Fanfic: Anjo Sedutor (Terminada)
- Sim - confirmou, categórica. - Mas, às vezes, não
importa se uma coisa ruim acontece por acidente ou de propósito. Ainda assim, a
gente se sente muito mal... triste e com raiva por não ter feito nada para
evitar.
-: Como quando Carson atropelou aquele
gatinho, sem querer, com a bicicleta e, depois, chorou e disse um palavrão?
Como de costume, Anahí sentiu uma ponta de orgulho com a
percepção do filho.
- Sim, meu bem, assim mesmo.
- Mas Carson já esqueceu o que passou e não se sente mais
mal.
- Não. Mas, em geral, os adultos não são tão espertos
quanto as crianças. Além do mais, o que aconteceu com papai
foi algo muito grave e difícil de se esquecer. - "E de se
perdoar", acrescentou ela mentalmente, enquanto acariciava os cabelos de
Michael. - Só não quero que você se preocupe, está bem? E também não quero que
tenha medo do sr. Herrera. Ele pode ser um pouco sisudo, mas não acho que
queira assustar você. Tente ser paciente, promete?
- Está bem. - Houve uma nova pausa. - Mamãe?
- Sim?
- Onde você vai dormir?
Anahí sorriu, estreitando-o ainda mais em seu abraço
pro-tetor.
- Na cama extra no quarto de Emily, aquela que será de
sua irmãzinha quando ela largar o berço. Bem, agora chega de conversa, vamos
ver se você sabe mesmo fazer bolhas de sabão maiores do que as minhas.
- Claro que sei, quer ver? - Contente, o menino deixou
seu colo. Retomou a varinha de plástico e a mergulhou no copo com água e sabão.
Começou fazendo uma enorme bolha.
- É, acho que vamos ter que fazer um campeonato - sorriu
ela, juntando-se ao filho na brincadeira.
- Oba!
Exceto por breves minutos acordado para comer, tomar um
antibiótico ou utilizar o banheiro, Alfonso dormiu por horas a fio.
Era tarde, na noite seguinte, quando de fato despertou
por completo. A lua estava alta; o céu, negro feito carvão; a casa, quieta.
Havia um pequeno abajur aceso no quarto, iluminando-o suavemente.
Anahí o deixara ligado, compreendeu. Como se soubesse o
que era acordar num lugar estranho, sozinho na escuridão, o coração aos saltos.
Era como se quisesse poupá-lo.
Mas por que faria isso?
Era mais uma das inúmeras perguntas sem resposta. Ainda
não compreendia a atitude dela; o porquê de quere-lo ali. Aliás, ele não vinha
entendendo quase nada nos últimos anos... Desde o julgamento. Desde o disparo no
apartamento...
Havia quase três anos que Daniel Portilla morrera. Alfonso
revivera aquela noite milhares de vezes. Repassara-a sem parar, listando seus
erros, enumerando suas falhas, amaldiçoando sua incapacidade.
Não importava que tivesse sido recém-designado para o
escritório de Seattle e, portanto, ainda não familiarizado com a área. Ou que
não tivesse sido sua a tal batida polícial. Ou ainda o fato de ter estado
acordado trinta e seis horas seguidas, cuidando de outra investigação, quando
fora chamado para fazer uma substituição de último minuto, porque o agente
encarregado daquele caso do apartamento havia sofrido um acidente de carro.
E daí se estava exausto naquela noite? E daí que
estivesse furioso por ter sido chamado para efetuar a prisão rotineira de um
traficante de menor importância, no exato momento em que estivera na pista
firme de um grande fornecedor? E daí se havia seguido à risca todas as regras e
procedimentos do departamento naquela noite?
O fato era que não seguira as suas próprias regias. Não
insistira em verificar as coisas por si mesmo. Caíra no erro de depender de
outras pessoas e, como resultado, Daniel Portilla morrera. Sua culpa, pensou Alfonso,
angustiado. Seu irreparável erro! Um que jamais superaria...
Estivera, entretanto, preparado para sofrer as
consequências, para aceitar qualquer punição que a lei decretasse. "Sem
choramingar e sem pretextos, garoto. Você errou, agora pague." Quantas vezes
ouvira aquelas palavras duras de seu pai, enquanto crescera? Centenas? Milhares
de vezes?
Mas, dando outro rumo ao que parecia inevitável, Anahí
interferira. E depois disso... ele nunca mais fora capaz de colocar sua vida nos
eixos.
Apesar de seus protestos, após o julgamento, havia sido
designado para um obscuro escritório nos arredores de Saint Louis. Sem muito o
que fazer, houvera tempo livre demais durante o dia para pensar. E à noite... à
noite era atormentado pelo mesmo pesadelo. Repetidas vezes deparava com o ar
confuso no rosto de Daniel Portilla no instante em que a bala o atingia. Ouvia suas últimas palavras antes de morrer: "Oh, Anahí... estou
ferido... como dói..."
Alfonso começara a beber. Tirara uma licença do serviço e
passara a viver sem rumo. Quando a licença terminou, simplesmente não voltou
mais.
Um sopro de vento agitou a cortina com suavidade,
enxotando o passado. Ele sentou-se na cama e olhou com vagar ao redor,
observando os detalhes que não notara antes.
Um vaso com flores naturais enfeitava a cómoda, de pinho
e, a sua esquerda, havia um porta-retratos com uma foto dos filhos de Anahí.
Sobre a cadeira de balanço, achava-se um suéter cor-de-rosa, com um rasgo na
manga cuidadosamente costurado. Havia um par surrado de ténis num dos cantos do
quarto e uma pilha de livros ao lado. Tratavam-se de alguns romances e de uma
pequena enciclopédia específica, sobre o plantio de alfafa, notou ele,
avistando os títulos na lombada dos volumes.
Aquele era o quarto de Anahí, sem dúvida; repleto de suas
coisas.
Um súbito ruído vindo do próprio estômago avisou-o que
estava com fome. Levantou-se e vestiu seu jeans, que fora lavado e deixado
dobrado sobre a cómoda. Mancando, e logo impaciente com a perna que lhe
retardava os movimentos, deixou o quarto para uma volta de reconhecimento da
casa. O luar que se filtrava pelas janelas iluminava seu caminho.
A construção era simples, descobriu ele. Havia um
corredor central, com o quarto de Anahí, a sala de estar e um pequeno
escritório distribuídos de um dos lados, na frente da casa; ficando o banheiro,
a lavanderia e a cozinha na extremidade oposta, que dava para os fundos. No
meio situava-se uma escadaria que presumiu conduzir aos quartos das crianças,
no andar de cima. Mesmo no escuro, notava-se que a mobília era escassa e de
segunda mão. Mas não foi isso que lhe chamou a atenção, a princípio.
O que se destacou primeiramente a seus olhos foi a alegre
confusão de brinquedos, que se via num nos cantos da sala; as almofadas
coloridas e artesanais, espalhadas sobre o grande tapete trançado que cobria o assoalho; mais e mais livros e um outro vaso
repleto de fragrantes flores de verão.
Ao entrar na cozinha, um espaçoso ambiente retangular com
velhos armários de madeira e balcões de fórmica opaca, amarelada pelo tempo, Alfonso
acendeu a luz. Avistou um pote de vidro com biscoitos caseiros sobre a mesa.
Aproximou-se e abriu-o, com a boca já cheia de água, enquanto o convidativo
aroma de baunilha se desprendia de seu interior. Devorou dois dos saborosos
biscoitos quase de uma só vez. Depois, comeu mais dois, agora devagar,
observando o piso gasto do chão, os antigos utensílios e eletrodomésticos, o
cadeirão de bebé encostado junto a uma das paredes.
Intrigado, deu-se conta de que, como no restante da casa,
tudo ali na cozinha parecia velho e usado, embora impecavelmente limpo e com
uma variedade de vasos de plantas e flores vibrantes e bem-cuidadas que
disfarçavam o aspecto decadente.
Estivera no DEA tempo o bastante para não se chocar com
quaisquer que fossem as discrepâncias da vida. Mas tinha que admitir que estava
atónito com aquela entre a evidente modéstia na casa de Anahí e o estilo de
vida opulento que ele associava com a riqueza dos Portilla.
Lembrou-se do que ela havia comentado ao usar a expressão
"café pequeno" para um Portilla. "Não para esta aqui, sr. Herrera", fora a
resposta. Será que dissera a verdade?, per-guntou-se, começando a vasculhar os
armários em busca de algo mais consistente do que biscoitos.
Havia procurado em quase todos, quando um ruído junto à
porta alertou-o de que não estava mais sozinho. Moveu-se com agilidade, a
adrenalina expandiu-se por seu corpo fazendo com que se virasse para a porta e
parasse numa posição agressiva de artes marciais. Perdeu a ação
instantaneamente ao deparar com Anahí encostada no batente, os cabelos soltos e
em ligeiro desalinho, as maçãs do rosto coradas pelo sono.
Uma onda de raiva invadiu-o. Raiva pela inexplicável
habilidade daquela mulher em surgir do nada para surpreendê-lo. Pelo quanto se
sentia tolo, ali parado naquela posição, como se fosse algum Jean-Claude Van
Damme. Raiva também pela forma
inesperada como as pulsações assustadas de seu coração se transformavam em
vibrações de desejo, na medida em que seu corpo reagia a visão diante de seus
olhos. Anahí numa camisola de algodão, comprida até os pés e sem decote...
camisola que pareceria recatada a quem quer que a visse, mas que para ele
estava tendo um incrível apelo sensual.
Autor(a): annytha
Este autor(a) escreve mais 30 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
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Entretanto, não podia se esquecer de quem era aquela mulher. Nem o fato de que estava tendo a chance de, enfim, fazer algo decente em sua vida. Desde que não estragasse tudo com pensamentos lascivos!, tratou de lembrar a si mesmo. Reunindo forças, soltou-lhe a pequena mão. Voltou a pegar sua caneca e bebeu o restante do chá de u ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 90
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jl Postado em 22/11/2010 - 10:59:06
Own, acabei de ler
Historia linda e reveladora
Parabens
Obrigado por postar *-* -
jl Postado em 22/11/2010 - 10:58:58
Own, acabei de ler
Historia linda e reveladora
Parabens
Obrigado por postar *-* -
jl Postado em 22/11/2010 - 10:58:54
Own, acabei de ler
Historia linda e reveladora
Parabens
Obrigado por postar *-* -
jl Postado em 22/11/2010 - 10:58:49
Own, acabei de ler
Historia linda e reveladora
Parabens
Obrigado por postar *-* -
kikaherrera Postado em 29/03/2010 - 21:42:25
Lindo o final o Poncho foi perfeito em tudo o que disse.
Amei saber que vc vai postar uma nova web. -
kikaherrera Postado em 26/03/2010 - 00:41:49
Ainda bem que o Poncho caiu na real.
Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa -
rss Postado em 25/03/2010 - 16:43:08
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rss Postado em 25/03/2010 - 16:43:07
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