Fanfic: A colecionadora de cicatrizes | Tema: Once upon a time
“Esta é a sua vida. Sinto muito se é uma droga.” - A culpa é das estrelas (John Green)
❤ ❤ ❤
Acordei, enjoada, com o barulho de trovões. Uma tempestade. Claro que eu não poderia ter uma noite de sono calma.
Levantei me apoiando ás paredes, o que não adiantou nada, já que o navio balançava demais. Acabei levando um tombo.
Certo. Levantar estava fora de cogitação. Meu equilíbrio nunca fora muito bom.
Engatinhei até a porta, que estava aberta. Achei estranho Killian não tê-la trancado, mas aquilo também já não fazia muito sentido. Talvez àquela altura ele já tivesse notado que eu não tinha coragem suficiente para cometer suicídio.
Continuei engatinhando, como fazia quando era criança e queria ir escondida á algum lugar. Essa lembrança me fez sorrir. Eu era uma pestinha.
Killian não estava no quarto, óbvio. Certamente estava com os marujos.
Desisti de ir a qualquer lugar e fiquei por ali mesmo, na entrada do quartinho, com o estômago completamente embrulhado.
Me perguntei por quanto tempo mais aquela tempestade iria continuar. Tentar dormir novamente me pareceu uma ótima opção.
Não sei quanto tempo passa. Não me importo. Enquanto os raios e trovões continuavam me assustando, tentei manter os olhos fechados, mas nada parecia funcionar. Eu estava exausta e não conseguia dormir. Isso era extremamente frustrante.
Foco meu olhar na estante de livros de Killian e, não sei exatamente o motivo, começo a cantarolar uma música de ninar. Minha mãe costumava dizer que era uma música mágica que fazia as pessoas perderem o medo, mas agora sei que era apenas para que a pequena e assustada Emma parrasse de berrar no meio da noite por causa dos pesadelos ou dos trovões.
Como eu queria tê-la ao meu lado novamente...
Respiro fundo e fecho os olhos, tentando bloquear a saudade. Chega a ser irritante lembrar de minha mãe a cada segundo que vivo.
_Você está cantando? – Ouço uma voz conhecida perguntar.
Sorri envergonhada antes de abrir os olhos.
_Minha mãe costumava dizer que ela fazia as pessoas perderem o medo. – Digo olhando nos olhos azuis do capitão.
A impressão que tenho é de que ele acabou de dar um mergulho.
Killian revira os olhos.
_E você acredita?
Encolho os ombros.
_É só uma maneira de tê-la por perto. Sinto saudades. – Confesso.
E então Killian sorri para mim. Um sorriso caloroso e tão sincero que fico surpresa.
_Vocês eram próximas, não?
Devolvo o sorriso e assinto. De repente me sinto estranha. Uma sensação quentinha cresce dentro de mim, uma sensação tão gostosa que não queria que passasse nunca.
_Bem, só depende do seu pai agora. – Ele diz.
Meu sorriso some e eu desvio o olhar. Killian não disse nada que não seja verdade. Ele não está sendo grosso nem nada. Mas saber que tanta coisa importante depende de alguém como meu pai não é nada satisfatório.
Quando dou por mim estou do lado de fora indo para o depósito ver Regina. Killian já voltou a ajudar os outros e até me surpreendo com o fato de Regina não estar ali, ou de ele não ter me obrigado a ir ajudar também. O que é estranho.
Me assusto ao perceber que o navio está cheio de água, o suficiente para cobrir meus pés. Claro que escutar o choro de Regina do início do corredor não ajuda em nada.
Milhares de pensamentos atingem minha mente. E se algo tiver acontecido com Henry? Ou com Regina? E se ela estiver presa?
Corro o mais rápido que consigo até o depósito e tento abrir a porta. Trancada.
_Regina, você está bem?! – Grito batendo mil vezes na porta. – Aconteceu alguma coisa com o Hen... – Antes que eu complete a fras Regina abre a porta e eu caio de cara na água.
_Meu Deus! Emma, você se machucou?! –Ela pergunta, ainda com a voz embargada.
Me levanto e procuro Henry, até que o vejo todo enrolado em uma manta branca dentro de sua cestinha, em cima de um caixote.
Deixo escapar um suspiro de alívio.
_O que aconteceu? – Pergunto á Regina novamente.
Ela volta a chorar e se senta na água. Não sei dizer qual de nós duas está mais molhada.
_E-eu esto-ou com m-medo! E se o navio af-fundar, Emma? E se algu-guma coisa ac-cont-tecer com Henry? Ou comigo? – Ela diz soluçando.
Aquela cena me deixa surpresa. Regina está a muito mais tempo no mar que eu e é ela quem está desesperada. Sou eu quem tem medo de tempestades, sou eu quem está enjoada e mesmo assim não sou eu que estou chorando apavorada.
Não sei dizer o que exatamente me faz ter essa certeza, talvez as poucas palavras que troquei com Killian a alguns minutos. Ele parecia muito confiante e isso me influenciou de alguma forma. Estou com medo, mas sei que no fim não vamos todos morrer. Na verdade, eu não me importaria em morrer agora.
_Regina, não vai acontecer nada, tudo bem? – Tento acalmá-la e me ajoelho á sua frente. – Eu acabei de falar com Killian e ele está super calmo!
Ela funga e balança a cabeça.
_E-ele é sempre assim Emmma! Só n-não queri-ria te deixar mais assust-tada. – Ela soluça mais umas dez vezes antes de completar. – E-ele não q-quer que você s-se jo-jogue no mar ou algo do t-tipo.
Suspiro. Isso faz sentido. E Regina conhece Killian muito melhor que eu.
Repentinamente cogito chorar e gritar “não quero morrer!” ao lado de Regina. Mas respiro fundo e digo:
_Não, é só uma tempestade. Acontece. Nós não vamos morrer.
A morena assente, respira fundo e caminha até seu filho, como se nada tivesse acontecido. Ainda não estou acostumada ás mudanças de humor de Regina.
_Ele está bem calmo hoje. – Falo após alguns minutos.
Regina concorda.
_Acho que ele está melhorando. – Diz esperançosa. Então sorri para mim. – Que segurar ele?
Assinto e ela me passa o bebê. Quando Henry começa a reclamar dando sinais de que ia abrir o berreiro, instantaneamente começo a niná-lo.
Regina se senta no caixote e começa a massagear as têmporas.
_Você tem jeito com crianças. – Ela diz, meio roboticamente.
_Você acha?
_Uhum. Já pensou em ter filhos?
_Sim, vários! – Confesso, rindo.
_Corajosa, você.
Ela ri também e então estamos quietas novamente.
Olho para Henry, quase dormindo e me lembro do quanto eu queria ter um irmão quando era mais nova. Vivia perturbando minha mãe que inventava mil desculpas. Agora sei que ela sempre quis mais filhos.
Sempre meu pai. Sempre Rumplestiltiskin. Aquele ser malévolo que suga a energia das pessoas e não as deixa ser feliz.
Fecho meus olhos. Não vou pensar nisso de novo.
E é então que noto: o navio não está mais balançando como antes. Abro os olhos e coloco Henry na cesta onde estava antes.
_Vou subir. – Digo. – Killian pode estar sentindo falta de mim.
Então Regina murmura algo que imagino ter sido um “até amanhã.” E subo para a cabine do capitão.
❤
_Emma, tem certeza que não quer entrar? – Smee me pergunta.
_Não, vamos terminar isso aqui primeiro.
Não sei se o que me dói mais são as costas ou os braços. Toda a tripulação está ocupada. Killian tratou de manter todos ocupados. Após a tempestade o navio estava arrasado. E nós estávamos desde cedo tentando reparar os danos. Eu e Smee já tínhamos perdido a conta de quantos baldes de água tínhamos tirado do Jolly Roger.
_A senhorita precisa comer. – Ele insiste, esfregando o convés sem perceber.
Aponto para o que ele está fazendo e Smee olha confuso para as mãos. Demora alguns segundos até que ele perceba que molhou seu gorro vermelho no balde de água que trouxe do convés inferior para jogar no mar.
_Puxa vida, estou ficando velho. – Ele diz brincando, me fazendo rir.
Ele não está exatamente velho. Pelo menos não parece.
_Vocês dois estão fofocando ou trabalhando? – Regina brinca ao surgir também com um balde d’água, e jogão conteúdo rapidamente no mar.
_Fofocando? Nós? Claro que não capitã! – Entro na brincadeira seguindo-a para o convés inferior.
Regina ri e nós seguimos repetindo aquele processo cansativo de encher e esvaziar baldes.
Quando finalmente acabamos, muitas horas depois, o navio está longe de estar perfeito, mas está muito melhor que antes.
Comemos e, logo em seguida, nos reunimos no convés superior para a suposta reunião que o capitão convocou.
_Isso é uma palhaçada. – Regina reclama. – Tenho que dar comida para Henry e não posso, porque Killian faz questão de dizer em alto e bom som que estamos ferrados. Eu já sei que estamos ferrados, não preciso que ele me diga o óbvio!
_Shhhhhh! Eu quero ouvir! – Falo.
Ela revira os olhos.
_Atenção! – Killian começa. – Tenho um comunicado a fazer.
_Jura?! –Regina sussurra e dou uma cotovelada nela.
Por sorte Killian não ouviu.
_Bom, como vocês já devem imaginar, o navio foi muito danificado por causa da tempestade de ontem. Graças aos céus não perdemos nenhum homem. Creio que a Jolly Roger aguentará mais algum tempo, então vamos seguir em frente. Com um pequeno desvio no caminho. Teremos que parar em Arendelle para o conserto da embarcação e, claro, reposição de comida e água...
Paro de ouvir o discurso. Arrendelle. Estamos indo para Arendelle. Isso é longe demais.
Mil pensamentos me ocorrem, mas a ficha já caiu. Eu estou muito longe, longe demais para fugir e voltar. Não conheço nada em Arendelle. Nada.
Eu não sei como voltar.
Estou ferrada. Muito ferrada.
❤
Autor(a): TrisDosAnjos
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