Fanfic: Uma Vez Amantes (TERMINADA)

Quando o momento de dor passou, ela se
apoiou nele, como se estivesse exausta de tanto chorar em silêncio. Por algum tempo,
tomada de uma estranha sensação de paz, descansou nos braços de Alfonso.

- Sinto a falta dele - repetiu
baixinho. Parecia uma despedida.

- Eu sei.

Ela se recostou nos braços dele e o
fitou com os olhos úmidos. Alfonso ficou imóvel ao ver os dedos trêmulos se
aproximando do seu rosto.

Com o mais gentil dos toques, enxugou
o resto das lágrimas de Alfonso.

- Você também sente saudades dele -
disse ela, esfregando a umidade entre os dedos.

Ele pigarreou.

- Sinto.

- Às vezes, tinha minhas dúvidas.

Atordoado demais para falar, ele a
soltou e recuou alguns passos.

- Você nunca... - ela ergueu as mãos
em um gesto inútil. - Sempre em silêncio, tão controlado.

Um controle que ele perdeu quando ela
cobriu o próprio rosto e chorou.

Anahí ajoelhou-se e arrancou algumas
ervas daninhas da grama. Quando ela passou os dedos sobre o gramado, Alfonso se
recordou de como ela costumava passar os dedos pelo cabelo de Thadd, para
ajeitá-los.

Ela amara o filho... e ele também.

Tentou encontrar as palavras certas
para dizer a ela como se sentia. Era difícil expressar todo o sofrimento em voz
alta.

- Você não acreditou que eu o amava -
disse, por fim, lembrando-se daquele último ano juntos, e das palavras
perniciosas que foram ditas.

- O que quer dizer?

- Parecia pensar que apenas a mãe
podia sofrer, que apenas a mãe podia sentir falta do filho, até chegar ao ponto
em que cada dia exigia um esforço maior para seguir vivendo. - Ele se
interrompeu e inspirou fundo. - Um pai não era capaz de sentir tanto a falta do
filho, de sofrer tanto quanto a mãe. Não foi isso que pensou?

- Eu nunca... Alfonso, jamais pensei
isso.

- Você nunca me perdoou. Não que eu
possa culpá-la. Eu jamais me perdoei.

Erguendo-se, Anahí segurou seu rosto
entre as mãos, forçando-o a olhar para ela.

- Eu jamais o culpei. - Ela disse cada
palavra com firmeza. - Jamais.

- Fui eu quem fez pouco caso dos seus
temores. Fui eu quem o levou para caçar e para conhecer a mata.

Por uma eternidade, Anahí o fitou nos
olhos, expondo sua alma para ele. E Alfonso pôde enxergar a verdade. Ou talvez
precisasse tanto do perdão dela que foi isso que enxergou.

- Jamais - Anahí repetiu.

Precisava escutá-la dizendo isso.
Precisava do seu perdão.

O pensamento o pegou de surpresa, e Alfonso
preferiu ignorá-lo. Construíra uma vida suportável para si mesmo. Não precisava
de mais nada. Era Anahí quem precisava de consolo, não ele. Talvez, agora que
encarara este momento, ela poderia dar prosseguimento à sua vida e encontrar a
felicidade.

Por um instante, uma chama de
esperança brotou no seu íntimo. Mas ele logo tratou de apagá-la. Ele não.
Queria a felicidade para Anahí, não para si mesmo. Sua vida estava muito bem do
jeito que estava. Não era excitante... Mas era segura.

E voltaria a ser assim, quando ela
partisse.

Alfonso virou a cabeça e Anahí o
soltou. Ele fitou as montanhas até que a umidade houvesse desaparecido de seus
olhos.

- Acho melhor eu ir andando. Precisava
vir até aqui. - Ela fez uma pausa. - Eu me pergunto se nosso casamento teria
sobrevivido, anos atrás, se na época tivéssemos chorado um nos braços do outro.

Deixando-o sozinho com seus
pensamentos, Anahí afastou-se pela trilha. Ele a observou e se deu conta de que
não podia deixá-la ir embora, ainda não. Havia algo mais que precisava dizer.

Ele a alcançou na esquina da rua.

- Já está quase na hora do almoço -
disse. - Conheço um lugar que serve o melhor camarão frito do estado. Está
interessada?

Anahí levou uma das mãos ao rosto,
como que para verificar o estrago. Seus olhos estavam meio injetados e o nariz
rosado, mas ela continuava linda. Anahí olhou para as próprias roupas. Alfonso
pôde pressentir a recusa antes de ela sequer a pronunciar.

- Você está ótima - exclamou.

- Se é o que acha - disse ela,
hesitante.

- Se quiser, podemos dar um pulo em
casa para você passar uma água no rosto.

- Na sua casa?

A sugestão obviamente a assustava.

- Quis dizer no
chalé.

- Ah.

Ela assentiu.

Subiram na caminhonete dele e seguiram
para o chalé. Ao chegarem, ele ficou aguardando do lado de fora, enquanto ela
entrava. Cinco minutos depois, Anahí estava de volta. Alfonso sempre gostara
dessa sua qualidade. Jamais deixava um homem esperando-a por horas a fio,
enquanto se embonecava diante do espelho.

Seguindo pela auto-estrada, com uma
música suave tocando no rádio, ele repassou na cabeça o que queria dizer para
ela, mas só conseguiu dizer alguma coisa quando já estavam passando pelas
montanhas.

- Teve uma vez que você quis falar
comigo e eu fui embora. Há muito tempo que queria lhe pedir desculpas por isso.
- Ele engoliu em seco. - É só que... Não conseguia falar sobre Thadd na época.

Ela demorou um bom tempo para
responder.

- Eu entendo - disse, por fim.

Outro peso parecia ter sido retirado
dos ombros dele. Curiosamente, Alfonso não se dera conta de que sua consciência
estava tão pesada. Deixou escapar um suspiro de alívio.

- Sempre soube que você amava Thadd - Anahí
prosseguiu. - Você deixou isso bem claro centenas de vezes. Sabia dos seus
sentimentos. Porém, jamais os compartilhava comigo. Eu precisava... Bem, isso
não importa agora. Simplesmente não estávamos no mesmo lugar na mesma hora, não
é?

Ele subitamente se viu desejando poder
voltar para aquele dia na floresta, e começar suas vidas novamente, desde
aquele primeiro encontro...