Fanfic: Anjo Sedutor (Terminada)

- Sra. Portilla. - Havia uma certa gravidade na voz do
advogado de defesa. - Está lembrada da noite de 9 de outubro?

- Sim.

- E por que lembra dessa data em especial?

- Foi a noite em que meu marido morreu.

Inevitavelmente os espectadores foram invadidos por nova onda
de compaixão.

- Pode me contar a respeito?

- Nós estávamos nos preparando para uma mudança - começou
Anahí, mantendo um tom sereno. - Andávamos enfrentando alguns problemas com o
sr. Patterson, que morava no apartamento atrás do nosso.

- Que tipo de problemas?

- Festas barulhentas, pessoas entrando e saindo a
qualquer hora do dia e da noite. Daniel estava trabalhando em sua tese de
doutorado e precisava de paz e tranquilidade para fazer sua pesquisa; e nosso
filho, Michael, estava prestes a completar três anos. Com isso e o novo bebé a
caminho, decidimos que seria uma boa idéia nos mudarmos.

- O sr. Patterson morava no apartamento número seis?

- Sim.

- E o de vocês era o nove?

- Exato.

- É de seu conhecimento que o mandado de busca e
apreensão que o agente Herrera tinha era para o apartamento 6?

- É, sim.

- Qual sua explicação para a declaração dele, e dos
outros políciais que entraram em sua casa naquela noite, de que o seu
apartamento exibia o número seis?

- Provavelmente estão com a razão. Às vezes as crianças
vizinhas desprendiam a parte de cima do número nove afixado na nossa porta, de
forma que este deslizava até ficar de ponta-cabeça e parecer um seis. - Uma
sombra escura passou pelos olhos castanhos de Anahí. - Elas achavam a situação
engraçada quando recebíamos encomendas erradas no apartamento... esse tipo de
coisa.

- Entendo. Agora, sra. Portilla, poderia me dizer o que
estava fazendo um pouco antes da entrada do agente Herrera?

- Eu estava deitada no meu quarto assistindo tevê com
Michael. Não me sentia muito bem. Tínhamos jantado, havia lavado a louça e dado
banho no meu filho, mas eu estava no terceiro mês de gravidez e me sentia
esgotada e com enjôos a maior parte do tempo.

- Onde se encontrava seu marido?

- Daniel estava no quarto de Michael, arrumando a
bagunça. Eu havia tomado conta do filho pequeno de uma amiga minha à tarde, e
ele e Michael tinham espalhado uma porção de brinquedos pelo quarto enquanto
brincavam. A noite, Daniel se oferecera para arrumar tudo, uma vez que eu não
me sentia bem.

- E o que houve depois?

- Alguém bateu à porta. Eu disse a meu marido que
atenderia, mas devo ter me levantado muito depressa pois fiquei zonza. Não sei
quanto tempo passou até que minha cabeça parou de girar, talvez uns trinta
segundos, mas eu mal tinha saído do quarto quando ouvi a porta da frente sendo
aberta com um estrondo de encontro à parede e um homem armado apareceu no
vestíbulo.

- Esse homem era o agente Herrera? - indagou Johnson.

- Sim.

- Sra. Portilla, a planta do seu apartamento era tal que
o seu quarto ficava no final do corredor, com o banheiro e o quarto de seu
filho de frente um para o outro, ou seja, situados entre a senhora e a entrada,
correto?

- Sim.

- Assim, ao sair de seu quarto, ficou frente a frente com
o agente Herrera. As luzes estavam acesas? Pôde vê-lo com nitidez?

- Sim. A luz do vestíbulo estava acesa, iluminando-o.

- E quanto ao corredor? Achava-de bem iluminado também?

- Não. O corredor estava às escuras, contendo somente um
pouco de claridade das luzes acesas vindas dos quartos.

- O que aconteceu em seguida?

- Eu... fiquei com muito medo. Gritei e o homem... o agente Herrera...
apontou a arma na minha direção, ordenando que não me movesse.

- E o obedeceu?

- Sim. Eu estava... apavorada.

- E, então, o que houve?

- Daniel saiu aflito do quarto de Michael. Olhou para mim
e depois começou a se virar, olhando para o início do corredor. Acho que o sr. Herrera
repetiu o aviso para que não nos movêssemos, mas Daniel... não sei se ele não
entendeu, ou se estava preocupado demais para prestar atenção, ou se
simplesmente seguiu algum impulso... bem, o fato é que continuou em movimento.

- Lembra-se do que aconteceu depois?

- Tudo aconteceu... tão depressa. Daniel ergueu a mão
direita... Em seguida, ouvi um barulho alto... um estampido, e meu marido caiu no
corredor, ainda em frente ao banheiro. A próxima coisa que me lembro é que as
luzes se acenderam e vários homens avançaram pelo corredor, todos falando e
gritando de uma só vez... e eu segurava Daniel em meus braços... e ele tremia e
dizia que estava ferido.

- E em seguida, sra. Portilla?

- Ele... morreu. Depois disso, tudo ficou enevoado na minha
mente, mas lembro que existia um caos ao redor. Alguém perguntou meu nome e
logo respondi. Começou uma discussão a minha volta e ouvi outro alguém dizendo
que houvera um engano, que haviam entrado no apartamento errado. O sr. Herrera
começou a praguejar. Me lembro porque usou palavrões que eu jamais tinha ouvido
antes. Olhei para baixo e vi minhas mãos e minha camisa cobertas de sangue.
Comecei a ficar nauseada e um tanto histérica.

se tiver comentário continuo.