Fanfic: Solar Sigel Fleuret | Tema: Originais

Era Skyler, ano 2013…

Era verão, a estação que Solar Sigel Fleuret mais gostava. O clima quente lhe trazia recordações de quando criança, nas praias de Aldebarã, em Perllark, seu país natal. Arvak e Alsvid, seus cavalos brancos alados que podiam galopar pelos céus e por cima das águas, brincavam de correr um atrás do outro enquanto a dona admirava o nascer do sol.

Ah, como era lindo o nascer do sol! Ver a esfera amarela achatada sair do mar no horizonte era fantástico. Diz-se o mesmo sobre o segundo sol, o menor de cor azulada, mas nada era como aquele amarelado que irradiava sobre o dia. Solar manteve o sorriso de satisfação enquanto sentia na pele os primeiros raios do astro.

Os cabelos dourados dela emitiam um brilho fraco, revelando suas emoções positivas. Já Sonny Skryllex, seu amigo de infância que lhe acompanhava na praia, tinha cabelos pretos um pouco azulados e gostava de usar roupas escuras.

Quem olhava de longe imaginava: um é o oposto do outro; e de fato podem até ser em questão de habilidades, mas isso não os impedia de vencer essas diferenças e serem amigos. Na verdade, essa companhia lhes beneficiava em suas muitas aventuras pelo país pérlliko. A fraqueza de Solar, a escuridão, era compensada por meio da força de Sonny; e vice-versa.

De repente ele parou para ver a praia. Solar o acompanhou na ação seguindo até seus pés tocarem a água. Ela estava curiosa para saber o motivo dele parecer ter os pensamentos tão distantes naquela manhã.

“Francamente! O que é isso, parando tão de repente? Hoje ele está muito calado”, pensou ela, aproximando-se um pouco dele, que molhava os pés no mar. “Não é justo você ficar quieto esse tempo todo sem me dirigir sequer uma palavra”, resmungou ela, só para puxar assunto.

“O que não é justo aos seus olhos, afinal?”, disse Sonny num tom casual enquanto a encarava. “Veja o que encontrei. É uma estrela de skylers, não é?”

Ele mostrou a pequena esfera que emitia um brilho amarelo. Solar ficou surpresa. Aquilo era uma joia muito rara, o tipo de objeto que só se ouve falar em mitos e lendas.

“Onde a encontrou?”

Sonny abriu um sorriso por notar como Solar parecia impressionada com o artefato. Ela aproximou o rosto ao ponto de quase tocar a esfera com o nariz.

“Ontem, quando voltamos de nossa jornada ao Vale das Nebulosas, encontrei enganchada entre os cabelos do cavalo.”

Parecia improvável que algo assim tenha acontecido. Solar tinha dúvidas sobre a veracidade daquelas palavras, mas sua atenção estava na “estrela de skylers”, porque se parecia com uma miniatura do sol.

“Porém, não é algo que um garoto deveria estar carregando. Acho que esse é o tipo de coisa que uma garota deveria ter. E, além disso, já tem um tempo que venho te prometendo dar um presente. Isso deve servir…” Ele pegou a mão dela e deu a esfera brilhante. “Queria te dar esse presente como prova de que desejo sermos companheiros para sempre.”

Primeiro ela fez uma cara de surpresa, depois, quando pensou no que estava acontecendo, começou a ficar corada e fez cara de espanto.

“O quê…?”, parecia que as palavras engasgaram na garganta dela.

O que era tão estranho num ato desses? Sonny não entendeu de primeira. Por que Solar ficou tão vermelha e assustada? Será que estava com raiva?

“O que tem de errado?”, perguntou Sonny, relutante, franzindo a testa. “Por que ela está ficando tão envergonhada?”, pensava ele.

“É que… eu… quero dizer… O que significa isso? Você não está brincando comigo, está?”

Solar titubeava mais que em qualquer outra ocasião em sua vida. Mesmo suas mãos e ombros começaram a tremer.

“Claro que não! Esse é meu desejo desde que nos tornamos amigos e começamos a viajar juntos.”

Sonny imaginou que ela estivesse falando de continuarem andando juntos para sempre. Talvez “sempre” fosse um tempo muito longo. Porém, ele não abriria mão de uma companhia tão eficaz. Onde encontraria uma parceira de viagem como ela? Solar era muito poderosa e habilidosa, além de muito inteligente e útil em alguns casos. Qualquer profissional enxergaria seu potencial, se deixasse de lado as partes desastrosas e imaturas.

“O quê?! Está falando sério mesmo?”, disse ela, em tom de alarme. “Sem chance! O que deu nele tão de repente? O que ele está dizendo? Se estiver falando sério, então isso significa que está me pedindo em casamento?” Os pensamentos dela estavam embaralhados e completamente contrários aos de Sonny. Casar era o sonho da maioria das meninas, mas realizar esse sonho sendo tão jovem era algo inesperado demais para Solar. “Desde que nos conhecemos ele tem esse tipo de sentimento por mim? Como eu não pude notar esse tempo todo? Então é por isso que ele faz tanta questão de estar em minha companhia?”

Ela entendeu que “estar junto para sempre” significava um pedido de casamento e essa ideia foi reforçada pelo ato dele em presenteá-la com uma joia tão importante que era a esfera de skylers. Porém, estava um pouco longe de ser a verdade ali.

“O que deu nela? Será que queria tanto uma estrela dessas?”, pensou Sonny, notando que Solar começava a ficar ofegante por causa da ansiedade crescente.

“Por que ele nunca me disse que estava apaixonado por mim? Se tivesse dito antes seria mais fácil eu tomar uma decisão agora. Eu sei que passamos muito tempo juntos, mas… isso não é a mesma coisa que namorar de verdade. Achei que gostasse de Luna… E agora ele já quer pedir minha mão em casamento? Mas… como vou lidar com isso? Eu ainda vou fazer vinte esse ano…”

Enquanto Solar mantinha a mente mergulhada em pensamentos embaraçosos, Sonny sentiu que tudo estava ficando cada vez mais quente. Havia um cheiro de queimado e logo percebeu que suas roupas pegavam fogo.

“Ei, o que você está fazendo?”, gritou ele, pois era ela quem deixara escapar as habilidades de classe fogo e transmitia calor ao ponto das coisas ao seu redor chamuscarem.

“Não fui eu…”, ela nem se deu conta de que sua ansiedade a fez elevar a temperatura do corpo.

“Como não? Você está em chamas também.”

Quando Solar parou para se ver, estava completamente envolvida no fogo.

“Se você não tivesse me dado isso de repente, nada disso estaria acontecendo”, ela esbravejou com todo o nervosismo. Sonny correu para dentro do mar e apagou o fogo de suas roupas antes de acabar se ferindo. “Eu não posso aceitar algo assim agora”, dizia ela cabisbaixa e envergonhada, mantendo as mãos bem fechadas na frente do peito, como se tentasse segurar os próprios sentimentos. “Preciso de um tempo para pensar melhor antes…”, e de repente ela lançou com as mãos, uma bola de fogo na direção dele, gritando: “Isso não é justo!” Esse foi um ato infantil e impensado.

“O quê…?”

Sonny saltou para o lado desviando do ataque e quando se levantou, viu que as roupas estavam um fiasco. Por pouco ficaria nu. Por alguma razão, Solar pareceu mais calma depois daquela ação. Será que ela estava mesmo irritada com alguma coisa que ele disse?

“Tem alguma coisa te incomodando? Se quiser pode desabafar comigo…” Ele saiu da água, agora que ela baixara mais o fogo do corpo e apenas exalava uma fina fumaça. Ele acessou a neuro-pulse ou NP, a pulseira digital em seu braço esquerdo, para materializar novas roupas também.

“Não seja tão íntimo”, ela fingiu indiferença, pois as coisas começaram a ficar estranhas em virtude da situação. “Esse tempo todo agimos como se fôssemos apenas amigos, não? Nós nem combinamos juntos… você é o meu oposto e eu sou o seu, não é mesmo?”, falou ela, abafando o fogo restante nas roupas com as mãos.

“Ah? De onde veio essa agora?” Solar o encarou como se a resposta fosse óbvia demais para ela repetir, ao que ele continuou dizendo: “Bem, basicamente, sim… mas combinamos bem mais agora do que quando nos conhecemos.” Solar baixou a cabeça sentindo que essas palavras eram verdadeiras. Isso significa que eles podiam vencer a barreira das diferenças além da amizade. “Ou vai dizer que você ainda me odeia por sermos opostos em habilidades?”

“É claro que sim! Não de verdade, eu quero dizer…”, ela hesitou um instante, pensando no que acabou de afirmar num ato impulsivo, “mas é que eu não suporto a escuridão”, explicou-se no final.

Um silêncio permeou por alguns instantes. Ambos ficaram pensativos. Sonny não entendia como a conversa havia chegado a esse ponto e Solar só pensava em como ele escondera “seus sentimentos” esse tempo todo. Foi quando ela perguntou uma coisa que estava lhe incomodando:

“Você acha que se nós dois já estivéssemos namorando, daríamos certo?”

“Ah? Que pergunta é essa, do nada? Você não é assim.”

Ela parecia determinada a extrair essa resposta da parte dele. Seu rosto voltou a corar e seus olhos eram incapazes de se direcionar aos dele por mais de alguns segundos.

“Só responda, sem enrolação”, ela insistiu determinada.

“O que tem de errado nela hoje? Esse não é o seu normal. Deve ter acontecido alguma coisa para ter ficado assim”, pensou Sonny, antes de responder: “Você mesma sabe que não”, nesse instante o coração da perlla congelou. “Acabou de dizer que somos o oposto um do outro. Provavelmente ficaríamos brigando o tempo todo, como acontece desde já…”

“Cala a boca! Já entendi, já entendi…”

Agora Solar estava confusa até demais. Como alguém sabe que não daria certo com outro e mesmo assim ainda pede para continuarem juntos para sempre tão de repente? O que Sonny tinha na cabeça? Ele era tão desnaturado a esse ponto?

Ele por outro lado, pensou vagamente se a perlla tinha entendido errado quando falou sobre continuar juntos para sempre. A intenção era permanecer juntos como aventureiros, mas se Solar queria ter outro tipo de relação, não custaria tentar.

Finalmente entendera como a conversa chegara ali. Deu-lhe até vontade de rir, mas teve de se controlar para não irritar a melhor amiga. Preferiu deixar as coisas como estavam e ver onde essa história pararia.

“Mas… não custaria nada tentar… se for o que você quer”, foi o que ele acabou dizendo.

Solar olhou bem nos olhos de Sonny, incrédula. Seu coração bateu mais forte e todas as palavras fugiram de sua mente…

“Isso só pode ser um sonho…”, pensou ela.