Fanfic: Anjo Sedutor (Terminada)

- Oh, isso é ridículo! Esta não é a era do puritanismo. Ninguém vai me tirar os filhos só porque estou tendo um romance. Muito menos para entregá-los a alguém como Martin...
- Céus, Anahí, não seja tão ingênua! Portilla é rico e poderoso, está acostumado a obter tudo o que quer. Não importando como você se sente a respeito, para o resto do mundo ainda sou o sujeito que matou o pai de seus filhos. Não quero correr o risco de ver você perdê-los por minha causa, ou por qualquer outro motivo. Nem quero que os dois a percam. Sei muito bem o que é viver sem uma mãe. Sei o que é crescer sob a tirania de um homem que não sente o menor afeto. E por nada neste mundo vou permitir que isso aconteça com Emily e Michael! Case-se comigo.
- Alfonso...
- Seria a solução ideal, que tornaria infundadas as objeções de Portilla contra minha presença aqui. Casada comigo você não apenas estaria protegida das acusações de imoralidade que seu cunhado ameaça lhe lançar, como também daria as crianças a estabilidade financeira que não têm agora. Posso muito bem cuidar de vocês. Tenho dinheiro o bastante para aqueles investimentos agrícolas que você gostaria de fazer nestas terras... ou para outra coisa qualquer da sua preferência. Não terá mais que se matar de trabalhar na fazenda sozinha.
Anahí dirigiu-lhe um olhar demorado, depois virou-se. Tinha as mãos trémulas apoiadas na lareira, enquanto tentava controlar a crescente dor que a dominava por dentro.
 "Oh, Alfonso", pensou, angustiada. "Tantos motivos bons e racionais, mas nem uma única palavra de amor..."
Quando julgou já ter controlado sua expressão, tornou a virar-se para encará-lo:
- Isso é... tudo?
- E não é o bastante? Bem, sei que é uma gota no oceano depois de tudo que você fez por mim...
Aquela declaração de obrigação deixou-a ainda mais abalada. Porém, fez um esforço sobre-humano para não deixar transparecer como se sentia ao responder:
- Sinto muito... Fico grata com sua proposta... mas não posso aceitar.
- Droga, Anahí, se você se importasse mesmo comigo como disse...
- E me importo. Mas... não é o suficiente. - "Eu te amo. E você teria que corresponder a esse amor."
Através de sua espantosa habilidade, Alfonso fez com que as emoções se dissipassem por completo de seu semblante, como num passe de mágica. Era como se estivesse desaparecendo em si mesmo.
- Bem - começou, limpando a garganta, a expressão neutra - Acho que já sabia que essa seria sua resposta... mas eu tinha que tentar assim mesmo. - Como um autômato, ele adiantou-se até a porta da frente.
Somente, então, Anahí notou sua velha mochila encostada na parede, junto à saída.
- Alfonso, por favor! Você não precisa ir embora...
- Engano seu. - Ele se deteve para fitá-la. Seu rosto tinha um ar cansado, nos olhos verdes começava a surgir a antiga desolação. - Por minha causa você já perdeu Daniel e sua estabilidade financeira. Eu estrangularia a mim mesmo se a fizesse perder mais alguma coisa.
"Então, por que está partindo meu coração?" As palavras ecoaram em sua mente, mas ela não as proferiu. Em vez disso, respondeu sua própria pergunta. A resposta era a mesma que a alertava a cada vez que se sentia tentada a revelar o seu amor, compreendeu de repente.
Sabia que jamais seria correspondida enquanto Alfonso não conseguisse se perdoar pelo que acontecera no passado. E ficava evidente que ainda não conseguira.
- Diga adeus a Michael e Emily por mim - pediu ele, colocando as alças da mochila no ombro. - E você... - sua voz falhou por um momento - ... cuide-se bem.
A porta se fechou atrás de Alfonso com um ruído que parecia carregado de finalismo.
Com um soluço abafado, Anahí deslizou até o chão, sentando-se de encontro à parede. Seu olhar vidrado continha uma dor dilacerante demais para que permitisse lágrimas.

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O Robô do prazer