Fanfic: Só com o olhar (Terminada)

Um silêncio estendeu-se.

- Acho que devo ir. Você tem muito que arrumar.

- Parece que nunca termina.

Poncho
dirigiu-se à porta. Anahí bloqueou-lhe o ca­minho. Ele engoliu
em seco. Anahí umedeceu os lá­bios e vagarosamente saiu da frente.

Logo que deixou
a casa, Poncho voltou-se e sorriu. O humor iluminava-lhe os olhos e quando
alisou o ca­belo negro na testa, Anahí lutou contra o desejo.

- Eu trabalho em casa - contou-lhe. - Me pro­cure
se precisar de alguma ajuda...

Aquele tom e os
olhos provocantes estimularam-na a impelir-se para fora do mundinho seguro que
criara nos últimos anos.

- Ah, não! É sua vez de compartilhar um vício.

- Parece um
plano. Mas deve ser cuidadosa, Anahí Portilla. Tenho uma bela coleção de vícios.

Quando ele
saiu, Anahí não conteve a resposta.

- Mas claro,
aposto que tem.

Nenhum
registro. Não que estivesse surpreso. Anahí não lhe pareceu o
tipo de pessoa fora-da-lei.

Os arquivos da
justiça listavam-na como testemu­nha em um incidente
doméstico há dois anos e, pouco antes disso, como reclamante do próprio
divórcio.

Permaneceu na
varanda dos fundos, enquanto Crash, o gato brincava com o tênis dele. Poncho ponderava sobre Christian. Para um homem com uma supos­ta
lesão debilitante, ele passava mais tempo na rua do que em casa. Poncho e Jake
Turner já haviam decidido que era arriscado segui-lo pela cidade, por isso Poncho
restringiu a vigília a uma por semana.

As atividades
externas de Chávez incluíam almoços no Blue Star, passeios no horto local,
jornadas à bi­blioteca e sessões de fisioterapia - tudo financiado pelo
município. Poncho também sabia que a chance de Chávez atrapalhar-se e revelar
os ferimentos falsos di­minuíam quando estava em público. Fraudadores ge­ralmente
se denunciavam em casa ou de férias - mo­mentos que Poncho deveria capturar em
filme.

Pena que os únicos momentos íntimos que deseja­va capturar eram com a vizinha sexy.

Poncho pensou
em como ela ganhava a vida, se tinha família na região,
se ainda estava sozinha desde o di­vórcio... desistiu da sugestão para assistir a
um filme erótico com ele porque já estava excitada demais.

- Vai podar as rosas outra vez?

Poncho
virour-se na direção de Christian, que emergiu da casa. Chávez
geralmente dormia até tarde.

- De jeito nenhum. Não preciso trabalhar nessas
coisas todo dia, não é? Vou replantá-las na casa da mamãe, se for o caso.

Chávez sacudiu
a cabeça e gargalhou. Poncho achou que as rosas fossem a
chave, mas a conexão com Christian, na verdade, veio da comiseração por um
adulto em apuros com a mãe. No caso de Poncho, uma mulher fictícia, já que
Sherry Herrera falecera em um desastre de carro quando ele só tinha dois anos.
Mas a mãe. de Chávez vivia em Nova Iorque. Chávez re­compensou a lealdade da
mãe com uma suíte luxuosa em um asilo elegante em Long Island.

- Uma vez por semana é atenção suficiente para as
rosas - disse Chávez. - Acho melhor pegar as fer­ramentas e podar um pouco eu
mesmo.

- Precisa de ajuda? Não tenho nenhuma perspec­tiva
que necessite ser explorada essa semana.

Poncho inventou
que era olheiro da liga principal de beisebol por diversas razões. Não só providenciou uma conexão com Christian, um fã dos esportes,
como lhe dava a desculpa para trabalhar em casa e possuir todas as formas de
equipamentos de vigilância.

- Nada de jardinagem, por hoje - disse Chávez. -
Tenho outra flor mais delicada para cuidar esta tarde.

- Chávez, esse é o homem! Quem é ela?

Chávez deu de
ombros, fingindo indiferença de um modo que fez Poncho
reconhecer a farsa logo. Quando saiu da varanda, caminhou com toda a rigidez de
al­guém que sofria mesmo de lesões. O médico do mu­nicípio disse que ele estava
perfeito, mas o médico particular dele clamou o contrário.

- Só não quero contar por enquanto - respondeu Chávez. - Dá azar. Vou encontrá-la para almoçar.

- Vai levá-la a algum lugar bacana?

- Disse que ia encontrá-la, não levá-la. Bem ca­sual. Não quero mimar a moça.

-  Boa
tática.

- E você? Talvez necessite afugentar o tédio com um namorico.

- Estou evitando mulheres no momento.

- Passei por
isso. Já viu a nova vizinha? Dei uma espiada esta manhã. Ela não é má.

Nada má mesmo.

- Ela recebeu uma amiga em casa essa manhã. Muito
mais o meu tipo. Mais curvilínea. Algo quente. Imagino se não deveria levar
algumas flores para ela.

- Conheci a amiga de manhã. Está comprome­tida.

- Que pena!

Chávez
claudicou de volta para a varanda e esforçou-se por
subir a nova rampa instalada.

- Ei, Chávez, vou assistir ao jogo do Chicago Cubs
essa tarde. Quer vir tomar umas cervejas?

- Adoraria, mas depois do almoço vou à bibliote­ca,
à terapia e jantar com um amigo. Obrigado pelo convite. Noutra ocasião?

Poncho golpeou
o número de Jake no celular.

- Chávez tem um encontro. Que tal rondar o Blue
Star?

- Sim. Tudo que desejo fazer - murmurou Jake -
Investigar a vida amorosa do panaca.

- Mais excitante do que as nossas.

- Fale por você - respondeu a Poncho.

- Então, teve coragem de abordar Devon Michaels?

- Não exatamente.

- Então, o quê? Você está me matando. Estou louco
de tão entediado.

- Poncho, você está me assustando.

- Não diga!

- Talvez seja você quem precisa de uma mulher.

- Acho que sim, parceiro.

comentem!!!