Fanfic: Só com o olhar (Terminada)

- Você está um trapo! - Dulce esgueirou-se do boxe
e lavou as mãos, o olhar apiedado.

- Obrigada. Já me disse isso de manhã, no café.

- Não, de manhã eu disse que parecia cansada. Agora
parece arrasada. O que seu irmão falou, afinal?

Anahí espiou em
volta. Embora não achasse que o tio pudesse descer tão baixo, a ponto
de grampear o toalete das senhoras, jamais teria certeza.

- Patrick não falou muito. Mick fez a maior parte
dos comentários. Venha, vamos até o meu escritório.

Dulce apanhou
dois refrigerantes no frigobar e ofe­receu-lhe uma aspirina. Ela aceitou e depois
se reuniu a Dulce no sofá de couro.

- Então, o que Mick disse?

- Que eu e Patrick precisamos cooperar.

- Só isso?

- Patrick quer ficar. Tem anos de experiência para
oferecer e o conhecimento da rotina interna do sistema judicial e dos
procedimentos policiais.

- Em Atlanta - argumentou Dulce.

- Fez amigos pelo país todo devido às investiga­ções
interestaduais. O que não sabe, pode aprender.

- O Grupo Portilla não é exatamente conheci­do por
trabalhar sob o amparo da lei.

Anahí anuiu,
contraindo-se pela dor que dardejou em seu pescoço. De fato,
Mick seguia uma política informal que proibia a "confraternização"
com qual­quer membro da Corte, consequência de uma CPI que a companhia
enfrentou quando a ex-namorada de Mick, uma promotora de Justiça, delatou o
interesse dele por dispositivos ilegais de vigilância.

- É verdade. Entretanto, Mick acha que Patrick será
capaz de angariar favores quando necessário.

- Então Mick simplesmente vai entregar o reina­do a
Patrick, sem nenhum "obrigado, Senhorita, por todos os anos de trabalho
duro" ?

- Ele sabe que trabalho duramente. Quer que re­partamos
tudo.

- Repartir?

Era sensato,
droga, mas não era justo!

- O que ele quis dizer com repartir, Anahí?

- Mick acha que Patrick devia assumir o cargo de
detetive-chefe e comandar as investigações, e que devo me concentrar nas
operações do escritório, já que é o que faço melhor do que Patrick.

- Ora, mas você trabalhou em investigações antes.

- Pequenos casos. Dramas domésticos para espo­sas
ricas e maridos mais ricos ainda.

- E crianças desaparecidas. Você organizou toda a
nossa tralha de arquivo.

- A palavra-chave é organizar.

- Encontrou a menina dos Marbury sozinha.

- Encontrei-a através do computador.

- Você guiou a polícia até a casa! Após três dias
de sindicância que fez por conta própria, porque Mick considerou o caso
perdido.

- Qual a vantagem? Um ou dois casos meus não se
comparam às centenas que Patrick possui no currí­culo. Mick está certo, Dulce.
É melhor para a empresa.

- Não e não! Não é o que quer.

- Não. Parece que vou ter de começar a reavaliar o
que quero, não é?

- Não. E Chavez? Patrick vai tomar a frente?

- De jeito nenhum. Já estou no caso e fazendo
progressos.

- Progresso? Sério?

- Sabia que o médico de Chávez, aquele que teste­munhou,
evaporou da cidade há dois dias? Depois de quitar toda a hipoteca da clínica?

- De onde tirou todo o dinheiro de uma vez só?

- Boa pergunta. Ninguém parece saber. Enviei Jase à
clínica essa manhã e o lugar está de pernas para o ar. A recepcionista, o
terapeuta, todo mundo com quem falou, disse não haver sido informado. Agora,
estão tentando se virar para manter as portas abertas.

- Acha que Chávez subornou-o pelo testemunho?

- É minha aposta. Talvez descubra quando Chávez
vier a minha casa essa noite para um churrasco.

- Mas você nem conversou com Christian ainda.

- O quanto parece complicado dizer "Olá. Quer
vir a minha casa experimentar um pouco das costele­tas de porco do Tenessee?"

- Foi isso que disse a Poncho?

- Não, mas talvez diga. Uma confraternização casual
entre vizinhos pode ser a chave. Poncho e Christian já têm uma camaradagem.
Talvez eu consiga a minha entrada e veja o que posso descobrir.

Quanto a ambos...
Poncho era tão misterioso quanto Chávez. Na verdade, mais.

Mas o mistério de Poncho Herrera era um caso para solucionar por conta própria. A
partir do minuto que chegasse em casa.

Poncho não podia crer na sua sorte. Ali estava ele, afinal, tagarelando bobagens
com Christian diante da TV, assistindo aos Yankees "surrarem" os
Braves sacando a tampinha do que poderia ser a terceira cer­veja de Christian,
e ali vem Anahí valsando pela calça­da, vestindo um avental que ele conseguiu
distinguir pelas fendas na persiana. Só um avental. Assim que ela se aproximou,
Poncho concluiu que também vestia uma blusa cor de pele de alcinhas, e um short curto. Bateu à porta, espiou pela persiana e acenou.

- Parece nossa nova vizinha - disse Chávez, mal ti­rando
o olhar da televisão.

- Ei - disse Poncho, indeciso quanto à convidá-la
para entrar, até que Anahí sorriu.

- Ei, você. Desculpe pelo meu truque de desapa­rição
essa manhã - sussurrou-lhe, espreitando Chávez pela lateral do ombro de Poncho.
- Você dormia tão confortável, que não quis acordá-lo.

- Da próxima vez, me acorde.

- Haverá uma próxima vez?

O sussurro
chegou a uma pausa quando Chávez agi­tou os braços e gritou:

- Ele está fora!

Anahí piscou
para Poncho antes de perguntar:

- Poncho, não vai me apresentar?