Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
Dul
Programo meu despertador para as dez e caio no sono imediatamente, sem nem me ajeitar em uma posição confortável. Algumas horas depois, o toque do despertador não me acorda, mas o grito frustrado de alguém do outro lado do quarto, sim. Desligo o despertador, corro os dedos pelo cabelo e sigo em passos rápidos até uma das escadas de emergência. A saída no final da escada dará para um beco, onde é provável que não haja ninguém para me bloquear.
Quando saio do prédio, o ar frio me desperta. Cubro meus dedos com a manga da camisa para aquecê-los. O verão está acabando, finalmente. Há um pequeno grupo perto da entrada da sede da Erudição, mas ninguém repara quando atravesso escondida a avenida Michigan. Ser pequena às vezes tem suas vantagens.
Vejo Christopher parado no centro do gramado, vestindo cores misturadas das facções: camiseta cinza, calça jeans azul e moletom preto com capuz, representando todas as facções para as quais meu teste de aptidão indicou que eu era qualificada. Há uma mochila no chão, apoiada em seu pé.
– Como me saí? – pergunto, quando estou perto o bastante para ele escutar.
– Muito bem – diz ele. – Alexandra ainda odeia você, mas Anahí e Cara foram libertadas sem questionamentos.
– Que bom. – Abro um sorriso.
Ele segura a parte da frente da minha camisa, bem acima da minha barriga, e me puxa para perto, beijando-me com delicadeza.
– Venha – diz, puxando a minha mão. – Tenho planos para hoje à noite.
– É mesmo?
– É. Bem, percebi que nunca saímos em um encontro romântico de verdade.
– É, o caos e a destruição costumam prejudicar a vida amorosa das pessoas.
– Eu gostaria de experimentar sair em um “encontro”. – Ele caminha de costas, em direção à enorme estrutura de metal, do outro lado do gramado, e eu o sigo. – Antes de a gente se conhecer, eu só saía em encontros de casais, e eles eram desastrosos. Sempre terminavam com Zeke dando um amasso na menina com quem já planejava dar um amasso, e eu sentado em um silêncio desconfortável com alguma garota que eu havia ofendido de alguma maneira mais cedo.
– Você não é muito simpático – digo, sorrindo.
– Olha quem está falando.
– Ah, posso ser simpática se eu quiser.
– Hum. – Ele bate com o dedo no queixo. – Então diga alguma coisa simpática.
– Você é muito bonito.
Ele sorri, os dentes brilhando no escuro.
– Gostei dessa história de “simpática”.
Alcançamos o limite do gramado. A estrutura de metal é maior e mais estranha de perto do que de longe. Na verdade, ela é um palco, e sobre ele encontram-se enormes placas de metal arqueadas que se enrolam em direções diferentes, como uma lata de alumínio que explodiu. Contornamos uma das placas no lado direito até os fundos do palco, que se ergue em um ângulo reto do chão. Lá, vigas de metal sustentam a parte de trás das placas. Christopher prende a mochila nos ombros, agarra uma das vigas e começa a escalar.
– Isto me parece familiar – digo. Uma das primeiras coisas que fizemos juntos foi escalar a roda gigante, mas, daquela vez, fui eu, e não ele, quem incentivou o outro a subir mais alto.
Dobro as mangas da camisa e o sigo. Meu ombro ainda dói por causa do tiro que levei, mas a ferida já está praticamente curada. Mesmo assim, apoio a maior parte do peso no braço esquerdo e tento usar os pés o máximo possível.
Olho para baixo, para as barras de metal e, além delas, o chão e começo a rir.
Christopher escala até um local onde duas placas de metal se encontram formando um V, o que cria um espaço largo o bastante para duas pessoas sentarem. Ele se arrasta para trás, encaixando o corpo entre as duas placas, e estende os braços para agarrar a minha cintura e me ajudar quando chego perto o bastante. Não preciso de ajuda, mas não falo nada. Estou ocupada demais aproveitando a sensação que as mãos dele provocam.
Ele tira um cobertor da mochila e nos cobre, depois pega dois copos de
plástico.
– Você quer ficar com a mente limpa ou nebulosa? – pergunta ele, olhando para dentro da mochila.
– Hã... – Inclino a cabeça. – Limpa. Acho que precisamos conversar sobre algumas coisas, não é?
– É.
Ele pega uma pequena garrafa com um líquido claro e borbulhante e gira a tampa, dizendo:
– Roubei isto das cozinhas da Erudição. Parece delicioso.
Ele serve um pouco em cada copo, e eu tomo um pequeno gole. Seja lá o que for, a bebida é doce como xarope, tem gosto de limão e me faz torcer a boca um pouco. O segundo gole é melhor.
– Conversar sobre algumas coisas – diz ele.
– Certo.
– Bem... – Christopher franze a testa ao olhar para o conteúdo do copo. – Está bem, entendo por que você trabalhou com Víctor e por que você sentiu que não podia me contar. Mas...
– Mas você está com raiva – completei. – Porque menti para você. Várias vezes.
Ele confirma com a cabeça, sem olhar para mim.
– Não é nem a questão de Víctor. É algo mais antigo do que isso. Não sei se você consegue entender o que foi acordar sozinho e saber que você tinha ido... – Suspeito que ele queira dizer encontrar a morte, mas ele não consegue botar para fora as palavras – para a sede da Erudição – conclui.
– Não, acho que não consigo. – Dou outro gole, mantendo a bebida açucarada na boca antes de engolir. – Ouça, eu... eu costumava pensar em sacrificar a minha vida por certas coisas, mas não compreendia o que realmente significa “sacrificar a vida” até estar lá, e ela estar prestes a ser tomada de mim.
Levanto o rosto e o encaro, e ele por fim me encara de volta.
– Agora eu sei – digo. – Sei que quero viver. Sei que quero ser honesta com você. Mas... mas não posso fazer isso, não vou fazer isso se você não confiar em mim ou falar comigo com aquele tom condescendente que você às vezes usa...
– Condescendente? – protesta ele. – Você estava fazendo coisas ridículas e arriscadas...
– Eu sei – digo. – Mas você acha mesmo que me ajudou de alguma forma falando comigo como se eu fosse uma criança que não sabia de nada?
– O que mais eu poderia fazer? – pergunta ele. – Você não conseguia ouvir a voz da razão!
– Talvez eu não precisasse de razão! – Inclino o tronco para a frente, incapaz de continuar fingindo que estou relaxada. – Senti que estava sendo consumida pela culpa, mas o que eu precisava era da sua paciência e da sua bondade, e não que você gritasse comigo. Ah, e também não precisava que você escondesse seus planos de mim o tempo todo, como se eu não fosse capaz de lidar com eles...
– Não queria sobrecarregar você ainda mais.
– Afinal, você me considera uma pessoa forte ou não? – pergunto, irritada. – Você parece achar que aguento suas broncas, mas não acha que consigo lidar com mais nada. O que isso significa?
– É claro que acho você uma pessoa forte. – Ele balança a cabeça. – É só que... não estou acostumado a contar as coisas para os outros. Estou acostumado a lidar com tudo sozinho.
– Você pode contar comigo – digo. – Pode confiar em mim. E pode deixar que eu avalio o que aguento ou não.
– Tudo bem – diz ele, acenando com a cabeça. – Mas chega de mentiras. Para sempre.
– Tudo bem.
Sinto-me rígida e espremida, como se meu corpo tivesse acabado de ser forçado para dentro de algo pequeno demais. Mas não quero que a conversa termine assim, então seguro a mão dele.
– Sinto muito por ter mentido para você – digo. – Sinto muito, de verdade.
– Bem, eu não tive a intenção de fazer você se sentir desrespeitada.
Ficamos parados ali um tempo, de mãos dadas. Recosto-me na placa de metal. Lá em cima, o céu está vazio e escuro, com a lua encoberta por nuvens.
Vejo uma estrela diante de nós quando uma nuvem se move, mas ela parece ser a única. Quando inclino a cabeça para trás, no entanto, consigo ver a linha de prédios na avenida Michigan, parecendo uma fileira de guardas nos vigiando.
Fico quieta até que a sensação de rigidez e aperto passa. Agora me sinto aliviada. Geralmente, não é tão fácil me livrar da raiva, mas as últimas semanas foram estranhas para nós dois, e fico feliz de liberar os sentimentos que tenho guardado, a raiva, o medo de que ele me odeie e a culpa por ter trabalhado com o pai dele sem ele saber.
– Isso é meio nojento – diz ele, tomando o último gole do copo e o pousando sobre a placa de metal.
– É mesmo – concordo, encarando o resto da minha bebida. Engulo tudo em um único gole, torcendo o nariz quando as bolhas queimam a minha garganta. – Não sei do que os membros da Erudição vivem se gabando. O bolo da Audácia é bem mais gostoso.
– Imagina qual seria a guloseima da Abnegação se eles tivessem algo do tipo.
– Pão dormido.
Ele solta uma risada.
– Aveia pura.
– Leite.
– Às vezes, acho que acredito em todos os ensinamentos de lá – diz ele. – Mas é claro que não acredito, já que estou sentado aqui, segurando a sua mão, sem sermos casados.
– Quais os ensinamentos da Audácia sobre... isto? – pergunto, acenando com a cabeça na direção das nossas mãos.
– Os ensinamentos da Audácia... – Ele dá um sorriso malicioso. – Faça o que
quiser, mas se proteja. É isso que eles ensinam.
Levanto as sobrancelhas. De repente, sinto o meu rosto corar.
– Acho que gostaria de encontrar um meio-termo para mim – diz ele. – Queria encontrar o equilíbrio entre o que quero e o que acredito ser a atitude mais sábia.
– Isso me parece ótimo. – Faço uma pausa. – Mas o que você quer?
Acho que sei a resposta, mas quero ouvir da boca dele.
– Hum. – Ele sorri e inclina o corpo para a frente, ficando de joelhos. Apoia as mãos na placa de metal, uma de cada lado da minha cabeça, e me beija, devagar, na boca, sob o queixo, bem acima da clavícula. Fico imóvel, nervosa demais para fazer qualquer coisa, com medo de parecer estúpida ou de fazer algo de que ele não goste. Mas, de repente, pareço uma estátua, como se não estivesse presente de verdade, e decido tocar a sua cintura, hesitante.
Então seus lábios retornam aos meus, ele puxa sua camisa de baixo das minhas mãos, e eu toco a sua pele nua. Ganho vida, apertando-me mais contra ele, passando as mãos pelas suas costas e deslizando-as sobre seus ombros. Sua respiração se acelera, e a minha também, e sinto o gosto da bebida borbulhante de limão que acabamos de beber e o cheiro do vento em sua pele, e tudo o que eu quero é mais e mais.
Levanto a sua camisa. Há alguns minutos, eu estava com frio, mas acho que nenhum de nós dois se sente assim mais. Ele envolve a minha cintura de maneira forte e segura, sua mão livre se entrelaça em meus cabelos, e eu desacelero, absorvendo tudo: a maciez da sua pele, marcada de cima a baixo com tinta preta, a persistência do seu beijo e o ar frio que nos envolve.
Eu relaxo e, de repente, já não me sinto mais como uma espécie de soldado Divergente, desafiando soros e líderes governamentais. Sinto-me mais delicada, leve, como se não houvesse problema algum rir um pouco quando as pontas dos dedos dele acariciam o meu quadril e a parte de baixo das minhas costas, ou suspirar em seu ouvido quando ele me puxa mais para perto, mergulhando seu rosto na lateral do meu pescoço para me beijar ali. Sinto-me como eu mesma, forte e fraca ao mesmo tempo, livre, pelo menos por um breve instante, para ser as duas coisas.
Não sei quanto tempo se passa até começarmos a ficar com frio outra vez e nos enfiarmos juntos debaixo do cobertor.
– Está ficando mais difícil ser sábio – diz ele, rindo ao meu ouvido.
Sorrio para ele.
– Acho que é assim que deve ser.
Comentem!!! pfvr
Autor(a): Fer Linhares
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Christopher Há alguma coisa no ar.Tenho essa sensação ao atravessar o refeitório carregando a minha bandeja e ver um grupo sem-facção inclinado sobre potes de aveia, as cabeças próximas umas das outras. Seja lá o que for acontecer, será em breve.Ontem, ao deixar o escritório de Alexandra, ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
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manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
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manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
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manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
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manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
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manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
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manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
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Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa