Fanfic: Anjo Sedutor (Terminada)

- Eu deveria ter trancado você e jogado a chave fora -
bradou Eli Forster, enquanto adentrava pelo bar do Morgan e avistava Alfonso.

Era pouco mais de meio-dia de domingo. Embora uma canção country ecoasse pelo estabelecimento, àquela hora ainda não fora oficialmente
aberto para o público. O interior escuro do bar estava deserto exceto pela
garçonete, Amber Lee, que se achava sentada detrás do balcão, fumando um
cigarro e lendo um jornal. E por Alfonso, sentado a uma mesa de canto, com a
antiga mochila aos seus pés. Esperava por um carona que lhe seria dada pela
mais recente conquista de Amber, um motorista de caminhão que faria uma parada
ali em sua viagem de Portland até Omaha.

Ele levantou os olhos, enquanto o delegado avançava em
sua direção com a elegância de um búfalo enfurecido. Sem esperar por um
convite, o velho homem sentou-se a sua frente e o encarou com um ar fuzilante.

Alfonso sustentou-lhe o olhar, impassível, por sobre a
xícara de café que levava aos lábios.

- Forster. Achei que você estivesse fora da cidade.

- Cheguei de viagem ontem. O que, aliás, foi ótimo já que
ao que parece você está precisando ouvir umas coisas.

- Está enganado. Não imagino o que teríamos para falar.
Sem mencionar que não estou a fim de conversa.

E era a pura verdade, pensou Alfonso, com um suspiro
exasperado. Já não bastava a angústia que o estava consumindo por dentro? Ainda
teria que aturar o evidente mal-humor do furioso delegado?

Além da dor que o invadia, também estava exausto. Depois
que partira da casa de Anahí na noite anterior, fizera uma longa caminhada até
Mission, chegando quase às onze e meia. Seus músculos extenuados pelo
trabalhado árduo da última semana protestaram quando o único lugar que
encontrara aberto fora o bar do Morgan.

Não sabia o que teria feito, se não fosse por Amber Lee,
que se condoera ao ver seu rosto esgotado... e a desolação em seus olhos verdes...
e o deixara dormir num dos três quartos do andar de cima, que Bob Morgan
costumava alugar de vez em quando para alguém que se embriagasse demais.

Sua exaustão fora tamanha que caíra em sono profundo tão
logo encostara a cabeça no travesseiro. Despertara ao amanhecer e seu primeiro
pensamento fora que, na fazenda, Anahí estaria chamando os cachorros e
preparando o café.

Anahí, que preferiria se arriscar a perder os filhos do
que se casar com ele.

Um súbito desespero o dominara, maior até do que o
remorso dilacerante que sentia por ter causado a morte de Daniel Portilla.

Seu único refúgio naquele triste amanhecer de domingo
fora o orgulho ferido. Sabia que se tratava de uma fachada temporária, mas era
só o que lhe restava.

Então, ela não o queria... Tudo bem. Trataria de sobreviver
com isso. E ao mesmo tempo se empenharia em erguer barreiras tão intransponíveis
ao redor do coração que nem mesmo uma morena esguia de grandes olhos castanhos
e voz aveludada conseguiria ultrapassá-las. ^,v

Mas agora tudo o que gostaria era de ficar sozinho.

Eli esmurrou a mesa, deixando claro que isso não iria
acontecer.

- Não dou a mínima para o que você está a fim, rapaz. Vim
para dizer o que penso e pode ter certeza de que vai me ouvir.

Alfonso dirigiu-lhe um olhar glacial, mas acabou dando de
ombros.

- Já que insiste...

- Para que a gente possa se entender, vou ter que lhe dar
um panorama geral - declarou o velho homem, um pouco menos furioso. - Estive na
igreja esta manhã e, na saída, conversei com várias pessoas, incluindo meu
filho e minha nora, May. Para ficar a par dos acontecimentos daqui enquanto
estive fora. Até cheguei a ver o sobrinho da minha esposa, Leon. Creio que
vocês dois já se conheceram. - Eli fez uma pausa significativa. - Ele trabalha
na recepção daquele motel em Pendleton.

- Alguém devia dizer a Leon para manter a boca fechada -
revidou Alfonso, com súbita raiva.

- Também falei com meu neto Carson, que é a única razão
por eu estar me dando ao trabalho de conversar com você em vez de usá-lo logo
como alvo para prática de tiro. Ele gosta de você, Herrera.

- Carson é um bom menino.

- Anahí também é uma ótima pessoa - prosseguiu o delegado
rispidamente. - E foi a única que não vi na igreja. Fiquei preocupado achando
que Michael ou Emily deviam ter adoecido, mas, então, vi os dois com Susan
Dixon. Fiquei sabendo que passaram a noite na casa dela. - Os olhos de Eli
faiscavam enquanto falava. - Susan parecia achar que estava dando o maior apoio
a um certo romance, mas eu já tinha conversado com Morgan, que mencionara que
você estava aqui no bar. Assim, eu soube que havia algo errado e decidi ir até
a fazenda para verificar. E aqui estou para dizer que não gostei nada do que
vi. - A voz do velho homem continha uma combinação de raiva, acusação e alarme.
- Você partiu o coração daquela garota ao ir embora, ouviu bem?

Alfonso apertou a xícara de café com tanta força que foi
um acaso não a ter trincado. A simples idéia de que Anahí estivesse sofrendo
era pura agonia.