Fanfic: Anjo Sedutor (Terminada)

Anahí e Alfonso levantaram-se e deixaram seus respectivos
quartos ao amanhecer, como de costume. O clima entre ambos estava tenso, fato
que tentaram ignorar enquanto cuidaram das tarefas matinais e fizeram o
desjejum. A tensão acentuou-se, entretanto, quando pegaram a caminhonete e
rumaram para os campos, a fim de verificar estragos causados pela tempestade. A
paixão do dia anterior parecia impregnada no interior da cabine, uma lembrança
poderosa para tudo o que havia mudado... e para o que não havia também.

Enfim, ficaram os dois aliviados no instante em que Anahí
voltou para dentro da casa, na metade da manhã, para dar alguns telefonemas e
pesquisar sobre uma nova bomba de água.

Por volta do meio-dia, conseguiu localizar uma em
Pendle-ton, cidade situada a cerca de trinta quilómetros a sudeste de Mission.
Franzindo o cenho diante do preço, sentou-se à mesa da cozinha e preparou um
acordo de compra entre ela e Alfonso. Estava terminando de redigi-lo, quando
ele entrou para o almoço.

- O que é isto? - indagou, olhando para o papel que lhe foi
entregue.

- É para a bomba. - Anahí abriu a geladeira, peg~ uma
jarra de chá e preencheu dois copos com a bebida.

- Ora, este é um acordo em que você me paga quinze por
cento de entrada e o saldo restante em apenas doze meses... E ainda me dando sete
por cento de juros.

- Eu sei. - Ela separou leite para servir a Carson e às
crianças. Depois colocou sobre a mesa uma bandeja com frutas e outra com
sanduíches, que já havia preparado mais cedo.

- Isto não é o mesmo que concordamos ontem à noite -
protestou Alfonso, largando o papel no balcão.

- Várias coisas não são mais as que concordamos ontem à
noite. - Fingindo não notar como o semblante dele ficou carregado com suas
palavras, Anahí adiantou-se até a porta dos fundos e chamou Carson e os filhos
para o almoço.

Só depois que refeição terminara é que voltou a se
dirigir a Alfonso diretamente:

- Já que temos que ir até Pendleton, pensei em aproveitar
para fazer as compras de supermercado. Tudo bem para você?

Ele lançou-lhe um olhar demorado e enigmático, depois
empurrou a cadeira para trás e se levantou.

- Você é a chefe - disse, encaminhando-se para a porta. -
Vou pegar a caixa grande de isopor para os itens perecíveis.

Anahí sentiu uma necessidade infantil de mostrar-lhe a
língua, mas conteve-se e tratou dos últimos preparativos para saírem. Guardou a
lista de compras em sua bolsa e ligou para May Forster, a mãe de Carson.
Avisou-a sobre a ida a Pendleton, e a mulher prontamente lhe disse que levasse
todo o tempo necessário e que não se preocupasse. Casamenteira notória, May até
sugeriu que talvez ela e Herrera quisessem esticar o final do dia juntos e se
ofereceu para vir buscar as três crianças mais tarde, de forma que Anahí fosse
apanhar Michael e Emily de volta em sua casa à noite, no horário que desejasse.

Apesar da tensão que ainda pairava entre os dois, Anahí não
pôde evitar e empolgação ante a idéia de passar algumas horas da noite sozinha
com Alfonso. Embora se sentisse tola por estar reagindo como se fosse alguma
adolescente, acabou aceitando a oferta gentil de May.

Inspecionando seu ténis e jeans desbotado de cenho
franzido, achou que deveria esperar pelo melhor e, portanto, trocá-los. Após se
certificar de que não havia ninguém por perto, entrou em seu antigo quarto e
pegou de seu armário um vestido leve, de tom verde-claro. Quando se trocou,
pensou que uma ponta de ousadia não faria mal e deixou de colocar sutiã. Em
seguida, vasculhou as gavetas da cómoda até encontrar a calcinha cavada e
provocante de renda que Susan lhe dera de brincadeira no último aniversário.
Vestiu-a, calçou um par de sandálias confortáveis, escovou bem os cabelos,
deixando-os soltos, e aplicou um pouco de batom.

Alfonso a esperava na varanda, usando uma camisa branca
que devia ter colocado quando ela estivera ao telefone. Fitou-a de alto a
baixo, com seus intensos olhos verdes, embora não fazendo nenhum comentário
sobre sua aparência.

Fazia um calor opressivo, e o trajeto pela rodovia
interestadual 84 pareceu levar uma eternidade; em vez de conversar, os dois apenas
escutaram rádio. Pela primeira vez, as canções country da preferência de
Alfonso, com sua ênfase aos amores que não davam certo, caíram como uma luva
para Anahí.

Ao chegarem em Pendleton, uma cidade agitada, de cerca de
quinze mil habitantes, ambos ficaram aliviados em poder trocar a cabine
abafadiça da caminhonete pelo ar condicionado da Irrigações Inland, a loja
especializada onde ela havia localizado a nova bomba.

A compra tomou-lhes mais tempo do que o previsto.
Primeiro, tiveram que esperar pelo retorno do vendedor, com quem ela falara ao
telefone, que saíra tarde para o almoço. Depois, quando todos os detalhes da
compra já haviam sido acertados, ainda tiveram que aguardar a confirmação dos
fundos de Alfonso pelo banco de Mission.

Enfim, ao chegaram no estacionamento do supermercado, com
a bomba devidamente acondicionada na traseira da caminhonete, já eram três
horas.

Mas, para desapontamento de Anahí, Alfonso não desceu do
veículo. Explicou-lhe que tinha que cuidar de um assunto e que voltaria para
buscá-la dentro de uma hora.

- Claro, estarei aqui - respondeu ela, abrindo a porta da
caminhonete para sair. Mesmo sabendo que não devia culpá-lo por querer um pouco
de privacidade para variar, não conseguiu ignorar a voz mordaz em sua mente: "Belas
tentativas de romance, Anahí Puente..."

Porém, para sua surpresa, em menos de uma hora, Alfonso
realmente estava de volta.

Quase chegando ao fim de sua lista de compras, Anahí
praguejava baixinho, tentando alcançar um pacote de farinha da prateleira mais
alta.

- Precisa de ajuda? - perguntou ele, às suas costas,
pegando o pacote sem a menor dificuldade.

Presa entre aquele corpo forte e viril e as prateleiras
de produtos, Anahí virou-se, e ficou ainda mais perplexa quando de fato o viu.