Fanfic: Anjo Sedutor (Terminada)

Alfonso não acreditava naquilo nem por um instante. Sua
experiência lhe afirmava que devia haver algo oculto por trás daquela história.

Por outro lado, precisava admitir que estava intrigado.
Ainda não conseguira decifrar qual era a intenção de Anahí Portilla, embora não
duvidasse de que existia alguma.

Tal pensamento serviu para que ele se situasse. Esticando
suas pernas fortes e longas, começou a balançar negligentemente com a cadeira
para a frente e para trás. Cruzou os braços sobre o peito, preparado para ouvir
a sra. Portilla dar a contribuição derradeira que selaria de forma sombria o
seu destino.

A única pergunta que ainda lhe restava era quanto tempo
ela levaria para acabar com tudo.

O absoluto silêncio pairou no tribunal. O advogado de Alfonso
limpou a garganta:

- Poderia nos dizer seu nome e idade, por favor? -
perguntou à testemunha.

Anahí dirigiu-lhe um olhar breve e perplexo. O caso
recebera tanta publicidade que era de se duvidar que houvesse uma única alma no
oeste do Estado de Washington que não a conhecesse. Ainda assim, após uma
hesitação mínima, respondeu:

- Meu nome é Anahí Puente Portilla e eu... - Uma expressão
surpresa surgiu em seu rosto pálido e oval. - ... faço vinte e sete anos... hoje.

Os lábios de Johnson se entreabriram reflexivamente por
um instante, como que para desejar-lhe feliz aniversário, mas lembrou-se logo
de onde estava.

- Entendo. E qual sua profissão?

- Até a poucos meses eu trabalhava na farmácia Meyer.

- Em que função?

- Como balconista, creio que seja essa a definição. - Anahí
deu ligeiramente de ombros. - Gostava do trabalho, mas era apenas um emprego,
não uma... profissão. - Apesar das palavras, não havia nenhum pedido de desculpas
em sua voz aveludada.

- E agora? - insistiu o jovem advogado.

- Como?

- Disse que trabalhava lá, sra. Portilla. E agora, o que
faz?

Ela passou a pequena mão sobre o ventre protuberante.

- No momento, estou apenas descansando. Sei que algumas
mulheres trabalham até o último mês, mas meu médico achou que... - Sua voz falhou
por alguns instantes. - ... que depois de tudo o que aconteceu, eu deveria
repousar.

Johnson assentiu num gesto encorajador e prosseguiu:

- Essa é a única razão que a fez sair do emprego?

- Bem, não. Houve tanta agitação quando Daniel foi morto...
os jornalistas não me deixavam em paz. Isso estava interferindo nos negócios do
sr. Meyer. Ele foi muito compreensivo e disse que eu poderia ficar na farmácia
o quanto quisesse, mas simplesmente não me pareceu... o certo a fazer.

- Entendo.

Todos no tribunal entendiam. Uma onda de solidariedade
invadiu o recinto perante a idéia daquela viúva indefesa sendo assediada pela
insensível imprensa. O promotor, que começara a se levantar, sem dúvida para
exigir que Johnson chegasse ao ponto, sentiu-se solidário também e voltou a
sentar-se, reconsiderando sua objeção.

O cinismo de Alfonso acentuou-se. A sra. Portilla era
mesmo uma especialista naquilo. Se a pobre viúva mantivesse tal atitude, ele
poderia se considerar um homem de sorte se, no final, a lei não fosse mandada
às favas e decidissem linchá-lo ali mesmo.