— É por isso que eu não conto às pessoas. — digo, balançando os
braços. — Eu não quero que a porra da sua pena, maldição.
Me viro e corro para a porta. — Não me sigam. — eu grito,
magoada e quebrada.
joelhos. Demais. É muito. Eu me levanto rapidamente e tropeço para
frente. Eu começo a correr; eu corro para tão longe e tão rápido que,
quando eu olho para trás, eu não consigo nem ver a casa mais. Acho
uma árvore velha, caída e desabo ofegante. Lágrimas rolam pelo meu
rosto. Maldição, quando isso vai ficar mais fácil?
Tem que ficar... certo?
Minha cabeça está abaixada, então eu não o vejo chegar. Eu
chocada. Não é Carlos nem mesmo Poncho... É Brody. Eu pisco algumas
vezes, bastante chocada. Ele é a última pessoa que eu esperava
encontrar. Eu nem sei por que ele está aqui. Ele mal fala, mal
demonstra emoção e ainda aqui está ele.
Viro-me para ele, piscando meus olhos secos. Eu chorei tanto que
não sobrou nada.
Ele balança a cabeça e coloca a mão no bolso de sua jaqueta. Ele
pega um frasco e o abre. Ele toma um longo gole, e depois o passa para
mim. Eu faço o mesmo, engolindo o líquido em chamas.
Então ele me conta sua história.
— Eu namorava uma garota quando eu tinha dezoito anos. Nós
ficamos juntos por dois anos. Eu a amava, mas ela teve uma vida dura.
dois anos antes. Ela se fazia de forte, mas ela era uma garota que
precisava de ajuda. Eu fiquei ao lado dela porque eu me importava.
Quando fiz dezoito anos, as coisas começaram a desandar. Ela ficou
distante e brigava comigo mais do que me amava.
Ele para e toma mais um gole. Eu faço o mesmo.
— Eu tinha dezoito anos. — murmura. — Eu não tinha a
maturidade para lidar com isso. Eu era jovem; eu queria aproveitar a
minha vida. Ela não me deixou entrar. Eu estive junto a ela durante
dois longos anos, mas ela não me deixou entrar. Ela estava afundando.
Tentei ajuda-la, eu fui à terapia com ela, eu perdi todos os meus amigos
para ficar ao seu lado; eu fiz tudo o que pude para melhorar as coisas
para ela.
Tomo mais um gole, porque eu tenho a impressão de que esta
história vai ser horrível.
— Ela se afastou e eu não conseguia passar pela barreira que ela
impôs. Ela ia à várias festas, então passei mias tempo levando-a para
casa e vendo-a vomitar do que aproveitando sua companhia. Ela se
recusou a me deixar entrar e, eventualmente, eu não aguentei mais. Eu
terminei com ela. As coisas ficaram difíceis depois disso; ela não
conseguiu lidar com a situação. Eu ainda a segui, tentei ajudá-la,
porque eu me sentia culpado.
Deus. Não era culpa dele.
— Mas eu não queria passar o resto da minha vida fazendo isso.
Não foi divertido. Eu era jovem e não era como eu queria que as coisas
terminassem. Eu disse ao pai dela que ela precisava de ajuda e ele
jurou que faria isso por ela, mas ele me pediu para me afastar. Quanto
mais eu ficasse por perto, mais ela iria se prender. Eu concordei e me
afastei. Uma noite, cerca de um mês depois, ela me ligou.
Isso está prestes a ficar ruim.
— Ela disse que ia se matar. Ela já tinha dito isso centenas de
vezes antes, então dá para entender porque eu não acreditei. Não era
como se fosse a primeira vez. Eu disse que ela tinha que parar, que
tínhamos terminado e que ela precisava de ajuda. Então eu desliguei e
liguei para o pai dela. Ele estava fora da cidade, mas ele disse que iria
cuidar dela. Naquela noite, eu me senti desconfortável... Ela me disse
que ela iria se matar tantas vezes antes, mas desta vez foi diferente.
Meu coração torce e ambos bebemos mais um pouco de álcool.
— Eu decidi ir ver como ela estava. Quando cheguei à casa dela,
estava escuro. Seu pai não estava em casa, então eu entrei. Eu fui para o quarto dela, mas ela não estava em sua cama. Eu vi que a luz do
banheiro estava acessa, então eu fui para lá.
Ele para de falar e olha para longe. Meu coração está em pedaços.
— Havia muito sangue. Eu nem sabia que havia muito sangue no
corpo humano. — ele suspira e eu aperto sua mão. — Eu sabia que era
ela, mesmo que não conseguisse ver seu rosto. Eu não conseguia,
porque ela... Ela tinha explodido a própria cabeça.
O vômito sobe na minha garganta e eu me esforço para empurrá-
lo de volta para baixo. Dor corre por mim, porque eu sei que, deus, eu
sei como algo assim pode ser, e como isso fica na sua mente e nunca,
nunca sai.
— Eu a vejo sempre que fecho os olhos. Eu vejo seu rosto cada
vez que eu tento me divertir. Eu a deixei desabar. Eu não lutei por ela.
As coisas ficaram difíceis e eu fugi.
— Você tinha dezoito anos, — eu digo baixinho. — Querido, você
não pode se culpar por isso.
Ele se vira para mim e seus olhos estão vidrados. — Eu a amava,
Anahi. Porra, eu a amava. Eu pensei que era muito difícil, mas quando a
vi assim... Isso me destruiu. Eu não a protegi quando ela precisava de
mim.
Eu engulo minhas lágrimas. Nada que eu possa dizer que vai tirar
a sua culpa. Ele está sofrendo; ele está quebrado e ele tem todo o direito
de estar.
— Eu não te contei isso porque quero sua compaixão. — ele diz
com a voz rouca. — Eu te contei porque eu entendo. Eu entendo os
pesadelos e a necessidade de que as pessoas não tenham pena. Meu pai
não sabe o que aconteceu. Ele ainda hoje pensa que eu a deixei e que
ela ainda está viva em algum lugar. Meus irmãos e mãe acha que ela
estava em um acidente e faleceu. Eu os afastei porque não quero pena.
Então, eu entendo.
Lágrimas aparecem nos meus olhos e não consigo contê-las. Ele
aperta minha mão e eu aperto de volta. — Minha irmã era minha
melhor amiga, sabe? Eu a amava muito. Éramos tão próximas. Eu não
me lembro muito sobre daquela noite, mas eu me lembro de acordar e
me virar para olhá-la. Mesmo com pouca idade, eu sabia que a cabeça
dela não devia estar naquele ângulo. Seus olhos estavam arregalados e ela estava olhando para mim... Sem vida. Eu nunca deixo de ver seu
rosto. Toda vez que eu fecho meus olhos ela está lá.
Brody não diz nada, mas ele entende. Eu sei que ele entende.
— Ei, Brody?
— Sim?
— Não foi culpa sua.
Ele se vira para mim. — Então de quem foi?
— As pessoas ficam doentes, e não pensam do mesmo jeito que
nós. Ela estava sofrendo e, obviamente, não aguentava mais. Isso não é
culpa sua.
— Se eu não tivesse terminado com ela, isso não teria acontecido.
Eu aperto a mão novamente. — Nós dois sabemos que isso não é
verdade. Eventualmente, alguma coisa teria acontecido. Se as coisas
estivessem assim tão mal antes que de você ter terminado, então ela já
estava em seu próprio inferno pessoal.
Ele não diz nada mais. Ele apenas solta a minha mão e tira outra
garrafa. A primeira já terminou.
— Vamos caminhar e beber. Isso ajuda.
Eu acho que isso significa que nossa conversa acabou.
Eu estou bem com isso, porque o que aconteceu me fez sentir
ligada a alguém de uma forma que eu não sentia desde a minha irmã e
meu pai. Não é uma conexão romântica — é uma compreensão, uma
conexão por causa de uma mágoa semelhante.
Talvez esses homens estarem na minha vida não seja algo tão
ruim assim.