Fanfics Brasil - A colecionadora de cicatrizes. A colecionadora de cicatrizes

Fanfic: A colecionadora de cicatrizes | Tema: Once upon a time


Capítulo: A colecionadora de cicatrizes.

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"Certas escolhas são como cicatrizes, nos ferem e marcam para a vida toda."- Axel Carmichael.


❤ ❤ 


  Olhei-me no espelho enquanto passava a escova pelos meus fios dourados. Eles já não estavam embolados há um bom tempo, mas eu repetia o ato de penteá-los inconscientemente enquanto as lembranças do mês anterior atormentavam minha mente.


- Espere-me no lago das borboletas um pouco antes de o sol nascer. –Ele dissera segurando meu rosto em suas mãos.


-Só mais um dia e estaremos livres de tudo isso. –Retruquei de olhos fechados tentando guardar sua voz grave em minhas memórias.


-Apenas mais um dia. –Ele disse aproximando seu rosto do meu e unindo nossos lábios.


  Uma lágrima solitária traçou um caminho pela minha face.


 Como ele pode fazer isso comigo?


  Respirei fundo e encarei a garota franzina no espelho. Os olhos verdes foscos estavam rodeados por enormes olheiras arroxeadas, ela estava pálida e com o rosto inchado. Não gosto de pensar que aquela garota sou eu.


  Ouvi o ranger da porta se abrindo, mas não me dei o trabalho de virar para ver quem era. Apenas prendi minha respiração e olhei para meu colo onde meus dedos, agora suados, agarravam o fino e delicado  tecido de minha camisola.


-Emma querida, ainda está assim? –Voltei a respirar ao ouvir a voz suave de Belle, minha mãe, logo atrás de mim.


  Olhei para o espelho vendo seu reflexo próximo ao meu. Eu não me parecia em nada com minha mãe. Ela tinha olhos azuis, pele morena clara –Quase branca-  e cabelo castanho avermelhado. Tirando o fato de que em alguns dias meus olhos assumiam um tom azulado que lembrava o azul de seus olhos, não havia qualquer outra semelhança entre nós duas.


-Não estou bem disposta esta manhã. –Finalmente a respondi.


-Se seu pai visse você desse jeito te trancaria naquele maldito porão novamente. –Ela resmungou brincando com meu cabelo.


-Ele sabe que fazendo isso iria piorar a minha aparência, por isso provavelmente me obrigaria a comer. Todavia não poderia me obrigar a dormir bem. Ele não pode controlar tudo, as coisas nunca vão ser exatamente como queremos que sejam.


-Para o seu pai tudo sempre vai acontecer como ele quer Emma.


  Ela suspirou e olhou para meu reflexo no espelho. Desviei o olhar para minhas mãos novamente.


-Ele não pode te obrigar a ter uma boa noite de sono, mas pode te comprar maquiagem e obriga-la a usar. –Ela respondeu após algum tempo.


  Minha mãe estava certa. Meu pai sempre encontraria um jeito de fazer com que tudo saísse do modo que ele desejava. Ele tinha dado um jeito de esconder da sociedade as cicatrizes que havia deixado em mim, não seria problema esconder míseras olheiras.


-Eu só queria poder fazer aquilo que julgo certo sem me importar com como meu pai quer que eu seja vista.


-Não é tão ru...


-Não complete a frase. – Falei seca olhando para minha mãe friamente. –Não diga que isto poderia ser pior, porque não poderia.


-Perder um namoradinho não é o fim do mundo Emma!


-Ele não era um namoradinho! –Gritei furiosa ao me levantar e quase voar em minha mãe. – A senhora pode, por favor, entender que Neal era importante para mim? Eu o amo!


-Mas ele a deixou! –Ela gritou de volta. –E ainda fez com que você ganhasse uma bela de uma cicatriz!


-Nada disso teria acontecido se o papai não fosse um monstro!


  Minha mãe se calou. Ela me olhava com raiva. Odiava quando eu dizia isso, porém não existia alguém que dissesse que meu pai era um anjo.


  Aos sete anos eu persegui um esquilo, cai e consegui um belo arranhão no rosto. Por azar no mesmo dia teríamos de ir a um baile da família real e meu pai queria que eu estivesse impecável. Quando ele viu meu rosto deu-me uma surra que resultou em enormes hematomas de um roxo quase preto por todo o meu corpo.


  Eu nunca olhara para meu pai como um herói como as outras meninas olhavam para os pais delas. Pelo contrário. Eu ansiava o momento em que ele sairia de casa e tinha medo quando era obrigada a estar ao seu lado.


-Seu pai e eu estamos lhe esperando para o café. Arrume-se. –Belle, então, deu meia volta e saiu.


  Alguns minutos mais tarde eu estava finalizando a trança simples que tinha feito, com um laço verde.


  Olhei para o espelho. Aquela era a Emma Swan que todos pensavam conhecer. Inclusive meu noivo, August.


  Suspirei e segui para a sala de jantar.


-Finalmente. –A voz grossa e seca de meu pai invadiu meus ouvidos. Em momentos como este eu desejava ser surda. –Sente-se, Granny já preparou seu desjejum.


  Caminhei com a cabeça abaixada em direção ao lugar que eu sempre sentava: a terceira cadeira depois da do meu pai.


  Sentei-me e belisquei a torta de maçã que Granny havia feito para mim. Ela sabia que aquele era meu doce favorito. Às vezes eu desconfiava que Granny tentava alegrar meu dia com pequenas coisas que meu pai não poderia notar.


-Sua mãe me disse que você não jantou ontem. Isso é verdade?


  Levei um pedaço da torta aos lábios sem respondê-lo.


-Responda minha pergunta. –Ele disse ameaçadoramente.


  Engoli em seco.


-Sim. –Disse tão baixo que quase não ouvi minha própria voz.


-Fale alto Emma! –Ele gritou fazendo com que eu me encolhesse na cadeira.


  Ele riu diante de minha reação. Sempre achava engraçado quando eu me assustava.


  Respirei fundo tentando acalmar meu coração que batia acelerado em meu peito.


-Conversei com sua mãe sobre essa sua falta de apetite. Mandei dobrar suas refeições, você perdeu muito peso nas últimas semanas. No fim da tarde Ruby voltará com mais maquiagem para cobrirmos essas olheiras.  Precisa melhorar sua aparência a tempo do casamento, está parecendo um defunto em decomposição.


-Não é necessário usar maquiagem em casa, meu pai. Ninguém irá reparar em minha aparência aqui já que não recebemos visitas. –Disse com cuidado.


  Eu tinha de prestar atenção ao que falava, escolher muito bem as palavras,  pois caso meu pai interpretasse algo como uma afronta a ele eu ganharia mais uma cicatriz e, provavelmente, ficaria alguns dias sem comer ou beber no porão.


-Acontece, minha querida filha, que não ficaremos em casa esta noite.


  Parei a pequena colher de prata a um centímetro de minha boca e levantei o olhar, focalizando minha mãe do outro lado da mesa. Ela pareceu subitamente interessada em limpar os farelos de pão que estavam próximos ao seu prato.


-Como assim? –Quis saber.


  Meu pai deu uma risadinha sarcástica.


-Por que não pergunta o mesmo para seu pai? Parece que sua mãe está fazendo o trabalho da empregada.


-O que quis dizer, meu pai? –Refiz a pergunta olhando para minha torta quase intocada.


-Olhe para mim quando for falar comigo, menina.


-Como assim não iremos ficar em casa, pai? –Perguntei novamente olhando diretamente para ele.


  Senti minhas mãos suando e meu coração acelerando de medo. Seus olhos cruéis pareciam ler minha alma. Eu sabia que não havia nada que ele não soubesse, cada medo meu, cada pensamento, tudo, ele sempre sabia.


-Fomos convidados para um baile. Parece que o jovem príncipe Eric encontrou uma esposa. –Comentou antes de soltar mais uma de suas risadinhas medonhas.


  Eu não disse mais nada. Sabia que teria de ir sem protestar.


                                                                                                                  ❤


  No fim da tarde fui avisada de que logo Ruby subiria para me arrumar para o baile. Isso significava que eu deveria banhar-me antes que ela chegasse. Algumas vezes minha mãe mandava algumas empregadas para ajudar-me com o banho, eu recusava na maioria delas. Acho desnecessário ser ajudada a fazer algo tão simples; e só aceito esse tipo de ajuda quando estou com um machucado profundo e muito recente que exija mais cuidado.


  Após algumas empregadas encherem minha banheira com água morna, tranquei a porta de meu quarto e pus-me a desfazer os laços de meu vestido. Meu pai não gostava quando eu o usava, dizia que era simples demais. Talvez por isso fosse um de meus favoritos. Essa era uma das poucas formas que eu tinha para me rebelar sem receber uma chicotada nas costas.


  O vestido era verde água, com a saia rodada batendo um pouco abaixo de meus joelhos, tinha mangas compridas que eu, quase sempre, usava arregaçadas e um decote num tamanho ideal. Eu costumava amarrar uma fita verde escura na cintura para não ficar com o visual tão simples, às vezes trançava o cabelo finalizando-o com uma fita idêntica, outras vezes utilizava esta segunda fita como uma faixa e mantinha o cabelo solto.


  Após me livrar de toda a minha roupa tirei com cuidado o curativo de minha cintura. O corte já não estava tão feio como nos primeiros dias, mas também não era nada bonito.


  Uma grossa linha de um rosa avermelhado começava um pouco abaixo do meu umbigo e seguia para a esquerda, tinha quase um palmo de comprimento e ainda era possível ver a marca de onde antes havia pontos.


  As memórias de como eu havia adquirido aquela cicatriz ainda estavam frescas em minha memória.


  Eu tinha acabado de ser arrastada do lago das borboletas de volta para casa pelos guardas de meu pai.  Tinha sido deixada para trás por Neal, estava arrasada.


-Nós a encontramos senhor!- O líder dos guardas avisara ao entrarmos no escritório de meu pai.


  Tentei me soltar dos vários braços que me seguravam, em vão. Eu soluçava e muitos dos meus fios de cabelo estavam grudados em meu rosto.


-Deixem-na aqui. Não quero vê-los até a próxima semana. Encarem isso como uma semana de férias. –Ele disse calmo, olhando para o lado de fora da janela.


  Os guardas não discutiram, jogaram-me no chão com violência e saíram.


  Meu pai estava de costas, mas isso não me deixava menos amedrontada.


-Quer dizer que a senhorita estava planejando fugir para se casar com um camponês? O que você queria Emma? –Ele perguntou caminhando ao meu redor. Eu o seguia pelo canto do olho. –DIGA! O QUE VOCÊ QUERIA SENHORITA SWAN?! -Subitamente ele gritou fazendo meus tímpanos doerem.


  O vidro da janela quebrou, assim como a cristaleira favorita de mamãe e tudo o que havia dentro dela.


Hein?! –Continuou. - O que você queria? Jogar o nosso nome na lama?


-NÃO! –Gritei com a voz esganiçada.


  De repente nossas vozes se misturaram em uma briga que parecia interminável.


-Você queria destruir a minha vida e a vida sua mãe?! Hein, sua monstrinha?!


-EU NÃO QUERIA FAZER NADA DISSO! –Gritei olhando em seus olhos, talvez o ato mais corajoso que realizei em toda a minha vida.


-ENTÃO O QUE VOCÊ QUERIA EMMA?!


-EU SÓ QUERIA SER FELIZ COM O HOMEM QUE AMO! – Então abaixei o tom de voz, fechando os olhos enquanto mais lágrimas surgiam. –Eu queria estar livre disso tudo. De todas essas responsabilidades que eu nunca quis ter.


  Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa meu pai puxou-me agressivamente pelo braço, fazendo com que eu ficasse de pé.


-Você vai ter o que merece menina inconsequente.


  Eu sabia o que eu ele queria dizer com aquelas palavras. O desespero tomou conta de mim. Comecei a hiperventilar.


-Não pai, por favor. Perdoe-me, por favor, não faça isso, eu nunca mais irei fazer algo que não lhe agrade...


-Agora não adianta mais se arrepender. Você já provou que não merece minha confiança. -Disse apertando os dedos ao redor do  meu cotovelo.


  Quando estávamos a alguns passos de chegar ao porão minha mãe surgiu em nossa frente.


-Rumple, isso não é necessário.  Ela só estava apaixonada! É coisa da juventude, meu amor, me escute, uns dias de castigo são o suficiente...


-Saia da minha frente Belle.


-Não vou deixar que machuque nossa filha novamente. –Falou autoritária.


-Muito bem, - Meu pai disse fingindo tédio, em seguida, apenas com um gesto, fez minha mãe voar e bater com toda força na parede esquerda onde havia uma estante gigante cheia de livros. – vamos acabar logo com isso.


  Tentei desvencilhar-me dele e ajudar minha mãe que agora estava desacordada com uma estante e vários livros por cima de si, porém, como eu já sabia, Rumple foi mais forte.


-SOCORRO! –Gritei antes de meu pai me jogar para o porão. Não soube ao certo se fui jogada por ele ou por sua magia. No fim das contas é claro que continuaria sendo ele o responsável por eu ter caído até o fim da escada.


  Caí com um baque no chão frio, com cuidado me encolhi ouvindo meu pai trancar a porta e descer as escadas tranquilamente.


-Pronta para se divertir? –Ele disse sarcasticamente.


  Fui lançada contra a parede com tanta força que todo o ar de meus pulmões desapareceu. Eu sabia que desta vez ele iria usar sua mágica até mesmo para coisas insignificantes.


  Tossi ao cair pela segunda vez. Meu corpo todo doía horrivelmente e eu me sentia como se estivesse tendo uma crise de asma. Talvez pior.


  Meu pai então me segurou pelos cabelos e rasgou meu vestido. Eu gritei tentando me livrar dele, mas logo não conseguia mover qualquer músculo do corpo. Um feitiço antigo de Rumple.


  Tudo então aconteceu rápido demais para que minha mente cansada pudesse acompanhar. Senti uma queimação nas costas, logo ela começou a se tornar mais forte. Senti algo me atingindo novamente, e mais uma vez, depois outra, e mais várias outras vezes. Quando o meu conhecido inimigo atingiu minha pele pela última vez eu já estava sem voz de tanto gritar.


-Espero que isso sirva como lição filhinha querida. –Ele disse virando-me para cima e fincando sua adaga em minha barriga.


  Eu gritei me contorcendo de dor assim que ele a puxou de volta.


  Fechei os olhos e respirei fundo tentando me esquecer dos dias horríveis que havia passado há tão pouco tempo.


  Logo entrei na banheira, lavando com cuidado meu ferimento e todo o meu corpo, admirando cada uma das marcas que meu pai tinha deixado nele.


  Todas as meninas colecionam bonecas, vestidos ou fitas. Eu coleciono cicatrizes. As cicatrizes que meu pai fez.


  Até os dez anos eu sabia exatamente quantas delas tinha em meu corpo. Até achava bonito tê-las, como se fosse um charme meu, algo que faria outras meninas morrerem de inveja. A verdade é que apesar de todo o sofrimento que eu passava nas mãos de meu pai, eu achava encantador ter algo tão deslumbrante como aquelas cicatrizes. Elas provavam que eu havia sobrevivido a cada ataque dele. Provavam que eu era forte.


  Eu era uma colecionadora de força.


  Ouvi batidas leves na porta. Certamente era Ruby. Suspirei ao pensar na longa noite que teria que enfrentar.


                                                                                        ❤


-A senhorita está maravilhosa! –Ruby comentou animada.


  Nós tínhamos construído uma amizade com o passar dos anos. Nada muito profundo, mesmo assim é uma das poucas coisas que me alegram nesse lugar.


-Você está maravilhosa sempre e nem precisa da ajuda desse monte de pó e desses vestidos caros. –Respondi alisando levemente o vestido que meu pai havia escolhido para que eu usasse.


  Um vestido vermelho e de mangas compridas, bem cheio e que para mim era visto apenas como um pedaço de pano que deveria me destacar em uma festa que nem era minha. Pedi para que Ruby não exagerasse muito na maquiagem, portanto apenas meu batom era mais chamativo –Vermelho sangue como o vestido- para tentar driblar a ordem de meu pai de que eu fosse o centro das atenções. O penteado também não era nada muito elaborado, apenas um coque simples com uma tiara de enfeite.


-Como se você precisasse de tudo isso. –Ela respondeu, finalmente,  arrumando a pequena bagunça que tinha feito em minha penteadeira.


-Espero que meu pai não ache que estou muito simples. –Desabafei indo ajuda-la.


-De jeito nenhum a empregada aqui sou eu. –Ruby disse me expulsando. - E quanto ao seu pai, bem, se ele pensar que isto - ela fez um gesto com a mão direita, já que a esquerda estava cheia de potinhos e pincéis. – está muito simples, então não quero nem imaginar o que é estar exagerado para ele.


  A sinceridade de Ruby me fez rir e percebi que não fazia isso há semanas.


-Emma?


  Desviei o olhar de Ruby para minha mãe que estava com apenas a cabeça dentro do quarto.


-Sim? –Respondi automaticamente.


-Seu pai está lhe aguardando na carruagem. Já está pronta?


  Fiz que sim.


  Minha mãe entrou no quarto. Ela continuava usando suas roupas simples e seu costumeiro rabo de cavalo lateral. Imaginei que ela fosse permanecer em casa. Festas não lhe agradavam muito, talvez isso fosse mais uma de nossas raras semelhanças.


-Com licença. –Ruby disse antes de sair do quarto.


-Você está linda, meu amor. –Minha mãe disse com os olhos cheios de lágrimas.


-Você está bem, mãe?


-Sim, querida. –Ela disse passando o dedo no canto dos olhos, os secando. – Me desculpe pelo que falei hoje mais cedo. Eu sei que aquele rapaz era importante para você, mas prefiro pensar que não era. Só de imaginar que alguém que você gosta tanto te...


  Ela não terminou a frase.


  Olhei para o chão sem saber o que dizer.


-Não gosto de pensar que seu pai fez aquilo com você só por estar apaixonada por alguém mais pobre. Ele quase te matou, Emma.  –Ela sussurrou. –Eu sempre acreditei que ele era um homem bom. Que agia dessa forma por não ter amor. Mas agora...


-Isso não importa mais,  mãe. Neal me deixou. Isso prova que ele não me ama. Talvez tudo tenha sido uma mentira.


-Eu sinto muito, querida. –Ela disse acariciando meu rosto e me abraçando em seguida. –Por tudo.


-Não se preocupe, mãe. Eu vou ficar bem.


-Eu sei que vai. Mas não sei se posso dizer o mesmo.


-Como assim? –Perguntei de olhos fechados, ouvindo seu coração bater. Às vezes eu me perguntava se ainda estaria viva caso minha mãe não estivesse mais aqui.


-Nada. - Ela deu um beijo no topo da minha cabeça. - Agora desça logo antes que seu pai fique nervoso.


  Soltei-me de seu abraço e fui em direção às escadas, mas antes que pudesse descê-las minha mãe chamou-me novamente:


-Emma.


-Sim? –Disse, virando-me.


-Eu te amo.


  Sorri e respondi docemente:


-Eu também te amo mãe.


-Mais que qualquer coisa? –Ela perguntou, lembrando o que costumávamos dizer uma para a outra todas as noites antes de dormir.


-Mais que qualquer coisa. –Repeti minhas falas, sentindo a força que cada uma delas carregava.


  Então desci as escadas e fui me encontrar com a fera.


                                                                                   


-Está atrasada. –Disse meu pai secamente.


-Perdoe-me pai, receio que tenha me entretido demais com  alguns livros. –Menti sem qualquer razão aparente. Às vezes eu gostava de fazer isso.


-Não me importa por qual motivo se atrasou Srta. Swan; me importa que cheguemos logo ao baile e isto não acontecerá enquanto estiver parada olhando para a minha face.


  Sem qualquer comentário entrei na carruagem, procurando me sentar o mais afastada de meu pai. Eu podia sentir sua magia ao meu redor, a força que ela tinha era surpreendente e apavorante.


  Tentei me concentrar nas árvores enormes da pequena estrada. Uma vez, durante uma viagem de meu pai, eu e minha mãe resolvemos fazer um piquenique na floresta. Passamos a tarde inteira criando histórias loucas sobre um esquilo malévolo que desejava destruir o mundo.


  Sorri com a lembrança de nós duas deitadas na relva dizendo coisas sem muito nexo.


  Vasculhei minha mente em busca de uma lembrança boa de meu pai, todavia não encontrei nenhuma.


  Finalmente pude avistar o castelo, ele era deslumbrante. Todo feito de uma pedra bem branquinha que durante o dia, por causa da luz do sol, quase cegava as pessoas. Seis torres médias erguiam-se ao redor da torre principal, onde se encontrava o quarto do rei e da rainha. Além do  jardim magnífico que tomava conta dos arredores do lar da família real.


  Logo estávamos descendo da carruagem em frente á entrada do salão principal. Meu pai segurava-me com cuidado demonstrando um falso carinho por mim. Eu fazia o mesmo.


  Esse sempre fora o meu talento: mentir.


-Comporte-se ou... já sabe. –Ele sussurrou com um sorriso cruel.


  Senti algo arder dentro de mim, como se houvesse um fogo acesso me queimando de dentro para fora. Era perturbador.


  Essa era uma forma de meu pai se divertir em um baile: me ver tendo que fingir que estou ótima quando estou extremamente incomodada. Ele manipulava as coisas tentando fazer com que minha dificuldade em me sentir bem só aumentasse, e o pior era que se alguém percebesse meu mal estar, eu ganharia outra cicatriz.


-Boa noite Conde Rumplestiltskim! –O rei aproximou-se animado com sua taça de vinho pela metade. Eu e meu pai fizemos uma breve reverência. –Espero que o senhor e sua adorável filha apreciem este baile em honra ao noivado de meu filho mais velho: sua alteza real, o príncipe Eric.


-É uma honra para nós estarmos aqui, vossa majestade. –Respondi educadamente.


-Chame-me de Gepeto, minha cara. Logo August aparecerá para lhe fazer companhia. Ansiosa para o casamento?


  Abri a boca para responder, porém meu pai foi mais rápido:


-Emma não fala sobre outra coisa, vossa alteza.


  Então August surgiu ao nosso lado, cumprimentou a todos e convenceu meu pai a deixar-me ir dançar com ele.


  August era um bom homem. Ele sempre fora carinhoso comigo, além de ser educado e divertido. Porém eu apenas o via como um amigo e o fato de que nos casaríamos dentro de poucas semanas me deixava apavorada.


  Só naquele instante enquanto dançava é que parei para observar o salão. Eu nunca havia entrado ali , já que minha festa de noivado tinha sido cancelada por eu ter ficado “muito doente”.


  O salão era gigantesco, talvez maior que minha casa. Estava lotado de meninas com seus vestidos de mangas bufantes e rapazes procurando por uma bela noiva. Um pouco mais a frente de onde eu e meu noivo dançávamos alguns músicos tocavam e logo atrás havia uma mesa que ia de um lado ao outro do salão lotada com todos os tipos de comida que se possa imaginar. O chão onde pisávamos era tão limpo e brilhoso que mais parecia um espelho refletindo os lustres de cristal gigantes que ficavam no teto.


-Como tem passado esses dias? Está se sentindo melhor? –August perguntou preocupado.


-Sim. Não estou totalmente recuperada, porém até o nosso casamento creio que estarei melhor.


  Ele sorriu. Seus olhos azuis me fitavam como se eu fosse algum animal raro.


-O que foi? –Perguntei segurando uma gargalhada.


-Você já parou para pensar o quão próximo está nosso casamento?


-O que quer dizer?


  Antes que eu pudesse obter minha resposta August pareceu avistar algum amigo e me arrastou rapidamente até onde nossos pais conversavam, deixando-me sozinha com os dois. Eu não interferia na conversa deles, apenas permaneci parada como se fosse uma estátua. Logo meu pai começou a usar sua magia em mim novamente e o efeito ‘fogueira’ voltou a me atormentar.


-Com licença, - Ouvi August dizer. Procurei por ele para então quase ter um ataque ao vê-lo ao meu lado com um homem que eu não conhecia. –desculpe interromper a conversa do senhor conde Rumplestiltskim, e do senhor, meu pai, todavia tem alguém que gostariam que conhecessem. –Ele então passou um braço ao redor do homem ao seu lado. –Este aqui é um amigo que conheci recentemente: Killian.


  Olhei com mais atenção para o amigo de meu noivo. O homem tinha belos olhos azuis. Profundos como o oceano. Me vi perdida por um instante em seus traços sutis, imaginando qual deveria ser a sensação de tocar sua barba rala ou como deveria ser o som de sua voz. Felizmente este meu último desejo foi realizado em seguida:


-É um prazer conhecê-lo vossa majestade! E o senhor também, senhor conde.


  Tive a leve impressão de que meu pai e Killian já se conheciam, mas isso deixou de se tornar interessante quando a ”fogueira” dentro de mim se tornou um “incêndio” difícil de suportar. Eu desconfiava que meus órgão estavam se derretendo cada vez mais.


  Continuei em silêncio tentando controlar o mal estar que meu pai fazia piorar a cada segundo. Comecei a ver pontos pretos e pensei que ia desmaiar ali mesmo, foi aí que Killian perguntou:


-Será que eu poderia dançar com sua noiva August?


  Durante um segundo esqueci como estava me sentindo e me dediquei a ficar boquiaberta. O novo amigo de August me pareceu ser bem ousado.


-Por mim não há problema algum. E para o senhor? –August virou-se para meu pai.


  Ele me olhou e eu soube que ao chegar em casa eu me arrependeria amargamente de ter nascido.


-Não vejo problema algum também.


-Neste caso, a senhorita aceita dançar comigo? 


  Killian curvou-se esperando que eu aceitasse seu pedido.


  Meu pai olhou-me e eu sabia que ele queria que eu recusasse, porém aproveitei o fato de que ele havia dito que não se importava - Mesmo sabendo que era apenas por causa da presença do rei.- e aceitei.


  Killian sorriu e levou-me até o centro do salão, onde vários casais dançavam. Senti o olhar de meu pai em minhas costas, assim como o aumento do meu “inferno particular”.


-Então, qual seu nome? –Killian perguntou quebrando o silêncio assim que a música começou e nós seguimos seu ritmo.


-Sou Emma. Emma Swan.


                                                                                    ❤



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Autor(a): TrisDosAnjos

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