Fanfic: Sedução Fatal (Terminada)

- Então, o que achou de minhas novas sobrancelhas?

Anahí parou em frente à sala de recreação do Golden
Acres e ficou olhando para os arcos vermelhos brilhan­tes que foram
cuidadosamente tatuados sobre os olhos de Eula Holly.

Eula estava na casa dos noventa, uma mulher pequena
com cabelos tingidos de vermelho e batom alaranjado fosco. Tempos atrás Eula
fora eleita Miss Outubro no Baile de Outono por cinco vezes consecutivas. Agora
passava seu tempo fazendo tricô e jogando dominó com a irmã gêmea, Beula. As
duas dividiam um quarto, assim como o mesmo tom de batom, e sempre eram as
primei­ras clientes quando Anahí fazia sua aparição semanal no asilo.

- Eu vi em uma revista de moda e mandei fazer on­tem
quando fomos fazer compras e almoçar em Austin. Minhas mãos estavam começando a
tremer tanto quando tentei fazer as sobrancelhas que achei que assim poderia
evitar muitos problemas.

- E contas com médicos - Beula disse. - Eula en­fiou
o lápis no olho duas semanas atrás. E na semana anterior fizera o mesmo na
orelha. Quem sabia que ela estava tão ruim de pontaria?

- Ronald Dupree veio por trás e me quase me matou de
susto - Eula se defendeu.

-  Você está apenas envelhecendo - Beula
disse.

- Estamos todas. Por isto estamos aqui.

Porque eram velhas. E porque a maioria delas fora
es­quecida. Havia poucos idosos que ainda recebiam visitas de filhos e netos.
Mas a maioria estava em Golden Acres por não ter para onde ir, e por não ter
ninguém que se importasse com eles.

Eula e Beula não eram muito mais velhas que tia
Izzie. Na verdade elas até jogavam bingo toda noite de sábado.

E Jolene?

Jolene também iria parar lá. Parecia quase
desalmada às vezes, mas não era. Só era mimada.

- Você pode estar nas últimas, mas eu não -- Eula
prosseguiu, distraindo Anahí de seus pensamentos. - Continuo ágil como sempre.
- Sua mão tremeu e ela a segurou com a outra e pôs no colo. - Continuo mesmo -
ela disse, como se querendo convencer a si mesma mais do que a Anahí. - Então,
o que acha? Achei que ficaram perfeitas.

- Só porque você não consegue enxergar nem cinco
centímetros em frente ao rosto - Eula disse. - Você precisa usar seus óculos.

- Não preciso de óculos. Eles são só para ler.

- O médico disse que você tem de usá-los o tempo
todo.

-  Ele não sabe de nada. Da última vez que
estive no consultório, ele chegou duas horas atrasado. Devia estar correndo
atrás de Deus sabe quem.

-  Foi você quem chegou duas horas antes
porque não conseguia enxergar o maldito relógio.

- Enxergo muito bem.

-  Quando está usando os óculos - Beula
alegou.

- Diga a ela, Anahí! Ela está cega como uma morcega
velha.

Anahí conferiu as sobrancelhas que estavam pelo me­nos
três tons abaixo da cor dos cabelos da mulher. Anahí escolheu bem as palavras.

- Pode ser boa idéia usar mais os óculos. - Quan­do
Eula pareceu se aborrecer, ela acrescentou: - É que você fica muito bem de
óculos. Eles deixam seus olhos maiores e mais brilhantes.

- É mesmo?

- Com certeza. Quanto às sobrancelhas... - Ela ob­servou
os cabelos da mulher por um longo momento.

- Andei pensando e acho que você devia clarear um
pouco os cabelos, quem sabe fazer umas luzes. Se fizer­mos isso, as
sobrancelhas ficarão perfeitas. - Ou pelo menos num tom mais próximo de não
envergonhar Eula.

- Aposto que foi nisso que você pensou ao fazer as
so­brancelhas. Pura intuição.

- É mesmo? Sim, isso mesmo. Foi exatamente o que eu
estava pensando. Viu, Beula? Eu estava certíssima quando escolhi esta cor.

Beula limpou a garganta.

- Tomara que sua intuição funcione para o que real­mente
importa. Você vai jogar esta noite, não vai, Anahí? Eu e as meninas guardamos
um lugar para você.

Anahí apontou a bolsa com a cabeça.

- Estou prontinha.

Passou a próxima hora fazendo luzes em Eula. Depois
disso fez cachos em Beula, permanente nas senhoras Hargrove e Weatherspoon, fez
mais três tinturas e depois cortou e secou os cabelos do senhor Crabtree.

Estar no Golden Acres todos os domingos era como
assistir a uma maratona da CNN. Ouvia falar de todo tipo de notícias. Inclusive
de notícias não veiculadas pela televisão.

Quando ela terminou, o senhor Crabtree sorriu e pe­gou
uma moeda do bolso.

- Muito obrigado, senhorinha. - Deu-lhe um beijo no
rosto. - Você é um amor.

Anahí não conteve o sorriso.

- Não vá gastar em chocolate para torturar seu novo
companheiro - ele acrescentou. - Eu sei que você é viciada em Milky Ways.

- O senhor sabe de Alfonso?

- Meu bem, todo mundo sabe de Alfonso. Você não
acha que passamos os dias falando de tapioca, acha? - Ele piscou o olho e saiu
para pegar chá gelado e biscoitos dietéticos no bar do retiro de idosos.

- Digo que vamos até a máquina automática mais pró­xima
para pegar um doce. - Ela ouviu aquela voz pro­funda e sentiu o toque das mãos
familiares e fortes. A risa­da rouca retumbou em seus ouvidos. - Calma, patroa.

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