Fanfic: Uma Vez Amantes (TERMINADA)

Anahí examinou a encosta do local onde
encontrara os novos ossos na semana anterior. Se algum osso havia sido
enterrado mais acima e fora recentemente desenterrado e arrastado até ali por
algum animal, por que ela não conseguia achar sinais do ocorrido?

Por que levar os ossos para outro
lugar após desenterrá-los?

A não ser que um animal de grande
porte tenha perambulado nas redondezas, e outro menor houvesse decidido se
esconder com o seu prêmio.

Ela endireitou as costas cansadas.
Passara a maior parte da manhã agachada, vasculhando o terreno atrás de pistas.
Ossos simplesmente não apareciam do nada, sem o restante do esqueleto. Não sem
um motivo.

Ela decidiu investigar colina acima.

Meia hora mais tarde, encontrou uma
enorme escarpa. Dali podia ver boa parte dos arredores - a reserva ao norte, o
rancho dos Kincaid ao sul e a rodovia que levava de volta à cidade.

O ar parecia mais fresco ali em cima.
Ela decidiu que era um bom lugar para comer o seu almoço.

Retirou da bolsa uma barra de cereais
e uma banana. Enquanto comia, pensou no almoço com Alfonso, no domingo. Três dias
atrás. Não o vira na segunda, quando ela e Winona assistiram à queima de fogos
do Quatro de Julho na feira, mas o encontrara na delegacia no dia anterior e
naquela mesma manhã.

Algo mudara entre os dois. As lágrimas
derramadas haviam servido para deixar as coisas mais claras entre eles.
Questões antigas haviam sido respondidas, ou pelo menos esquecidas. Quando ele
a deixou no chalé, no final da tarde, estavam quase relaxados um na presença do
outro.

Exceto por aquele desejo ardente que
se recusava a desaparecer, por mais que ambos se esforçassem para ignorá-lo.

Ela suspirou. Isso não havia mudado,
mas, pelo menos, ele fora capaz de brincar a esse respeito quando um casal
colocou uma moeda na antiga vitrola automática e começou a dançar.

- Se nós dançássemos essa música, eu
teria de me prender por atentado ao pudor - ele murmurou ao escutar a música
tema de um filme que haviam visto juntos.

- A vida é assim mesmo - ela provocou,
rindo. Alfonso também rira.

No chalé, ela não o convidara para
entrar. Ele simplesmente a acompanhara até a porta, acenara com a cabeça e fora
embora.

Mas não antes que seus olhares
tivessem se cruzado, deixando às claras o desejo mútuo. Se ele tivesse ficado,
acabariam fazendo amor. Seria inevitável, assim como a oscilação das marés. As
forças da natureza não podem ser interrompidas pelos esforços de meros seres
humanos.

O pior era que ela não estava certa se
queria impedir alguma aproximação.

Anahí suspirou novamente, comeu a
banana e bebeu uma pequena lata de suco. Depositou os restos e as embalagens em
uma sacola plástica que enfiou na bolsa, e em seguida, levantou-se para voltar
ao trabalho.

Desceu lentamente, examinando cada
centímetro do caminho, até chegar às árvores ao pé da escarpa, onde dera início
à subida. Percebeu um acúmulo de poeira e folhas que pareciam ter sido
manuseados recentemente. Também encontrou sinais de erosão.

Cutucou o monte de folhas com um
graveto. Para sua surpresa, o graveto afundou um bocado.

Tirou o blusão azul e a bolsa dos
ombros, colocou-os de lado e se preparou para o verdadeiro início do seu
trabalho. Pressentia que estava prestes a fazer uma grande descoberta.

Utilizando a pá de jardinagem e a
picareta para pedras, separou cuidadosamente os fragmentos. Às vezes era
difícil não se apressar, mas ela não queria danificar nada que pudesse estar
ali.

Por fim, encontrou um osso.

O fêmur, o osso comprido da coxa. Se
ao menos conseguisse encontrar o osso pélvico, saberia se estava lidando com um
homem ou com uma mulher, e poderia calcular sua idade aproximada.

Ela examinou o fêmur antes de
colocá-lo ao lado da blusa e da bolsa. Pela grossura e comprimento, estimava
que ele pertencia a uma pessoa de 1,78 a 1,83m de altura. Como suspeitara pela
grossura do pulso, o esqueleto devia ser de um homem.

Os testes de DNA poderiam confirmar
sua suposição, assim como o osso pélvico. Ela se pôs a trabalhar, removendo a
terra e colocando-a de lado, certificando-se de que não estava deixando escapar
nada. Uma hora se passou.

Enxugou o suor da testa e fez uma
pausa. Quando estava descansando, escutou alguém chamando lá de baixo.

- Aqui em cima - gritou.