Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
A sala seguinte parece mais um corredor: é larga, mas não comprida, com azulejos azuis, paredes azuis e o teto azul, todos do mesmo tom. Tudo brilha, mas não consigo saber de onde a luz está vindo.
A princípio, não vejo nenhuma porta, mas, quando os meus olhos se acostumam com o choque de cor, vejo um retângulo na parede à minha esquerda e outro na parede à minha direita. Apenas duas portas.
– Precisamos nos separar. Não temos tempo para tentar as duas juntos.
– Qual você quer? – pergunta Víctor.
– A da direita – respondo. – Não, espere. A da esquerda.
– Tudo bem. Vou pela da direita.
– Se eu encontrar o computador, o que devo procurar? – pergunto.
– Se você encontrar o computador, encontrará Jeanine. Suponho que conheça algumas maneiras de coagi-la a fazer o que você quer. Afinal de contas, ela não está acostumada a sentir dor.
Aceno afirmativamente com a cabeça. Andamos, no mesmo ritmo, em direção às nossas respectivas portas. Há pouco tempo, eu consideraria a ideia de me separar do Víctor um alívio. Mas continuar sozinha também é um fardo. E se eu não conseguir passar pelos sistemas de segurança que Jeanine certamente construiu para evitar a entrada de intrusos? E se, mesmo que eu consiga passar por eles, não consiga encontrar o arquivo certo?
Pouso a mão na maçaneta da porta. Não parece haver uma tranca. Quando Maite disse que o lugar era bem protegido, pensei que haveria aparelhos de escaneamento de retina, senhas e trancas, mas, até agora, tudo esteve aberto.
Por que isso me preocupa?
Abro a minha porta, e Víctor abre a sua. Trocamos um olhar. Entro na sala seguinte.
+++
A sala, como o corredor anterior, é azul, mas, aqui, dá para ver claramente de onde a luz está vindo. Ela brilha do centro de cada painel, do teto, do chão e das paredes.
Quando a porta se fecha atrás de mim, ouço um ruído, como um ferrolho sendo encaixado. Agarro novamente a maçaneta, e a empurro para baixo com o máximo de força possível, mas a porta não se move. Estou presa.
Pequenas luzes lancinantes me atingem de todas as direções. Minhas pálpebras não conseguem bloqueá-las, portanto sou obrigada a cobrir os olhos com as mãos.
Ouço uma voz feminina, calma:
– DulceSaviñón, segunda geração. Facção de origem: Abnegação. Facção de escolha: Audácia. Divergência confirmada.
Como será que esta sala sabe quem eu sou?
E o que será que quer dizer com “segunda geração”?
– Status: intrusa.
Ouço um clique e afasto os dedos um pouco para ver se as luzes já se foram.
Elas não se foram, mas agora o teto está soltando um vapor colorido.
Instintivamente, tapo a boca com a mão. Em questão de segundos, tudo o que consigo ver é uma névoa azul. Depois, não vejo mais nada.
Agora, estou em uma escuridão tão completa que, quando coloco a mão na frente do nariz, não consigo ver nem a sua silhueta. Eu deveria seguir adiante e procurar uma porta do outro lado da sala, mas tenho medo de me mover. Não sei o que poderia acontecer comigo se eu tentasse.
De repente, as luzes acendem, e eu estou na sala de treinamento da Audácia, no círculo onde costumávamos treinar. Minhas memórias deste círculo são muito variadas. Algumas são triunfantes, como a vez em que venci da Molly, e algumas assustadoras, como quando Peter me socou tanto que eu desmaiei. Experimento o ar, e ele continua o mesmo, com cheiro de suor e poeira.
Do outro lado do círculo, há uma porta azul que não deveria estar ali. Franzo a
testa ao olhar para ela.
– Intrusa – diz a voz, e agora ela soa como Jeanine, mas talvez seja só minha imaginação. – Você tem cinco minutos para chegar à porta azul antes que o veneno faça efeito.
– O quê?
Mas eu sei o que ela disse. Veneno. Cinco minutos. Isso não deveria me surpreender; esta é a obra de Jeanine, tão sem consciência quanto ela. Meu corpo treme, e me pergunto se isso é efeito do veneno, se ele já está desligando o meu cérebro.
Concentre-se. Não posso sair; preciso seguir em frente, ou...
Ou nada. Preciso seguir em frente.
Começo a caminhar em direção à porta, mas uma pessoa aparece no meu caminho. Ela é baixa, magra e loira e tem olheiras. Ela sou eu.
Um reflexo? Aceno com a mão para ver se ela vai espelhar o meu movimento.
Ela não faz nada.
– Olá – digo. Ela não responde. Não achei que responderia.
O que será que está acontecendo? Engulo com força para estalar os ouvidos, que parecem estar cheios de algodão. Se Jeanine projetou isso, provavelmente é algum tipo de teste de inteligência ou lógica, o que significa que terei que pensar claramente. Isso, por sua vez, significa que terei que me acalmar. Aperto as mãos ao peito e pressiono, esperando que a pressão faça com que eu me sinta segura, como um abraço.
Não funciona.
Dou um passo para a direita, para ter uma visão melhor da porta, e minha sósia pula para o lado, arrastando os sapatos no chão, bloqueando a minha passagem novamente.
Acho que sei o que acontecerá se eu seguir em direção à porta, mas preciso tentar. Começo a correr, com a intenção de desviar-me dela, mas ela está preparada: agarra o meu ombro ferido e me lança para o lado. Solto um grito tão alto que arranha a minha garganta; sinto como se facas estivessem entrando cada vez mais fundo na lateral do meu corpo. Começo a me ajoelhar, quando ela chuta a minha barriga e eu desabo no chão, inalando a poeira.
Percebo, ao agarrar a barriga, que isso é exatamente o que eu faria se estivesse
na posição dela. Isso significa que, para derrotá-la, preciso pensar em uma maneira de derrotar a mim mesma. Mas como posso lutar melhor do que eu mesma, se ela conhece todas as estratégias que conheço e é tão engenhosa e esperta quanto eu?
Ela avança contra mim novamente, e eu me levanto e tento ignorar a dor em meu ombro. Meu coração bate mais rápido. Quero socá-la, mas ela é mais rápida.
Desvio no último segundo, e seu punho atinge a minha orelha, desequilibrando-me.
Dou alguns passos para trás, esperando que ela não me persiga, mas é o que faz. Ela me ataca novamente, agarrando os meus ombros e me empurrando para baixo, na direção do seu joelho dobrado.
Levanto as mãos, posicionando-as entre a minha barriga e o seu joelho, e empurro com o máximo de força que consigo. Ela não estava esperando isso; tropeça para trás, mas não cai.
Corro em sua direção e, ao sentir a vontade de chutá-la, eu me dou conta de que essa também é a vontade dela. Desvio do chute dela.
Sempre que quero fazer algo, ela imediatamente também quer. O máximo que conseguiremos é acabar a luta empatadas. Mas preciso derrotá-la. Para sobreviver.
Tento pensar sobre a minha situação, mas ela já está avançando contra mim novamente, com a testa franzida e uma expressão concentrada. Ela agarra o meu braço e eu agarro o dela, e ficamos agarradas aos antebraços uma da outra.
Jogamos nossos cotovelos para trás, depois os lançamos para a frente, ao mesmo tempo. Inclino o corpo no último segundo e meu cotovelo atinge seus dentes.
Nós duas gritamos. Sangue espirra dos seus lábios e escorre pelo meu antebraço.
Ela cerra os dentes e solta um grito, mergulhando sobre mim, mais forte do que eu esperava.
Seu peso me derruba. Ela me prende no chão com os joelhos e tenta socar o meu rosto, mas me protejo com os braços. Seus punhos acertam meus braços, cada um deles atingindo a minha pele como uma pedra.
Exalando fortemente, agarro um dos seus pulsos e percebo que há manchas dançando nos cantos dos meus olhos. O veneno.
Concentre-se.
Enquanto ela luta para se soltar, levanto o joelho até o peito. Depois, empurro-a para trás, soltando um grunhido com o esforço, até conseguir pressionar a sua barriga com o pé. Eu a chuto, com o rosto fervendo.
O enigma lógico: como é possível alguém vencer uma luta entre pessoas exatamente iguais?
A resposta: não é possível.
Ela se levanta e limpa o sangue dos lábios.
Portanto: não podemos ser exatamente iguais. Então, o que pode ser diferente entre nós?
Ela caminha novamente em minha direção, mas preciso de mais tempo para pensar; então, para cada passo que ela dá para a frente, dou um para trás. A sala balança, depois gira, e eu dou uma guinada para o lado, encostando levemente as pontas dos dedos no chão, para me equilibrar.
O que há de diferente entre nós? Temos a mesma massa, nível de habilidade e padrões de pensamento...
Vejo a porta atrás dela e me dou conta de algo: temos objetivos diferentes. Eu preciso passar por aquela porta. Ela precisa protegê-la. Mas, mesmo em uma simulação, não é possível que ela esteja tão desesperada quanto eu.
Corro até a beirada do círculo, onde há uma mesa. Há apenas um instante, ela estava vazia, mas conheço as regras das simulações e sei controlá-las. Uma arma aparece sobre a mesa assim que penso nela.
Esbarro na mesa com força, com as manchas bloqueando a minha visão. Nem sinto dor ao colidir contra ela. Sinto meus batimentos cardíacos no rosto, como se meu coração tivesse soltado de suas amarras no meu peito e começado a migrar até o meu cérebro.
Do outro lado da sala, uma arma aparece no chão, diante da minha sósia. Nós duas seguramos as armas.
Sinto o peso e a lisura da arma em minha mão e esqueço-me dela; esqueço-me do veneno; esqueço-me de tudo.
Do outro lado da sala, não é mais a minha sósia que se encontra entre eu e meu
objetivo, é Afonso. Não, não. Não pode ser Afonso. Obrigo-me a respirar. O veneno está cortando o fluxo de oxigênio para o meu cérebro. Ele é apenas uma alucinação dentro da simulação. Solto o ar, com um soluço.
Por um instante, vejo a minha sósia novamente, segurando a arma, mas tremendo visivelmente e afastando ao máximo a arma do corpo. Ela é tão fraca quanto eu. Não, ela não é tão fraca, porque não está ficando cega e perdendo o ar, mas é quase tão fraca, quase.
Depois, Afonso volta, com o olhar inexpressivo da simulação e o cabelo formando um halo dourado ao redor da cabeça. Há edifícios de tijolos dos dois lados, mas, atrás dele, a porta ainda está lá, a porta que me separa do meu pai e do meu irmão.
Não, não, esta é a porta que me separa de Jeanine e do meu objetivo.
Preciso atravessar aquela porta. Preciso.
Ergo a arma, embora meu ombro doa, e envolvo uma mão na outra, para estabilizá-la.
– Me... – Engasgo, com lágrimas escorrendo sobre as bochechas e entrando na minha boca. Sinto o gosto de sal. – Me perdoe.
Então, faço a única coisa que minha sósia é incapaz de fazer, porque não está
desesperada o bastante:
Disparo.
Autor(a): Fer Linhares
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Não o vejo morrer outra vez.Fecho os olhos no momento em que aperto o gatilho, e, ao abri-los novamente, é a outra Dul que está deitada no chão em meio às manchas escuras em meus olhos; sou eu.Solto a arma e corro em direção à porta, quase tropeçando sobre ela. Jogo o corpo contra a porta, giro a m ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
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manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
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manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
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manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
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manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
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manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
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manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
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Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa