Fanfic: Anjo Sedutor (Terminada)

Para desapontamento geral, Alfonso continuou impassível,
sua expressão ainda mais reservada do que antes. Parecendo sequer piscar,
permaneceu imóvel, o olhar fixo em Anahí Puente Portilla.

O juiz bateu seu martelo. O tribunal mergulhou no
silêncio.

Johnson adiantou-se até a mesa que continha as provas do
julgamento e pegou uma pistola cinza automática, lacrada num saco plástico.

- É esta a arma que encontrou?

- Sim.

- Que fique registrado que a testemunha acaba de
identificar a prova número vinte e três... um brinquedo de plástico cinza,
fabricado pela Playco. Gostaria de dizer ao tribunal, onde encontrou isto, por
favor, sra. Portilla?

- Achei-a junto com os brinquedos que Michael usa no
banho. Mas não pertence a meu filho, e tenho certeza que não estava com ele
quando lhe dei banho naquela noite. Essa arma só podia ser do Nicky... o
garotinho que esteve brincando com Michael naquela tarde, em nosso apartamento.

- E por que julga essa descoberta importante?

- Porque creio que prova a afirmação do sr. Herrera de
que meu marido tinha uma arma quando saiu para o corredor... essa arma de
brinquedo. Daniel deve tê-la achado enquanto arrumava o quarto de Michael e...

- Objeção! - O promotor se levantara. - Isso é pura
especulação por parte da testemunha.

- Mantida - declarou o juiz calmamente. - Sra. Portilla,
limite-se, por favor, a responder com o que sabe, não com o que pensa ter
acontecido. Entendido?

Num tom grave, Anahí assentiu. Johnson retomou as
perguntas.

- Afirmou há pouco que o corredor de seu apartamento
estava às escuras, correto?

- Sim.

- E que seu marido ergueu a mão direita enquanto se
virava para confrontar o agente Herrera.

- Sim.

- E que este brinquedo de aparência bem real... - ele
ergueu a pistola, demonstrando-a na palma de sua mão - ... não estava no banheiro
antes da entrada dos políciais no seu apartamento.

- Correto.

- Mas que em algum momento mais tarde essa arma de
brinquedo surgiu lá.

- Sim.

- Como explica isso?

- Acredito que quando Daniel caiu, a arma foi atirada no
interior do banheiro, onde a recolhi, depois, sem notá-la, juntamente com os
brinquedos de borracha de Michael.

Seguiu-se uma pausa prolongada, enquanto Johnson deixava
que a importância das palavras dela fosse assimilada pelo tribunal. E, então,
gentilmente, perguntou-lhe:

- Amava o seu marido, sra. Portilla?

Anahí voltou a acariciar seu ventre com suavidade.

- Sim, muito. Daniel foi o melhor amigo que já tive.

- Havia conhecido ou tido qualquer contato com o agente Herrera
antes da tragédia ocorrida na noite de 9 de outubro?

- Não.

- E manteve algum contato com o agente Herrera desde
então?

- Não.

- Então, poderia me dizer... e a este tribunal... por que
está agindo assim? Por que me telefonou esta manhã e insistiu em oferecer esse
testemunho que bem possivelmente poderá conceder a absolvição ao homem que
matou seu marido?

Anahí manteve a cabeça erguida ao responder. Seu tom era
solene, convicto:

- Porque acredito na verdade e na justiça, sr. Johnson.
Por mais que quisesse culpar o sr. Herrera pela morte de Daniel, eu não
conseguiria. Lembro-me de meu marido erguendo a mão. Com a pouquíssima
claridade, aquele gesto teria parecido ameaçador ao sr. Herrera, dando-lhe
razão para acreditar que de fato corria perigo e que estava agindo em defesa
própria. E creio que é errado punir alguém por cometer um engano dessa natureza...
por tentar se proteger em tais circunstâncias.

- Compreendo - afirmou Johnson gravemente. - Obrigado,
sra. Portilla. - Ele virou-se para o juiz. - Essas foram minhas últimas
perguntas à testemunha, Meritíssimo.