Fanfic: If I Could Fly - fan fic ONE DIRECTION | Tema: romance, yaoi, adolescência, jovens-adultos, amizade
Vinte minutos se passaram desde que eu e a Rachel entramos no táxi e ainda não conseguimos sair das redondezas do nosso condomínio.
Segundo o motorista, um senhor de meia idade bastante simpático, quando ele percorreu o caminho inverso do que estamos fazendo para vir nos buscar, não havia nenhum acidente ou blitz que pudesse justificar essa morosidade.
- O que teria acontecido então?- eu e Rachel lançamos a inevitável pergunta ao coitado, enquanto o encaramos pelo retrovisor, ávidos por uma explicação e se possível uma solução milagrosa para sairmos desse imbróglio.
Pelo rádio, após manter contato com alguns colegas da profissão, ele compartilha conosco aquilo que já tinha nos comunicado.
Definitivamente tentar entender os motivos que levam às mudanças repentinas no trânsito é desperdiçar massa encefálica, ainda mais pra quem mora em Botafogo, um bairro que é um grande corredor de passagem daqueles que se deslocam do Centro da cidade para as demais áreas da Zona Sul e Barra da Tijuca, e sendo uma sexta feria à noite então... Porém existe uma teoria de um físico japonês (não me lembro do nome do indivíduo e mesmo se lembrasse, pronunciá-lo “quebraria” minha língua em três partes diferentes) que afirma ter descoberto que o efeito borboleta é o verdadeiro motivo dos congestionamentos.
Yes.
O tal do efeito borboleta não é só o nome daquele filme estralado pelo gatinho do Ashton Kutcher, aonde ele vai e volta no tempo e faz um samba do crioulo doido na própria vida e na de todos a sua volta ao tentar mudar o passado, é também uma teoria (outra) sobre reações em cadeia que usa a hipótese de que o bater das asas de uma borboleta pode causar um furacão do outro lado do mundo, ou, no caso em questão, um pequeno problema em um ponto do tráfego pode causar um grande engarrafamento.
Chato e cansativo e eu não sei por que estou divagando sobre isso. Prefiro a célebre citação de Shakespeare para explicar e dar um ponto final em toda essa balbúrdia: há mais mistérios entre o céu e a terra do que a vã filosofia dos homens possa imaginar.
Não o há que se fazer. Ir a pé de Botafogo até a Gávea, onde mora o Zayn, está fora de cogitação pelos motivos óbvios, então a solução é ignorar as filas dos carros que está se formando do lado de fora e seguir viagem colocando em prática o velho ditado sobre fazer uma limonada com os limões que nos são oferecidos.
Eu e Rachel á havíamos começado a colocar as notícias em dias desde o instante em que entramos no táxi, porém, tipo, plantão de notícias, mas agora, mesmo putos, decidimos continuar, só que sem pressa, como se estivéssemos sentados em uma varanda, num fim de tarde, tomando chá e comendo biscoitos de sabores e formas variados.
Até que esse engarrafamento não está sendo de todo ruim. Eu e minha amiga não nos vemos assim, cara a cara, há uma semana.
Na segunda feira foi meu último dia na escola, lugar onde eu e Rachel nos comunicávamos com bastante frequência, inclusive por que éramos da mesma classe; no mesmo dia foram passados dois trabalhos para serem apresentados na próxima semana, e minha amiga, que é uma geekie de carteirinha, dessas que quando se dedica a algo chega ao ponto de esquecer o que está ocorrendo no presente, se entregou de corpo e alma e coração na elaboração de cada um deles, se tornando praticamente incomunicável.
Em épocas como essa é mais fácil cruzar com o Gollum desesperado atrás do Um Anel pelas dependências do condomínio onde moramos do que conseguir um mísero encontro de cinco segundos com a Rachel, salvo raríssimas exceções, como hoje, no início da tarde, quando ela saiu da sua Montanha Solitária para me contar, e preparar, sobre o novo namorado do Harry ou quando eu liguei e ela se mostrou totalmente disponível a ouvir, mesmo me criticando, a insana aventura da minha postagem sqn no Whisper.
Nossa. Só o Criador sabe como os meus problemas se potencializaram nesses últimos dias sem a companhia da minha Best Friend. Não sei como vou sobreviver naquele fim de mundo sem ela.
Quem vai entender minhas neuroses e conflitos sem julgá-los de forma depreciativa? Quem vai rir e se divertir junto comigo mesmo debaixo da chuva? Trocar whats de pura zueira na sala de aula diante da bizarrice de alguém e depois compartilhar olhares de cumplicidade transbordando sarcasmo? Quem vai me inspirar, me apoiar, me aconselhar e até mesmo me irritar? Quem vai me surpreender com pequenos gestos, me roubando um sorriso, um abraço, um suspiro?
Não há tecnologia avançada que substituía a presença física da Rachel. Só ela sabe coisas que mais ninguém na face da terra sequer pode imaginar, como todas as verdades das mentiras que eu já contei para os meus pais; as pessoas que eu trato bem mesmo odiando; com quem e como eu perdi a virgindade; os presentes que eu ganho dos meus tios nos aniversários e festas de fim de ano e que dá vontade de devolver...
Ainda lembro muito bem de suas palavras quando terminei de lhe contar, em prantos, sobre a decisão da minha mãe de nos mudarmos para Laranjeiras.
O mundo está se virando contra mim, Rachel...
Então seremos eu e você contra ele.
Preciso ser otimista e acreditar que lá em Tão, Tão Distante tenha wireless disponível.
* * *
Depois que atualizamos as informações sobre quem vacilou, quem ficou na pista, quem ficou com quem, sobre as mocreias, sobre os deuses-gregos-filés de plantão, os youtubers que conseguem falar algo de útil e também sobre aqueles que fazem sucesso falando sobre nada, sobre o trabalho infeliz que o Gilson passara, o professor de Física que parece falar com um ovo na boca e que acredita piamente estar formando futuros Isaac Newtons, Einstins, Galileus e, claro, sobre como todos no colégio estão sobrevivendo sem mim, o assunto que passou a predominar dentro do táxi foi o do meu encontro inesperado com o Thiago com aspas e como acabei impressionado.
Rachel ouve cada palavra do meu relato surreal praticamente olhando para o lado de fora de sua janela. Eu sei que ela está possessa diante da minha capacidade de criar castelos em areias e que vai cuspir cobras e lagartos quando eu finalmente terminar o meu “conto de fadas”... Ao menos o motorista, a julgar pelos seus olhares condescendentes transmitidos pelo retrovisor, está sendo solidário a mim.
- Não está falando sério, Niall - ela finalmente me encara. Seu olhar mais parece duas chaleiras em fase de ebulição. Sinto-me como um condenado em última instância por um crime cometido contra a humanidade – Você mal trocou meia dúzia de palavras com esse tal cara e já tá deduzindo que vocês são almas gêmeas?
- Eu não vou fingir que não fiquei balançado, impressionado, de verdade... - lhe respondo cabisbaixo já antevendo a reprimenda que eu vou continuar levando.
- Você sempre tem essa pseudossensação de que o universo lhe colocou de frente para sua alma gêmea, mesmo sabendo da enorme possibilidade de que nunca mais a verá Eu realmente não consigo entender como você é capaz de investir tanta energia nesses supostos pretendentes que nem sequer lhe dão uma deixa de que também se interessaram, até porque tudo acontece dentro dessa sua cabecinha, né meu amigo? – ela cutuca o meu couro cabeludo com o seu indicativo.
- Mas dessa vez foi diferente... - ergo a cabeça e olho para Rachel de soslaio.
- Mesmo? - ela se vira para mim totalmente. Cabeça e membros numa sincronia invejável -Você me disse que se encontrou com esse príncipe no final da tarde - Rachel olha para o painel do táxi para conferir as horas e depois se volta para mim, incisiva - E a julgar pelo tempo decorrido, se passaram exatas três horas desde que você e ele se viram pela primeira e última vez, ou estou enganada?
Meneio a cabeça em negativa.
- E o tal senhor das aspas - ela levanta as mãos e as mantém ligeiramente afastadas e simula com os dedos flexionados suas aspas aéreas - foi embora sem sequer olhar para trás - observa num tom de voz carregado de impetuosidade.
Dou de ombros.
- Me explique Niall, que sinal dessa vez você recebeu dos céus te dando a plena certeza de que não vai ficar dias viajando na maionese? Além do mais você mesmo disse que esse tal de Louis com aspas tem um namorado...
- Eu só achei que o carinha que o estava acompanhando pudesse ser o namorado dele – balbucio baixando novamente o olhar.
Sim. Posso até ser um masoquista psicótico, apesar de não ter a mínima ideia se essa expressão está correta, mas aqui, agora, narrando pra Rachel os pormenores do meu esbarrão com Louis (chega de usar aspas, né?), entrevejo a situação com uma perspectiva mais abrangente e algo me diz que todas as respostas que venho procurando eu encontrarei dentro daqueles olhos azuis. Que dessa vez minhas esperanças tem possibilidade de serem alcançadas, de se tornarem reais.
Olho para fora da minha janela e meus olhos vagueiam no nada, perdidos numa daquelas frações de minuto que parecem margear a eternidade do tempo enquanto continuo a me sentir arrebatado por uma força absurdamente estranha, deixando-me impaciente ao me fazer retornar àquele momento em que ouvi Louis elogiar o meu sorriso, derrubando a muralha de orgulho que eu havia construindo à minha volta.
- Você deveria ficar contente por eu estar deletando o Harry – sugiro enquanto me volto na direção de Rachel.
- A esse preço, meu amigo? - ela me fita. Seu semblante permanece inflexível - Fugindo da realidade para ir de encontro a um ídolo de pano? Quando você vai parar de apenas querer enxergar miragens? Ainda não aprendeu a lição? O Harry mesmo é uma prova viva dessa sua fixação desmedida em querer ter um namorado custe o que custar... Com os seus outros dois ficantes não foi muito diferente: você se sente tentado em querer algo sério com o primeiro cara que pareça remotamente compatível e acaba forçando a barra para fazer funcionar algo que claramente não vai.
Deixo os ombros caírem e miro o chão do táxi imediatamente. Rachel está certa. Mais uma vez estou me comportando como um compulsivo, imaturo e irracional ao me esconder atrás de teorias fantasiosas. Quantas e quantas vezes uma simples troca de olhares, ou um esbarrão dentro do metrô, andando na rua, na escola, me fez imaginar uma vida a dois, com uma casa, filhos adotivos...
Por que não posso ser como a maioria dos carinhas da minha geração, só buscando curtir, sem dramas, sem raízes, dormindo uns com os outros sem compromisso, sem se importar de no dia seguinte dar uma satisfação, retornar uma ligação, querer repetir o encontro desde que não seja tão somente a cama o objetivo a ser alcançado?
Odeio essa minha carência exacerbada. Odeio não conseguir controlar meu desespero por querer ter alguém a meu lado para dividir um instante, um entusiasmo, um sucesso alcançado, compartilhar alegrias... Alguém para me apoiar quando estiver decepcionado...
Sinto a mão de Rachel passear pelos meus cabelos. Não a encaro. Não tenho forças.
- Meu amigo – ela reinicia num tom de voz bastante suave – Não quero parecer a madrasta má nessa história, mas você se esqueceu de que irá embora depois de amanhã? – não resisto e me volto. Sinto meus olhos marejarem - Qual a probabilidade de você e esse tal Louis com aspas voltarem a se encontrar?
Minha amiga sorri, um sorriso contido, reconfortante.
Deixo um suspiro escapar do meu peito.
Um silêncio começa a habitar o nosso táxi.
Rachel recolhe sua mão e volta a se acomodar sobre o banco, passando a encarar a fileira de carros que se movimentam à nossa frente como se estivessem em uma passeata.
Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estiver triste, porque nunca se sabe quem pode se apaixonar por teu sorriso.
Sorrio então um sorriso triste, vazio, na direção do nada e reflito sobre o status da minha vida: uma quimera que se alimenta de esbarrões, roçar de braços, olhares e agora de um encontro aleatório no meio fio do calçadão de uma praia...
- Relaxa, Naill - o abraço forte de Rachel me resgata do transe no qual me deixei mergulhar - A adolescência é muito complicada. Na verdade não sabemos o que realmente queremos - ela me liberta dos seus braços e então segura o meu rosto - Em alguns momentos estamos felizes, mas com uma rapidez absurda ficamos tristes, porém somos assim mesmo. Vamos esquecer as preocupações, recarregar as energias e encontrar nossos amigos cheios de disposição para curtir sua festa que vai ser maravilhosa.
Ela me dá um beijo estalado nas duas bochechas e se vira rapidamente na direção da janela, abrindo-a para em seguida colocar sua cabeça para fora e gritar, em alto e bom som:
- Bem-vinda sexta-feira e que o fim de semana seja tão lindo quanto você.
* * *
O relógio no painel do táxi marca 21h30min.
Até as duas da madrugada dá pra se divertir bastante, mesmo sendo minha festa de despedida, concluo enquanto termino de pagar a minha parte da corrida ao simpático motorista. Rachel já está do lado de fora, tensa.
Com a cabeça e uma parte do tronco virado para trás, o senhor de meia idade me devolve o troco em completo silêncio. Eu, claro, agradeço e me preparo para descer do seu carro, porém sinto o toque de leve de seus dedos, um tanto hesitantes, sobre o meu braço que está apoiado no encosto do banco do carona, o que me faz refrear, acreditando que possivelmente eu tenha lhe dado uma quantia maior daquela exibida no taxímetro.
- Rapaz me desculpe - ele inicia com um tom de voz carregado de amabilidade e um sorriso discreto se formando no canto do seu rosto ao mesmo tempo em que recolhe a mão que havia me tocado - Eu não pude deixar de ouvir...
Como assim? Tudo bem que eu e a Rachel não fomos nem um pouco discretos ao expor minha carência em cima do banco desse táxi, mas daí esse motorista assumir que escutou tudo e ainda por cima nem sequer fingir a discrição que a função dele exige...
- Você é jovem, tem todo o direito de criar fantasias, se iludir, algumas vezes se decepcionar, mas não perca as esperanças nunca, em nada, principalmente no amor - arqueio a sobrancelha e me preparo para respondê-lo com um categórico eu não pedi seus conselho, mas a expressão sincera, benevolente que encontro em seu semblante me faz recuar - Ele, o amor, é o ingrediente mais importante da vida, a própria porção mágica da felicidade.
Ele não fala mais nada e eu não sei o que dizer e então balanço a cabeça levemente para frente, agradecendo suas palavras e saio do carro num salto.
- O que houve aí dentro? - Rachel pergunta apontando com o queixo na direção do táxi que já seguiu o seu destino – Rolou um clima entre você e o motorista? – ela completa às gargalhadas.
- Há, há, há – lhe devolvo com cara de poucos amigos.
A puta casa onde o Zayn mora é quase uma mansão, se comparada ao meu quase ex-apartamento ou aos outros apartamentos ou as casas dos nossos amigos.
É uma casa duplex, cercada de verde, com jardim e piscina, com um salão enorme, quatro quartos, sendo dois com suítes, mais um banheiro social, varanda, cozinha, área de serviço separada, acesso interno e externo para o 2º. piso e com vaga para quatro carros, sendo que os pais dele possuem APENAS dois.
Tô parecendo um agente imobiliário descrevendo um imóvel para algum possível comprador, mas não há como ignorar a revoltante opulência dessa mansão.
Não teria nenhum problema se eu morasse aqui, concluo enquanto eu e Rachel começamos a subir os doze degraus da escada de granito rústico, com dormentes de madeira nas duas extremidades, acompanhados de azaleias em vasos de suculentas dando o acabamento final na lateral que fica junto a uma parede.
- O que os pais do Zayn fazem mesmo? - Rachel, que está à minha frente, lança sua pergunta sem olhar para trás.
- O pai é um renomado desembargador reconhecido e respeitado por todas as pessoas que orbitam dentro do universo da Justiça e a mãe é uma empresária de sólida e incontestável reputação, fundadora de uma rede de hotéis bastante conhecida não só aqui no Brasil, mas também em outros países.
- Obrigada pela ficha corrida, mas foi uma pergunta retórica – ela zomba enquanto termina de subir os dois degraus que faltam para alcançar o portão de entrada do château de Zayn.
- Pensei que fosse o alzheimer dando sinais – devolvo no mesmo tom de pilhéria.
O meu celular começa a vibrar no bolso da calça jeans e então paro sobre o degrau que acabei de alcançar. Tenho cento e dez porcento de certeza de que é o Harry, mais uma vez, tentando falar comigo. Ele não vai descansar enquanto não tirar satisfações sobre a minha postagem no Whisper.
Engulo em seco.
- Niall- levanto a cabeça de pronto na direção de Rachel ao ouvi-la me chamar – Só estou te esperando para apertar a campainha. Não vai me dizer que se cansou em subir esses doze degraus ?
Não respondo nada. Baixo a cabeça na direção do bolso da calça e um tanto claudicante apanho o telefone ao mesmo tempo em que mentalizo com todas as minhas forças de que o número que vou encontrar no visor não será o do Harry.
- Tá tudo bem ? – a voz de Rachel ecoa aos meus ouvidos, mas a ignoro. Minha concentração está totalmente direcionada para o instante em que o celular surgir à minha frente.
Dez, nove, oito, sete, seis...
Ufa !
É minha mãe.
Obrigado, Criador. Antes dona Natalie que o Harry.
- Oi mãe !
- Olá querido. A festa está boa ?
- Acabamos de chegar - respondo.
- O que houve?
- Pegamos um engarrafamento. Mas na boa, mãe, a senhora não ligou pra saber como a festa está né? – pergunto já começando a ficar impaciente.
- É claro que não. Mas não teria mal algum nisso, teria?
Detesto quando ela começa a querer me analisar por osmose.
- Mãe, eu só tenho até as duas da madrugada para ficar na festa e a Rachel está parada em frente ao portão da casa do Zayn, me encarando, parecendo um pit bull - ergo a cabeça e reviro os olhos para minha amiga ao mesmo tempo em que soletro, em silêncio, a palavra MÃE.
- Na verdade, querido, você precisa estar em casa as duas - ela pontua o verbo transitivo precisar com uma determinação assombrosa.
Deixo os ombros caírem. Rachel aponta para o pulso.
Depois de alguns instantes de silêncio, dona Natalie decide se manifestar.
- Bom, não vou mais tomar o precioso tempo de vocês – ela reinicia, calma, inabalável - Só liguei para pedir que você não assuma nenhum compromisso amanhã durante a tarde...
- Como assim? - me deixo cair sobre o dormente de madeira e as azaleias, mas logo me afasto quando as sinto fofas sob a minha bunda - O que vai acontecer amanhã à tarde?
- Vamos almoçar com o noivo da sua prima.
- Oi?
- Vamos almoçar com o noivo da sua prima – dona Natalie repete pausadamente.
- Quem é essa pessoa, mãe? – pergunto não conseguindo conter mina irritação. Gabriela desce os dois degraus que nos separam e estaca à minha frente, curiosa.
- Essa pessoa é o noivo da sua prima, querido.
- Essa parte eu entendi, mas por que razão precisamos almoçar com ele? Não o conhecemos...
- Sua prima me ligou, aliás, está eufórica, contando os minutos para recebê-lo lá, em Laranjeiras...
Meneio a cabeça e faço o famoso gesto simulando uma arma com os dedos da mão esquerda na direção da minha cabeça.
- Prima que eu também não conheço... Na boa mãe, não tô te entendendo.
- Querido, você mesmo vem reclamando sobre chegar em Laranjeiras sem conhecer ninguém, então... Acho que começar pelo noivo da sua prima, que está visitando um amigo aqui no Rio, já quebra esse paradigma de resistência que você está insistindo em usar... E além do mais ser educados, bons anfitriões não nos custa nada...
Conto até dez e me jogo literalmente para trás. Fodam-se as azaleias.
- Nós? Educados? A senhora está fazendo esse papel - sinto o meu rosto ficando quente – Até agora a pouco, quando saí de casa, esse tal noivo dessa prima que nunca vi na vida, nem sequer existia...
- A Tessa já ofereceu o facebook dela para você, querido. Ela está tentando pavimentar a estrada...
- Escuta, mãe, vamos conversar melhor em casa, ok? Isso não quer dizer que estou concordando com esse almoço sem sentido com uma pessoa que nunca vimos na vida...
- Um beijo querido e se divirta.
A ligação é encerrada.
Olho para o meu celular e fico com vontade de atirá-lo longe.
Respiro fundo. Muito fundo.
- Posso saber o que está acontecendo pra ver se consigo evitar o ataque de AVC que você está prestes a ter? - Rachel pergunta, concisa, apoiando um das mãos sobre os meu ombros.
Meneio a cabeça, rápido, e rio, mas de puro nervoso.
- A minha mãe marcou um almoço para amanhã...
- Sim... Essa parte eu entendi - Rachel completa.
O meu celular volta a vibrar e eu não demoro a atender, certo de que é dona Natalie do outro lado a fim de terminar com o que restou da minha noite.
- Que porra foi aquela que você postou seu viadinho de merda?
Um calafrio atravessa todo meu corpo quando ouço a voz de Harry. Abaixo o telefone rapidamente e arregalo os olhos para Rachel.
- Adivinha quem está aqui, no celular? – a desafio, ofegante.
- Posso estar enganada, mas é o Harry – ela responde com uma certeza inabalável.
- Eu vou desligar.
- Melhor não - Rachel por cima dos meus ombros, aponta para frente com o indicador de sua mão direita - Ele está lá do outro lado da rua.
Autor(a): nandocouto
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).