Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
Quando Christopher começa a cair no sono, mantém seus braços em volta de mim, firmes, como uma prisão para preservar minha vida. Eu espero, me mantendo desperta com o pensamento de corpos caindo pesadamente no chão, até que seu aperto hesita e sua respiração estabiliza.
Não vou deixar que Christopher vá para o complexo da Erudição quando atacarem novamente, quando mais alguém morrer. Não vou.
Eu escorrego para longe de seus braços. Visto um de seus moletons para que eu possa levar seu cheiro junto comigo. Deslizo meus pés para dentro dos meus sapatos. Não pego nenhuma arma ou lembrança.
Paro ao lado da porta, olho para ele, meio enterrado sob a colcha da cama, pacífico e forte.
— Eu te amo — digo baixinho, experimentando as palavras.
Deixo a porta se fechar atrás de mim.
É hora de colocar tudo em ordem.
Caminho até o dormitório onde os iniciados nascidos na Audácia dormiam. O quarto se parece exatamente com o que eu dormia quando era uma iniciada: é comprido e largo, com beliches, um ao lado do outro, e um quadro pendurado em uma das paredes. Eu vejo, com a ajuda de uma luz azul no canto, que ninguém se preocupou em apagar os nomes que estavam escritos no ranking lá – o nome de Uriah ainda está no topo.
Anahí dorme em um dos beliches do fundo, debaixo de Lynn. Não quero assustá-la, mas não há outro jeito de acordá-la. Então cubro a boca dela com uma de minhas mãos, ela acorda, encarando-me com seus olhos bem abertos. Eu toco levemente um de meus dedos em meus lábios, para que ela faça silêncio, e faço sinal para que ela me siga.
Ando até o final do corredor e viro para um canto. O corredor é iluminado por uma lâmpada de emergência que paira sobre uma das saídas. Anahí está descalça; ela encolhe seu dedão para protegê-lo do frio.
— O que está acontecendo? — ela pergunta. — Vai a algum lugar?
— Sim, eu vou... — Tenho que mentir, ou ela tentará impedir. — Vou ver meu irmão. Ele está com a Abnegação, lembra-se?
Ela estreita os olhos.
— Desculpe-me por te acordar. Mas há algo que preciso que você faça por mim. É realmente importante.
— Tudo bem. Dul, você está agindo de maneira muito estranha. Você tem certeza de que não...
— Não. Me escute. A hora da simulação de ataque não foi ao acaso. A razão dela acontecer foi porque a Abnegação estava prestes a fazer alguma coisa – eu não sei o que era, mas tinha a ver com alguma informação importante, e agora, Jeanine tem essa informação...
— O quê? — Ela franze a testa. — Você não sabe o que eles estavam prestes a fazer? Sabe qual é essa informação?
— Não — devo parecer louca. — O problema é que não fui capaz de descobrir muito sobre isso porque Víctor Uckermann é o único que sabe de tudo, e ele não vai contar para mim. Eu só... é a razão pelo ataque. É a razão. E precisamos saber o que é.
Eu não sei o que mais dizer. Mas Anahí já está assentindo com a cabeça.
— A razão pela qual Jeanine nos forçou a atacar pessoas inocentes — ela diz amargamente. — É. Precisamos saber o que é.
Eu quase esqueci – ela estava sobre o efeito da simulação. Quantos membros da Abnegação ela matou? Como ela se sentiu quando acordou daquele transe como uma assassina? Eu não perguntei, e nem iria.
— Quero sua ajuda, e rápido. Quero que alguém persuada Víctor para ele cooperar, e acho que você pode fazer isso.
Ela inclina a cabeça e me encara por alguns segundos.
— Dul. Não faça nada de estúpido.
Eu forço um sorriso.
— Por que as pessoas continuam dizendo isso para mim?
Ela agarra meu braço.
— Não estou brincando.
— Eu te disse, vou visitar Caleb. Estarei de volta em alguns dias, e podemos bolar uma estratégia. Só pensei que seria melhor se alguém mais soubesse disso antes de eu partir. No caso de acontecer alguma coisa. Tudo bem?
Ela segura meu braço por alguns segundos a mais, e então o solta.
— Tudo bem.
Eu caminho em direção à saída. Me recomponho enquanto atravesso o portal, e então sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
Essa foi minha última conversa com ela, e foi cheia de mentiras.
+++
Assim que estou fora, puxo o capuz do moletom de Christopher para cima de minha cabeça. Quando alcanço o final da rua, olho para cima e para baixo, procurando algum sinal de vida. Não há nenhum.
O ar frio entra como lâminas em meu pulmão, quando sai, uma nuvem de vapor se espalha acima de mim. O inverno logo chegará. Pergunto-me se a Erudição e a Audácia ainda estarão em conflito até lá, esperando que uma facção destrua a outra. Estou feliz por não ter que ver isso.
Antes de escolher Audácia, pensamentos como esses nunca me ocorreram. Eu me sentia segura, com a certeza de que teria uma vida longa. Agora, não tenho mais nenhuma garantia, exceto a de que, para onde vou, vou porque escolhi ir.
Ando pelas sombras dos edifícios, esperando que os sons dos meus passos não chamem a atenção de alguém. Nenhuma das luzes da cidade está acesa nessa área, mas a lua está brilhante o suficiente para que eu possa andar sem problemas.
Ando sobre os trilhos elevados. Eles estremecem com o movimento de um trem. Tenho que andar rápido se quiser chegar lá antes que alguém perceba que fui embora. Eu contorno uma grande rachadura no meio da rua, e pulo um poste que está caído no caminho.
Eu não pensei sobre o quão longe teria que andar quando parti. Não demora muito para meu corpo esquentar com o esforço de andar e checar por cima do ombro qualquer movimento, e me esquivar dos perigos no caminho. Eu pego o ritmo, meio andando e meio correndo.
Chego a uma parte da cidade que reconheço. As ruas são mais bem cuidadas aqui, mais limpas, e com apenas alguns buracos. Ao longe vejo o brilho da sede da Erudição, suas luzes violando nossa lei de conservação de energia. Não sei o que vou fazer quando chegar lá. Pedir para ver Jeanine? Ou só ficar parada até que alguém me note?
Meus dedos arranham o vidro de um edifício ao lado. Não estou muito longe. Tremores atravessam meu corpo agora que estou próxima, o que torna difícil andar. Respirar é difícil também; eu paro de tentar ficar quieta, e deixo que o ar chie ao entrar e sair do meu pulmão. O que eles vão fazer comigo quando eu chegar lá? Quais os planos que eles têm para mim antes que eu me torne uma inútil e eles me matem? Não duvido que eles possam matar a qualquer momento. Me concentro em continuar andando, em mover minhas pernas mesmo que elas não pareçam dispostas a suportar meu peso.
E então estou de pé na frente da sede da Erudição.
Dentro do edifício, uma aglomeração de pessoas vestindo camisas azuis está sentada ao redor de mesas, digitando em computadores, curvados sobre livros ou passando folhas de papéis para frente e para trás. Alguns deles são pessoas inocentes que não sabem o que sua facção vem fazendo, mas se o complexo inteiro entrar em colapso diante de meus olhos, posso não ter em mim a capacidade de me importar.
Este é o último momento que terei para voltar atrás. O ar gélido corta minhas bochechas e minhas mãos enquanto hesito. Posso ir embora agora. Refugiar-me na sede da Audácia. Esperar, rezar e desejar que ninguém mais morra por causa do meu egoísmo.
Mas não posso ir embora, ou a culpa, o peso da vida de Afonso, de meus pais, e agora de Marlene, quebrará meus ossos, e fará com que seja impossível respirar.
Eu caminho lentamente em direção ao edifício e entro empurrando as portas.
Este é o único jeito de me manter longe da dor sufocante.
+++
Por um segundo, depois que meus pés tocam o piso de madeira, e fico parada diante de um grande retrato de Jeanine Matthews pendurado na parede da frente, ninguém me nota, nem mesmo os dois guardas traidores da Audácia rondando perto das vias de entrada. Caminho até um balcão a minha frente, onde um homem de meia-idade, com pouco cabelo, se senta, examinando uma pilha de papel. Coloco minhas mãos em cima do balcão.
— Com licença — digo.
— Só um momento — ele responde, sem olhar para mim.
— Não.
Com isso, ele olha diretamente para meu rosto, seus óculos tortos, carrancudo, como se estivesse a ponto de discutir. Quaisquer palavras que ele estava prestes a usar ficam presas em sua garganta. Ele me encara com a boca aberta, seus olhos saltam do meu rosto para o moletom que estou vestindo.
Em meu terror, sua expressão parece alegre. Eu sorrio e escondo minhas mãos, que estão tremendo.
— Acredito que Jeanine Matthews queira me ver — digo. — Então, agradeceria se você entrasse em contato com ela.
Ele faz sinal para os traidores da Audácia à porta, mas não há necessidade. Os guardas finalmente me viram. Soldados da Audácia de outras partes da sala também começam a vir na minha direção, e todos eles me cercam, mas não me tocam, e nem falam comigo. Eu fito suas faces, tentando parecer o mais calma possível.
— Divergente? — um deles finalmente pergunta enquanto o homem atrás do balcão pega o receptor do sistema de comunicação do edifício.
Se eu fechar minhas mãos em punho, posso impedi-las de tremerem. Concordo com a cabeça.
Meus olhos desviam para o membro Audácia saindo do elevador do lado esquerdo da sala, e os músculos em meu rosto se contraem. Peter está vindo em nossa direção.
Milhares de potenciais reações, que vão desde pular no pescoço de Peter a chorar e a fazer algum tipo de piada, passam por minha mente no momento. Não posso decidir por uma. Então continuo parada, encarando-o. Jeanine deveria saber que eu estava vindo, deve ter escolhido Peter de propósito para me buscar, sem dúvida.
— Fomos instruídos a levar você para cima — diz Peter.
Quero dizer alguma coisa sarcástica, ou indiferente, mas o único som que sai de mim é um ruído anasalado, espremido e apertado pela minha garganta inchada. Peter anda em direção aos elevadores, e eu o sigo.
Nós descemos em direção a uma série de corredores lustrosos. Apesar do fato de subirmos alguns lances de escada, ainda tenho a sensação de estar debaixo da terra.
Eu esperava que eles me levassem para Jeanine, mas não me levam. Eles param de andar em um pequeno corredor com uma série de portas de metal em cada lado. Peter digita algum código para abrir uma das portas, e os traidores Audácia me cercam novamente, ombro com ombro, formando um túnel estreito para eu passar a caminho da sala.
O quarto é pequeno, talvez seis metros de comprimento por seis de largura. O piso, as paredes, e o teto são feitos do mesmo painel luminoso, embaçado agora, que brilhava na sala do teste de aptidão. Em cada canto há uma pequena câmera preta.
Finalmente me permito entrar em pânico.
Olho de um canto para outro, para as câmeras, e luto contra um grito construído em meu estômago, peito e garganta, o grito que preenche cada parte de mim. Novamente sinto culpa e dor lutando dentro de mim, guerreando entre si por controle, mas o terror é mais forte que ambos. Eu inspiro, e não expiro. Meu pai me contou uma vez que isto era uma maneira de curar soluços. Eu perguntei para ele se poderia morrer segurando a respiração.
— Não — ele respondera. — Os instintos do seu corpo vão assumir o controle e forçá-la a respirar.
Uma pena, realmente. Eu poderia usar isso como uma saída. O pensamento faz com que eu queira rir. E depois gritar.
Eu me agacho para que possa pressionar meu rosto contra meu joelho. Preciso de um plano. Se eu conseguir pensar em um plano, não ficarei com tanto medo.
Mas não há nenhum plano. Nenhuma escapatória do fundo da sede da Erudição, nenhuma fuga de Jeanine, e nenhuma outra fuga para o que eu fiz.
Autor(a): Fer Linhares
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
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manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
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manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
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manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
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manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
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manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
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manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
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Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa