Fanfic: O Estranho - O Perigo Mora ao Lado (AyA Fanfic) | Tema: Rebelde, Anahí, Poncho, RBD, Traumadas
Meus olhos foram de Alfonso para uma Dulce sem reação. A ruiva olhava o irmão como se ele fosse um ser de outro mundo, o que eu não entendia... Ela estava acostumada a vê-lo sempre, qual o motivo daquela relação? Franzi a testa a observando, por um minuto esquecendo de Alfonso, mas ainda sentindo o seu olhar sobre mim. Em nenhum momento ele me perdia de vista, como um animal cercando sua presa.
- Mas que merda... - murmurou.
- Olá Dulce. - ele soltou um risinho que me forçou a olhar em sua direção, continuava me olhando - Pensei que já tinha te ensinado a bater nas portas.
- Que roupa é essa? Ficou louco?
Informação nova. Obviamente que eu sabia, podia imaginar, que Alfonso não vivia todas as horas do dia com a já conhecida capa. Mas ele não vivia com tudo aquilo? A máscara, as luvas? Qual o motivo de tudo aquilo? Ele parecia tão confortável, nunca desconfiaria.
- Mudanças. - ele deu de ombros - Necessárias, eu diria.
Seus olhos brilharam, focados em mim. Dulce então virou seu rosto, dando sua atenção para mim, a expressão ainda confusa. E foi ali que eu entendi, tudo aquilo era por minha causa... Minha culpa. Alfonso tentava de todo o jeito se esconder de mim, que eu não visse seu rosto. "A curiosidade é seu ponto forte", era isso. Me achava estúpida o bastante para não saber respeitar seu espaço, por isso tudo aquilo.
Doeu. Ser taxada daquela forma tão... Baixa, doeu. Estremeci.
- Não precisava. - quase sussurrei - Não precisa, senhor. Eu sei respeitar os seus limites.
- Sabe? - rebateu levando as mãos para as costas.
- Sim, eu sei. - ataquei, me sentindo muito mal pelo tom de ironia na sua voz - E sei que quando o senhor estiver na biblioteca, eu não devo estar. Por isso, com licença.
Forcei as minhas pernas a voltarem a vida, me arrastando até a porta. Quando fui passar por Dulce, ela me lançou um olhar de desculpas, mas ainda assim confuso. Me avisou que eu já podia ir e eu fui grata por aquilo. Não olhei para trás, não olhei para Alfonso. Só desejava a minha casa e parecia que as paredes da mansão se fechavam contra mim a cada segundo.
- Você enlouqueceu?
A voz de Dulce soou depois que fechei a porta nas minhas costas, não fiquei por perto para ouvir a resposta dele. Tropeçando em meus pés me forcei a sair pelo corredor ainda atordoada demais com a visão que tinha tido. Ela estava certa... Ele tinha enlouquecido.
Como um homem que em um dia não me deixa lhe olhar, no outro simplesmente aparece praticamente fantasiado?
Que loucura, que loucura. Céus!
E o que tinha sido aquela conversa sobre eu trazer luz? Para Dulce Maria eu até entendia, a menina precisava de alguma companhia e eu ocupava bem aquele papel. Até se podia notar uma pequena mudança no seu tom de pele, mais vida. Mas para ele? Que luz eu trazia para ele? Um homem que mal me olhava, que me salvava em um dia e no outro era o ignorante de sempre? Ele só podia realmente ser louco.
Louco, ogro, brutamontes.
E a lista de qualidades de Alfonso só aumentava. Apenas não conseguia atribuir o velho apelido... Monstro. Mas se continuasse naquele ritmo, não tardaria a acontecer.
Peguei minha mochila passando por um novo prato cheio de biscoitos, não evitei em sorrir de lado. Saindo da casa dos Herrera aquela tarde pude escutar algo de vidro se quebrar, o som vinha do andar superior, não me importei em virar para ver.
Se a minha curiosidade o problema, céus, eu trataria dela.
~
Cheguei em casa antes do horário, papai ainda não tinha chegado e mamãe se matava na cozinha pra fazer alguma coisa no forno. A peguei com duas mãos na cintura, encarando o fogão com raiva, alguns fios de cabelo escapando do rabo de cavalo... Ri alto.
- Qual é a proeza de hoje? - perguntei entrando na cozinha, ela me fuzilou sobre o ombro.
- Muito engraçado. - bufou - A carne não cabe nesse forno e eu prometi pro seu pai que faria carne assada pro jantar.
- Já pensou em cortar? Aí vai caber.
Analisei vendo a peça de carne sobre a mesa. Era enorme, não caberia mesmo no forno inteira. Mamãe me encarou com um bico no rosto e eu revirei os olhos.
- Nem sonha. - sibilei - Acabei de chegar e estou morta.
- Por favor querida...
- Não.
- Você sabe que seu pai anda louco da vida comigo pela reforma da casa, por favor. - juntou as mãos como se rezasse.
- Deveria ter pensado nisso antes de gastar todo o dinheiro da nossa poupança.
- Você quer ver seus pais separados Anahí? Quer? Tudo bem então! - ergueu as mãos pro céu - Depois quando estivermos morando debaixo da ponte, você não vem chorar no meu ombro não!
- Certo... - revirei os olhos - Tudo para você não fazer esse drama todo.
Mamãe pulou feliz e mais uma vez eu me pegava pensando que muitas vezes, eu e minha irmã fazíamos o papel de mais velhas ali. Sempre foi assim. Talvez pelo fato de Marichelo ter casado muito cedo com papai, só tinha 15 na época e se apaixonou loucamente pelo vizinho 6 anos mais velho. Foi uma tremenda confusão na época, dizem as más línguas que vovô Jhon ameaçou banir para sempre a ovelha negra da família...
O que mudou depois da chegada da minha irmã mais velha e depois com a minha chegada. O coração do velho senhor Puente foi derretido pelos dois bebês e mamãe perdoada pela loucura de se entregar tão cedo a um homem que mal conheciam.
Mas isso não mudava o fato de que minha mãe sempre se manteve afastada do resto da família, nas festas éramos as únicas que compareciam, sem nenhum dos nossos pais. Talvez as palavras ditas naquela época tinham sido duras demais para Marichelo esquecer assim.
- E como está o trabalho, querida? - mamãe perguntou me tirando dos meus pensamentos.
A peça de carne já tinha sido cortada e agora nos revesavamos para o corte dos legumes. As duas sentadas na mesa da cozinha.
- Bem. - dei de ombros - Nada muito difícil.
- E o rapaz? - franzi a testa para a pergunta - O rapaz doente Anahí. É realmente doente assim? Você o vê? Não é nada contagioso não? Talvez você devesse...
- Não, mãe. - interrompi - Não é nada contagioso. Eu mal o vejo.
Não era mentira. Eu mal o via de verdade, na realidade eu nunca tinha o visto de verdade, mas esse não era um assunto para se tratar com ela. A visão de Alfonso com a máscara negra brincou na minha cabeça, me arrepiei com a lembrança.
- E o que ele tem afinal? - perguntou curiosa.
Só um baita temperamento de merda. Me controlei pra não responder.
- Não sei ao certo. Acho que algum tipo de depressão, ele não deixa muito o quarto.
Isso foi o bastante para ela desandar a falar tudo o que sabia sobre depressão. Parecia que a titia Sally tinha tido assim que o primeiro marido a deixou no altar, e mamãe parecia se achar especialista no assunto. Não me importei em prestar muita atenção no que ela dizia, sabia que ela nem iria reparar que eu não ouvia, então só foquei minha atenção para os legumes em si balançando a cabeça de vez enquando.
A minha mentira parecia ter algum sentido na minha cabeça. Pelo o que Ian tinha me dito, Alfonso tinha feito algo muito grave com a namorada, com consequências pesadas. Acontecimentos traumáticos as vezes geravam doenças psicólogos, eu sabia. Me lembrei de Alice Tunner, minha colega de classe desde a infância, no último verão tinha presenciado a morte da própria mãe durante uma troca de tiros entre gangues. Ela saiu sem nenhum arranhão, mas a situação criou um grande problema... Alice desenvolveu síndrome do pânico, era horrível de presenciar os seus ataques. Gritos e mais gritos de desespero, mal conseguia respirar.
Talvez aquela fosse a forma de Alfonso reagir ao que tinha feito, seja lá que fosse. A depressão ia explicar o fato de não sair, se manter as escuras. Sempre com medo.
E onde estaria a namorada? Qual o motivo de abandonar ele naquele fundo do poço? Parecia cruel até para ele. Se não fosse Dulce, seria um homem terrivelmente sozinho.
Mais uma vez as palavras de Ian me atingiram como um soco. A aparecia de Alfonso. O motivo pelo qual ele se escondia nas sombras, e agora atrás de uma máscara.
Foi por isso que ela o deixou sozinho? Estúpida. Isso não era amar de verdade.
E ele ainda a amava? Senti uma pontada no peito, esquisita. Franzi a testa para aquilo.
- ANAHI!
A voz vinda do lado de fora me fez pular na cadeira, mamãe largou a faca com tudo levando a mão ao peito. Meus olhos bateram no relógio na parede e soltei um palavrão baixo. Christian.
- Esse menino não sabe usar a campanhia não? - mamãe murmurou desgostosa.
- Ele gosta de se fazer notar. - ri baixinho me levantando.
Fiz o caminho até a porta da frente, rezando baixinho. Tinha esquecido completamente que ele tinha ficado de ir até ali, para buscar o que mesmo? Céus. Eu nem lembrava. Estava mais preocupada com o fato dele estar mais do que desconfiado de mim, seus olhos denunciavam bem aquilo. Christian era daquele tipo de pessoa que nasceu com um faro investigativo, seus olhos não deixavam escapar nada... E eu sabia que estava na sua mira. Só torcia para conseguir me livrar dele o mais rápido possível, ainda estava balançada demais graças a Alfonso para conseguir levar uma conversa como aquela.
- Não sabe usar a campanhia, não? - repeti a pergunta de mamãe com um risinho, quando abri a porta.
- Que graça isso teria? - deu de ombros - Como você está, boneca?
Chris tinha as mãos nos bolsos da calça jeans, encostado contra o batente da porta da minha varanda. Seus olhos eram divertidos como sempre, mas parecia um pouco aflito. Franzi a testa para aquilo.
- Bem... - mordi os labios - Você quer entrar? Vou buscar aquilo... Aquilo que você pediu e...
- Você nem lembra o que foi. - ele gargalhou - Realmente sua cabeça está longe, eu não estava errado. Maite disse que era coisa da minha cabeça mas...
- É que eu tive um dia cheio, Chris. - dei de ombros - No trabalho e...
- Trabalho na casa dos Herrera. - me fitou - Sim, deve ser realmente bem difícil ficar com a mente sã depois de passar o dia lá.
Fiquei sem ar, como assim ele sabia? Não, não, não. Eu deveria ter contado, evitaria a raiva dele e dos outros. Christian ainda estava encostado na porta, me encarando sem nenhuma expressão. Senti o sangue se concentrando nas minhas bochechas e sabia que estava corada.
- Herrera? Não eu...
- Não minta Anny. - revirou os olhos - A bibliotecária não sabe bem guardar segredos, fez questão de me contar como Dulce Maria e vocês se derem bem. Bem ao ponto de oferecer um emprego. - passou a mão pelas sobrancelhas, suspirando - Eu não acreditei. Eu realmente não queria acreditar. Por isso quando vi seu pai hoje de manhã, aparando a grama do jardim, antes de ir pro trabalho eu tive que parar e perguntar onde você estava trabalhando. Você tinha que ver como ele falou todo orgulhoso que era na mansão. - riu amargo - Se ele soubesse... Melhor! Se você soubesse...
- Christian eu... - tentei, sentindo o peito apertar.
- Você tem noção, Anny? Você tem alguma noção do que aconteceu? Do que aquele homem é capaz de fazer?
Ele estava magoado, claramente magoado. Mas eu também começava a ficar. Logicamente que eu tinha aceitado aquele emprego pela minha curiosidade, mas também fora por Dulce. Parecia tão desesperada quando me conheceu, me lembrei do seu pouco jeito aquela tarde. Era só uma menina, uma menina estupidamente sozinha, uma menina que também tinha sido amiga dele e dos outros algum dia.
- Isso não é só sobre Alfonso, Christian. - cuspi, irritada - Alguma vez você sequer pensou no que Dulce passa tendo que lidar com tudo aquilo sozinha? O quanto ela se sente desamparada? Me perdoe por fazer o papel de amiga que vocês não souberam fazer.
- Você não sabe o que diz. - falou surpreso pela minha reação.
- Tem certeza que não?
- Ela teve uma escolha. - deu de ombros - E você também tem.
- Ah claro! - ri irônica - O irmão ou os amigos e o namorado. O próprio sangue ou um bando que só sabe olhar o seu próprio lado da história. Realmente muito difícil essa escolha que deram a ela. - suspirei - Não vou ser a fraca que você espera, não vou deixa-la sozinha mais uma vez.
Nos encaramos fixamente, duas pessoas prestes a explodir. Christian não tinha mais as mãos dentro da calça, agora os dois pulsos estavam fechados em socos, não parecia nem de longe o garoto que eu conhecia. Em uma situação normal, eu me encolheria com a cena, mas eu estava tão furiosa com tudo aquilo... Furiosa com Alfonso por me tratar daquela forma, furiosa com Dulce para não lutar por sua própria vida, furiosa com todos por não conseguirem olhar o lado do outro... Não abaixei o olhar, Christian estudava minha feição com cuidado, aos poucos seu corpo foi relaxando até que ele respirou fundo, passando a mão pelos cabelos. Deu as costas para mim, se sentando nas escadas virado para a rua. Fiquei alguns segundos vendo seus ombros subirem e descerem com a respiração, até que tomei coragem para me sentar ao seu lado, ele não me encarou.
- Christian, eu não quis...
- Sim, você quis. - interrompeu - Você quis dizer tudo isso. E sabe o que é o pior? - me olhou de canto de olho - O pior Anny, é que você tem razão. Dulce era minha amiga, minha irmã. E em nenhum momento eu vi o seu lado da história.
Mais silêncio, não ousei dizer nada porque ele estava certo em pensar daquela forma... Realmente tinha sido muito cruel, junto com os outros, para não perceberem que a ruiva também sofria. Estava sozinha, abandonada por quem mais confiava. Por um segundo também coloquei Alfonso naquela posição, abandonado pelos amigos... Pela namorada. Condenado por algum erro absurdo.
- Como ela esta? - ele perguntou em um fio de voz, ainda encarando a rua.
- Empolgada. - ri enquanto franzia a testa - Acho que faz um bom tempo que ninguém entra ali dentro para fazer uma visita. Não para de cozinhar, fica o dia inteiro me enchendo de comida.
- Ela fala de nós? - o tom da voz me deixou claro como aquilo o doía, dei de ombros.
- Acho que é um assunto que ela tenta não lembrar.
Chris alcançou um fio que escapava da costura da sua calça, ainda evitando me olhar nos olhos e eu fui grata por aquilo. Céus... Se eu soubesse que iria me meter naquela montanha de sentimentos quando me mudei, teria dado um jeito de fugir com Rodrigo para Roma.
- O que Ian te contou sobre Alfonso?
- Como? Nada... - corei fortemente, droga... Nada escapava daquele menino?
- Ian se sentiu culpado logo depois, tínhamos combinado de não tocar muito nesse assunto. - deu de ombros - Só eu sei que ele contou, relaxe. Se Maite ou Nina soubessem, essa hora, ele já não estaria vivo.
- Não contou muito. - suspirei - Só algo sobre uma namorada barra pesada e uma besteira muito grande. E sobre a aparência de Alfonso, o que confesso que não fez muito sentido, até hoje mais cedo...
- Você o viu? - suas sobrancelhas se juntaram, me encarando pela primeira vez.
- Não... Sim... - fiz uma careta - Quer dizer, mais ou menos. Ele usava uma máscara estranha, cobrindo o rosto inteiro e umas luvas. Não vi um centímetro sequer da sua pele.
- Isso é estranho. - constatou voltando a olhar a rua - Vocês conversaram?
- Digamos que ele não é uma pessoa muito agradável para um diálogo... - rolei os olhos e ele riu baixo - Vai me contar?
- Você não desiste, não é? - seus lábios se apertaram em uma linha fina.
- Dizem por ai que curiosidade é o meu ponto forte.
Chris não riu, mas seus olhos pareceram perder o foco, mergulhados em suas próprias lembranças. Sem perceber, estendi minha mão para a sua, agarrando seus dedos finos com força, ele suspirou.
- Como sei que Ian é péssimo para histórias, vou te contar desde o começo. Dulce cresceu conosco, sempre a mais arteira do bairro. Ucker sempre foi louco por ela, mesmo com a diferença de idade. Onde estava a baixinha de xuxinhas lá estava ele, quase estendendo um tapete vermelho para que ela passasse. É o amor mais bonito que eu já vi, mais puro. - sorriu de lado - Éramos muito unidos, todos, como somos até hoje. Dul vivia falando sobre o irmão mais velho que vivia com o tio deles na Espanha, ele sempre foi sua maior inspiração... Por isso ficou completamente louca quando ele disse que voltaria para casa para concluir o ensino médio. Ela estava eufórica, ele sempre foi seu maior herói. Ter o irmão em casa, ainda na mesma sala que o namorado, parecia um sonho que ela não queria acordar. Nós ficamos empolgados também, o cara parecia gente boa e extremamente bonito. - revirou os olhos - Quando ele chegou foi a grande sensação da cidade, eu confesso que morri por ele também... Era um cara muito gente boa, super humilde e alegre. Foi fácil aceitar ele no grupo, quando demos conta ele já comparecia a todas as reuniões, todas as festas... Era o nosso outro irmão. Mas o problema de ser tão bonito é que você também chama atenção de quem não deve. E foi o que aconteceu...
- A namorada? - perguntei em um fio de voz.
- Angie era a típica garota problema do colégio, desde pequena. O pai era dono da maior rede de negócios da capital, moravam por aqui já que sua mãe gostava de sossego. Aos 17 anos ela já tinha uma grande lista de passagens pela polícia, com todas as passagens possíveis. Desde roubo a agressão. - suspirou - Mas mesmo sendo tão problemática, era linda. E foi isso que chamou tanto atenção de Alfonso e ela via algo nele, que ninguém mais via, em pouco tempo ele já estava completamente nas suas mãos. Começou a ter problemas também com a polícia, foi pego umas duas vezes assaltando o supermercado do centro e Dulce estava convicta de que ele andava usando drogas. Dona Ruth, mãe dos dois, queria morrer ao ver o filhinho querido se tornando aquilo; Dulce não era diferente, virava as noites atrás dele pela cidade e muitas vezes tinha que voltar com ele carregado de tão bêbado. Virou uma bomba de fofoca, ninguém sabia falar de outra coisa a não ser o casal. - bufou - Mas o problema era que Angelica realmente tinha problemas, sabe? Não era uma garota normal. As brincadeirinhas estavam suportáveis até um ponto, mas sempre tem como piorar...
- O fogo. - murmurei relembrando minha conversa com Ian.
- Era o baile de primavera daquele ano, todos estavam eufóricos... Menos Dulce. Fazia mais de duas semanas que Alfonso não voltava para casa e não se tinha notícias de Angie em lugar nenhum, também. Foi um sacrifício tirá-la de casa aquela noite, Maite teve que literalmente a vestir. - estralou os dedos - Estávamos tentando nos divertir, sabe? Não estava sendo fácil ver um amigo mudar tanto... Ele mal conversava com a gente, parecia um estranho. O baile estava lotado, o diretor ia de um lado pro outro tentando evitar que os casais dessem uns amassos nos cantos do salão. - sorriu de lado - Mal sabia ele que era a última coisa que ele deveria se preocupar... Tinha chegado a hora de anunciar o rei e a rainha do baile daquele ano, a disputa tinha sido arriscada daquela vez... Junto com Lauren e Bruce, que se formavam aquele ano, Alfonso e Angelica também estavam sendo muito cotados. Mas parecia que o senso tinha vencido daquela vez e os dois primeiros foram chamados ao palco. O salão estourou em um aplauso, gritos eufóricos. Lauren estava na metade do seu discurso quando a porta da frente foi fechada com tudo, nos deixando presos, eu mal tive tempo de entender o que estava acontecendo... As pessoas voltaram a gritar, dessa vez de pavor, tinha fogo para todos os lados. Maite desmaiou nos meus braços com a fumaça...
Ele fungou, já chorando. Era muito claro o quanto aquelas lembranças o machucavam, o pavor daquela noite ainda o aterrorizava. Passei a mão pelas suas costas, tentando passar apoio, ele ergueu a cabeça respirando fundo para se acalmar.
- Não tinha saída Anny, não tinha. - gemeu - Tinham trancado todos ali dentro, trancado para morrer. Eu olhava em volta e via muitas pessoas desmaiadas, outras sendo pisoteadas pelo desespero das outras. Era a própria cena do inferno. Enrolei a minha camisa contra o nariz de Mai, Ucker fez o mesmo com Dulce que só sabia chorar. Eu fiquei tão desesperado... Ian e Nina não estavam em lugar nenhum e a confusão só aumentava, eu sabia... Deus, eu sabia que íamos morrer ali.
- Chris, não precisa continuar... - gemi, me apertando contra ele.
- Sim, eu preciso. Foi burrice esconder isso de você. - balançou a cabeça - Quando eu achei que não poderia piorar, o teto do salão começou a despencar. Muitas pessoas morreram na hora, não tiveram nem como escapar, os gritos eram terríveis Anny. Eu fechei meus olhos com força rezando para um Deus que eu nem acreditava, na época, pedindo para morrer de uma vez. Eu não queria sofrer. Foi ai que a porta da frente foi aberta, não me pergunte como, e todos começaram a correr para fora como podiam. Mais pessoas foram pisoteadas naquele momento, o medo de morrer realmente te faz fazer coisas surreais. O hospital nunca ficou tão cheio como naquela noite, muito menos a casa funerária... Foi terrível escutar o choro daquelas mães recebendo as notícias das mortes, Anny. - suspirou - Foram 12 mortos naquela noite e uns 50 feridos. Estávamos na sala de espera junto com as outras famílias, esperávamos Maite ser examinada, quando recebemos a notícia de mais duas vítimas...
- Alfonso e Angelica. - conclui e ele assentiu.
- Ninguém entendeu como eles tinham parado ali, ninguém viu os dois no baile, nenhum sinal. Dulce quis morrer quando avisaram que ele estava em um estado crítico, um dos pilares do salão caiu bem em cima dele. O fogo veio em cheio no seu corpo, tinham queimaduras para todos os lados, ninguém acreditava que ele fosse sobreviver.
- E Angelica?
- Não conseguiu sair de lá a tempo, acharam seu corpo todo carbonizado. O reconhecimento do corpo foi fácil graças a um anel, joia de família, que ela vivia exibindo por ai. - rolou os olhos - Mas a questão é que ninguém tinha uma explicação para a presença dos dois ali, até que as investigações constataram que tinha sido um incêndio criminoso e encontraram as digitais dos dois nos barris de gasolina jogados nos fundos da propriedade.
- Ai meu Deus... - gemi, sentindo meu estômago apertar.
- Eles planejaram tudo, Anny. Pelo menos foi isso que a cidade inteira pensou. - deu de ombros - Dulce passou a ser a única a visitar o irmão no hospital, os próprios médicos se mostravam desgostosos de cuidar dele. Até que um belo dia, alguns dias antes de Alfonso voltar para casa, os senhores Herrera simplesmente sumiram, não aguentaram os olhares dos outros. Quiseram levar Dulce com eles, mas ela não quis. Foi quando o tal tio da Espanha chegou por aqui, assumiu a guarda dos dois e ficou um tempo cuidando das coisas. Dulce não comentava sobre Alfonso com ninguém, e nenhum de nós perguntava também. - suspirou - A cada dia ela foi ficando mais distante, começou a faltar mais, não aparecia com tanta frequência... Finalmente entendi que ela fazia isso pelos olhares que a lançavam em qualquer lugar, inclusive nós. Ela estava pagando por algo que não tinha sido a sua culpa. Alfonso voltou para casa, passando a ter aulas por lá e ela seguiu esse mesmo caminho.
- Foi quando Ucker surtou?
- Sim. Ele tinha perdido um primo naquele incêndio, mal conseguia pronunciar o nome de Alfonso sem se enjoar. Quando ela começou a se isolar por ele, foi demais para o namoro... Ele a fez escolher e ela escolheu o irmão. Nunca mais o vimos, nem sequer sua sombra. - constatou - Dizem que ele não sai por causa das cicatrizes que ficaram horríveis ou talvez seja pelo medo de ser linchado. - deu de ombros - O tal tio os deixou aqui, aparece as vezes e Dulce passou a tomar conta da casa, saindo bem pouco. E quando sai, não quer nos ver. Com o tempo nos acostumamos com a sua ausência.
- E os pais? Os Herrera?
- Parece que foram morar na Europa, não sei. Ou morreram, ninguém sabe ao certo. - deu de ombros - O fato é que os negócios da família continuam ótimos, por isso conseguem manter a casa e tudo aquilo.
- Alfonso nunca foi preso? - sussurrei.
- Por mais que as digitais dele estivessem nos barris, não estavam em lugar nenhum no lugar do início do incêndio, só as de Angie. A polícia disse algo sobre qualquer um poder ter segurado os barris sem saber o que tinha dentro...
- Então ele pode não ser culpado. - constatei e ele revirou os olhos.
- Acredite em mim, Anny, ele é. Você não faz idéia de como ele era naquela época. Você mal podia ficar perto sem ele te tratar mal, com toda aquela prepotência.
Nada muito diferente de hoje em dia, pensei amarga. Chris voltou a chorar baixo, vindo parar no meu colo, deixei que ficasse lá... Colocando para fora toda a mágoa que tinha pela aquela noite.
- Não vou pedir para que saia de lá, Anny. Você me fez ver o quão injusto fui com Dulce também. Deus, eu mal insisti para que ela voltasse a falar conosco...
- Eu não sairia de qualquer jeito. - sorri de lado.
- Só tome cuidado, boneca. Alfonso é um lunático, tanto tempo preso lá dentro não deve ter feito bem para a sua cabeça.
- Eu vou tomar Chris, eu vou. - sussurrei o abraçando de lado.
O fiz ficar para jantar, aos poucos ele foi voltando ao normal... Falando as besteiras que fazia qualquer um rir. Papai corava fortemente com cada piada de duplo sentido que ele soltava e mamãe se deliciava. Tentei mantê-lo ali o maior tempo possível, fugindo da cama.
Eu sabia que aquela noite eu sonharia com fogo... Com fogo e Alfonso.
tatyme: Meu amor, decidi focar só em o Estranho por enquanto. Quando acabar essa fase, volto a postar as outras histórias!
Feliz pelos comentários e as leitoras novas! Um beijo carinhoso <3
Autor(a): JanaTwint
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 28
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hittenyy Postado em 25/10/2017 - 23:20:43
Finalmente te achei hahaha vc não vai postar mais no Wattpad ?
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mari_froes Postado em 04/11/2016 - 14:08:55
Cadê??? Amo essa fic!
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fersantos08 Postado em 24/10/2016 - 13:07:40
Leitora nova :) adorei a sinopse..vou começar a ler!
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nanda_silva Postado em 23/10/2016 - 23:53:07
Continua sou leitora nova
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beatris_ponny Postado em 18/10/2016 - 19:45:38
Posta mais
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beatris_ponny Postado em 18/10/2016 - 19:45:14
Amando <3
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Belle_ Postado em 17/10/2016 - 15:00:18
socorro essa história é tão perfeita, vc escreve maravilhosamente bem jdjdjdjfjfjf cntt
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mari_froes Postado em 17/10/2016 - 08:51:15
Amando! Cada dia mais e mais!
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mari_froes Postado em 15/10/2016 - 09:28:32
Geeente... que babado! Posta maais!!!
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day Postado em 15/10/2016 - 08:17:59
Oi é a primeira vez que estou comentando Continua estou amando a história, me dói o coração ver o Alfonso sofrer assim .....