com a culpa – responde Eric. – De saber que você usurpou o meu posto e depois atirou na minha cabeça.
Acho que entendo o que ele quer. Quer ver as pessoas ruindo. É o que sempre quis, desde que colocou uma câmera na sala onde tentaram me executar, e eu quase me afoguei, e provavelmente muito antes disso. E ele acredita que, se
Christopher for obrigado a matá-lo, conseguirá ver isso antes de morrer.
É doentio.
– Não sentirei culpa alguma – diz Christopher.
– Então você não terá problema em fazê-lo. – Eric sorri novamente.
Christopher pega uma das balas.
– Diga-me – diz Eric baixinho –, porque eu sempre quis saber. É o seu papai que aparece em todas as paisagens do medo pelas quais você já passou?
Christopher coloca a bala no carregador vazio sem levantar a cabeça.
– Não gostou da minha pergunta? – diz Eric. – O que foi? Está com medo de que os membros da Audácia mudem de ideia a respeito de você? Que eles percebam que, mesmo com apenas quatro medos, você ainda não passa de um covarde?
Ele se ajeita na cadeira e apoia as mãos nos descansos.
Christopher ergue a arma com a mão esquerda.
– Eric – diz ele –, seja corajoso.
E aperta o gatilho.
Eu fecho os olhos.
Autor(a): Fer Linhares
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
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manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
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manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
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manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
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manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
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manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
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manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
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Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa