Fanfic: A colecionadora de cicatrizes | Tema: Once upon a time
"Vocês não são o que eu pedi
São frouxos e sem jeito algum"
-Não vou desistir de ninguém, Mulan.
❤
-Tudo bem Regina. Eu vou deixar passar dessa vez, mas não pense que será sempre. E só farei isso por ter se esforçado tanto em recuperar a mercadoria. – Killian respondeu Regina.
A morena estava toda enrolada tentando explicar que não poderia vir no dia seguinte. O que, claramente, era uma péssima notícia para mim, pois teria que permanecer naquela cabine com a companhia de Killian.
-Certo, senhor. Muito obrigada. –Agradeceu a mulher ao se virar e sair.
Killian então voltou a sentar-se e focar nas suas rotas de navegação, como antes de Regina entrar.
E lá estava eu novamente, deitada olhando para as teias de aranha do teto, completamente entediada. Claro que, de longe, isso não era completamente ruim para mim.
Tédio era algo que eu raramente tinha, costumava estar ocupada demais sendo alguém que jamais iria ser.
Com algum esforço me virei para a direita, vendo o capitão fingindo estar concentrado em seu trabalho.
Eu sabia que ele estava fingindo, estava óbvio para mim. Talvez por ter adquirido minha ótima habilidade em atuação, eu sempre conseguia perceber quando alguém estava fingindo, ou mentindo.
Regina era outra. Aquela desculpa tinha sido ridícula. Mas por que será que ela tinha mentido? Qual seria o segredo que ela escondia?
Infelizmente não tinha como eu saber.
Killian levantou-se e caminhou até a porta, deixando-me sozinha em seguida.
Aquele seria um longo dia.
Mas e se... eu levantasse? E se eu fosse tomar um ar fresco? A porta estava aberta, não havia nada que me prendesse ali, a não ser minha saúde. Porém eu já me sentia ótima, um pouco fraca e enjoada, mas nada comparado a como estava antes. Fora que a dor em meu braço já quase não existia.
Com alguma dificuldade sentei-me na cama e, apoiando-me na mesma, levantei.
❤
A leve brisa acariciava meu rosto, fazendo com que meus fios de cabelo dançassem. Eu não tinha conseguido chegar muito longe da cabine de Killian. Na verdade estava a apenas alguns passos da mesma, debruçada na amurada.
O mar até que estava calmo, mas todo aquele balanço ainda me deixava enjoada.
Pensar que agora eu poderia estar com Neal, poderíamos ter uma família. Eu poderia estar feliz. No entanto era uma prisioneira num maldito navio pirata.
Por que ele havia me deixado? Aquela pergunta me atormentava a cada segundo da minha vida. Eu não aguentava mais pensar naquilo, porém era como quando uma música contagiante fica em sua cabeça e você não consegue mais parar de cantá-la.
Ainda não conseguia acreditar no rumo que as coisas haviam tomado. Quando nos conhecemos, nada disso me parecera possível...
Eu havia acabado de escovar meu cabelo quando Granny bateu á porta.
- Seu pai pediu para que descesse logo, minha querida. – Disse calmamente.
Dirigi-lhe um sorriso caloroso e disse que já estava indo.
Chequei uma última vez meu cabelo, que tinha as ondas douradas soltas e perfeitamente alinhadas. A maquiagem estava perfeita, como se eu não tivesse nenhuma cicatriz e minha pele fosse invejável.
Levantei-me da penteadeira e desci para a sala, encontrando minha mãe saindo naquele instante.
-Mãe! – Chamei-a dando uma corridinha para alcança-la. – Me espere.
Ela parou e sorriu, abraçando-me imediatamente, como sempre fazia.
-Seu pai está mostrando a propriedade para alguns cavalheiros que estão interessados em sua mão.
Senti um arrepio percorrer meu corpo ao ouvir aquela frase. Eu não me sentia pronta para um casamento. Na verdade tinha medo do dia em que seria obrigada a por os pés em uma igreja para me unir a um completo estranho.
-E ele quer que façamos o que? – Continuei, irritada.
-Controle-se Emma, sabe como seu pai é. – Ralhou. – Ele deseja apresenta-la aos homens. Não faço a mínima ideia do porquê.
-Não é óbvio? – Indaguei.
-A sim, mas o príncipe está interessado em você, meu amor. E nós duas sabemos que, entre um visconde, um marinheiro e um príncipe, seu pai irá escolher o príncipe.
Revirei os olhos. Claro que iria.
Tentei enxergar o lado positivo da situação. Pelo menos o príncipe era jovem, eu já o conhecia de vista. Era um rapaz muito bonito, e já ouvira falar que também era simpático.
Assim que chegamos ao local eu e minha mãe fizemos uma reverência e meu pai nos apresentou para os cavalheiros.
O príncipe sorriu assim que me viu e eu retribuí o sorriso. Mas fora isso, nada demais aconteceu. Eu só ouvia meu pai tagarelar o tempo todo enquanto eu desejava incontrolavelmente tirar meus saltos e sentir a grama do nosso jardim.
Horas pareceram se arrastar até que meu pai disse:
-Bom, o que acham de entrarmos para um café?
O príncipe e o rei sorriram e aceitaram a proposta, diferentemente dos outros dois homens que pareciam ter percebido que já tinham me perdido.
Enquanto caminhávamos de volta para casa fui me distanciando de todos até que estivessem bem longe de mim.
-Até que enfim. – Murmurei tirando meus sapatos.
Eu tinha algum tempo para encontra-los. Meu pai ainda iria leva-los até a biblioteca e tagarelar por bastante tempo.
Levantei um pouco a saia do vestido e corri gargalhando. O vento fresco percorrendo meu corpo, meus pés tocando a grama levemente úmida, aquela sensação que tomava conta de mim, era maravilhoso. Era em pequenos momentos como esse que eu me sentia, realmente, viva.
Parei assim que reconheci o pequeno lago cristalino, cercado por flores de todas as espécies. O lugar era sempre repleto de borboletas, elas voavam para cá e para lá, de uma flor á outra. Era o meu lugar favorito no mundo.
Quando meu pai viajava, eu e minha mãe costumávamos forrar uma toalha sobre a grama para nos deitarmos. Nós passávamos a tarde toda falando na língua do “b”, assoprando dentes-de-leão e comendo os maravilhosos doces de Granny.
Era uma pena que logo eu estaria casada e nada disso seria possível. Mas o lado bom é que eu estaria livre de meu pai, estaria livre para recomeçar e teria alguém ao meu lado. Alguém que eu poderia vir a amar.
Ouvi um ruído em algum lugar atrás de mim e virei-me rapidamente.
Um garoto que aparentava ter a minha idade olhava-me com curiosidade.
-O que uma moça tão bem arrumada faz neste jardim? –Indagou, os olhos castanhos tinham um estranho brilho.
-Talvez a moça seja a dona do jardim. – Retruquei pondo as mãos na cintura.
Vi o rosto do garoto transformar-se em uma expressão assustada. Não pude conter o riso enquanto ele tentava desculpar-se atrapalhadamente.
-Não se preocupe, eu não sou um monstro. –Brinquei pegando meus sapatos da grama. –Qual seu nome?
-Sou Neal. –Respondeu envergonhado.
-Muito prazer em conhecê-lo, sou Emma. – Estendi a mão para o rapaz que olhou-a meio desconcertado. Revirei os olhos indicando que apertasse e ele pareceu entender, pois foi exatamente o que fez.
-É um prazer conhecer a senhorita também.
Sorri e me afastei, correndo de volta para minha casa antes que meu pai percebesse que eu não estava mais com eles.
Suspirei afastando aquela lembrança. Ela só me deixaria pior e com mais saudade.
Estava prestes a voltar para a cabine quando ouvi a voz de Killian bem atrás de mim. Fechei os olhos com força me preparando para a bronca que certamente iria levar.
-Então a senhorita já está ótima, não?
Virei-me tão vagarosamente que até uma lesma teria sido mais rápida.
-Não exatamente, senhor. Eu só precisava de um pouco de ar puro.
Pus uma mecha de cabelo atrás da orelha e abracei a mim mesma, com um pouco de medo do que o capitão poderia me fazer.
-Mas pelo visto está com saúde o suficiente para perambular por aí sem a minha permissão.
Engoli em seco e achei melhor não contestar.
- Sendo assim, - continuou. – acho que já pode fazer algo mais útil que ficar deitada na minha cama.
Alguns marujos acharam graça. Eu só conseguia olhar para Killian, estática. O que ele queria que eu fizesse?!
Meu desejo era que Regina surgisse ali e me salvasse, todavia não foi o que aconteceu.
-O que está esperando? –O capitão perguntou como se eu fosse uma criança muito lenta. Talvez eu fosse lenta, mas não era infantil.
-Eu... ér... Regina disse que...
-Dane-se o que aquela imprestável disse. O capitão aqui sou eu.
-Mas...
-Vá ajudar os marujos. – Disse lentamente, me fulminando com o olhar. – Agora.
Talvez por medo, talvez por nervosismo, meus pés não se moveram. Eu queria sair dali e ir fazer o que Killian me pedia, contudo meu corpo tremia e meus pés não me obedeciam.
Permaneci alguns segundos assim até que um homenzinho gordo de blusa listrada se aproximou puxando-me levemente e com cuidado, como se eu pudesse quebrar. Killian seguia-me com o olhar, furioso. Naquele instante agradeci mentalmente por aquele marujo ter aparecido, não queria imaginar como Killian teria me matado se eu permanecesse parada por mais um segundo.
-A senhorita pode me ajudar limpando o convés. Sei que está doente, mas discutir com o capitão só iria piorar as coisas. – Disse o marujo.
-Pode me chamar de Emma. – Disse me abaixando e ficando de joelhos. –E muito obrigada por me trazer até aqui, não sei o que aconteceu, mas se não fosse o senhor, agora eu poderia estar morta.
O homenzinho pegou um balde e me entregou, sorrindo.
-O capitão quer o dinheiro do seu resgate, moça, não creio que iria mata-la.
Anui e pus-me a fazer o mesmo que ele. Eu nunca tinha nem mesmo posto minha própria comida, tampouco limpado o chão de casa, por isso não fazia a mínima ideia de como se limpava alguma coisa.
O homenzinho, que, descobri, se chamava Smee, não pareceu irritado com minhas perguntas idiotas. Pelo contrário, ele me explicava com empolgação como eu deveria fazer aquela tarefa e não deixava de falar um segundo sequer.
Smee me contou que os marujos estavam curiosos para saber mais sobre mim. Me disse, inclusive, que alguns tinham me achado atraente. Outros me viam apenas como uma riquinha mimada, saber disso me deixou triste. Não era dessa forma que queria que pensassem em mim.
Algumas horas depois eu e Smee finalmente terminamos tudo e, apesar de meu corpo todo doer e de eu me sentir como se fosse desmaiar a qualquer momento, ver que eu tinha feito aquilo praticamente sozinha me deixou tão feliz que todo o esforço valeu a pena.
Smee se afastou, com a promessa de que iria guardar o que tínhamos usado e voltaria para conversarmos mais e eu me apoiei ao mastro principal enquanto o esperava.
-Swan, o que está fazendo parada? – Ouvi uma voz dizer, nada amigável. Logo o capitão surgiu em meu campo de visão, com sua sobrancelha erguida e um sorriso cruel nos lábios que fez um arrepio percorrer todo o meu corpo.
-Estou esperando Smee voltar. – Respondi brevemente, sentindo-me desconfortável em sua presença.
-E precisa de Smee para fazer um simples serviço naval?
Pisquei repetidas vezes.
-Mas eu já fiz o que me pediu.
Killian soltou uma risada de escárnio.
-Pois vá fazer outra coisa! – Disse como se fosse óbvio. – Há inúmeras coisas para se fazer neste navio, você poderia, por exemplo, limpar o convés, que está uma imundice.
Desencostei do mastro apertando minhas mãos, nervosa.
-Mas foi o que acabei de fazer, senhor. – Respondi com cautela, olhando-o como um carneirinho que encara uma enorme fera.
O capitão olhou-me com uma falsa confusão.
-É mesmo? – Assenti. - Então acho que deveria limpar novamente. Olhe só, isso está um nojeira.
Naquele momento me senti um lixo. Ele tinha razão, eu não sabia fazer nada direito. Tudo o que eu fazia ficava horrível, era o que meu pai sempre dizia. Olhei para o convés considerando correr até Smee e pegar as coisas de volta para limpar tudo de novo.
Killian movia a cabeça de um lado para o outro, como se quisesse, e eu sabia que queria, dizer que eu era uma negação, uma verdadeira fracassada.
- Ah Emma, você realmente acha que sabe fazer algo bem? – Ele ergueu meu olhar com o gancho, olhando-me cheio de desdém. – Você é uma inútil, e nunca será mais que isso.
Eu queria responder, dizer que eu sabia sim fazer muitas coisas, e melhor do que ele jamais poderia fazer. Queria ter erguido minha cabeça e dito que, se aquele convés estava sujo, ele estava cego. Queria ter feito tantas coisas corajosas e que demonstrassem confiança, e, no entanto, o que fiz foi algo completamente depreciável.
No exato momento em que Killian se afastou e todo o peso de suas palavras me atingiu, meu queixo enrugou e senti meu rosto quente. Pus a mão sobre a boca reprimindo um soluço.
Os marujos me olhavam, alguns tristes, outros achando graça. Mas o único olhar que realmente me atingiu foi o de Killian. Aquele azul cruel invadindo o meu verde melancólico, destruindo o pouco de autoconfiança que havia me restado.
Naquele instante tudo o que eu mais queria era me jogar do navio e morrer logo, me sentia exposta, fraca, um verdadeiro e completo fracasso. Não suportando mais aquela situação, corri o mais rápido de pude, o que não era nada rápido, já que eu não estava totalmente recuperada e, além de estar com a visão embaçada pelas lágrimas, tinha o corpo todo dolorido por conta de um trabalho mau feito.
Desci as escadas, indo parar em uma espécie de cozinha. Me joguei sobre uma cadeira de madeira rústica, escondendo meu rosto em seu assento. Meu ombros pulando por causa dos soluços, todo o meu corpo contraindo-se em espasmos.
Por que eu era tão fraca? Por que não tinha enfrentado Killian? Por que eu era sempre “ Emma Swan, a medrosa”?
Eu estava tão cansada de tudo aquilo. Só queria um pouco de paz, um pouco de amor. Queria simplesmente não ser tão julgada.
Funguei, sentando sobre as panturrilhas. Eu não tinha que chorar por um motivo tão bobo. Eu ainda era Emma Swan, a colecionadora de cicatrizes. A filha do conde Rumplestiltiskin. Ainda era a futura rainha de meu reino, e não era daquela forma que uma rainha se portava.
Respirei fundo, enxugando o rosto com a palma das mãos, fazendo o que minha mãe me ensinara a fazer em ocasiões como esta: ter pensamentos felizes.
Enquanto mentalizava uma grande e apetitosa torta de maçã, algo me chamou a atenção. Um ruído que parecia um gemido, um rangido esquisito.
Em um segundo estava em pé, saindo da cozinha e tentando identificar de onde vinha aquele som. O murmúrio soava abafado e se misturava ao som das ondas e dos homens que estavam no convés superior. Parei por um instante, prestando muita atenção ao som. Vinha do fim do pequeno e estreito corredor, onde supus ser algo como uma dispensa.
Curiosa, caminhei até o local e encostei o ouvido na porta pesada de madeira. Aquilo não era um gemido, era um choro. Um chorinho agudo de criança. Afastei-me da porta, a testa franzida. Havia uma criança chorando na dispensa de um navio pirata? Não era possível!
Incrédula, pus a mão sobre a maçaneta velha e girei-a. A cena que vi foi algo que jamais imaginaria encontrar.
Pense em algo que considera impossível. Porcos-voadores, unicórnios vomitando arco-íris ou até mesmo sereias, nada me deixaria mais surpresa que aquilo.
Bem em minha frente, Regina olhava-me com o rosto inchado, ela chorava silenciosamente e agora parecia assustada com a minha presença.
-Emma, por favor, entre e feche a porta. – Implorou com a voz embargada.
Mas a única coisa que eu conseguia fazer era olhar, estática, para o frágil bebê chorão em seus braços, que ela tentava, desesperadamente, acalmar.
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Autor(a): TrisDosAnjos
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