Fanfic: Só com o olhar (Terminada)

- O que quer dizer, ele deu no pé? - Poncho ouviu
Jake xingar um motorista, enquanto indubitavelmen­te desviava o carro para o
acostamento.

- Quero dizer que ele se foi. Não sei de nada e não
tive a chance de checar as coisas. Só conversei com a namorada dele. Ela disse
que Chávez me deixou o controle do portão da garagem para que eu possa vi­giar
a casa enquanto ele estiver fora.

- Droga. O que o assustou? - perguntou Jake.

Poncho espiou Anahí.
Não tinha ideia de qual deles era o responsável pela
fuga de Chávez, senão ambos.

- Não faço ideia. Jantei com Chávez noite passada.
Ele agiu como meu novo melhor amigo.

- Estou no centro da cidade. Não vá na casa dele
até eu chegar aí. Ele pode ter acionado o portão da ga­ragem para explodir ou
coisa do tipo.

- Não creio que seja o estilo de Chávez.

- Nunca se sabe.

Desligou assim
que Anahí disparou pela porta gesticulando para que a seguisse. Agarrado em
suas mãos, Anahí tinha o celular que ele havia descartado
no quarto, justo antes de vendá-la na noite anterior.

- O que aconteceu? - indagou ela.

- Não sei. Donna acabou de sair. Disse que Chávez
ia sair da cidade e que eu sabia disso.

- Espere, Poncho - disse enquanto discava para o
irmão. - Patrick, me ligue com Jase e Tim. Estão no escritório? Droga. O quê?
Ah, não. Não, está tudo bem. - Chávez está prestes a sair, mas esqueci que es­tou
sem carro. Vou segui-lo assim mesmo.

A expressão de indiferença aflorou conforme es­cutava o irmão do outro lado da linha.

- Posso dar conta de uma simples perseguição,
Patrick. Olhe, preciso correr ou vou perdê-lo.

- Por que mentiu ao seu irmão? - indagou Poncho.

- Porque se não o fizesse, ele arrancaria o meu
traseiro do caso.

- Queria ter tido dez segundos para pensar antes de
ligar para Jake. Ele vai chegar aqui a qualquer mo­mento.

- Até que ponto seu parceiro obedece às regras?

Poncho amuou.
Jake praticamente inventara as re­gras.

- Pensando em dar uma espiada na garagem de Chávez
antes de entrarmos lá? - perguntou Poncho.

- Se não se importa. Me sentiria melhor sabendo o
que nos espera lá dentro. Tenho esse péssimo hábi­to de sempre imaginar o pior
prognóstico possível.

Poncho anuiu.
Certamente, Anahí tinha mesmo. Dis­pensara sumariamente a possibilidade de
manterem um relacionamento, avaliando apenas os resultados potencialmente
negativos.

Bem, droga. Poncho era um otimista.

- Vá aquecer o equipamento. Vou dar uma olha­da por
aí. Chávez contou a Donna que me deixou o con­trole da garagem. Vou ver se é
verdade.

- Não vá apertar nenhum botão - avisou-o. Contudo, Poncho
ia apertar alguns botões. Os dela.

Chávez pode ter
arquitetado a fuga perfeita, mas Anahí ficaria amarrada a ele por muito tempo.

- Onde está Jake?

- Jake está lá embaixo examinando a sua coleção de
vídeos. Ele não quer saber que tipo de mágica você tem aqui em cima, que
permite nos dizer com certeza que a garagem de Chávez não estava armada para
explo­dir quando apertássemos o botão do controle.

- O que ele não sabe não pode atingi-lo, hein? -
indagou Anahí.

- Não pode atingi-lo... ou você. O que tem aí?

Anahí abriu a
janela que mostrava a lista de passa­geiros para um vôo sem escalas até Nova Orleans. Poncho encontrou o controle remoto da
garagem na caixa de correio,
enfiado em um envelope com o endere­ço de uma
agência turística de Nova Orleans. Chávez desejava que o encontrassem ou, pelo
menos, quis metê-los em alguma busca para poder escapar de vez.

- Tem certeza de que quer ver? - perguntou ela. Poncho
virou o notebook.

- Não, mas não temos muita escolha. Chávez prati­camente
nos convidou a segui-lo. E nem ao menos está tentando dificultar as coisas.

- Talvez não dispusesse de tempo para conseguir uma
identidade para um codinome, embora isso pos­sa ser fácil para um homem com o
histórico dele. Deve estar cuidando disso agora mesmo na Louisia-na. Este deve
ser o destino da trilha.

- Checou as contas de banco dele?

- Bem, não eu. Alguém no escritório fazia isso. De
qualquer modo, Chávez não fez grandes saques. Po­rém, quando o acordo foi
inicialmente depositado na conta dele, Chávez fez um saque vultoso. Quase a
meta­de da quantia total. Presumimos que usou o dinheiro para comprar a casa, o
carro, o retiro para a mãe em Long Island. Todo saque desde então vinha sendo
re­lativamente irrisório. Umas duas centenas aqui, um milhar ali. O maior foi
de cinco mil, e nunca desco­brimos para que usou o dinheiro.

- Então ele vai para Nova Orleans - disse Poncho. -
Cidade grande, turistas entrando e saindo todo dia. Fácil para se misturar. Ele
reservou algum hotel?

Anahí balançou a cabeça e deletou a lista da com­panhia aérea da tela. Chávez
partira no primeiro vôo desta manhã. Ou já estava em Nova Orleans, ou havia
pegado um vôo dali, embora Anahí não lograsse encontrar o nome dele em nenhuma outra
companhia. Mas se Chávez ainda tivesse um monte de dinheiro so­brando, poderia
fretar um avião particular.

- Posso averiguar algumas das companhias prin­cipais,
mas existem um milhão de lugares onde Chávez poderia estar, incluindo ainda
outro país na sua rota. Ele deixou alguma pista na garagem para você?

As câmeras foram desligadas a pedido de Poncho e Anahí concordou sem
reclamar. Foram convenien­tes, mas era errado. Permitira isso por anos e,
agora, diante do sucesso de Poncho em trabalhar conforme a lei, precisava
repensar seus métodos.

Espiou a fita
que ejetou esta manhã, ainda não as­sistida, do videocassete secundário.
Mas quem podia saber que Chávez sumiria antes que tivesse uma chance decente de
usá-la?

Fora a sua última oportunidade de provar que Christian agiu fraudulentamente no
processo contra a polícia e a companhia de seguros. Algo em relação a ela ou a Poncho,
ou a ambos, alertou Chávez e o pôs para correr. Homens inocentes não correm...

- Oh, Chávez nos deixou algo muito interessante na
garagem dele. Venha ver.

Anahí avistou
sobre a mesa uma seleção de fotos: ela espiando pela janela de
binóculos; Poncho reviran­do o lixo de Chávez; Tim e Jase seguindo-o em uma es­trada;
Jake fazendo uma ligação do celular fora do Blue Star e uma dela e Dulce em
frente aos escritórios do Grupo Portilla, sem dúvida, tirada esta manhã.

- Agora sabemos por que Chávez sobressaltou-se com
seu sobrenome quando se conheceram. Sabia que estava sendo seguido.

- Como Chávez fez isso?

Anahí não se importara quando Poncho a observou na noite passada,
particularmente desde que foi ela quem orquestrou todo o evento. Mas descobrir
que Chávez andava seguindo cada movimento seu, dentro e fora da casa e no lugar
de trabalho...

Anahí soltou um
rosário de palavrões que fez Poncho e Jake
esforçarem-se para não gargalharem. Poncho deu-lhe um momento para acalmar-se,
então acari­ciou-lhe o ombro e puxou-a para perto.

- Ao inverso não é tão justo, é? Jake quebrou a
tensão com um pigarro.

- Calculamos que Chávez tem um cúmplice.

- Donna? - arriscou ela.

- Acho que não, mas não podemos eliminá-la. Peguei
o seu cartão esta manhã. Jake vai ver se con­segue arrancar alguma informação dela.

- Então por que fugir? - Anahí retrucou. - Por que
simplesmente não aguardou até irmos embora? A qualquer hora um de nós
desistiria.

- Ele não sabia disso. Acho que nem mesmo que sou
um tira e você uma investigadora particular. Não teria um cliente altamente
poderoso e abastado, pa­gando para vigiá-lo pelo resto da vida.