Fanfic: Anjo Sedutor (Terminada)

Leste do Estado de Oregon

Verão

Dois anos e meio depois

Anahí cerrou os dentes para impedi-los de bater enquanto
sua antiga caminhonete sacolejava pela estrada de terra que conduzia de sua
fazenda.

Não sabia o que era pior. As grossas raízes que tomavam
conta da estrada poeirenta, ou o calor opressivo de julho castigando a velha
caminhonete vermelha. Seu ar condicionado não funcionava desde muito antes de
ter a ter adquirido.

Embora fossem apenas nove horas da manhã de sábado, o dia
já prometia ser tórrido. No fundo, Anahí não se importava tanto assim. Já se
acostumara ao verão quente daquela região árida do Oregon durante os últimos
dois anos. Em seu jeans confortável, blusa salmão sem mangas e par de ténis
leve, em vez das costumeiras botas de trabalho, sentia um quase frescor.

Além do mais, era uma bela manhã. O céu estava límpido,
de um azul intenso e acetinado, enquanto em sua plenitude o sol lançava um
brilho dourado sobre a alfafa que cobria a imensidão dos campos ao redor. A sua
alfafa, pensou Anahí, orgulhosa.

Como de costume, agradeceu aos céus. Sempre, no íppo de
sua lista de agradecimentos, vinham as crianças. Após uma primavera em que
haviam enfrentado uma série de doenças infantis, desde catapora a escarlatina ,
ambos os seus filhos estavam, enfim, saudáveis. Emily, de pouco mais de dois
anos, voltara a fase de mexer em tudo que despertasse sua curiosidade. Michael,
com cinco anos e alguns meses, começava a recuperar o peso que perdera e a
habitual energia.

A hipoteca da propriedade estava paga pelos próximos três
meses, seu jardim florescia magnífico e a horta achava-se pronta para mais uma
das sucessivas colheitas de suculentos vegetais. E pensar em colheita foi o que
a deixou ainda mais exultante. Jack Marshall, um dos criadores de gado e
cavalos das redondezas, telefonara-lhe na noite anterior e lhe fizera uma
proposta de compra para as próximas duas colheitas de sua plantação de feno.

Contente, Anahí começou a cantarolar uma antiga canção
dos Bee Gees. Logo chegou à rodovia que passava em frente a sua propriedade e
acelerou a caminhonete. Depois de sua estrada de terra, o asfalto parecia macio
como seda, e ela relaxou as mãos ao volante, enquanto aumentava a velocidade.
Chegou a seu destino cerca de vinte minutos depois.

Situada no leste do Estado de Oregon, a cidadezinha de
Mission fora fundada em 1889 e agora tinha uma população de quinhentas pessoas.
Servia à comunidade de fazendeiros que a circundava e consistia principalmente
de duas ruas interligadas, nas quais se enfileiravam diversos tipos de
comércio. Havia um pequeno mercado, uma farmácia, um banco, uma espécia de loja
de departamentos, que vendia desde ferramentas a roupas, um consultório médico.
Havia também a biblioteca, uma igreja, dois bares, uma escola e o prédio da
prefeitura e delegacia.

Anahí tinha uma série de paradas a fazer naquele dia. Foi
até a farmácia para comprar seu xampu favorito, de fragrância de morangos, e as
vitaminas que o médico receitara para Emily. Passou pelo mercado e adquiriu
alguns itens que esquecera em sua última ida a cidade de Pendleton, onde fazia
suas compras mensais.

Na loja de rações e artigos para animais comprou um
vermífugo para os gatos que criava no celeiro. Depois, com um prazer que quase
a fazia sentir-se culpada, passou pela biblioteca para devolver alguns livros
e, em especial, retirar uma nova remessa que leria em seus poucos momentos de
lazer.

Finalmente, estacionou atrás do prédio da prefeitura,
onde também ficava a delegacia de uma única cela.

- Eli? Você está aí? - chamou ela, equilibrando sua bolsa
e os dois filões de pão caseiro que segurava, enquanto lutava com a porta
pesada da delegacia.

- Onde mais estaria? -- veio a resposta jovial, enquanto
Eli Forster, o homem robusto e bonachão, na casa dos sessenta, que era o
delegado de Mission, saía detrás da escrivaninha e aproximava-se para ajudá-la.
Segurando a porta com um dos quadris, pegou os filões de pão fresquinhos das
mãos de Anahí e inalou seu aroma com um suspiro de prazer. - Você vai acabar me
estragando desse jeito, menina.

- Isso não é nada, ainda mais considerando toda a sua
ajuda. - Ela crescera em Mission, mas sua família nunca lidara com a vida do
campo; o pai fora professor na escola local antes que se aposentasse e se
mudasse para a Florida com sua mãe. Quando Anahí retornou para casa, depois da
morte de Daniel e comprou a antiga fazenda dos Livingstons, Eli, que era amigo
de seus pais e tivera alguma experiência em agricultura ao longo dos anos, não
hesitara em oferecer-lhe sua ajuda.

- Ora, para que servem os amigos? - declarou ele, bem-humorado,
dispensando os agradecimentos, enquanto retornava para detrás da escrivaninha.
- O que quero saber é o que vamos comemorar com estes dois pães deliciosos.

- Jack Marshall me ligou ontem à noite. Ficou tão
contente com a qualidade da última colheita que já me fez uma proposta para as
próximas duas.

- Uau, são ótimas notícias - comentou o velho delegado,
radiante. Enquanto com quase reverência, começava a desembrulhar um dos pães,
fez um gesto para que Anahí ocupasse a cadeira a frente de sua escrivaninha. -
Percebe que isto significa que tem que começar a pensar a sério em contratar
alguém para ajudá-la, não é mesmo? - perguntou ele, extraindo uma faca da
última gaveta e cortando uma fatia do pão. _r

Já sentada, Anahí sacudiu a cabeça. Abriu sua bolsa e
retirou um pote de plástico que havia trazido com manteiga caseira. Colocou-o
sobre a escrivaninha.

- Não comece, Eli.

- Estou falando sério. Sei que não quer gastar o
dinheiro, que acha que pode dar conta do serviço apenas contratando uma pessoa
para a semana da colheita, mas não gosto da idéia de saber que você está lá
sozinha, filha. Até agora sempre tive tempo de passar pela fazenda de vez em
quando para dar uma espiada em você e nas crianças ou dar uma mão quando
necessário, mas com essa viagem que eu e Martha vamos fazer, você apenas poderá
contar consigo mesma . - Pais de cinco adultos já casados, o delegado e a
esposa iriam partir no dia seguinte para umas férias de dois meses no Alasca, a
fim de visitarem a filha caçula e o neto recém-nascido. - Acidentes acontecem -
acrescentou ele, com ar preocupado.

- Bobagem - disse Anahí, suavemente, aceitando a fatia de
pão que lhe era oferecida, mas sem comê-la. - Darei um jeito. Ambos sabemos que
posso cuidar de mim mesma... e que você se preocupa demais. Bem, agora deixe-me
contar-lhe sobre a proposta de compra do sr. Marshall...

Com um suspiro exasperado, Eli aceitou a mudança de
assunto e ambos conversaram durante a meia hora seguinte, discutindo o preço
que Marshall oferecera, os prováveis lucros, além de outros detalhes, enquanto
o delegado saboreava o restante do pão sozinho.

Enfim, Anahí empurrou a cadeira para trás, começando a

se levantar.

- Bem, é melhor eu ir andando. E quanto a você e Martha?
Já estão com as malas prontas para conhecer o mais novo

netinho?

Forster fez uma careta contrariada.

- Achei que sim, mas, pelo jeito, vamos ter que mudar
nossos planos e adiar a viagem por um ou dois dias.

- Por quê? O que aconteceu?

O velho homem meneou a cabeça em direção ao canto
esquerdo, detrás de Anahí, onde ficava a cela da delegacia.

Tornando a sentar, ela virou-se devagar. Nos dois anos em
que ia de vez em quando à cidade para um bate-papo com Eli, jamais aquela cela
estivera ocupada.

Hoje estava.

Chocada em descobrir que não se encontravam a sós, Anahí
fixou o olhar na figura que dormia inerte num estreito colchonete, a poucos
metros. O homem estava de costas, e tudo o que podia ver eram seus ombros
largos, numa camisa azul desbotada, e suas pernas fortes e compridas num jeans
batido.

tem muito pouco comentários.

comentem mais que eu continuo postando.