Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
Alguém faz uma incursão à cozinha da Audácia e esquenta os alimentos não
perecíveis que estavam guardados lá para podermos comer algo quente de noite.
Sento-me à mesma mesa a que costumava me sentar com Anahí, Al e Afonso. Logo que me sento, sinto um nó na garganta. Como é possível que tenha sobrado apenas metade de nós?
Sinto-me responsável por isso. Meu perdão poderia ter salvado Al, mas eu não o dei. Meu raciocínio poderia ter poupado Afonso, mas não consegui usá-lo.
Antes que eu me afunde demais na culpa, Uriah coloca sua bandeja ao meu lado na mesa. Ela está cheia de ensopado de carne e bolo de chocolate. Olho fixamente para a pilha de bolo de chocolate.
– Tinha bolo? – pergunto, encarando minha bandeja, muito mais vazia que a de Uriah.
– Sim, alguém acabou de trazer. Eles acharam algumas caixas de massa nos fundos e decidiram prepará-las. Pode comer um pouco do meu.
– Um pouco? Quer dizer que você planeja comer esta montanha de bolo toda sozinho?
– Sim. – Ele parece confuso. – Por quê?
– Deixa pra lá.
Anahí senta-se do outro lado da mesa, o mais distante de mim possível. Zeke coloca sua bandeja na mesa ao lado dela. Logo, Lynn, Hector e Marlene juntam-se a nós. Vejo algo se movimentando sob a mesa e percebo que Marlene segura a mão de Uriah sobre o joelho dele. Eles entrelaçam os dedos. Os dois estão claramente tentando aparentar naturalidade, mas trocam olhares mesmo assim.
À esquerda de Marlene, Lynn está com cara de quem comeu algo amargo. Ela enfia a comida na boca.
– Qual é o problema? – pergunta Uriah para ela. – Você vai vomitar se continuar
comendo rápido assim.
Lynn olha para ele com uma careta.
– Vou vomitar de qualquer maneira se vocês dois continuarem trocando olhares dessa maneira.
As orelhas de Uriah ficam vermelhas.
– Não sei do que você está falando.
– Não sou idiota, nem as outras pessoas aqui. Então, por que vocês dois não ficam juntos de uma vez e acabam logo com isso?
Uriah parece chocado. Mas Marlene apenas olha feio para Lynn, depois se inclina para a frente e dá um beijo firme na boca de Uriah, deslizando os dedos pelo pescoço dele, sob a gola da sua camisa. Percebo que deixei cair todas as ervilhas do garfo que estava a caminho da minha boca.
Lynn agarra sua bandeja e sai correndo da mesa.
– O que foi isso? – pergunta Zeke.
– Eu é que não sei – diz Hector. – Ela está sempre irritada com alguma coisa. Já desisti de tentar entender.
Uriah ainda está com o rosto próximo ao de Marlene, e os dois estão sorrindo.
Esforço-me para encarar minha bandeja. É estranho ver duas pessoas que você conheceu separadas se juntando, embora já tenha visto isso acontecer antes. Ouço um guincho vindo da bandeja de Christina, que ela arranha distraidamente com o garfo.
– Quatro! – grita Zeke, chamando-o. Ele parece aliviado. – Vem aqui! Tem espaço!
Christopher apoia a mão em meu ombro saudável. Algumas das juntas da sua mão estão feridas, e o sangue nelas parece fresco.
– Desculpa, não posso ficar – diz ele.
Ele se inclina para a frente e diz:
– Você pode vir comigo, rapidinho?
Eu me levanto, despedindo-me de todos à mesa que estão prestando atenção.
Ou seja, apenas de Zeke, porque Anahí e Hector estão encarando suas bandejas, e Uriah e Marlene estão conversando baixinho. Eu e Tobias saímos do refeitório.
– Para onde estamos indo?
– Para o trem. Tenho uma reunião, e quero que você me ajude a avaliar a
situação.
Subimos um dos caminhos que cruzam os paredões do Fosso, em direção à
escada que leva à Pira.
– Por que você precisa de mim para...
– Porque você é melhor nisso do que eu.
Não sei como responder. Subimos a escada e cruzamos o chão de vidro. No caminho para fora, atravessamos a sala úmida onde enfrentei minha paisagem do medo. A julgar pela seringa jogada no chão, alguém esteve aqui recentemente.
– Você passou pela paisagem do medo hoje? – pergunto.
– Por que você acha isso? – Seus olhos escuros evitam os meus. Ele abre a porta da frente do edifício, e o ar de verão dança ao meu redor. Não está ventando.
– As juntas das suas mãos estão cortadas, e alguém esteve usando aquela sala.
– É exatamente isso o que quero dizer. Você é muito mais perceptiva do que a maioria das pessoas. – Ele confere seu relógio. – Eles disseram para eu pegar o trem das 20h05. Vamos.
Sinto uma ponta de esperança. Talvez não discutamos dessa vez. Talvez as coisas finalmente melhorem entre nós.
Caminhamos até os trilhos. A última vez que fizemos isso, ele queria me mostrar que as luzes estavam acesas no complexo da Erudição e me dizer que estavam planejando um ataque contra a Abnegação. Agora, tenho a impressão de que vamos nos encontrar com os sem-facção.
– Sou perceptiva o bastante para perceber que você está fugindo da minha pergunta.
Ele suspira.
– Sim, passei pela minha paisagem do medo. Queria saber se ela havia mudado.
– E ela mudou, não mudou?
Christopher afasta um fio de cabelo que caiu sobre seu rosto e evita encarar meus olhos. Não sabia que seu cabelo era tão espesso. Não dava para ver tão bem
quando ele tinha a cabeça raspada, ao estilo da Abnegação. Mas agora seu cabelo tem cinco centímetros de comprimento e quase cai sobre a testa. Isso o faz parecer menos ameaçador, e mais como a pessoa que conheci intimamente.
– Mudou. Mas o número continua o mesmo.
Ouço o trem apitando à minha esquerda, mas o farol do primeiro vagão está apagado, fazendo com que ele deslize sobre os trilhos como algo secreto e sinistro.
– O quinto vagão! – grita ele.
Nós dois começamos a correr. Alcanço o quinto vagão e seguro a barra lateral com a mão esquerda, puxando-a com toda a força. Tento jogar minhas pernas para dentro, mas elas não entram completamente; estão perigosamente perto das rodas. Solto um grito e ralo o joelho no chão ao me arrastar para dentro.
Christopher entra depois de mim e agacha-se ao meu lado. Agarro o joelho e ranjo os dentes.
– Deixe eu ver seu joelho – diz ele. Ele levanta a perna da calça jeans acima do
meu joelho. Seus dedos deixam rastros gelados e invisíveis na minha pele, e sinto vontade de agarrar sua camisa, puxá-lo para perto de mim e beijá-lo; penso em colar meu corpo ao dele, mas não posso, porque todos os nossos segredos criariam um espaço entre nós.
Meu joelho está vermelho, sangrando.
– É uma ferida superficial. Vai sarar rápido – diz ele.
Aceno afirmativamente com a cabeça. A dor já está passando. Ele enrola a calça para que permaneça acima do meu joelho. Deito no chão, olhando para o teto.
– E aí? Ele continua na sua paisagem do medo? – pergunto.
Parece que alguém acendeu um fósforo atrás dos seus olhos.
– Sim. Mas não da mesma maneira.
Ele me disse, certa vez, que sua paisagem do medo não havia mudado desde que passou por ela pela primeira vez, durante sua iniciação. Portanto, se ela mudou agora, mesmo que só um pouco, isso é algo importante.
– Agora você está nela. – Ele franze a testa e encara as próprias mãos. – Em vez de ter que atirar naquela mulher, como eu costumava fazer, preciso assistir a você morrendo. E não há nada que eu possa fazer para evitar.
Suas mãos tremem. Tento pensar em algo útil para dizer, como “Eu não vou
morrer”, mas não tenho como garantir isso. Vivemos em um mundo perigoso, e não valorizo tanto a vida a ponto de fazer qualquer coisa para sobreviver. Não há como confortá-lo.
Ele confere o relógio novamente.
– Eles chegarão a qualquer instante.
Levanto-me e vejo Alexandra e Edward parados ao lado dos trilhos. Começam a correr antes que o trem passe por eles e pulam para dentro com quase a mesma
facilidade que Christopher. Devem ter andado praticando.
Edward solta um riso de deboche ao me ver. Hoje em seu tapa-olho está costurado um grande “X” azul.
– Olá – cumprimenta Alexandra, olhando apenas para Christopher, como se eu nem estivesse aqui.
– Que ótimo local de encontro – diz Christopher. Está quase escuro agora, portanto vejo apenas o contorno negro dos prédios contra o céu azul-escuro e algumas luzes brilhando perto do lago, que devem ser da sede da Erudição.
O trem vira em uma direção que não costuma virar, para a esquerda, para longe das luzes da Erudição, em direção à parte abandonada da cidade. Pela redução dos ruídos dentro do vagão, percebo que o trem está desacelerando.
– Pareceu mais seguro – diz Alexandra. – Então, você queria se encontrar conosco.
– Sim. Gostaria de negociar uma aliança.
– Uma aliança – repete Edward. – E quem lhe deu a autoridade para fazer isso?
– Ele é um dos líderes da Audácia – digo. – Tem a autoridade para isso.
Edward ergue as sobrancelhas, impressionado. Alexandra finalmente olha para mim, mas apenas por alguns segundos, antes de sorrir para Christopher novamente.
– Interessante – diz ela. – Ela também é líder da Audácia?
– Não. Ela está aqui para me ajudar a decidir se devo ou não confiar em vocês.
Alexandra contrai os lábios. Parte de mim quer se aproximar do rosto dela e dizer: “Rá!” Mas me contento em dar um pequeno sorriso.
– Nós, é claro, concordamos com uma aliança... com algumas condições – diz
Alexandra. – Um lugar garantido e igual dentro do governo que se formará depois que a Erudição for destruída e o controle total dos dados da Erudição depois do ataque. É claro...
– O que você fará com os dados da Erudição? – interrompo-a.
– Vamos destruí-los, é claro. A única maneira de tirar o poder da Erudição é
tirando seu conhecimento.
Minha primeira reação é dizer o quão tola ela é. Mas algo me detém. Sem a tecnologia das simulações, sem os dados que eles têm a respeito das outras facções, sem seu foco no avanço tecnológico, o ataque contra a Abnegação não teria ocorrido. Meus pais estariam vivos.
Mesmo se conseguirmos matar Jeanine, será que poderíamos confiar que a Erudição não tentaria nos atacar e controlar novamente? Não tenho certeza.
– O que receberíamos em troca, sob esses termos? – pergunta Christopher.
– Nosso efetivo, que vocês precisam tanto para tomar a sede da Erudição, e um lugar igual no governo, ao nosso lado.
– Tenho certeza de que Maite também vai exigir o direito de livrar o mundo de Jeanine Matthews – diz ele, baixinho.
Ergo as sobrancelhas. Não sabia que o ódio de Maite por Jeanine era algo de conhecimento geral. Ou talvez não seja. Ele deve saber coisas sobre ela que as
outras pessoas não sabem, agora que os dois se tornaram líderes.
– Tenho certeza de que podemos arranjar isso – responde Alexandra. – Não me importa quem vai matá-la; quero apenas que ela morra.
Christopher olha para mim. Gostaria de poder contar para ele por que estou em conflito... explicar por que justamente eu tenho dúvidas sobre esmagar a Erudição, por assim dizer. Mas não saberia como explicar isso, mesmo que estivéssemos com tempo. Ele se volta para Alexandra.
– Então, estamos de acordo.
Ele lhe oferece a mão, e ela a aperta.
– Seria bom nos reunirmos em uma semana – diz ela. – Em um território neutro.
A maior parte da Abnegação graciosamente permitiu que nós ficássemos no setor deles da cidade, para elaborar nosso plano, enquanto eles limpam os escombros do ataque.
– A maior parte?
O rosto de Alexandra endurece.
– Infelizmente, seu pai ainda comanda muitos deles, e ele os aconselhou a nos evitar quando veio visitar o lugar há alguns dias. – Ela abre um sorriso amargo. – E eles concordaram, como fizeram quando ele os convenceu a me exilarem.
– Eles exilaram você? – pergunta Christopher. – Pensei que você tivesse nos deixado.
– Não, os membros da Abnegação estavam inclinados a perdoar e buscar uma reconciliação, como você deve imaginar. Mas seu pai é muito influente dentro da Abnegação, como sempre foi. Decidi ir embora para não ser obrigada a enfrentar a humilhação de um exílio público.
Christopher parece chocado.
Edward, que está pendurado do lado de fora do vagão há alguns segundos, diz:
– Está na hora!
– Nós nos vemos em uma semana – diz Alexandra.
Quando o trem desce para o nível da rua, Edward salta. Alguns segundos depois,
Alexandra o segue. Eu e Christopher permanecemos no trem, ouvindo o chiado das rodas nos trilhos, em silêncio.
– Por que você me trouxe, se ia fazer uma aliança de qualquer maneira? – pergunto finalmente, com a voz inexpressiva.
– Você não me deteve.
– O que eu poderia ter feito? Balançado as mãos para o alto? – Eu o encaro, irritada. – Mas não estou gostando nada disso.
– É uma aliança necessária.
– Não acho que seja. Deve haver outra maneira...
– Que outra maneira? – pergunta ele, cruzando os braços. – A questão é que você não gosta dela. Você não gosta dela desde que a conheceu.
– É claro que não gosto dela! Ela abandonou você!
– Eles a exilaram. E, se eu decidir perdoá-la, é melhor você também tentar fazer isso! Eu é que fui abandonado, não você.
– A questão é maior do que essa. Não confio nela. Acho que ela está tentando usar você.
– Mas não é você quem deve decidir isso.
– Por que você me trouxe, então? – digo, copiando seus braços cruzados. – Ah, lembrei. Para poder avaliar a situação. Bem, eu a avaliei e, só porque você não gosta do que eu decidi, não significa que...
– Eu tinha esquecido como sua parcialidade é capaz de obscurecer seu juízo. Se tivesse lembrado, não teria trazido você.
– A minha parcialidade? E quanto à sua parcialidade? E quanto a você achar que todos que odeiam seu pai tanto quanto você são seus aliados?
– Isso não tem nada a ver com ele!
– É claro que tem! Ele sabe de muitas coisas, Christopher. E nós deveríamos estar tentando descobrir que coisas são essas.
– Lá vem você de novo com essa história! Pensei que já tivéssemos resolvido isso. Ele é um mentiroso, Dul.
– Ah, é? – Ergo as sobrancelhas. – Bem, sua mãe também é. Você realmente acredita que a Abnegação exilaria alguém? Eu não acredito.
– Não fale assim da minha mãe.
Vejo uma luz na frente do trem. É a Pira.
– Está bem. – Caminho até a porta do vagão. – Não falarei mais.
Salto para fora, correndo um pouco ao alcançar o chão para manter o equilíbrio.
Christopher salta depois de mim, mas não permito que ele me alcance. Caminho diretamente para o edifício, desço a escada e volto para o Fosso, a fim de encontrar um lugar para dormir.
Comentem!!!!
Autor(a): Fer Linhares
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
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manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
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manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
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manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
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manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
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manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
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manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
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Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa