Fanfic: Divergente, Insurgente, Convergente (Vondy adp.) | Tema: Série Divergente
Dul
O mundo além do nosso é cheio de estradas, edifícios escuros e cabos de
eletricidade arrancados.
Não existe vida nele, pelo que consigo ver; nenhum movimento e nenhum som, fora o vento e meus próprios passos.
É como a paisagem de uma frase interrompida, com um lado pairando no ar, inacabado, e o outro, um assunto completamente diferente. No nosso lado da frase, há terreno vazio, grama e trechos de estradas. Do outro, há dois muros de concreto com meia dúzia de trilhos de trem entre eles. Mais adiante, há uma ponte de concreto que atravessa os dois muros, e nas beiradas dos trilhos há edifícios de madeira, tijolo e vidro, com janelas escuras e árvores crescendo ao redor, tão selvagens que seus galhos se juntaram ao crescer.
Em uma placa à direita, está escrito “90”.
– O que faremos agora? – pergunta Uriah.
– Seguiremos os trilhos – digo, mas bem baixinho, e só eu escuto.
+ + +
Saltamos das caminhonetes na fronteira entre o nosso mundo e o deles, sejam “eles” quem forem. Robert e Johanna acenam um breve adeus, manobram as caminhonetes e voltam para a cidade. Eu os vejo irem embora. Não consigo imaginar chegar tão longe e depois voltar, mas eles realmente têm coisas para fazer na cidade. Johanna ainda precisa organizar uma rebelião Leal. Eu, Christopher, Caleb, Peter, Anahí, Uriah e Cara, ou seja, quem sobrou, seguimos os trilhos com as poucas coisas que trouxemos conosco.
Os trilhos não são iguais aos da cidade. São polidos e lisos, e, em vez das tábuas posicionadas de modo perpendicular aos trilhos, há lâminas de metal texturizado. Mais adiante, vejo um dos trens que corre sobre eles abandonado perto de um muro. Ele é chapeado de metal no teto e na frente, como um espelho, com janelas coloridas por toda a lateral. Ao nos aproximarmos, vejo fileiras de assentos lá dentro, com almofadas cor de vinho. Não parece ser o tipo de trem do qual as pessoas saltem.
Christopher caminha atrás de mim sobre um dos trilhos, com os braços abertos para se equilibrar. Os outros estão espalhados pelos trilhos, Peter e Caleb, perto de um dos muros; e Cara, perto do outro. Ninguém fala muito, exceto para indicar algo novo, como uma placa, um edifício ou uma pista de como este mundo talvez tenha sido quando ainda havia pessoas nele.
Só os muros de concreto já chamam a minha atenção. Eles estão cobertos com retratos estranhos de pessoas de pele tão macia que mal parecem humanas ou com potes de xampu, condicionador, vitaminas ou outras substâncias que não conheço, com palavras que não entendo, como “vodca”, “Coca-Cola” e “bebida energética”. As cores, formas, palavras e imagens são tão espalhafatosas, tão abundantes, que se tornam fascinantes.
– Dul. – Christopher apoia a mão no meu ombro, e eu paro.
Ele inclina a cabeça e diz:
– Está ouvindo isso?
Ouço os passos e as vozes baixas dos nossos companheiros. Ouço a minha própria respiração e a dele. Mas, sob elas, há um ruído surdo e baixo, inconsistente em sua intensidade. Parece o som de um motor.
– Parem, todos! – grito.
E, para a minha surpresa, todos me obedecem, até mesmo Peter, e nos agrupamos no meio dos trilhos. Vejo Peter sacar e levantar sua arma, e faço o mesmo com as duas mãos juntas para mantê-la estável, lembrando a facilidade com a qual costumava empunhá-la, que já não existe mais.
Algo dobra a esquina adiante. Uma caminhonete preta, maior do que qualquer outra que já vi, grande o bastante para carregar uma dúzia de pessoas em sua caçamba coberta.
Sinto um calafrio.
A caminhonete segue chacoalhando sobre os trilhos e para a seis metros de nós. Consigo ver o motorista. Ele tem a pele escura e o cabelo longo, preso em um nó atrás da cabeça.
– Meu Deus – diz Christopher, segurando a arma com mais firmeza.
Uma mulher sai do banco do carona. Parece ter mais ou menos a idade da Johanna, a pele coberta de sardas escuras e o cabelo tão escuro que é quase preto. Ela salta até o chão e levanta as duas mãos para mostrar que está desarmada.
– Olá – diz ela com um sorriso nervoso. – Meu nome é Zoe. E este é Amah.
Ela inclina a cabeça para o lado, para indicar o motorista, que também saltou da caminhonete.
– Amah está morto – diz Christopher.
– Não estou, não. Venha, Quatro – chama Amah.
O rosto de Christopher está tenso de medo. É compreensível. Não é todo dia que vemos alguém de que gostamos retornar do mundo dos mortos.
Vejo os rostos de todas as pessoas que perdi. Lynn. Marlene. Afonso. Al.
Meu pai. Minha mãe.
E se ainda estiverem vivos, como Amah? E se a cortina que nos separa não for a morte, mas uma cerca de arame e uma extensão de terra?
Não consigo afastar essa esperança, por mais tolo que possa parecer.
– Trabalhamos para a mesma organização que fundou a sua cidade – diz Zoe, olhando para Amah. – A mesma organização de onde veio Edith Saviñón. E...
Ela enfia a mão no bolso e retira uma foto parcialmente amassada. Estende a foto em nossa direção, e então seus olhos encontram os meus em meio ao grupo de pessoas e armas.
– Acho que você deveria ver isto, Dul – diz ela. – Vou dar um passo à frente e deixar a foto no chão, depois recuar. Tudo bem?
Ela sabe o meu nome. O medo aperta a minha garganta. Como ela sabe o meu nome? Não apenas meu nome, mas meu apelido, o nome que escolhi quando me juntei à Audácia?
– Tudo bem – respondo, mas minha voz soa rouca, e as palavras são quase inaudíveis.
Zoe dá um passo à frente, repousa a foto sobre os trilhos, depois recua. Deixo a segurança do nosso grupo e me agacho perto da foto, sem tirar os olhos dela.
Depois, volto para o grupo com a foto na mão.
Na imagem, vejo uma fileira de pessoas diante de uma cerca de arame, com os braços apoiados nos ombros e costas uns dos outros. Vejo uma versão infantil de Zoe, identificável pelas sardas, e algumas pessoas que não reconheço. Prestes
a perguntar por que estou olhando aquela foto, vejo uma jovem de cabelo ruivo-claro, preso para trás, e um sorriso largo.
Minha mãe. O que ela está fazendo junto daquelas pessoas?
Algo, uma mistura de sofrimento, dor e saudade, aperta o meu peito.
– Há muito o que explicar – diz Zoe. – Mas este não é o melhor lugar para isso. Gostaríamos de levá-los até a nossa sede. Fica a uma distância curta de carro daqui.
Ainda com a arma em punho, Christopher encosta no meu pulso com a mão livre, trazendo a foto para mais perto do seu rosto.
– Esta é a sua mãe? – pergunta ele.
– É a mamãe? – pergunta Caleb. Ele abre caminho esbarrando em Christopher para conseguir ver a foto por cima do meu ombro.
– É – respondo para os dois.
– Você acha que devemos confiar neles? – pergunta Christopher baixinho, apenas para mim.
Zoe não me parece mentirosa, nem soa como uma. E, se ela sabe quem eu sou, e soube como nos encontrar aqui, deve ser porque tem algum acesso à cidade, o que significa que deve estar falando a verdade a respeito de ter feito
parte do grupo de Edith Saviñón. E também há Amah, que está observando cada movimento de Christopher.
– Viemos até aqui porque queríamos encontrar estas pessoas – digo. – Precisamos confiar em alguém, não é? Senão vamos simplesmente continuar caminhando por este cenário devastado e talvez até morrer de fome.
Christopher solta o meu pulso e baixa a arma. Faço o mesmo. Os outros aos poucos nos imitam, e Anahí é a última a baixar a sua.
– Aonde quer que vocês nos levem, teremos a liberdade de ir embora quando quisermos – diz Anahí. – Está certo?
Zoe pousa a mão no peito, bem acima do coração.
– Prometo.
Espero, por todos nós, que a promessa dela valha alguma coisa.
Autor(a): Fer Linhares
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Christopher Fico em pé na beirada da caçamba da caminhonete, segurando a estrutura que sustenta a cobertura de pano. Gostaria que esta nova realidade fosse uma simulação possível de ser manipulada e que eu pudesse pelo menos compreendê-la.Mas ela não é uma simulação, e não consigo compreen ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 13
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manoellaaguiar_ Postado em 09/10/2016 - 14:43:04
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 06/10/2016 - 22:22:23
Continua ❤️
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manoellaaguiar_ Postado em 04/10/2016 - 18:30:16
Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 21:14:21
Brigadaaa! Continuaaa
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manoellaaguiar_ Postado em 03/10/2016 - 15:53:35
Continuaaa! Faz maratonaaa!
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manoellaaguiar_ Postado em 02/10/2016 - 14:43:08
Eu nunca li o livro convergente pq eu N TO preparada pra aquele negocio que acontece hahahah! Já comprei a quase um ano e ainda tá guardado lá, um dia eu pego ele!
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manoellaaguiar_ Postado em 01/10/2016 - 19:20:24
Tá maravilhosaaa! Já vi esse filme e adorei! E tô amando a adaptação agora
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manoellaaguiar_ Postado em 28/09/2016 - 22:35:16
Cnttt
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manoellaaguiar_ Postado em 27/09/2016 - 20:38:10
Continuaaa
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Postado em 25/09/2016 - 21:24:21
Aaai deusss! Continuaaa