Fanfic: Anjo Sedutor (Terminada)

Nem um pouco intimidado, Alfonso sustentou-lhe o olhar
hostil. Irmão saudoso ou não, o fato é que lhe meteria os caros óculos escuros
goela abaixo caso se atrevesse a algum outro comentário maldoso sobre Anahí.

- Diga logo a que veio, Portilla. E depois trate de dar o
fora desta propriedade.

- Nada me deixaria mais feliz, Herrera. Apenas
certifique-se de dizer a Anahí que você acaba de lhe custar uma fortuna... outra
vez.

Ele virou-se para descer os degraus da varanda, mas Alfonso
foi mais rápido e pegou-o pelo colarinho. Respirou fundo, tentando conter a
súbita ansiedade.

- Espere um minuto. Que tal se explicar melhor?

- Quer dizer que não sabe? - Martin exibiu um sorriso
desdenhoso, ajeitando o colarinho amarrotado ao ser solto. - Que... interessante.
Então, deixe-me contar. A primeira vez foi quando ela insistiu tanto em
testemunhar a seu favor. Eu lhe disse que se levasse esse absurdo adiante,
jamais receberia um centavo sequer da herança de meu irmão. Foi uma promessa
que cumpri. Mas agora tive a infelicidade temporária de me designarem um juiz
bem pouco razoável. Ele acha que a justiça será feita se a mesma pessoa que
tiver a guarda de Emily e Michael passar a administrar a herança de Daniel.
Tentei convencer Anahí de que o mais indicado para ficar com as crianças seria
eu, mas até o momento minha cara cunhada resolveu me ignorar. Agora, no entanto...
ao se juntar a você... ela acaba de me dar o motivo perfeito para requerer a
custódia dos meus sobrinhos. Pense bem. Que juiz vai deixar as crianças com uma
mulher que está vivendo com o assassino do pai delas?

Mal acabou de falar, Portilla adiantou-se até o Mercedes.
Já sentado ao volante, lançou um olhar satisfeito a Alfonso.

- Diga a Anahí que aguarde pelo contato dos meus
advogados.

O sol começava a se pôr quando Anahí retornou para casa,
depois de um bate-papo com Susan Dixon. Embora não tivessem abordado o assunto
abertamente, a irreverente amiga fizera questão de deixar claro que, por nada
no mundo, deixasse escapar alguém como Alfonso Herrera.

Ela sacudiu a cabeça e esboçou um sorriso recordando-se
dos risinhos insinuantes da outra e só então se deu conta de como a casa estava
silenciosa. Deixando a bolsa no balcão da cozinha, adiantou-se pelo corredor,
procurando não fazer barulho, caso Alfonso tivesse adormecido.

- Herrera? - chamou, baixinho, espiando para dentro de
seu quarto, porém não o achou ali.

Um tanto preocupada agora, foi até a sala, pensando que
talvez o visse adormecido no sofá. Encontrou-o, porém, parado junto à janela,
em meio a penumbra. Ao notar-lhe a postura tensa, sentiu uma ponta de
inquietação.

- Aconteceu alguma coisa?

Ele virou-se abruptamente e indicou-lhe que se sentasse.
Só depois que Anahí ocupou a poltrona, começou a falar, parecendo um tanto
ansioso:

- Você... se importa comigo?

- Sim - respondeu ela, com franqueza, percebendo que a
resposta devia significar muito para Alfonso.

- Então, case-se comigo.

Espantada, Anahí achou que não escutara direito.

- O quê?

- Case-se comigo.

O silêncio arrastou-se entre ambos. Ela imaginou-se compartilhando
o resto de sua vida com aquele homem tão especial e teve a certeza de que tê-lo
a seu lado era o que mais desejava no mundo.

Ainda assim, soube que havia algo de muito errado ali.

- Por que não me conta o que aconteceu?

- Apenas me dê uma resposta.

- Por favor, Herrera.

Ele soltou um suspiro, não se preocupando em ocultar a
exasperação.

- Um visitante apareceu aqui enquanto você esteve fora.

- Um visitante?

- Seu cunhado.

- Martin? - indagou Anahí, perplexa. - Aqui? E o que
queria?

- Deixou um recado para você. - Pela primeira vez, a
aparente indiferença de Alfonso dissipou-se. Seu semblante contraiu-se, dando
um indício das emoções que lutava tanto para negar. - Ele me pediu para lhe
dizer que eu custei uma fortuna a você... outra vez.

- Não entendi.

- Nem eu. Mas Portilla prontificou-se a explicar. - A voz
de Alfonso soou tensa. - Você devia ter me contado que testemunhar a meu favor
foi a decisão que a fez perder a herança do seu marido.

- Por quê? - Anahí respirou fundo, tentando acalmar o
turbilhão interior. Levantou-se, inquieta, e deteve-se junto à lareira. - Para
que isso teria servido? Ficou óbvio desde o primeiro dia que o vi na delegacia
de Mission que a culpa por ter atirado em Daniel estava acabando com você. Não
quis que se sentisse ainda mais culpado. Especialmente por causa de um dinheiro
do qual nunca fiz a menor questão e que jamais foi meu. Ou por causa de uma
decisão que, se analisada a fundo, não foi por você. Mas sim por meus
princípios, meus valores, meu senso de justiça. Minha escolha de como eu queria
conduzir a vida. Garanto que a decisão que tomei não teve nada a ver com você
na época. E nem tem nada a ver com a gente agora.

Ele permaneceu em silêncio, refletindo sobre as palavras.
Ficou evidente por sua expressão que não concordava, mas acabou dizendo de
forma abrupta:

- Está bem. Acho que entendo seu ponto de vista. Mas
também acho que não poderá ignorar o resto do recado de Portilla tão
facilmente. Porque, enquanto você não faz a menor questão de dinheiro, seu
cunhado faz, e muita. A fim de ficar com a herança do irmão, ele precisa da
custódia de Michael e Emily. E minha presença aqui lhe dá os meios de
requerê-la.