Fanfic: Beleza Perdida || Vondy | Tema: Vondy
Setembro de 2001
Dulce amava o verão, os dias de descanso e as longas horas com Christian e seus livros, mas na Pensilvânia era absolutamente impressionante. Ainda estavam no final da temporada, em meados de setembro, mas as folhas já tinham começado a mudar, e Hannah Lake fora inundada de salpicos de cor misturadas, com o verde profundo do verão desaparecendo.
A escola começaria nesta estação. Eram veteranos agora, o topo da pilha, um ano e só, antes da vida real começar.
Mas para Christian, a vida real era agora, neste instante, porque cada dia era um flash. Ele não ficava mais forte, ficava mais fraco, não se aproximava da idade adulta, chegava mais perto do fim, por isso não olhava para a vida da maneira que todos os outros faziam. Tinha se tornado muito bom em viver o momento, sem olhar muito longe para o que podia vir.
A doença de Christian tinha tirado a sua capacidade de levantar os braços até a altura do peito, o que tornava impossível fazer todas as pequenas coisas que as pessoas faziam todos os dias, sem pensar duas vezes.
Sua mãe tinha se preocupado por ele permanecer na escola. A maioria das crianças com Distrofia Muscular não passam dos vinte e um anos, e os dias de Christian estavam contados.
Estar exposto à doença em uma base diária era uma preocupação, mas a incapacidade de Christian para tocar seu rosto, na verdade, o protegia de germes que o resto das crianças conseguiam se lambuzar, e raramente perdia um dia de escola.
Se ele segurasse uma prancheta em seu colo, conseguiria, mas prender a prancheta era estranho e se escorregasse e caísse, não poderia se inclinar para recuperá-la. Era muito mais fácil trabalhar em um computador ou deslizar sua cadeira de rodas para perto de uma mesa e descansar as mãos em cima.
A Escola Hannah Lake High era pequena e não muito bem financiada, mas com um pouco de ajuda e alguns ajustes para a rotina normal, Christian iria terminar o ensino médio, e provavelmente iria terminar como o melhor de sua classe.
O segundo horário, pré-cálculo, estava cheia de veteranos. Christian e Dulce sentavam na parte de trás de uma mesa alta o suficiente para Christian utilizar, e Dulce era a sua ajudante voluntária, embora ele a ajudasse mais na classe do que o contrário.
Christopher Uckermann e Alfonso Herrera sentavam-se no fundo da sala também e Dulce ficava com cócegas por estar tão perto de Christopher, mesmo que ele não soubesse que ela existia. Um metro de distância de onde ela estava sentada, apertado em uma mesa que era muito pequena para alguém do seu tamanho.
O Sr. Hildy estava atrasado para a aula. Estava sempre atrasado para sua aula no segundo horário, e ninguém se importava realmente. Ele não tinha um primeiro horário de aula e você poderia geralmente encontrá-lo na parte da manhã com uma xícara de café em frente à TV na sala dos professores.
Mas nessa terça-feira, entrou em classe e sentou em frente à TV que estava pendurada no canto da sua sala de aula, a esquerda do quadro. As TVs eram novas, os quadros-negros e o professor antigos, por isso ninguém prestou muita atenção a ele enquanto estava olhando para a tela, assistindo uma reportagem sobre um acidente de avião. Eram 9h00.
— Silêncio, por favor! — Sr. Hildy latiu, e a sala relutantemente obedeceu. A imagem na tela era de dois edifícios altos. Um tinha fumaça e fogo preto esvoaçante por todo o lado.
— Isso é Nova York, Sr. Hildy? — Alguém perguntou da primeira fila.
— Ei, não é Knudsen em Nova York?
— Esse é o World Trade Center —, disse Sr. Hildy. — Isso não era um avião suburbano, não me importa o que eles estão dizendo.
— Olhe! Há outro!
— Outro avião?
Houve um suspiro coletivo.
— Pu/ta que p — A voz de Christian sumiu e Dulce fechou a mão sobre a boca, enquanto todos eles assistiam outro avião chocar-se do lado da outra torre, a torre que não estava em chamas.
Os apresentadores estavam reagindo bem como os alunos da turma, chocados, confusos, lutando por algo inteligente para dizer enquanto olhavam com crescente horror o que não era claramente um acidente.
Não houve atividades de cálculo naquele dia. Em vez disso, na aula de matemática do Sr. Hildy, os alunos assistiram a história se desenrolar.
Talvez o Sr. Hildy considerasse os veteranos com idade suficiente para ver as imagens que apareciam na frente deles, para ouvir a especulação.
Sr. Hildy era um velho, veterano do Vietnã, ele não media palavras, e não podia tolerar a política. Ele assistiu com seus alunos como a América foi atacada e não piscou um olho. Mas tremia por dentro. Ele sabia, talvez melhor do que ninguém, que custo teria. Seriam vidas jovens. A guerra estava por vir. De jeito nenhum não viria depois de algo assim. De jeito nenhum.
— Knudson não está em Nova York? — perguntou alguém. — Ele disse que sua família estava indo ver a Estátua da Liberdade e um monte de outras coisas.
Landon Knudson era o vice-presidente do corpo estudantil, um membro da equipe de futebol, e alguém que era bem querido e bem conhecido em toda da escola.
— Ucker, sua mãe não vive em Nova York? — Perguntou Alfonso, de repente, os olhos arregalados com a ideia súbita.
Os olhos de Christopher estavam fixos na TV, seu rosto sério. Ele acenou com a cabeça uma vez. Seu estômago estava quente de pavor. Sua mãe não só vivia em Nova York, ela trabalhava como secretária em uma agência de publicidade que estava localizada na Torre Norte do World Trade Center. Ele continuou dizendo a si mesmo que ela estava bem, seu escritório ficava em um piso inferior.
— Talvez você devesse ligar para ela. — Alfonso parecia preocupado.
— Eu tenho tentado. — Christopher levantou seu telefone celular, o que ele não deveria ter em sala de aula, mas o Sr. Hildy não protestou. Todos eles assistiram quando Christopher tentou novamente. — Ocupado. Todo mundo provavelmente está tentando fazer ligações. — Ele fechou o telefone. Ninguém falou.
O sinal tocou, mas todos permaneceram em seus lugares. Algumas crianças começaram a aparecer para o terceiro horário, mas a notícia foi se espalhando por toda a escola e a programação regular não era páreo para o drama. Os alunos que chegavam sentavam em cima das mesas, ficavam contra a parede e olhavam a tela, juntamente com todos os outros.
E, em seguida, a Torre Sul entrou em colapso. Estava lá e depois não estava. Ela se dissolveu em uma nuvem enorme que varreu para baixo e para fora, branca suja, grossa e gordurenta, eriçada de detritos, densa, com a devastação.
Alguém gritou e todo mundo estava falando e apontando. Dulce estendeu a mão e pegou a mão de Christian. Um casal de meninas começou a chorar.
O rosto de Sr. Hildy era como giz com o qual ganhava a vida escrevendo. Ele olhou para seus alunos amontoados em sua sala de aula e desejou que nunca tivesse ligado a TV. Eles não precisavam ver isso. Jovens, inexperientes, inocentes.
Sua boca se abriu para tranquilizá-los, mas sua intolerância para com besteira roubou-lhe a fala. Não havia nada que pudesse dizer que não seria uma mentira deslavada ou que não iria assustá-los mais. Não era real. Não podia ser. Era uma ilusão, um truque de mágica, apenas fumaça e espelhos.
Mas a torre foi embora. A segunda torre a ser atingida, a primeira a ir para baixo. Demorou apenas 56 minutos entre o impacto e o colapso.
Dulce se agarrou a mão de Christian. A nuvem ondulante de fumaça e poeira parecia o recheio do velho urso de pelúcia de Dulce. Era um brinde do carnaval, cheio de algodão barato, distorcido e sintético.
Ela dera um tapinha na cabeça Christian com ele e o braço direito tinha rasgado, vomitando penugem branca difusa em todas as direções. Mas este não era um carnaval. Era um beco sujo, com ruas labirínticas, uma cidade cheia de pessoas cobertas de cinzas. Como zumbis. Mas esses zumbis choravam e gritavam por socorro.
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Quando ouviram a notícia de que um avião havia caído em Shanksville, apenas a 65 milhas de Hannah Lake, os estudantes começaram a sair da sala de aula, incapazes de suportar mais. Correram para fora da escola em massa, precisando de garantias de que o mundo não tinha terminado em Hannah Lake, precisando de suas famílias. Christopher ...
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