Fanfics Brasil - Mienai Kokoro (Coração Invisível) Aoi Chi (Sangue Azul)

Fanfic: Aoi Chi (Sangue Azul) | Tema: Digimon


Capítulo: Mienai Kokoro (Coração Invisível)

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Aoi Chi


Mienai Kokoro (Coração Invisível)


By Misako Ishida


 


Ainda não havia se recuperado completamente da noite anterior. Seus pensamentos acelerados não conseguiam processar toda aquela informação. Diante de seus olhos parecia haver uma tela gigantesca rodando um filme. Desde aquele primeiro dia até agora. Sabia que ele devia ser um homem rico, afinal de contas pagava valores absurdos pela sua presença. Contudo, descobrir que se envolveu com uma grande figura como o herdeiro Ishida lhe dava arrepios.


A festa como um todo transcorreu normalmente, ou pelo menos o que os outros deveriam julgar como normal, e na volta para casa estava incapaz de dizer qualquer coisa. Yamato percebeu isso, pois fez todo o trajeto em silêncio. E ao despertar pela manhã, havia aquela mensagem. Tão nítida e clara quanto suas lembranças da noite passada.


“Não te agradeci corretamente pela noite de ontem. Obrigado!”


Simples palavras que a deixaram ainda mais perdida. Só que o melhor ainda estava por vir. Outra mensagem chegara posteriormente, indicando que ela estivesse pronta às 17h. Roupa informal. Era tudo o que dizia. Estava em dúvida se deveria acatar aquelas instruções. Porém, aquela voz insistente dizia que ela deveria tirar aquela história a limpo.


Pontualmente, o carro do loiro estacionou em frente ao prédio. Aquele carro esporte definitivamente era uma bela contradição com seu bairro. As pessoas observavam atentamente e saíam cochichando quando viram a ruiva adentrar no veiculo. Sora deu de ombros, sabia que sua reputação não era favorável naquele lugar.


Yamato usava calça jeans e uma regata preta. Aquelas roupas permitiam que ele parecesse relaxado e despreocupado, ao mesmo tempo em que proporcionava uma bela visão de seus braços fortes e musculosos. Quando a ruiva fechou a porta, Yamato tirou os óculos de sol e abriu um sorriso divertido. Ele sabia que ela estava desconfortável por ter descoberto quem ele era.


Isso sempre fora uma parte engraçada nos fatos. Ela não fazia a mínima ideia de quem ele era. E Ishida apreciava isso. Ser um total desconhecido, sem precedentes. Notou que ela sequer lhe olhou. Não adiantava, ela tinha uma desagradável tendência de ignorá-lo por completo.


- Qual seu problema? Um gato comeu sua língua? – provocou após já ter dado a partida no veiculo. – Tudo bem... Não te falei meu sobrenome... E nem a qual família pertenço... E daí? – disse após um longo e perturbador silêncio. – Se eu tivesse falado quem eu realmente era, por acaso, você teria me tratado diferente? Você teria, sei lá, sido mais gentil e amável comigo? – questionou.


A ruiva suspirou. – Não... Independente do seu sobrenome ou da sua família, você sempre é desagradável. – respondeu com indiferença.


Yamato sorriu pelo canto da boca. Estava começando a virar o jogo a seu favor.


- Por que não me falou antes do evento pelo menos? – perguntou Sora com raiva. – Você não tem ideia do quanto foi horrível descobrir isso frente a várias pessoas que deveriam achar que eu era sua namorada. Principalmente na frente do seu pai... Foi constrangedor. – sussurrou a última parte.


- Então esse foi o problema? Você ter sido pega de surpresa? – Yamato olhou rapidamente para ela.


Depois de alguns segundos angustiantes, a garota apenas assentiu com a cabeça. Era exatamente isso. Essa sensação desconfortável e desnecessária das surpresas. Sora detestava surpresas. Odiava talvez fosse a expressão mais aproximada.


- Gomen. – respondeu Yamato com tom envergonhado. – Não deveria ter te colocado numa situação assim. Foi errado de minha parte não me atentar para esse detalhe. – parou o carro no sinal vermelho e fez com que a ruiva o olhasse segurando seu rosto com a mão. – Eu realmente sinto muito. – disse num tom baixo e suave.


Sora desviou o olhar e se afastou daquele calor que emanava de seu toque. – Tudo bem.


O sinal ficou verde e o carro pôs-se em movimento. Estavam indo em direção a um bairro residencial que exibia luxuosas mansões.


- Já que a senhorita não gosta de surpresas, então devo lhe informar que estamos indo jantar com o meu pai. – disse tranquilamente sorrindo.


A ruiva congelou. – Seu pai? – questionou com um fio de voz. Yamato percebeu como ela havia empalidecido e ficou preocupado.


- Algum problema?


- Não me sinto bem com isso... Nós estamos fingindo esse relacionamento e... É o seu pai! – exclamou.


- Sim, é o meu pai... Só não entendo por que você está assim. Ele sabe sobre nós. – retrucou com simplicidade. Estacionou o carro em frente à um grande portão e voltou-se para a ruiva.


- Ele sabe? – o coração da ruiva disparava violentamente.


- Sim. Ele sabe que não estamos realmente em um relacionamento sério porque você é totalmente exigente. – disse com um sorriso malicioso. – Além do mais, ele está ansioso por vê-la e conhecê-la melhor. Não é todo dia que uma mulher não cai rendida aos pés do filho encantador dele. – brincou saindo do carro.


Abriu a porta para a ruiva e estendeu a mão para ela. Sora tremia levemente. Suspirou profundamente e a cada passo se aproximava mais da enorme casa. Quando estavam frente à porta, fechou os olhos e sentia o mundo girando sob seus pés. Inspirou o ar novamente e buscou coragem para enfrentar mais uma situação desconfortável.


XxXxX


O jantar havia transcorrido perfeitamente. Apesar de sua ansiedade, o Sr. Ishida foi esplendido, conseguindo lhe deixar a vontade em pouco tempo. Ele era bom com as palavras e parecia ter o dom de criar conversas para deixar o ambiente mais confortável.


Surpreendeu-se quando Yamato contou a seu pai que sua mãe era Toshiko Takenouchi.  Aparentemente, sua mãe e o pai dele eram conhecidos antigos e o Sr. Ishida lamentou a condição de saúde de Toshiko. Ficou tocado por saber que Sora cuidava da mãe sozinha e relembrou da época em que sua falecida esposa, a mãe de Yamato, estava em seu leito de morte. Percebeu que Yamato ficara cabisbaixo com o assunto e na primeira oportunidade se desviou dele completamente.


Ao fim da noite, estava no carro novamente indo para sua casa. Yamato dirigia em completo silêncio, o que era estranho. Sora ficou a pensar se talvez ele estivesse envolto nas lembranças de sua própria mãe. E isso a fez questionar como ele sabia sobre sua mãe. Tinha certeza de que não havia lhe dito nada.


- Como você... – murmurou timidamente e parou. Suspirou e virou-se para a janela. Havia falado tão baixo que o loiro sequer deveria ter ouvido, portanto, deixou a pergunta de lado.


- O que você ia falar? – perguntou o loiro levemente. Seu tom de voz era suave e grave.


- Nada. – disse ainda olhando pela janela. Viu como as primeiras gotas de chuva caiam do lado de fora. Silêncio. – Como você sabia o nome da minha mãe? – disse de uma vez após um tempo virando-se para o loiro. Aquilo a estava incomodando por dentro.


Viu como o homem ficou um pouco tenso e sorriu de lado, um sorriso meio amarelo. – Quando eu te vi no hospital, o nome dela estava na porta do quarto. – disse num tom baixo como se estivesse se desculpando.


- Ah... – foi tudo o que consegui dizer. – E como seu pai conhece minha mãe? – aquilo parecia ser tão irreal que nem por um segundo achava uma explicação.


- Quem não conhece sua mãe? – Yamato retrucou sorrindo. – Até eu a conheço. – afirmou enquanto parava em frente ao prédio em que a ruiva morava.


XxXxX


Domingo. Era um dia tranquilo e Sora, pela primeira vez em muito tempo, desfrutava de um cômodo e relaxante domingo em casa ao lado de sua mãe. Havia levantando de manhã bem cedo (não ido dormir) e preparado o café. Havia dispensado a enfermeira naquele dia, pois queria passar um agradável dia com sua mãe.


Estavam as duas sentadas no sofá assistindo a programa de TV e Toshiko estava serena. Fazia algum tempo que não tinha crises, nem surtos e nem lapsos de memória. Estavam numa maré baixa de acontecimentos. Ouvia como a mulher ao seu lado ria de alguma coisa que estava passando, mas realmente não estava prestando muita atenção. Seus pensamentos flutuantes não tinham direção, indo e voltando. Estava sendo um ano difícil, mas parecia ter achado uma possível luz no fim do túnel. De repente, em seu interior não estava mais com aquela sensação desprezível que sentia por si mesma. Ela tinha diminuído nos últimos dias. Não sabia exatamente o porque, mas assim era.


Tão perdida estava em pensamentos desconexos que o som na porta a assustou. Levantou lentamente e foi até a porta receosa. Não estava esperando por ninguém, até porque ninguém ia até sua casa, além dos Inoue é claro. Mas quando alguém aparecia, sempre avisam com antecedência. Não havia motivo para nenhum de seus vizinhos estarem em sua porta, até mesmo o sindico parara de importuná-la desde que viu Yamato buscá-la. Então, seu coração começou a disparar. Será que talvez?


Mas assim que abriu a porta, um misto de surpresa e alivio lhe invadiu. Diante dela estava um homem loiro, com óculos de sol e algumas sacolas em mão. Com um sorriso cativante, ele retirou os óculos, permitindo que a ruiva tivesse visão daquele azul profundo.


- Bom dia.


- O que você está fazendo aqui? – perguntou sem muita delicadeza, mas sem ser completamente rude, mas sim confusa.


Yamato riu levemente. – Bem, eu vim fazer uma visita para a sua mãe. E... Se sinta privilegiada porque hoje acordei com disposição de preparar o almoço. – completou ao mesmo tempo em que levantou as sacolas. – Você é muito sortuda. Jamais esquecerá minha comida.


Sora estava parada na porta olhando de forma incrédula para o loiro. Era estranho tê-lo ali. Ia dar uma boa desculpa para que ele fosse embora, mas suas palavras não foram rápidas o suficiente.


- Sora, querida. Quem está ai? – perguntou sua mãe chegando atrás da menina. – Oh! Não acredito! – disse espantada. – Se não é o meu menino! Yamato! – exclamou a mulher ao mesmo tempo em que passava por Sora para abraçar o rapaz.


- Toshiko-san. – foi o cumprimento dele enquanto retribuía o abraço. – Quanto tempo.


- Meu deus, deixe-me olhar para você. – disse se separando dele e analisando-o por completo. – Como você cresceu! E está tão bonito. – completou acariciando seu rosto de forma maternal. – Sua mãe estaria muito orgulhosa.


Yamato segurou a mão da senhora e beijou-a levemente. – Obrigado.


Após um breve momento olhando para o loiro lembrou-se de algo. – Ah, você não deve se lembrar da minha menina. Venha aqui querida. – puxou Sora para o seu lado sorridente. – Sora, este é Yamato. Ele é filho de uma grande amiga minha, Natsuko.


- Olá, Sora. – respondeu Yamato sorrindo. A ruiva apenas suspirou e balançou a cabeça. Então realmente era verdade, ele conhecia sua mãe.


- Sora, cumprimente-o adequadamente, não seja mal educada. – repreendeu sua mãe.


- Olá, Yamato. – disse com um sorriso forçado no rosto.


- Desculpe por isso. Minha filha às vezes esquece que recebeu uma boa educação. – disse fulminando Sora com o olhar deixando a menina constrangida. – Mas, por favor, entre. É tão bom ter você aqui. Posso te servir alguma coisa?


- Na verdade, hoje eu quero servi-lhe algo, Toshiko-san. Vim com a intenção de preparar um maravilhoso almoço.


Sora observava como sua mãe estava radiante e como cuidadosamente acompanhou o rapaz até a cozinha pequena. E o resto da manhã transcorreu de forma inusitada. Sora estava sentada à mesa observando Yamato cozinhando junto com sua mãe. Toshiko insistiu em lhe dar uma mão, apesar dos protestos do loiro. Era bonito ver a cena. A muito tempo aquela casa não tinha momentos carregados de felicidade, nem se ouviam risos retumbarem por aquelas paredes.


- Eu era a encarregada pelas flores de toda a emissora. – recordava Toshiko explicando para Sora como conhecia a família Ishida quando estavam todos sentados à mesa servindo-se da deliciosa refeição que fora preparada. – Os pais dele eram pessoas maravilhosas. Sua mãe tinha uma alma gentil e sábia. Lírio era a flor predileta dela.


Sora viu como Yamato sorria de forma nostálgica e seu olhar ficava um pouco turvo. Já havia presenciado essa expressão anteriormente, quando jantara na casa do pai dele.


- Sabe, era tão lindo ver aquela criança feliz correndo pelos estúdios até encontrar um piano. Parecia que os dedos dele tinham vida própria. – continuava falando Toshiko.


- Os arranjos da sua mãe eram os melhores. Não havia ninguém mais perfeccionista e tão delicada quanto ela na arte da Ikebana. – afirmou Yamato para Sora sorrindo.


- Ora, não diga isso. – disse a senhora ruborizada.


- É completamente verdade. Ainda hoje é difícil encontrar uma pessoa que faça um trabalho bom o suficiente. Ninguém é capaz de chegar aos seus pés. – comentou Yamato.


O resto do almoço aconteceu em meio às lembranças da senhora Takenouchi. À tarde, Sora prepara um café e quando voltou para a sala sua mãe estava adormecida no sofá. Yamato estava sentado na poltrona ao lado e a olhava com carinho.


- Ela continua tão fantástica quanto eu me lembro. – afirmou com voz suave e baixa quando a menina estava ao seu lado.


Sora sorriu e foi em direção à mãe para ajeitá-la no sofá. Yamato levantou e se ofereceu para levá-la até a cama. A ruiva, agradecida, lhe mostrou o caminho. Ao voltar para a sala, o loiro reparou em alguns desenhos e os pegou. Eram traços suaves, cheios de personalidade e com muita qualidade. Eram vestidos dos mais diversos estilos, mas todos com o mesmo padrão, indicando pertencer à mesma artista.


- Foi você quem desenhou isso? – perguntou para a ruiva.


Ela afirmou positivamente com a cabeça e sentou-se no sofá. – Você tem muito talento... – comentou enquanto continuava analisando cada folha. – Por acaso, são os vestidos que você usava?


- Sim. Vestidos desse estilo costumam ser muito caros e então eu passei a fazê-los eu mesma.


- Você costura? Quer dizer que não apenas desenha, mas costura também. – disse Yamato impressionado sentando-se ao lado da ruiva.


Sora serviu café para ambos enquanto sorria ao ver a postura analítica de Yamato. – Você deveria vender esses desenhos para alguma grife. São perfeitos. Você tem muito talento. – afirmou com convicção.


Sora riu. – Você não deve estar falando sério.


- Como assim?


- Quem você acha que compraria os desenhos de uma hostess? – questionou enquanto bebia o café. – Nesse mundo da moda não basta apenas ter talento. É preciso muito mais que isso. É preciso um nome, ter influência, contatos. Você deveria saber disso muito bem. Conhece o mundo dos ricos e dos famosos. – acrescentou.


Yamato ficou pensativo. Enquanto tomava o café, ficava olhando para aqueles desenhos. Sora tinha razão. Aquele mundo tão glamouroso era implacável e não abria suas portas para muitas pessoas. Era um caminho árduo e, muitas vezes, sem resultados favoráveis. Entendia o que ela queria dizer, mas não concordava com aquela fria e cruel realidade.


Como poderia alguém com tanto talento e criatividade ser barrado por causa de um status?


- Você se incomodaria se eu levasse alguns desenhos comigo? – perguntou.


A ruiva deu de ombros e levantou-se. – Leve todos que quiser. – disse com desdém e desesperança.


Após o café, Yamato decidiu que era hora de ir embora. Sora agradeceu por ele ter ido visitar sua mãe. Aquele simples gesto do loiro havia significado muito para Toshiko.


- Não precisa me agradecer. Foi um verdadeiro prazer. Obrigado por me receber, mesmo a contra gosto. – comentou divertido piscando para a ruiva.


A menina riu. – Até mais. – disse o loiro beijando o rosto da menina.


 


CONTINUA...


 



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Autor(a): Misako Ishida

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