Fanfic: Anjo Sedutor (Terminada)
Anahí estava sentada à escrivaninha no pequeno escritório
próximo a seu quarto. Franzia o cenho, enquanto lia a carta de Martin Portilla
que chegara pela manhã.
Como as várias outras cartas que recebera do irmão de
Daniel nos últimos oito meses, a de agora sugeria que ela lhe cedesse a
custódia das crianças, de forma que pudessem "desfrutar das vantagens que lhes
pertenciam por direito de nascimento". Se Anahí concordasse, Martin prometia
fazer o que estivesse a seu alcance para solucionar algumas das "inconvenientes
formalidades legais" que haviam bloqueado a herança de Daniel.
Era uma tentativa de suborno, pura e simples, e a deixava
furiosa. "Martin já devia ter se dado conta", pensava, com raiva, enquanto
recolocava a carta no caro envelope e a jogava numa gaveta, "do quanto a
fortuna dos Portilla era indiferente para mim, quando me recusei a deixar que a
mesma influenciasse minha decisão de testemunhar a favor de Herrera".
Mas, obviamente, isso nem passara pela cabeça dele. A
exemplo de muitos homens ricos e poderosos, Martin Portilla acreditava que
podia comprar o que quisesse. Nunca lhe ocorrera que havia coisas que o
dinheiro jamais poderia comprar, como o tempo, a atenção ou o amor
incondicional que ela devotava a seus filhos.
Ainda assim, tinha que admitir que o tom da carta era
preocupante. Por que de repente ele insistia tanto sobre aquele assunto de
custódia? Não acreditava nem por um instante que o que estava em jogo era a
afeição pelas crianças. Afinal, Martin sequer chegara a conhecer Emily! Devia
haver algum outro grande interesse oculto para requerer a custódia. Mas qual
seria?
Com um profundo suspiro, disse a si mesma que não fazia a
menor idéia. E que, no fundo, não se importava... desde que as tentativas de
persuasão se limitassem a cartas e ao telefonema ocasional.
Levantou-se, achando que já perdera tempo demais se
aborrecendo com aquele assunto. Estava cansada; passara a manhã inteira
organizando os livros da fazenda, verificando os cálculos de cheques emitidos,
a papelada rotineira, a fim de deixar a contabilidade em dia antes da colheita,
época que consumia todo seu tempo.
O que precisava agora era de uma rápida caminhada e de um
pouco de ar puro, pensou, ao cruzar o corredor e entrar na cozinha.
Ao que parecia, as crianças tinham acabado de almoçar.
Emily brincava no chão, em cima de um velho acolchoado. Carson terminava de
lavar a louça, enquanto Michael cobria a mesa com jornais; sem dúvida para que
os dois pudessem trabalhar no aeromodelo que estavam construindo depois que o
garoto mais velho terminasse as tarefas.
- Olá, pessoal - disse ela, com um sorriso.
- Olá - veio o coro de vozes infantis.
- Vou dar uma caminhada até os campos do sul para
verificar a bomba de água.
- Não é aquela que andou dando problemas na
segunda-feira? - Carson, o adolescente alto e magro de cerca de treze anos,
cabelos castanhos-claros e sorriso encabulado, enxaguou o último prato e
colocou-o no escorredor.
- Essa mesma - confirmou Anahí, com um profundo suspiro.
- Só faz quatro dias que troquei a borracha de vedação por uma nova... Mas, antes
de sair, Alfonso me disse que a bomba estava vazando outra vez nesta manhã. -
Ele fora até Mission, com uma lista enorme de coisas para fazer. - Não devo
levar mais de duas horas. Vocês vão ficar bem?
- Claro - assegurou Carson. - Eu e Michael vamos ficar
aqui montando o aeromodelo. Emily já está dando sinais de sono e daqui a pouco
vou levá-la para cima para uma soneca.
Grata com seu prestativo ajudante, Anahí beijou as
crianças e despediu-se. Saiu pela porta dos fundos, pegou seu cinto de
ferramentas e partiu.
Os dois quilómetros de caminhada consumiram-lhe vinte
minutos. Assim que chegou, agachou-se junto a casa da bomba e tratou logo de
iniciar a árdua tarefa de desmontar a parte superior da mesma. Um vento forte
começava a soprar, e ela olhou para o céu. Nuvens pesadas se agrupavam,
projetando enormes sombras no chão, conforme iam encobrindo o sol.
Embora uma chuva torrencial tivesse sido prevista para a
região, Anahí não estava preocupada. Segundo as previsões, a frente da
tempestade devia atingir mais para o leste, e chegaria apenas à noite. Além
disso, refletiu, lutando para desapertar um parafuso mais persistente entre os demais
que prendiam a parte superior da bomba, para que se preocupar com uma chuva de
verão quando já havia Alfonso para monopolizar seus pensamentos?
Alfonso, que passara os últimos quatro dias desde domingo
trabalhando em verdadeiro furor, aumentando o galinheiro, limpando o celeiro e
consertando a cerca. Que se empenhara tanto em evitá-la... Que começara a raspar
a tinta descascada da casa à noite, recusando-se a parar até que ficasse tão
escuro que mal pudesse enxergar as próprias mãos. Alfonso, que não dera ouvidos
aos protestos veementes dela de que não teria o dinheiro para a nova pintura e
que lhe respondera, com seu jeito reservado, para não se preocupar, pois se
encarregaria disso, logo após a colheita e um pouco antes de sua partida.
Alfonso, que permanecia difícil e temperamental, distante
e enigmático. Que lavava louça e que era aficionado por música country; que
possuía um fraco por seus cães, um cuidado especial pela reputação dela e que
andava ensinando seu filho de cinco anos a dirigir.
Alfonso, que estava ligado ao acontecimento mais triste
da vida de Anahí, mas que a fazia sentir-se vibrante e visceralmente viva.
Ela colocou a trança para trás, quando uma rajada de
vento a jogou de encontro a seu rosto; suas mãos ficando imóveis de repente ao enfrentar,
enfim, a tempestade interna que estivera revolvendo sua alma havia dias.
Parecia que estava se apaixonando por ele.
Um pensamento nada reconfortante, um que jamais previra.
Mas, de qualquer forma, aquele não era um homem previsível.
Daniel o fora. Ela sempre soubera em que terreno pisara
com seu marido. Um intelectual nato de temperamento tranquilo, ele se
apaixonara por Anahí logo que a conhecera. Ela demorara um pouco mais para
corresponder, mas gradativamente sucumbira ao calmo mas determinado modo de
conquistá-la, a sua gentileza e bom-humor.
A família de Daniel havia significado um problema desde o
início, já que era como se ele tivesse sido um golfinho nascido entre um bando
de tubarões. Ainda assim, tal situação apenas incentivara o instinto protetor
de Anahí. Tornara-se o porto seguro dele, dando-lhe a força necessária para
ignorar as exigências dos irmãos para que desistisse de seus estudos, de seus
objetivos intelectuais, e se tornasse parte do império corporativo da família.
Depois de casados, a vida de ambos se estabilizara numa
serena rotina. Teriam dois filhos; Daniel obteria seu doutorado e lecionaria.
E, assim como sua mãe cuidara de seu pai, Anahí cuidaria do marido e dos demais
afazeres do dia-a-dia. Criada como filha de professor, no casamento adaptara-se
facilmente à rotina já conhecida. E se de vez em quando sentira um ponta de
insatisfação, ou tivera um ocasional e vago medo de que a vida estava passando
por ela, tratara de afugentá-los. Dizia a si mesma que o amor do tipo arrebatador
e a paixão impetuosa que lia nos romances só existiam na imaginação dos
escritores.
Mas nos últimos tempos não andava mais tão certa disso.
Quando Alfonso a fitava com seus olhos de esmeralda era como se outra mulher
ganhasse vida dentro dela. Uma mulher de paixões avassaladoras, que ansiava por
sentir-lhe as mãos fortes e os lábios ávidos de encontro a sua pele ardente.
Uma mulher que acordava de sonhos eróticos com lágrimas rolando pela face... e o
nome dele em seus lábios.
Tentara se convencer de que o que sentia era um mero
desejo insatisfeito. Seus próprios argumentos eram bastante lógicos nesse
sentido. Embora tivesse se casado virgem, soubera apreciar o sexo com o marido.
E desde poucos meses depois da concepção de Emily tornara-se uma verdadeira
celibatária, ou seja, por um período de quase três anos.
E se havia um homem capaz de despertar desejo, esse era Alfonso
Herrera... Com seus ombros e peito largos, de músculos bem definidos; quadris
estreitos e pernas fortes; cabelos claros em contraste com a pele bronzeada;
traços marcantes e bem-feitos do rosto; com a inteligência dos irresistíveis
olhos verdes e a aura de masculinidade que o envolvia, era capaz de provocar
paixão até numa pedra!
Portanto, até esse ponto sua atração por ele era
explicável e perfeitamente compreensível, assegurou a si mesma, continuando a
trabalhar na bomba, enquanto as rajadas de vento ficavam cada vez mais intensas
e o céu escurecia.
Mas o que não conseguia explicar era a profunda ligação
emocional que continuava a ter em relação aquele homem. Tampouco encontrava
explicação para as vezes em que fitava seus olhos verdes e, através destes, era
como se pudesse lhe ver claramente até a alma. Ou para a vontade de.fazer
qualquer coisa a seu alcance a fim de lhe apagar para sempre o ar angustiado.
"Encare a verdade, Anahí Puente, você está perdida..."
Autor(a): annytha
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Quando desapertou o último parafuso e removeu a parte superior da bomba, compreendeu logo o que estava acontecendo. Praguejando baixinho, constatou que quando substituíra a borracha de vedação, quatro dias atrás, colocara-a ao contrário. Isso, sem dúvida, explicava o porquê do vazamento contínuo. Sacudindo ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 90
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jl Postado em 22/11/2010 - 10:59:06
Own, acabei de ler
Historia linda e reveladora
Parabens
Obrigado por postar *-* -
jl Postado em 22/11/2010 - 10:58:58
Own, acabei de ler
Historia linda e reveladora
Parabens
Obrigado por postar *-* -
jl Postado em 22/11/2010 - 10:58:54
Own, acabei de ler
Historia linda e reveladora
Parabens
Obrigado por postar *-* -
jl Postado em 22/11/2010 - 10:58:49
Own, acabei de ler
Historia linda e reveladora
Parabens
Obrigado por postar *-* -
kikaherrera Postado em 29/03/2010 - 21:42:25
Lindo o final o Poncho foi perfeito em tudo o que disse.
Amei saber que vc vai postar uma nova web. -
kikaherrera Postado em 26/03/2010 - 00:41:49
Ainda bem que o Poncho caiu na real.
Postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa -
rss Postado em 25/03/2010 - 16:43:08
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