Fanfics Brasil - Capítulo 29 (2ª Temporada) Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.)

Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente


Capítulo: Capítulo 29 (2ª Temporada)

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Esqueci de trazer meu relógio.
Minutos ou horas depois, quando o pânico diminui, é disso que mais me arrependo. Não de vir aqui, já que essa me pareceu a escolha óbvia, mas de vir sem o relógio, o que me impossibilita de saber há quanto tempo estou neste quarto. Minhas costas doem, e isso já indica alguma coisa, mas não o bastante.
Depois de um tempo, começo a caminhar pelo quarto, levantando os braços.
Hesito em fazer qualquer coisa com as câmeras me observando, mas eles não conseguirão aprender nada apenas me observando tocar os dedos dos pés.
Esse pensamento faz minhas mãos tremerem, mas não tento afastá-lo da minha mente. Em vez disso, digo a mim mesma que sou da Audácia, e que o medo não é nada de novo para mim. Morrerei neste lugar. Talvez isso ocorra em breve. Esses são os fatos.
Mas há outras maneiras de encarar os fatos. Em breve, honrarei meus pais, morrendo da mesma maneira que eles morreram. E, se tudo no qual acreditavam é verdade, logo me juntarei a eles no além, seja lá onde isso for.
Balanço as mãos enquanto caminho. Elas ainda estão tremendo. Quero saber que horas são. Cheguei aqui pouco depois da meia-noite. Já deve ser de manhã,
talvez umas quatro ou cinco horas. Ou talvez não tenha passado tanto tempo assim, e só pareça que passou, porque não estou fazendo nada.
A porta se abre, e finalmente fico diante da minha inimiga e dos seus guardas da
Audácia.
– Olá, Dulce – diz Jeanine. Ela está usando roupas azuis da Erudição, óculos
 a Erudição e um olhar de superioridade que meu pai me ensinou a odiar. – Imaginei que seria você a vir.
Mas não sinto ódio ao olhar para ela. Não sinto nada, apesar de saber que ela é responsável por incontáveis mortes, incluindo a de Marlene. As mortes existem na minha mente como uma série de equações sem sentido, e eu fico paralisada, incapaz de solucioná-las.
– Olá, Jeanine – digo, porque é a única coisa que me vem à mente.
Desvio os olhos dos olhos úmidos e cinzentos de Jeanine e encaro os traidores da Audácia que a acompanham. Peter está parado atrás do ombro direito dela, e uma mulher com marcas de idade nos dois lados da boca está à sua esquerda. Atrás dela, há um homem careca com uma tatuagem de aviões na cabeça. Franzo a testa.
Por que será que Peter está em uma posição de prestígio como essa, como guarda-costas da Jeanine? Qual é a lógica disso?
– Gostaria de saber que horas são – digo.
– É mesmo? – pergunta ela. – Que interessante.
Já deveria saber que ela não me contaria. Cada informação que recebe influencia sua estratégia, e ela não me dirá que horas são, a não ser que decida que revelar a hora é mais útil do que escondê-la.
– Tenho certeza de que nossos companheiros da Audácia estão desapontados
pelo fato de que você ainda não tentou arrancar meus olhos – comenta ela.
– Seria idiotice minha fazer isso.
– É verdade. Mas faria sentido, considerando o seu histórico de agir primeiro e
pensar depois.
– Tenho dezesseis anos. – Contraio os lábios. – As pessoas mudam.
– Que boa notícia. – Ela consegue conter a emoção até das frases que normalmente contariam com alguma inflexão. – Que tal fazermos um pequeno tour?
Ela dá um passo para trás e gesticula em direção à porta. A última coisa que quero fazer é sair daqui e ir para um lugar desconhecido, mas não hesito. Saio do quarto, com a mulher da Audácia de olhar severo andando na minha frente. Peter caminha logo atrás de mim.
O corredor é comprido e pálido. Viramos e caminhamos por um segundo corredor, exatamente igual ao primeiro.
Depois disso, passamos por outros dois corredores. Estou tão desorientada que
não conseguiria lembrar o caminho de volta. De repente, o ambiente ao meu redor muda. O túnel branco leva a uma sala enorme, onde homens e mulheres da Erudição, vestindo longas jaquetas azuis, encontram-se atrás de mesas. Alguns seguram ferramentas, outros misturam líquidos multicoloridos, outros encaram monitores de computadores. Se eu tivesse que adivinhar o que eles estão fazendo, diria que estão misturando soros de simulação, mas tento não reduzir o trabalho da Erudição simplesmente às simulações.
A maioria deles interrompe o que está fazendo para nos assistir ao atravessarmos o corredor central da sala. Na verdade, eles assistem a mim. Alguns sussurram, mas a maioria fica quieta. A sala está muito silenciosa.
Sigo a traidora da Audácia por uma porta e paro tão de repente que Peter esbarra em mim.
A sala seguinte é tão grande quanto a anterior, mas há apenas uma coisa dentro dela: uma grande mesa de metal, com uma máquina do lado. Reconheço vagamente a máquina como um monitor cardíaco. E, acima dele, há uma câmera.
Começo a tremer incontrolavelmente. Porque sei o que é isso.
– Fico muito feliz por você, especificamente, estar aqui – diz Jeanine. Ela passa na minha frente e apoia-se na mesa, segurando a beirada. – O que me deixa tão
feliz, é claro, são os resultados do seu teste de aptidão. – Seu cabelo loiro, amarrado rente à cabeça, reflete a luz e chama a minha atenção. Ela continua: – Mesmo entre os Divergentes, você é uma espécie de exceção, porque apresenta aptidão para três facções. Abnegação, Audácia e Erudição.


 


 


 


                                                  +++


 


 


 


 


– Como... – Minha voz fica rouca. Esforço-me para terminar a pergunta: – Como
sabe disso?
– Uma coisa de cada vez. A partir dos seus resultados, concluí que você é um dos Divergentes mais poderosos. Não digo isso como um elogio, mas apenas para explicar meu objetivo. Se meu objetivo é desenvolver uma simulação à qual a mente Divergente não consiga resistir, preciso estudar a mais forte entre as mentes Divergentes para consertar todas as fraquezas na tecnologia. Entendeu?
Não respondo. Continuo encarando o monitor cardíaco ao lado da mesa.
– Por isso eu e meus colegas cientistas estudaremos você pelo máximo de tempo possível. – Ela abre um pequeno sorriso. – Depois, quando meus estudos estiverem concluídos, você será executada.
Eu já sabia disso. Se eu já sabia, por que meus joelhos estão tão fracos, por que
meu estômago está apertado, por quê?
– A execução ocorrerá aqui. – Ela roça as pontas dos dedos na mesa. – Nesta mesa. Achei que seria interessante mostrá-la a você.
Ela quer estudar minha reação. Quase não consigo respirar. Eu costumava acreditar que é preciso ter malícia para ser cruel, mas isso não é verdade. Jeanine não tem o menor motivo para agir de maneira maliciosa. Mas ela é cruel porque não se importa com o que faz, desde que isso a fascine. Eu poderia ser um quebra-cabeça ou uma máquina quebrada que ela quer consertar. Ela abriria o meu crânio só para estudar o funcionamento do meu cérebro. Morrerei aqui, e isso será o tiro de misericórdia.
– Eu já sabia o que aconteceria quando vim para cá – digo. – Isso é apenas uma mesa. E eu gostaria de voltar para o meu quarto agora.


 


 


 


                                                        +++


 


 


 


Não consigo realmente sentir o tempo passando, pelo menos não da maneira como costumava sentir, quando o tempo estava disponível para mim. Portanto, quando a porta se abre novamente e Peter entra na minha cela, não sei quanto tempo transcorreu. Só sei que estou exausta.
– Venha comigo, Careta.
– Não sou da Abnegação. – Estico os braços para cima da minha cabeça e eles
encostam na parede. – E, agora que você virou um lacaio da Erudição, não pode mais me chamar de “Careta”. É uma informação imprecisa.
– Eu disse para você vir comigo.
– Como assim? Você não vai fazer nenhum comentário cínico? – Olho para ele, fingindo surpresa. – Não vai falar algo como “Você foi idiota em vir aqui; seu cérebro deve ser tão deficiente quanto Divergente”?
– Isso já é evidente, não é mesmo? Ou você se levanta ou serei obrigado a
arrastá-la pelo corredor. A escolha é sua.
Sinto-me mais calma. Peter é sempre cruel comigo; isso me parece mais familiar.
Levanto-me e saio do quarto. Percebo, enquanto caminho, que o braço de Peter, no qual atirei, não está mais em uma tipoia.
– Eles curaram a ferida em seu braço?
– Curaram. Agora você terá que encontrar outra fraqueza para explorar. Pena que eu não tenho mais nenhuma. – Ele agarra o meu braço sadio e caminha mais rápido, puxando-me. – Estamos atrasados.
Apesar da extensão e do vazio do corredor, nossos passos não ecoam muito.
Parece que alguém cobriu os meus ouvidos com as mãos e eu só percebi agora.
Tento memorizar os corredores pelos quais passamos, mas perco a conta depois de um tempo. Alcançamos o final de um deles e viramos à esquerda, entrando em uma sala escura que me lembra um aquário. Uma das paredes é coberta por um espelho unidirecional. Ele reflete o meu lado, mas tenho certeza de que é transparente do outro.
Há uma grande máquina no outro lado da sala, com uma bandeja do tamanho de uma pessoa saindo dela. Eu a reconheço do meu livro didático sobre história das facções, da unidade sobre Erudição e medicina. É uma máquina de ressonância magnética. Ela tirará fotos do meu cérebro.


Algo acende dentro de mim. Faz tanto tempo que não sinto isso que quase não reconheço o sentimento. É curiosidade.
Uma voz, a voz de Jeanine, fala no sistema de intercomunicação:
– Deite-se, Dulce.
Olho para a bandeja que vai me levar para dentro da máquina.
– Não.
Ela suspira.
– Se não se deitar por conta própria, temos maneiras de obrigá-la.
Peter está em pé atrás de mim. Mesmo com um braço machucado, ele era mais forte do que eu. Imagino suas mãos me agarrando, empurrando-me em direção à bandeja, pressionando-me contra o metal, prendendo-me com as faixas presas à bandeja, apertadas demais.
– Vamos fazer um acordo. Se eu cooperar, você me deixa ver o exame.
– Você vai cooperar, querendo ou não.
Levanto um dedo.
– Isso não é verdade.
Olho para o espelho. Não é muito difícil fingir que estou conversando com Jeanine quando falo com meu próprio reflexo. Meu cabelo é loiro como o dela; ambas somos pálidas, com aparência severa. Pensar nisso me perturba tanto que perco o fio da meada por alguns segundos e fico em pé com o dedo em riste, em silêncio.
Minha pele é pálida, meu cabelo é pálido, e eu sou fria. Estou curiosa para ver as
imagens do meu cérebro. Sou como Jeanine. Posso odiar isso, atacar isso, erradicar isso... ou usar isso.
– Isso não é verdade – repito. – Não importa o quanto você me amarre, não conseguirá me manter imóvel o bastante para que as imagens fiquem claras. –
Limpo a garganta. – Quero ver as imagens do exame. Você vai me matar de qualquer jeito, então o que importa o que eu ficar sabendo ou não sobre o meu cérebro antes disso?
Silêncio.
– Por que você quer tanto ver as imagens?
– Pensei que você entenderia, sendo quem é. Afinal de contas, apresento o mesmo nível de aptidão para a Erudição quanto para a Audácia e a Abnegação.
– Tudo bem. Você pode vê-las. Deite-se.
Caminho até a bandeja e me deito. O metal está frio como gelo. A bandeja desliza, e eu estou dentro da máquina. Encaro a brancura. Quando eu era mais
nova, achava que o paraíso era assim, apenas uma luz branca e mais nada. Hoje, sei que isso não é verdade, porque luzes brancas são perigosas.
Ouço um som surdo de batidas e fecho os olhos, lembrando de um do obstáculos da minha paisagem do medo, no qual punhos batiam contra as janelas do meu quarto e homens cegos tentavam me raptar. Finjo que as batidas são de um coração ou de um tambor. Do rio batendo contra as paredes do abismo no complexo da Audácia. De pés batendo contra o chão na cerimônia de encerramento da iniciação. De pés correndo na escada depois da Cerimônia de Escolha.
Não sei quanto tempo passa até as batidas pararem e a bandeja deslizar para fora da máquina. Levanto o tórax e esfrego as pontas dos dedos no pescoço.
A porta se abre, e vejo que Peter está no corredor. Ele faz um sinal para que eu o siga.
– Venha. Você pode ver as imagens do exame agora.
Salto para fora da bandeja e caminho em sua direção. Quando chego ao corredor, Peter balança a cabeça, olhando para mim.
– O que foi?
– Não sei como você sempre consegue o que quer.
– É, eu realmente queria ficar presa em uma cela na sede da Erudição. E realmente quero ser executada.
Soo indiferente, como se estivesse acostumada a lidar com execuções todos os dias. Mas falar a palavra “executada” me causa calafrios. Finjo que estou com frio, apertando os braços com as mãos.
– E você não queria? Você veio até aqui por livre e espontânea vontade, não foi?
Não chamaria isso de um bom instinto de sobrevivência.
Ele digita uma série de números em um teclado do lado de fora da porta ao lado, e ela se abre. Entro na sala que fica do outro lado do espelho. Há vários monitores e uma luz dentro da sala, refletindo no vidro dos óculos dos membros da Erudição.
Do outro lado da sala, outra porta se fecha. Há uma cadeira vazia atrás de um dos monitores, ainda girando. Alguém acabou de deixar a sala.
Peter está atrás de mim, bem perto, pronto para me agarrar caso eu decida atacar alguém. Mas não vou atacar ninguém. Para onde iria se fizesse isso? Talvez a um ou dois corredores de distância daqui. Depois disso, me perderia. Eu não conseguiria sair daqui mesmo que não houvesse guarda algum para me impedir.
– Projete-a ali – diz Jeanine, apontando para a grande tela na parede da esquerda. Um dos cientistas da Erudição bate com o dedo no monitor do seu computador e uma imagem aparece na parede. Uma imagem do meu cérebro.
Não sei exatamente o que estou vendo. Sei qual é a aparência de um cérebro e o
que cada região dele faz, mais ou menos, mas não sei como o meu se compara a outros. Jeanine bate com o dedo no queixo e encara a imagem por um período que parece muito longo.
Finalmente, ela diz:
– Alguém poderia explicar para a srta. Saviñón a função do córtex pré-frontal?
– É a região do cérebro que fica atrás da testa – diz uma das cientistas. Ela não
 parece ser muito mais velha do que eu e usa óculos grandes e redondos que fazem com que seus olhos pareçam maiores. – Ela é responsável pela organização dos nossos pensamentos e ações em busca dos nossos objetivos.
– Exatamente – diz Jeanine. – Agora, alguém pode dizer o que notou a respeito
do córtex pré-frontal da srta. Savñón?
– Ele é grande – diz outro cientista, calvo.
– Poderia ser mais específico? – diz Jeanine, como se o estivesse repreendendo.
Eu me dou conta de que estou em uma sala de aula, porque toda sala com mais de um membro da Erudição é uma sala de aula. E, entre eles, Jeanine é a professora mais respeitada. Todos a encaram com olhos arregalados e a boca aberta e ávida, esperando impressioná-la.
– Ele é muito maior do que o normal – corrige-se o homem calvo.
– Melhor. – Jeanine inclina a cabeça para o lado. – De fato, é um dos maiores córtices pré-frontais que já vi. No entanto, o córtex orbitofrontal é notavelmente pequeno. O que indicam esses dois fatos?
– O córtex orbitofrontal é o centro de recompensas do cérebro. Pessoas que se envolvem em comportamentos que buscam recompensas apresentam grandes córtices orbitofrontais – diz alguém. – Isso significa que a srta. Saviñón não se envolve em muitos comportamentos que busquem recompensas.
– Não é só isso. – Jeanine abre um pequeno sorriso. A luz azul dos monitores se reflete nas maçãs do seu rosto e em sua testa, mas deixa as órbitas dos seus olhos mais escuras. – Isso não indica algo apenas sobre o seu comportamento, mas também sobre os seus desejos. Ela não é motivada por recompensas. No entanto, é muito boa em direcionar seus pensamentos e ações para a conquista dos seus objetivos. Isso explica tanto sua tendência a comportamentos perigosos, mas altruístas, quanto, talvez, sua capacidade de se livrar das simulações. Como isso muda a nossa abordagem do novo soro de simulação?
– Ele precisa reprimir uma parte da atividade do córtex pré-frontal, mas não toda ela – diz a cientista com óculos redondos.
– Exatamente – diz Jeanine. Ela finalmente olha para mim, seus olhos brilhando
com deleite. – Então, é isso que vamos fazer. Isso satisfez a minha parte do
acordo, srta. Saviñón?
Minha boca está seca e é difícil engolir.
O que acontecerá se eles suprimirem as atividades do meu córtex pré-frontal? Se eles prejudicarem minha capacidade de tomar decisões? E se o soro funcionar e eu me tornar uma escrava das simulações, como os outros? E se eu me esquecer completamente da verdade?
Não tinha ideia de que toda a minha personalidade, todo o meu ser, poderiam ser descartados como um subproduto da minha anatomia. E se eu realmente for apenas uma pessoa com um grande córtex pré-frontal... e nada mais?
– Sim – respondo. – Satisfez.


 


 


 


 


                                                          +++


 


 


 


 


Em silêncio, Peter e eu começamos o caminho de volta para a cela. Viramos à esquerda e há um grupo de pessoas em pé no outro lado do corredor. É o corredor mais longo pelo qual passaremos, mas a distância encolhe quando o vejo.
Um traidor da Audácia agarra cada um dos seus braços, e há uma arma
apontada para a sua cabeça.
Christopher, com sangue escorrendo da lateral do rosto e manchando sua camisa branca de vermelho; Christopher, outro Divergente, prestes a cair nessa fogueira onde serei queimada.
Peter segura meus ombros, mantendo-me no lugar.
– Christopher – digo, em um tom parecido com o de um arquejo.
O traidor da Audácia que está com a arma empurra Christopher em minha direção.
Peter também tenta me empurrar para a frente, mas meus pés não se movem. Vim aqui para que ninguém mais precisasse morrer. Vim aqui para proteger o máximo de gente possível. E me importo mais com a segurança de Christopher do que a de qualquer outra pessoa. Então, por que estou aqui, se ele também está? Qual é o sentido disso?
– O que você fez? – murmuro. Ele está bem perto de mim agora, mas não o bastante para me ouvir. Ao passar por mim, ele estica a mão em minha direção.
Segura a palma da minha mão e a aperta. Aperta e depois solta. Seus olhos estão vermelhos e ele está pálido. – O que você fez? – Dessa vez a pergunta escapa da minha garganta como um rosnado.
Jogo-me em sua direção, tentando escapar das mãos de Peter, mesmo que elas me machuquem.
– O que você fez? – grito.
– Se você morrer, eu morro junto. – Christopher olha para trás e me encara. – Pedi para você não fazer isso. Você tomou sua decisão. Essas são as consequências.
Ele vira o corredor e desaparece. Minha última visão dele e dos traidores da Audácia que o estão guiando é o brilho do cano da pistola e o sangue na parte de trás do lóbulo da sua orelha, de uma ferida que eu ainda não havia percebido.
Desfaleço completamente depois que ele se vai. Paro de tentar lutar e deixo que
as mãos de Peter me empurrem em direção à cela. Desabo no chão assim que entro no quarto e espero que a porta bata, significando que Peter foi embora, mas ela não bate.
– Por que ele veio até aqui? – pergunta Peter.
Olho para ele.
– Porque ele é um idiota.
– Claro que é.
Encosto a cabeça na parede.
– Será que ele achou que poderia salvar você? – Peter ri com desdém. – É bem o tipo de coisa que alguém nascido Careta faria.
– Eu acho que não – digo. Se Christopher quisesse me salvar, ele teria planejado isso melhor; teria trazido outras pessoas. Não teria invadido a sede da Erudição sozinho.
As lágrimas acumulam-se em meus olhos e não tento afastá-las. Em vez disso, olho para o ambiente ao meu redor através delas, e ele fica borrado. Há alguns dias, nunca teria chorado na frente de Peter, mas não ligo mais. Ele é o menor entre os meus inimigos.
– Acho que ele veio aqui morrer junto comigo – digo. Cubro a boca com a mão para abafar meu soluço. Se eu conseguir continuar respirando, conseguirei parar de chorar. Não precisava, nem queria, que ele morresse comigo. Queria mantê-lo seguro. Que idiota, penso, sem convicção.
– Isso é ridículo. Não faz o menor sentido. Ele tem dezoito anos. Encontrará outra namorada depois que você morrer. E ele é um idiota se não consegue entender isso.
Lágrimas escorrem sobre meu rosto, primeiro quentes, depois frias. Fecho os olhos.
– Se você acha que é assim... – Engulo outro soluço. – ... então, você que é o idiota aqui.
– É. Sei lá.
Seus tênis fazem um ruído no chão quando ele se vira. Ele está indo embora.
– Espere! – Levanto o rosto e olho para sua silhueta embaçada, sem conseguir enxergar seu rosto. – O que eles farão com ele? A mesma coisa que estão fazendo comigo?
– Sei lá.
– Você poderia tentar descobrir? – Enxugo as bochechas com as costas das mãos, frustrada. – Você poderia pelo menos tentar descobrir se ele está bem?
– Por que eu faria isso? Por que faria qualquer coisa por você?
Um segundo depois, ouço a porta se fechando.



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Autor(a): Fer Linhares

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 13



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  • manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23

    Continua ❤️

  • manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16

    Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21

    Brigadaaa! Continuaaa

  • manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35

    Continuaaa! Faz maratonaaa!

  • manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08

    Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!

  • manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24

    Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora

  • manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16

    Cnttt

  • manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10

    Continuaaa

  • Postado em 25/09/2016 - 21:24:21

    Aaai deusss! Continuaaa


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