Fanfic: Uma Vez Amantes (TERMINADA)

Todo mundo parou o que estava fazendo
e olhou para ela e Alfonso. Os dedos longos do xerife ainda estavam inseridos
sob a borda da blusa, e ele também ficou imóvel. Por um longo instante
permaneceram paralisados.

Uma vermelhidão intensa cobriu o rosto
de Alfonso. Ele soltou a blusa, como se ela estivesse em brasa.

- Acho que não vai sair mais nada -
anunciou Dulce. Ela habilmente mudou de assunto. - Christopher me disse que
encontrou mais ossos hoje. Eles se encaixaram nos outros?

Anahí ficou grata pelo novo tema da
conversa.

- Sim. Estou certa de que logo
encontraremos mais. Depois disso, a conversa voltou a fluir normalmente.

Mais tarde, ela e Alfonso acompanharam
os Uckermans nos brinquedos, enquanto Winona avistou Lily Mae Wheeler e foi
falar com ela. Todos deram uma volta na roda-gigante e depois decidiram
experimentar o carrossel.

Anahí surpreendeu-se com Dulce Uckerman.
Ela provocava impiedosamente o marido.

- Eu queria dar uma volta no
carrossel, mas os cavalinhos provavelmente vão sair correndo quando o virem.

- Prometo não sentar em um deles -
devolveu o detetive. - Embora, se continuar com essas gracinhas, eu posso
acabar sentando em você, antes do final da noite.

Ele lançou-lhe um olhar ameaçador que
em nada a assustou.

Christopher comprou cinco ingressos e
entregou dois a Alfonso. Anahí inspirou fundo, e entrou na fila atrás do outro
casal. Alfonso postou-se atrás dela.

Anahí subiu na plataforma do carrossel
com receio. Jennifer escolheu um cavalinho azul com a crina prateada. Christopher
ajudou Dulce a subir, para que mãe e filha pudessem andar na mesma sela. Ele
postou-se ao lado delas, envolvendo a esposa com os braços. Jennifer ria e
acenava para todo mundo.

- Vamos pegar um barco de cisne -
sugeriu Anahí, depois.

Alfonso assentiu.

Eles entraram no barco e sentaram-se
no banco de madeira. Diante dos dois, duas meninas de cerca de 9 anos gritavam
de prazer ao subirem em dois unicórnios brancos com chifres dourados.

- Lindas criaturas míticas - Alfonso
comentou quando a música começou a ficar mais rápida e o carrossel começou a
girar.

- São mesmo.

Ele a levara a um parque de diversão
no mês de julho, há quase 17 anos, poucas semanas após se conhecerem. Estavam
no carrossel quando ela subitamente sentiu náuseas. Ele a descera do unicórnio
no qual estava montada e fizera sinal para que o brinquedo parasse. Dentro do
carro, quando ela já estava se sentindo melhor, ele a interrogara com
gentileza. Haviam se dado conta de que, provavelmente, Anahí estava grávida.

- Eu deveria ter tomado mais cuidado -
ele se culpara.

Alfonso a acompanhara para dar a
notícia aos pais dela e lhes dizer que iriam se casar imediatamente. Seis
semanas após se conhecerem, estavam casados. O filho dos dois nascera em março.

Por nove anos, o casamento deles fora
uma maravilha.

E, então, num certo outono, um
acidente grotesco lhes destruíra a felicidade. Ainda moraram na mesma casa por
um ano, mas não era mais a mesma coisa. Incapaz de suportar a farsa que suas
vidas haviam se tornado, ela pediu o divórcio. Alfonso saíra de casa enquanto
as providências legais estavam sendo tomadas. Quando saiu o divórcio, ela
deixara a cidade, sem intenção alguma de retornar.

O carrossel completou uma volta e deu
início à outra. Ela pensou na vida, que dava voltas e mais voltas,
aparentemente sem chegar a lugar algum. Sua vida era assim. Diante deles, Anahí
viu Christopher inclinar-se e escutar algo que a filha balbuciara. Ele riu. Dulce
o beijou na face. Com o dedo sob o queixo da esposa, ele lhe virou o rosto e a
beijou nos lábios, antes de acariciar os cabelos de Jennifer.

O carinho entre o outro casal provocou
um aperto no coração de Anahí. Outrora, ela fora feliz assim.

Quando olhou para Alfonso, viu que ele
fitava o céu noturno com uma expressão dura. Sentiu-se tomada de uma fúria
primitiva e dolorosa. Queria que a vida fosse diferente. Queria o que lhe fora
prometido há tantos anos. Queria começar de novo...

Apertando as mãos uma na outra, ela
afastou os pensamentos dessa linha de raciocínio. O que queria não era importante.
Ávida não podia ser revivida só para se adequar ao ideal de felicidade de uma
pessoa.

Ela jamais seguraria outra criança nos
braços. Após o nascimento de Thadd, contraíra uma séria infecção que a deixara
estéril. Ela e Alfonso haviam sido incapazes de conceber outra criança, embora
ambos desejassem um irmãozinho ou irmãzinha para o filho.

Alfonso tocou nas mãos dela. Ele
gentilmente as separou e tomou a direita, acariciando-a entre as suas.

- Não pense nisso - ele murmurou. -
Esqueça, Annie.

Gradualmente, seus sentimentos foram
se apaziguando, e ela ficou apenas com o habitual pesar que agora lhe coloria
os dias. Surpresa, fitou Alfonso. A aspereza havia desaparecido de seus olhos,
e ele olhava para ela com... pena?

Ela puxou a mão para si. Não precisava
da pena de ninguém. O que passou, passou. As pessoas precisavam prosseguir.
Sabia disso. Ela estava dando continuidade à própria vida.

Estava mesmo?

Estava.

- Estou bem - disse, sorrindo para
reforçar suas palavras.