Fanfic: Só com o olhar (Terminada)

-
Minha nossa, vejo as vantagens de sua profissão!

Seguindo o olhar da melhor amiga, Anahí Portilla
espiou a casa em frente. Ou melhor, o homem que aparentava viver ali.

Vestindo nada além de uma camiseta e um
short cortado de um velho jeans, ele contornou a varanda e desceu os degraus
com um ar de John Wayne. Anahí, entretanto, considerava-se simplesmente uma
espe­cialista em detalhes, o que torna alguém singular - habilidade essencial
em sua profissão.

E quanto ao sujeito, o talento para
observar captou pura energia viril em um corpo feito para o pecado. Ombros
largos. Barriga de tanque. Braços e pernas musculosos e bronzeados.

Porém, por mais esplêndido que fosse, não era
ne­nhum John Wayne.

Na infância, costumava assistir aos filmes No
tem­po das diligências e Onde começa o inferno no colo do pai, nas
tardes de sábado.

John Wayne? Nem pensar.

Mel Gibson? Robert Redford? Não... Quem quer que fosse
o novo vizinho, conseguia atrair a atenção de uma mulher a quilômetros de
distância.

Era o tipo de homem do qual não precisava.

Não dedicou uma vida inteira para que um
homem conseguisse distraí-la. Mudou-se para lá com uma ta­refa a cumprir, que
lhe exigia dedicação vinte e qua­tro horas por dia e que consistia em
misturar-se à vi­zinhança sem chamar muita atenção. Não que Anahí fosse, facilmente,
desviada do curso do trabalho pe­los hormônios, mas tais coisas acontecem.

Observou cada gesto do vizinho até ele curvar-se para
arrancar algumas ervas daninhas. Anahí sentiu uma tensão no corpo. Tinha um
homem divino mo­rando na casa em frente. Despertou-lhe uma libido adormecida.

Dulce se encontrou com Anahí no fundo da
varanda.

-
É o sujeito que pretende vigiar?

Anahí colocou a caixa na varanda, feliz
por tirar do carro de Dulce só uma caixa de papelão com rou­pas, em vez de câmeras
ou computadores. Voltou-se na direção da casa alugada em Tampa, na vizinhança
revitalizada ao sul de Hyde Park, e observou o vizi­nho checar a correspondência.

Se ao menos...

Engoliu a resposta sonhadora, prevendo que
Dulce esperaria que se enamorasse logo. Agir conforme o esperado não era divertido,
segundo Anahí.

-
Parece um escroque extorquindo dinheiro?

-
Oh, agora vamos confiar nos estereótipos?

-
Então, quem é esse cara?

Anahí
virou-se logo que o monumento em trajes esfarrapados encarou-as e acenou-lhes.
Resistiu ao impulso de acenar de volta, deixando a amabilidade por conta de Dulce.
Não
alugara a casa para isso.

Porém não podia negar que ele era a
personificação perfeita do amante de suas fantasias...

Anahí sufocou um suspiro.

O vizinho retribuiu Dulce com um sorriso
ainda mais largo, mas Anahí sentiu quando a atenção do homem voltou-se para ela.
Interesse?

Não podia dizer. Não queria dizer. Se a
julgou atraente... bem, ótimo. Fazia tanto tempo desde que desejou um homem em
sua vida. Possuía uma vida social graças aos amigos e parentes, mas namoro? Sem
tempo. Negócios demais para tratar.

Entretanto, a única vantagem
profissional que desfrutou em doze anos de trabalho na firma de investigação do
tio foi a equipe técnica haver instalado todo o equipamento de vigilância no
quarto de cima, um dia antes de ela chegar, poupando-a de carregar peso.

Agora, Anahí tinha até um vizinho bonitão
para saborear com os olhos nas horas vagas. Caso houvesse alguma. Durante o
trabalho, reservaria a atenção para o trapaceiro que morava uma casa depois.
Quando provasse que Christian Chavez era um charlatão incorrigível - o que duas
firmas de investigação, um juiz e um bando de advogados fracassaram em provar -
ganharia toda a atenção de que precisava para tornar-se a nova presidente do Grupo
Portilla.