Fanfic: Só com o olhar (Terminada)

Chávez sacou as provas da mão de Anahí, reproduções de má qualidade da fita de vídeo e emburrou.
Anahí estendeu o dedo e apontou a imagem pálida do traseiro magro de Chávez.
- Não é o seu melhor ângulo, mas nenhum homem com uma lesão na coluna como a sua poderia fazer as coisas que fez naquele quarto uns dias atrás. Haverá uma acusação pendente de fraude contra você.
- Talvez eu possa ficar com isso? - perguntou Chávez.
- Claro. Tenho o original. Poderia copiá-lo para você, mas Donna não ficaria muito contente.
- Jamais quis me envolver com ela ou magoá-la. Acho que estou amolecendo. Mas Donna não sabia nada sobre isso - insistiu Chávez, concentrando-se em Poncho. - Você sabe disso, certo?
Por um instante, Poncho considerou abalar a confiança de Chávez, ameaçando processar Donna como cúmplice caso se recusasse a voltar aos Estados Unidos, mas duas coisas impediram-no. Em primeiro lugar, Poncho sabia que um canalha como Chávez não trocaria liberdade ou dinheiro por amor. Em segundo, não possuía provas substanciais para acusar Donna.
- Então, por que nos induziu até aqui, Chávez? - indagou Poncho. - Sabia que estávamos vigiando. Calculou que apanharíamos você com isso, assim saiu da cidade antes que o prendêssemos?
- Não fazia idéia que tinham uma câmera apontada para o meu quarto. Eu não era o único com as cortinas abertas.
Essa resposta Chávez dirigiu a Anahí. Ela corou e Poncho quase esmurrou Chávez.
- Relaxe. Eu estava ocupado demais para assistir. Trouxe vocês aqui para explicar.
- Explicar o quê? Sabíamos disso desde o começo - afirmou Poncho.
- Não é nenhum segredo para quem me conhece. Mas até Donna aparecer, ninguém sabia que tenho um irmão. Nem minha mãe. É um filho bastardo do meu pai. Só o descobri há três anos, depois que papai se meteu em um péssimo negócio em Vegas.
Anahí abriu a pasta oferecida por Chávez, virando as páginas para que Poncho também pudesse ler. Havia uma foto de um menino, por volta dos doze anos, mas Anahí folheou rapidamente, sem olhar. Não era uma mulher fácil de manipular. Conhecia as próprias fraquezas e compensava-as.
- O que está errado com ele? - indagou Anahí.
- O que não está? Ele tem Síndrome de Down. Me chame de sentimental - disse Chávez com uma gargalhada -, mas não poderia deixar o garoto apodrecer em uma instituição pública. Uma boa parte do dinheiro agora está tutelado em nome dele. Com o resto, paguei esse cruzeiro e um pequeno chalé, no litoral de um país que tem um acordo com os EUA. Em poucos dias, meu irmão será transferido para um lar adorável, de freiras carmelitas. Assim, a menos que queiram caçar um garotinho doente e a Igreja Católica, devem esquecer de mim.
Anahí fechou a pasta, sem que nenhum traço de compaixão surgisse em seu rosto, mas Poncho viu que ela não ficou imune. Não podia impedir-se de sentir piedade do garoto, deficiente ou não, só por compartilhar metade do sangue e genes com um verme como Chávez.
- Então foi por isso que veio para o México? Para poder abrandar a consciência?
- Não tenho consciência. Só torço para que vocês tenham, e deixem o garoto em paz. Quanto à viagem ao México, considerem um presente de despedida, acompanhado das minhas congratulações. Tive o investigador particular mais caro da cidade me vigiando, iam acabar por me apanhar. Agradeçam a Donna por abrir a matraca sobre o meu irmão. Caso não houvesse feito isso - olhou para Anahí -, talvez eu ficasse o tempo bastante para você reclamar todo o meu-dinheiro - virou-se para Poncho - e para você me jogar na cadeia. Formam uma dupla formidável.
Com isso, Chávez afastou-se, assobiando.
- Detesto perder - disse Anahí.
- Não perdemos realmente. Acabamos de vencer.
- Não acredito que essa seja a sua opinião. Veja todo o tempo que desperdiçamos!
- Não o considero desperdiçado.
- Não foi isso que quis dizer. Creio que ainda tenho o suficiente para mostrar à seguradora que os seus investigadores perderam algo relevante, mesmo que não possam recuperar o dinheiro. O irmão. O médico que saiu da cidade. Donna. Até a fita de vídeo.
Poncho sacudiu a cabeça e deu a volta na direção do hotel. Não se importava quanto a voltar de mãos vazias para os seus superiores, ou ser feito de tolo por um verme insignificante.
- Espere! Poncho! - Anahí correu para alcançá-lo assim que ele chamou um táxi. - Onde você vai?
- Pegar minhas coisas no hotel. - Entrou no táxi e contemplou o rosto dela, vendo confusão e medo.
O mistério estava solucionado. A única coisa restante era o término da relação... ou não.
- Eu...
- Decida, Anahí. Minha chefe me quer na ativa. A menos que me dê uma boa razão para ficar, gostei de ser a sua pequena diversão, o seu caso insignificante. Mas agora estou cansado. Ou prosseguimos juntos, ou sigo em frente sozinho.