Fanfic: Só com o olhar (Terminada)

Anahí agarrou o
papel. Reconheceu a caligrafia de Christopher. Leu as instruções em voz alta.

- Desligue o ar, depois ligue. Espere cinco se­gundos.
Pressione a seta vermelha duas vezes.

Que equipe high
tech que o tio contratou. Podiam grampear uma casa para imagem e som,
usando câ-meras e microfones imperceptíveis. E não conse­guiam
consertar um simples ar-condicionado?

Anahí seguiu as
instruções, e a monstruosidade de trinta anos funcionou
com um zunido não muito sutil.

Checou o relógio. Oito e cinco. Comera o jantar duas horas atrás junto à janela da
sala, enquanto aguardava Christian entrar. Sentiu uma comichão para subir e
testar o equipamento de vigilância.

O sujeito era
bom em perpetrar fraudes. Por sorte, o Grupo Portilla empregava táticas que, embora não inteiramente legais, poderiam ao menos dar con­ta
do recado. Anahí se questionava quanto aos meios usados para comprovar um caso,
porém era a sua primeira missão externa - e Chávez era um profissional. E,
segundo o tio, o único jeito de apanhar um genuíno escroque é assim.

Por isso, as câmeras e microfones. Mas o sujeito precisava ir para dentro, onde se
sentia seguro.

Em vez disso, Christian
passou quase toda a tarde conversando com o vizinho sexy da casa em
frente, junto à cerca. Aparentemente, conversavam sobre flores.
Rosas, para ser exata. Anahí desenterrou os binóculos de uma caixa e leu-lhes
os lábios - habili­dade que raramente tinha a possibilidade de usar.

Descobriu três coisas: que Christian Chavez era es­pecialista em jardinagem e que o
nome do vizinho era Poncho. Anahí não se enganou ao ler os lábios.

Poncho. Nunca ouvira esse nome
antes. Imaginou-se dizendo o nome, enquanto ele a beijava no pescoço - e isso antes de descobrir a terceira coisa, que qua­se a obrigou a
uma ducha fria: Poncho possuía lábios in­críveis.

Imaginou como
ele beijava. Correu a mão pela boca, notando a sensibilidade exacerbada
quando ponderou sobre os possíveis sabores impregnados nos lábios dele. Poncho
bebeu chá gelado a tarde intei­ra. Será que a essência de açúcar batido
tornava-lhe a boca adocicada, ou seu beijo arderia no dela com a acidez
penetrante do limão?

Perguntou-se
como a voz dele soaria. Grave e rou­ca? Seria do tipo que sussurra bobagens
doces? Ou coisas picantes?

Ficou tão envolvida observando aquela boca que esqueceu de decifrar o que ele dizia.

Quando recobrou
o controle, precisou correr à co­zinha para reabastecer
o copo. Adicionou gelo extra, e pressionou o copo gelado entre os seios e a
fronte para esfriar a pele superaquecida.

Jamais reagira
a um homem com uma energia tão física - nem mesmo a
Neal, o ex-marido, que a induziu ao casamento disfarçando
habilmente sexo de amor. Anahí ofertou-lhe o coração. E assim que o teve, ele a
traiu. Quando deixou Neal, guardou as ca­rências, agarrou-se à solidão e à fantasia.

Mas esse Poncho
revirou-a do avesso sem mesmo sa­ber, sem ao menos perceber que ela observava.

Retornou à janela, binóculos a postos, e descobriu que Poncho nada entendia sobre
flores. Eles conversaram sobre rosas e solo e luz solar até Anahí não aguentar
mais vigiá-los.

Averiguou as
trancas das portas uma última vez e arrancou a camiseta da cintura, enquanto
subia os de­graus do segundo andar. Ali, o ar ficava mais quente e úmido, mesmo
assim tremeu quando adentrou o quarto principal. Posicionados no andar mais
alto, encarando a rua decididamente tranquila, Christopher e seus parceiros da
equipe técnica encheram a ampla área da parede mais distante da janela com mais
aparelhos eletrônicos do que uma loja. Instalaram uma unidade de ar-refrigerado
para assegurar que os circuitos não superaquecessem. Repassou de cor uma lista
mental, acionando protetores de volume, monitores de vídeo, gravadores de CD e
o notebook que controlava os in­contáveis microfones e câmeras plantados
na casa de Christian Chavez.

Junto à janela verificou que a luz na casa de Christian estava acesa. Assim
como as luzes da casa ao lado.

Ficou imaginado
o que Poncho, atraente mesmo quando tagarelava sobre insetos e fertilizante,
fazia sozinho em casa sexta à noite.

Dirigiu-se aos
monitores. Segundo a ficha de Christian, raramente se deitava antes de terminar
o último programa, assim, apanhou um refrigerante no
frigo-bar e clicou o teclado do computador. Três monitores de
vídeo, cada um provendo vistas alternadas dos có­modos da casa de Christian -
sala e cozinha, garagem e sótão, depois os três banheiros - entraram em foco.
Então, perguntou-se quem ele era. Clicando de volta ao quarto principal,
ajustou a câmera em um ân­gulo que pegasse o reflexo do espelho do banheiro.

Ele também não estava lá.

Um vulto
chamou-lhe a atenção quando o monitor à esquerda alternou
automaticamente para o sótão. Acionou um comando para o monitor principal
exibir a imagem. Apertou o botão de gravação no videocas­sete e ajustou o
brilho, o máximo que pôde. A ima­gem na tela tremeluzia.

Luz de velas?
No sótão?

Ao ajustar,
enxergou um homem riscando fósfo­ros. Então, ele pisou
mais perto da câmera.

Ele não era Chávez.

Ele era o vizinho da casa em
frente. O Sr. Short Puído. Poncho sem sobrenome. Exceto que abandonara o
short e trocou-o por uma calça larga. A camiseta rota também sumiu - estava de
peito nu e banhado pela luz bruxuleante.

se não tiver mais comentários vou desisti.

comentem vai.