Fanfic: Anjo Sedutor (Terminada)
Embora trabalhando lado a lado com Anahí nos dias que se
seguiram, Alfonso tomou a precaução de manter certa distância.
A princípio foi fácil; estava simplesmente cansado demais
para se preocupar com qualquer coisa. Tudo o que conseguia era sair se
arrastando da cama de manhã, fazer o que fosse preciso durante o dia e
mergulhar num sono profundo depois do jantar.
Logo, entretanto, a combinação de refeições regulares, ar
puro, trabalho árduo e sono repousante começou a fazer efeito. A perna e as
costelas estavam sarando, os machucados no rosto e no peito foram
desaparecendo. E, na medida em que recuperava o vigor físico, sua mente, sempre
inquieta, passou a atormentá-lo com perguntas.
Perguntas sobre a fazenda... e a respeito da mulher que a
possuía. Ainda assim, conseguiu manter-se reservado por quase duas semanas... até
que acabou abrindo a primeira fenda em suas próprias defesas.
Tudo começou inocentemente, ao final de uma tarde
enquanto estava com Anahí, num dos campos, a oeste da fazenda. Bem ao longe,
avistava-se uma cadeia de montanhas, uma sombra azul-acinzentada de encontro ao
horizonte límpido. Um pouco mais próxima, uma sequência infinita de antigos
postes de energia elétrica cortava a paisagem, enfileirando-se fielmente pelas
colinas verdejantes, como penitentes numa peregrinação.
Pela segunda vez em três dias, o gado do vizinho
escapara. Alfonso e Anahí recolheram de novo os animais fugitivos,
con-duzindo-os de volta ao seu próprio pasto. Agora estavam consertando o
trecho da cerca de arame que os bois haviam derrubado.
Ele esticava o arame grosso com firmeza e observava,
enquanto ela o pregava à estaca de madeira com extrema habilidade. Como tantas
outras tarefas na fazenda, aquilo era algo que parecia muito fácil, mas Alfonso
já descobrira que não o era, na primeira vez em que o gado havia escapado. Por
insistência sua, encarregara-se de martelar os pregos galvanizados, em forma de
U, enquanto ela segurara o arame. Apesar das luvas pesadas de trabalho que Anahí
lhe comprara, seus dedos ainda doíam das diversas marteladas que errara naquele outro dia.
Agora, ao observá-la usar aquela técnica, como se a mesma
fosse facílima, comentou:
- Você deve ter crescido fazendo esse tipo de coisa. -
Mal acreditou nas próprias palavras. Parecia que, enfim, a sua curiosidade
derrotava a necessária cautela.
Se Anahí ficou surpresa com o comentário, após dias de
quase absoluto silêncio, não demonstrou. Pegando outro prego em forma de do
cinto para ferramentas que trazia ao redor da cintura delgada, respondeu com
tranquilidade:
- Na verdade, não. Nasci e cresci em Mission, mas não
numa fazenda. Meu pai era professor de história na escola local.
Não era a resposta esperada. Alfonso estreitou os olhos
verdes, estudando-a. Em algum momento da perseguição ao gado, ela perdera o
boné que sempre usava, e sua trança se desmanchara um pouco, fazendo com que
pequenas mechas esvoaçassem ao redor de seu rosto corado. Era uma mulher
adorável, pensou, mesmo naquelas calças rústicas de trabalho e na camiseta
caqui desbotada... Ele reprimiu os pensamentos de imediato. Assim, como sua boca,
sua libido parecia estar agindo sem a supervisão do cérebro.
- Você tem familiares na cidade?
- Não. Meu pai se aposentou e se mudou para a Flórida com
minha mãe. Tenho uma irmã mais nova, que mora na parte central do Estado de
Washington, a umas quatro horas daqui. E casada com um advogado. E quanto a
você?
- Eu?
- A sua família? Você tem irmãos?
Ele sacudiu a cabeça e desejou não ter iniciado a
conversa.
- Não. Só há meu pai. Minha mãe morreu quando eu era
pequeno.
- Sinto muito.
- Não precisa. Foi há muito tempo atrás e meu pai não era
um homem nada fácil de se conviver. - Alfonso prosseguia atento à tarefa de segurar
os arames, mas seu semblante se endureceu involuntariamente. Em sua mente
surgiu a imagem do autoritário Kurt Herrera, suas constantes críticas, seu
temperamento explosivo e seu severo código de disciplina. - Ao morrer, é
provável que minha mãe tenha se livrado de um pesadelo.
Sabia que era algo indelicado de se dizer, mas não se
importava. Era a pura verdade. E o quanto antes Anahí descobrisse o sujeito
revoltado e insensível que realmente era, melhor.
Ainda assim, ela pareceu não interpretar as palavras da
maneira que devia. Em vez de ficar ofendida ou indignada, apenas lhe dirigiu um
olhar pensativo e continuou trabalhando na cerca.
- E onde você se criou?
- Por aí.
- Como assim?
- Meu pai era militar. Nós vivíamos mudando. - Um
verdadeiro génio com os motores, Kurt Herrera teria feito uma carreira
brilhante se sua capacidade não fosse superada pelo talento ainda maior de
ofender os superiores. Ríspido, com aquele temperamento intolerável e um rígido
código do que era certo e errado, seu pai fora um homem muito difícil de se
trabalhar; como resultado nunca parara por muito tempo em um único posto.
- E onde moraram? - perguntou Anahí, sem a menor impaciência.
- Alabama, Texas, Novo México, Virgínia, Washington,
Geórgia, Califórnia, Dakota do Norte, Tailândia,
Alemanha, Taiwan. - Ele fez uma pausa, a expressão fechada. Ergueu uma
sobrancelha escura, que contrastava com o tom alourado dos cabelos. - Quer que
eu continue?
Mais uma vez, ela se recusou a ficar ofendida. - Foram
mudanças demais para qualquer pessoa, quanto mais uma criança. Deve ter sido
difícil demais.
-- Depois de um tempo, a gente se acostuma. - respondeu Alfonso,
o tom brusco, o rosto inexpressivo. Desviou o olhar para o horizonte, odiando a
inesperada compaixão daquela mulher e a turbulência de sentimentos que o
invadia. Com umas poucas palavras inocentes, o passado longínquo e doloroso
estava voltando: a inconstância, a luta para obter a aceitação dos colegas nas
novas escolas, a sensação de estar sempre de fora das coisas.
Alvo conveniente da raiva do pai, na infância Alfonso
culpara a si próprio pelas explosões violentas dele, certo de que era alguma
falha sua que as provocava. Sentira-se envergonhado e, conforme os maus tratos
avançaram, crescera aprendendo a ocultar seus sentimentos, a se certificar de
que ninguém enxergasse a criança solitária sob a fachada de força e
autoconfiança. Aprendera a fingir que não precisava de uma palavra carinhosa,
um abraço ocasional, de alguém que quisesse seu amor.
"Mas isso foi há muito tempo!", lembrou-se de imediato. Aquele
garoto desaparecera e o homem que se tornara tratara de garantir que jamais precisaria de nada, nem de ninguém.O martelo batendo
com espantosa força despertou-o dos pensamentos.
Surpreso, voltou a olhar para Anahí. Percebeu,por sua expressão, que, enfim,
conseguira aborrecê-la.
Não pelo que dissera, compreendeu, quando deparou com os olhos castanhos-escuros e identificou ali o misto de simpatia e indignação. Ela lera nas entrelinhas, desvendara-lhe os sentimentos e, de
alguma forma, entendera como sua infância fora solitária e sofrida.
Autor(a): annytha
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Alfonso não gostou disso; nem um pouco. Não precisava da compaixão alheia... em especial da dela. - Se foi criada na cidade, como acabou virando fazendeira? - indagou, determinado a readquirir o controle da conversa, bem como de suas inquietantes emoções. Anahí guardou o martelo no cinto de ferramentas e ins-pecionou o c ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 90
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jl Postado em 22/11/2010 - 10:59:06
Own, acabei de ler
Historia linda e reveladora
Parabens
Obrigado por postar *-* -
jl Postado em 22/11/2010 - 10:58:58
Own, acabei de ler
Historia linda e reveladora
Parabens
Obrigado por postar *-* -
jl Postado em 22/11/2010 - 10:58:54
Own, acabei de ler
Historia linda e reveladora
Parabens
Obrigado por postar *-* -
jl Postado em 22/11/2010 - 10:58:49
Own, acabei de ler
Historia linda e reveladora
Parabens
Obrigado por postar *-* -
kikaherrera Postado em 29/03/2010 - 21:42:25
Lindo o final o Poncho foi perfeito em tudo o que disse.
Amei saber que vc vai postar uma nova web. -
kikaherrera Postado em 26/03/2010 - 00:41:49
Ainda bem que o Poncho caiu na real.
Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa -
rss Postado em 25/03/2010 - 16:43:08
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