Fanfic: Solar Sigel Fleuret | Tema: Originais
Ekoplex, ano de 2015.
“Por que eu disse que precisaria pensar mais no assunto?”
Solar levantou-se no meio da floresta, resmungando a mesma coisa de sempre. Se não tivesse dito a Sonny que precisava pensar antes de dar uma resposta de que estava disposta a namorá-lo, ele não teria seguido outro caminho e desaparecido. Ao menos era assim que ela pensava nesses últimos dois anos e meio.
Arvak e Alsvid, seus dois cavalos, comiam as frutas de um galho caído mais à frente. Ela suspirou sem preocupações ao vê-los por perto.
A luz do dia revigorava os sentidos da garota pérllika. Pouco a pouco sentia o calor dos raios solares esquentar sua pele. E por mais que ficasse tanto tempo debaixo do sol, a pele não bronzeava, pois sugava o calor e o convertia em energia vital. Ela até que queria pegar uma cor, mas depois de tentar o dia todo há alguns anos, acabou por desistir.
Sentada nas folhas secas, observou que a floresta estava muito calma e silenciosa. Isso não era normal. Cadê os animais e os pássaros?
Pegou então um pedaço de pão na mochila que servira de travesseiro durante a noite e segurou-o com a boca enquanto recolhia seus pertences. Depois de comer aquele pão seco quase sem gosto, pensou em chamar os cavalos para continuar a longa trilha.
Aqueles garanhões não podiam se distanciar um do outro, como dois amigos inseparáveis. Solar levou ambos para a jornada por não se tratar de equinos comuns. Poucos sabiam o poder secreto presente neles. Os forasteiros imaginavam que ela levaria mais bagagem naquele que não lhe carregava, embora pudesse guardar tudo no sistema de materialização de sua NP.
Uma NP é a pulseira digital que todos tinham em seus braços, a tecnologia pessoal mais avançada de sua época; sem ela muitas atividades humanas não seriam possíveis. Por exemplo, a manipulação de energia dinâmica, a energia skyler que a tudo dá forma, só é possível por meio do sistema de materialização da NP. Na verdade, quase tudo o que for além das capacidades naturais humanas é realizado por meio da pulseira. Ela apenas precisa ler suas intenções e executar a ordem ou ação. Só tem um porém: o usuário precisa entender o que está fazendo, ou nada acontece. Por isso existem escolas especializadas em aprendizagem de poderes especiais e manipulação da energia skyler, a mais famosa delas sendo a Academia dos Aventureiros na Universidade de Thrower.
Apesar de ter pressa, Solar sentiu que seria desperdício sair dali sem aproveitar um belo banho naquelas águas, pois o pequeno lago era uma fonte termal, e essa garota só se sentia à vontade para banhar-se em águas quentes; ela detestava o frio. Olhou as coisas à sua volta e não viu nada que a impedisse de relaxar um pouco naquelas águas convidativas. Tocando no menu de sua NP, fez as roupas desaparecerem por meio de um efeito luminoso de desmaterialização, e entrou no lago. Era exatamente o que ela esperava: água tão fervente, capaz de escalpelar uma pessoa que não tivesse poderes de classe fogo. Sentiu também certo êxtase e recostou-se a uma das grandes pedras que havia ali, mantendo apenas a cabeça fora d’água. Seus cabelos cor de ouro flutuavam na superfície. Era tão bom que ela acabou liberando um pouco de seu poder e a água começou a esquentar mais ao ponto de fervilhar.
Ao longe o som de um grande pássaro saltando e voando de uma árvore chegou aos ouvidos da perlla. Ela preferiu não se atentar a isso e continuou concentrada no borbulhar da água. Porém, algo a incomodava. O vento soprou as folhas secas da floresta e depois um dos cavalos relinchou por alguma razão estranha. Solar sentia que era observada e no mesmo instante que ouviu o farfalhar de pés nas folhas à beira do lago, lançou uma bola de fogo com as mãos naquela direção.
“Quem está aí?”, gritou.
A bola de fogo acertaria quem a espiava detrás de uma árvore, mas alguém correu na frente e a recebeu. Solar ficou alarmada e se escondeu atrás da grande pedra enquanto escolhia uma roupa no menu da NP.
Com os pés ainda sob a água, a garota perlla vestiu-se de um tecido branco e grosso, um conjunto de macacão que incluía calças, as botas da velocidade, luvas e sobretudo. Havia detalhes dourados em relevo que representavam os raios solares de uma estrela desenhada no busto, que seguiam até os braços e pernas. Esses detalhes em fios de ouro brilhavam como se a energia que oriunda dos poderes dela corresse por ali. Seu cabelo também brilhava de um jeito fraco e suas mãos emitiam fumaça de tão quentes.
A pessoa que ficou por detrás da árvore era uma perlla da água com aparência de alguém com mais ou menos 27 anos. Tinha rosto fino, olhos bem azuis e puxados, cabelo curto, loiro-claro, com um acessório em forma de borboleta lilás nas mechas, vestes justas colorizadas em uma combinação de roxo, rosa, lilás e branco; e havia uma capa vinda da cintura chegando quase aos pés.
Esta saiu correndo em sua direção sacando um cetro dourado preso nas costas. No início Solar estranhou, pois tratava-se de alguém da sua espécie. Se fosse um milenar ou algum qwerty até entenderia o ataque, porque esses dois grupos nunca se deram bem com os perllarks. Nesse instante teve de se defender daquele ataque e logo percebeu que aquela criatura não era uma perlla qualquer. Estava na hora de revelar o segredo de Arvak e Alsvid.
Assobiando para os cavalos ela viu a outra criatura que recebera o primeiro ataque vir em sua direção. Esta era uma perlla do ar com aparência de uma jovem, semelhante à primeira. Tinha queixo largo, olhos castanho-flavescentes pouco puxados, lábios avermelhados, cabelo loiro-rosa esbranquiçado, curto, chegando aos ombros, pele clara e rosada, vestes antiquadas de guardiã como uma armadura de pano com prata e ouro, luvas pretas sem dedos, calça combinando com o resto das vestes e botas pretas.
Solar saiu da água e correu para perto dos cavalos que vinham em sua direção enquanto lançava chamas nas perllas estranhas.
“O que elas pensam que estão fazendo? Por que me atacam?”, pensou enquanto corria no meio da floresta.
As duas perllas lhe alcançaram com facilidade, cada uma com um cetro dourado na mão, e tentaram atacá-la com algum tipo de poder elétrico. Nesse instante Solar estendeu as mãos aos seus cavalos e estes saltaram em sua direção transformando-se em duas lâminas quando uma luz amarelada os envolveu. Assim usou suas lâminas para contra-atacar os raios lançados pelas duas oponentes. Não mais fugiu, agora avançou contra elas. Lutou com bravura e quase queimou a floresta com seus golpes furiosos.
Solar viu aquelas perllas brincarem consigo como se percebessem sua falta de erudição na arte da esgrima. Usava as espadas com pouca destreza, não parecia ser uma profissional no fim das contas. Elas a cercaram e derrubaram, tiraram suas lâminas e prenderam seus braços com os cetros. Isso a deixou indignada ao ponto de segurar os dois bastões e esquentá-los, deixando-os vermelhos. As duas perllas recuaram e lançaram mais ataques elétricos contra ela, fazendo-a se contorcer em um gemido de dor. Foi quando um homem gritou no meio da floresta e as fez parar.
Solar levantou-se no meio do fogo que a rodeava por causa do grande calor transmitido por seu corpo e avistou um homem, um ark, aproximando-se. Ele tinha os cabelos espetados, azul-escuro, seus olhos também eram da mesma cor, vestia-se de roupas grossas azul-marinho, com detalhes brilhantes em relevo representando raios.
“Quem é você? Por que essas coisas começaram a me atacar?”, indagou Solar, preparada para o que pudesse acontecer adiante.
As duas perllas correram para perto do estranho e uma delas contou-lhe algo sussurrando ao ouvido. Ele levantou as sobrancelhas e respondeu a Solar:
“Elas estão dizendo que você feriu-as primeiro.”
“Elas me espionavam enquanto eu me banhava no lago.”
“E isso é motivo para atacar alguém?”
Solar não teve uma resposta definida para aquela pergunta e travou sobre o que iria dizer. O homem estendeu a mão na direção dela, o que a fez ficar em posição de ataque, e o bastão de ouro materializou-se a sua frente.
“Dispensar…”
Quando ele disse isso em voz baixa as duas perllas viraram luz e foram sugadas pelo artefato que ele segurava. Aquilo parecia muito surreal, algo fantástico demais para Solar não pensar se estava sonhando. No cetro apareceram duas estatuetas pequenas das perllas, uma ao lado da outra, perto do topo onde ficavam duas pequenas esferas azuladas empilhadas.
“O que são essas coisas? Como pode prendê-las nesse bastão desse jeito?”, perguntou, franzindo o cenho e mantendo a guarda.
“Elas são perllas, mas não como você. São uma mistura de perllas com qwertys, aquelas estátuas vivas que rondam por aí nos outros continentes. Eu diria que elas são o resultado de um experimento que não deu muito certo, mas que são muito úteis e valiosas para mim e para certa pessoa a quem procuro deter.”
“E quem é essa tal pessoa?”
“O mesmo que sequestrou as outras perllas de meu cetro para arrancar as asas delas. Você já deve ter ouvido falar dele. Chamam-no de ‘colecionador de asas’.”
Não parecia que aquele ark estava mentindo. Solar verificou isso no modo como ele falava, encarando-lhe atentamente. Ela conhecia a fama do colecionador de asas, um homem que arrancava as asas de qualquer humano alado que não estivessem registradas em sua coleção. Ele era procurado por muitos ex-alados em toda Ekoplex.
“Permita me apresentar… Eu sou Sirius Arktórius. E você é…”
A perlla hesitou em dizer seu nome, mas acabou cedendo à mão estendida de Sirius em cumprimento e baixou sua guarda por um instante.
“Solar… Meu nome é Solar Sigel Fleuret…”
Ao tocar a mão dele, ela sentiu algo esquisito. Ele era mais quente. Mas como assim? Ela recuou a mão como se pela primeira vez fosse se queimar e franzindo o cenho, perguntou:
“Sua mão está quente… Mas você manuseia a eletricidade, não é?”
“E você deve manipular ‘o poder do sol’”, disse Sirius com brincadeira, o que a fez pensar se ele só estava debochando de suas habilidades.
Sirius olhou em volta para a floresta em chamas devido à luta que Solar teve contra as perllas-qwerty. Estendendo o cetro para frente fez todas as chamas se extinguirem. Solar até ficou assustada à primeira instância, mas esse sentimento logo deu lugar à admiração.
“Como consegue fazer isso? Habilidades de classe fogo não têm nada a ver com as da classe elétrica.”
Ela falou isso olhando ao redor onde antes havia chamas e quando voltou a atenção para Sirius, este já segurava suas mãos, encarando seus olhos bem de perto. Se ele se aproximasse mais um pouco, tocaria o nariz no rosto dela.
“Você controla o fogo, mas eu controlo a energia que dá origem a ele.”
As mãos dela suaram frias e ela sentiu que seu corpo inteiro perdeu calor. Nunca ninguém antes fez algo assim apenas por tocá-la. Sua mãe lhe ensinou as habilidades baseadas no elemento fogo ao ponto de lhe nomear Solar, aquela capaz de manipular o poder do sol. Claro que não podia mover o astro ou fazê-lo ficar mais quente ou frio, ela só extraía seus poderes a partir dos raios dele e conseguia realizar obras grandiosas com isso.
Ela se afastou de Sirius com medo do que sentiu. Aquilo era impressionante, mas também assustador, pois aquele homem afirmava controlar a fonte de suas energias. Ou seja, ele controlava a energia que mantinha o sol ativo e vivo. Claro que não em sentido literal, mas se Solar era comparada ao astro, Sirius era seu núcleo que o mantinha superaquecido.
“Não precisa ter medo de mim.” Ele aproximou-se outra vez e estendeu a mão na direção dela. Naquele instante o vento sibilou e uma das lâminas douradas de Solar voou direto para a mão dele. Estendendo a outra mão a segunda lâmina voou para esta. “Acho que isso é seu…”, ele falou com um sorriso amistoso.
Para cada habilidade que Sirius revelava, Solar estranhava de início e ao mesmo tempo sentia que eram interessantes de se aprender. Ela queria saber como ele conseguia fazer essas coisas, mas não tinha a humildade de perguntar.
Um pensamento veio para implicar sobre as verdadeiras intenções do forasteiro. Ele poderia estar apenas se amostrando com as habilidades para tentar enganá-la e conseguir algo em troca. Não seria a primeira vez que isso acontecia. Nesses dois anos e meio sozinha na floresta, muitos tentaram lhe ludibriar de várias formas. Não podia cair nessa outra vez.
Ela pegou as lâminas e lançou-as para o lado, ao que flamejaram e do fogo se transformaram em seus dois cavalos.
“Isso é mais impressionante que as minhas habilidades. Como você faz isso? Nunca ouvi falar de cavalos que se transformam em espadas de fogo.”
“Elas não são de fogo”, replicou a perlla, indo na direção dos cavalos para montar em um deles e seguir sua viagem. “Estas são lâminas de ouro pérlliko, o mais precioso do mundo, pois conseguem canalizar meu poder sobre elas. São como seres vivos, concentram energia dentro de si e me abastecem quando não tenho mais forças para lutar. Diferente de mim que extraio energia vital dos raios do sol, essas lâminas extraem energia de duas esferas de skylers.”
Solar apontou para a testa dos cavalos e lá estavam as duas esferas azuladas, feitas de puro skyler. Ela também tinha uma amarela-dourada, presa em um pingente com formato de coração, em uma corrente em volta de seu pescoço; aquela foi-lhe dada por Sonny.
Dizem que muitos objetos feitos de puro skyler foram criados e que muitos deles produzem energia infinita, porém, cada um tem um limite de extração, como uma bobina que gera certa quantidade de energia por vez. Além disso, se a pessoa não souber manusear tal energia o artefato não passará de um objeto qualquer.
Ao revelar essas informações, a perlla queria testar o indivíduo a sua frente. Se fosse um ladrão ou chantagista, uma pequena reação o entregaria. Ela estava atenta a menor das expressões que ele fizesse diante de um objeto tão poderoso e manteve-se preparada para usar o poder daquelas botas velozes para fugir da vista de Sirius, caso esse tentasse alguma coisa.
“Impressionante… Achei que somente astrorianos tivessem coisas assim”, disse Sirius, cheio de admiração.
“E quanto a esta coisa que carrega consigo? Este cetro não tem duas esferas de skylers no topo?”
Sim, havia duas esferas brilhosas e azuis no topo do bastão. As perllas estranhas carregavam cetros semelhantes, mas esse tinha muitos detalhes em relevo, emitia um brilho fraco e tinha aqueles globos pequenos.
“Ah isso… Eu me aventurei por aí e encontrei alguns cientistas que me ensinaram algumas coisas. Foi com eles que formei esse cajado. Costumo chamá-lo de ‘Cetro das Perllas’, mas os cientistas o chamavam de ‘Cetro de Sirius’.”
“E por que o chama de Cetro das Perllas? Não foi você quem o criou?”, indagou Solar imaginando que apenas duas estatuetas representando perllas não eram suficientes para chamá-lo assim.
“Lembra que te falei sobre aquelas duas perllas serem o resultado de um experimento que não deu muito certo?” Solar assentiu com a cabeça e Sirius continuou: “Existem 110 delas. Eu as criei com os cientistas…”
“Espere, como criou essas perllas? Estava brincando com vida humana?”
“Não, não…” Em vista da expressão intrigada de Solar, ele logo justificou suas ações. Brincar com a vida, sua ou de outrem, era um crime sério em Ekoplex. “Tudo o que fiz foi fundir os genes de algumas perllas com o material que constitui o corpo de um qwerty. Digo que não deu muito certo porque era para se tornarem seres sencientes, mas não são. Se fosse comparar que tipo de sentimentos elas conseguem expressar, eu diria que são no máximo como os animais, mas só quando estão fora do cetro, pois nele são apenas como as plantas, sem sentimentos, mas ainda vivas.”
“Então elas são seus animais de estimação?!” O sarcasmo nas palavras de Solar era evidente. Ela imaginava que tipo de pessoa egoísta criaria algo assim e relataria como se não fosse nada de mais.
“Você está entendendo errado”, tentou Sirius mais uma vez se explicar. “Elas não são como nós, mas de certa forma, se você der atenção, falar e conversar, elas lhe responderão, só não conseguem formar uma opinião concreta sobre as coisas. Elas não são independentes como nós, dependem de quem manuseia o cetro para continuarem pensando ou tendo um objetivo.”
“São como os robôs? É isso que quer dizer?”
Sirius coçou a cabeça em embaraço e respondeu:
“Não… Em certas diretrizes são como os robôs, mas em alguns padrões comportamentais, não. Você pode pedir que façam isso ou aquilo, mas se elas não quiserem não realizam o comando. É como se… bem…”, quase não conseguiu mais encontrar um argumento válido para tentar convencê-la e falou a primeira coisa que veio à mente. “É como um animal de estimação que você pede para pegar um objeto e ele só vai se quiser, mas ao mesmo tempo não são como nós que pensamos e decidimos coisas. Eu diria que elas agem por instinto.”
“Em outras palavras, são como animais de estimação em suas mãos.”
Solar notou que Sirius não conseguiria sair do lugar com aquelas explicações. Ela mostrou-se indiferente ao assunto e alisou o cavalo, no qual já havia montado durante a conversa.
“Foi bom conhecê-lo. Boa sorte com a busca pelas outras perllas de estimação.”
Ela passou por ele com os dois cavalos e não olhou para trás. Sirius observou a garota ir-se com os cabelos sacudindo pelo galopar. Alguma coisa lhe dizia que uma boa chance de alcançar seus objetivos de uma maneira mais rápida acabara de ir embora. Foi quando ele sacudiu a cabeça em desconforto e gritou para ela:
“Solar! Espere, espere…”
Ele correu na direção dela e ela freou o cavalo.
“O que ele quer agora?”, pensou.
“Para onde está indo? Não é por uma viagem comum que está galopando, certo? Suas roupas têm o mesmo padrão de vestimentas que eu uso. Você é uma guerreira, talvez seja até da realeza, pela sua elegância dá pra notar…”, a tentativa de elogio improvisado foi para agradá-la de alguma maneira, “… e está em busca de alguma coisa. O que seria?”
Sirius chegou perto do rabo do cavalo e pôs a mão ali. O cavalo relinchou e deu um coice no peito dele jogando-o para longe. Solar rapidamente desmontou e correu para acudir o homem.
“Você está bem?”
Sirius gemeu sem ar, deitado, coçando o peito que ficara com a marca da pata do garanhão. Entretanto, ver uma perlla tão atraente preocupada com ele, o fez sentir-se importante de alguma forma.
“Não foi nada… Acho que só quebrei uma costela ou duas.” Sua voz era forçada por causa da dor.
Ele forçou se levantar para sentar, mas a dor era grande.
“Não se mexa… Eu tenho um item que vai curá-lo.”
Solar correu os dedos pelo menu de sua NP e selecionou um pote que foi materializado por meio de uma luz. Ela abriu o pote e pegou uma das muitas pétalas brancas que havia ali dentro, depois fez o pote desaparecer por meio da NP.
“Você só precisa mastigar essa pétala e a dor irá embora. São pétalas da flor-da-lua.”
A flor-da-lua era bem conhecida entre os perllarks, pois desabrochava durante a noite sob a luz da lua cheia. Elas tinham o poder de curar instantaneamente as feridas das pessoas. A parte ruim de sua existência era a raridade.
Solar colocou a cabeça de Sirius apoiada em seu colo e deu-lhe a pétala. Ele abriu a boca e a pegou com os lábios. Solar observou como ele mastigava e fazia careta pelo gosto ruim, amargo. Alguns segundos depois que a engoliu, seu corpo relaxou e não houve mais necessidade de massagear o peito.
“Sente-se melhor?”, perguntou ela, ainda preocupada.
Sirius hesitou dizer que sim, pois vê-la fitando-o tão atentamente e cuidadosa, deixando aqueles belos fios de cabelo cor de ouro escorrerem na direção dele, alguns até tocando seu rosto, o fez ficar deslumbrado.
No fim teve de dizer algo ou a cena ficaria estranha.
“Agora estou melhor… Muito obrigado…”, e de repente começou a rir-se.
“O que é tão engraçado?”, ela não entendia se ele ria do coice ou de outra coisa.
“É que você mudou seu jeito elegante quando ficou preocupada, apesar de que continua recatada como uma princesa seria.”
Sirius referia-se a forma como a perlla mantinha uma pose, quase como uma modelo que enchia o peito e jogava os ombros para trás antes de começar a desfilar. Ela também colocava a mão no quadril ao falar quando sentia que tinha razão, além de vários outros detalhes pequenos. Porém, era o que a tornava mais feminina e atraente aos olhos dele.
Solar só usou aquele jeito anterior para denotar nobreza em seu sangue, mas depois percebeu que não adiantava fingir ser nobre, apesar de ter nascido na alteza. Era melhor deixar essa distinção de lado e proteger-se de possíveis malfeitores. Ela até aprendeu a agir como a realeza, quase sempre andando como uma modelo, como sua mãe fazia e exigia desde sempre, mas perdeu o costume quando saiu do palácio em busca de Sonny por tantas cidades com pessoas e costumes diferentes.
“Não sei do que você está falando. Sou assim desde que aprendi a falar. E estou longe de ser uma princesa.”
Solar levantou-se um pouco irritada, deixando a cabeça de Sirius cair de seu colo, e caminhou de volta para montar no cavalo. Ainda não tinha certeza das intenções dele, então não era agradável revelar a qualquer um seu status principesco.
“Mas… antes que vá embora de novo…” Ele sentou e virou-se para ela e logo continuou dizendo o que falava antes de receber o coice: “Estou procurando o colecionador de asas porque ouvi falar dos rumores de que ele procura o cetro das perllas, o meu cetro. E depois de ouvir esses rumores foi que minhas perllas sumiram, sobrando apenas aquelas duas comigo. Além disso, dizem que ele sequestrou algumas pessoas em busca de informações sobre o paradeiro do cetro e das perllas. Isso não pode continuar assim, preciso protegê-las, mas não posso fazer sozinho. Você poderia fazer dupla comigo, me ajudar nessa busca? Eu posso tentar ajudá-la em seu objetivo também.”
Solar levantou as sobrancelhas em surpresa e respondeu:
“Como você poderia me ajudar? Estou procurando um amigo que desapareceu há dois anos e meio. Todos os dias o procurei e não achei. Nem ouvi quaisquer rumores sobre seu paradeiro. É como se ele nunca tivesse existido. Como vai me ajudar a encontrar alguém que o sistema não consegue rastrear?”
“O que vai fazer agora? Ninguém sabe nada sobre onde encontrar Sonny. Por que simplesmente não me deixa ir embora?”, ela pensou enquanto o encarava.
“Qual o nome dele?”, indagou Sirius, com insistência.
“Sonny Skryllex, filho de…”
“Sonny?”, Sirius interrompeu, passando por cima da resposta dela. “Ouvi dizer que um tal de Sonny, um ark de cabelos negros e manipulador das habilidades das sombras, foi levado por três irmãos enyos.”
“Enyos? Perllarks músicos?”, perguntou Solar em surpresa, chegando mais perto de Sirius, agachando-se, o que o deixou um pouco sem jeito. Foi a primeira vez que alguém reconheceu seu amigo sem que ela dissesse nada além do nome.
“Nem todos os enyos são músicos, mas sim…”
“Mas… por que o levaram? Não me lembro de ele ter falado em nenhum desses três.” Ela voltou à posição se afastando um pouco dele, pois sentira que estava muito próxima, enquanto pensava no assunto, sentando-se de frente ao rapaz.
“Acho que podemos descobrir se a gente se ajudar daqui pra frente.”
Ele levantou-se do chão e estendeu a mão para ajudá-la a se levantar também. Ela ficou pensativa se poderia confiar nas palavras dele. Mas em todos esses anos não houve qualquer sinal de Sonny e agora um homem estranho apresentava uma dica de onde ele poderia estar. Para ela era um grande passo em sua busca. A questão era se conseguiria encontrá-lo só com essas informações.
“Aceito ajudá-lo se você prometer encontrar Sonny comigo. Não quero apenas mais informações, quero encontrá-lo e salvá-lo desses enyos. Lembro-me de Sonny dizer algo sobre ter sido adotado e que talvez seus pais fossem enyos. Acho que o desaparecimento tem a ver com sua antiga família. Mas se ele os reencontrou, por que desapareceria do nada?”, pensou alto por um pouco. Depois retornou ao assunto, dizendo: “Você me ajudaria com isso?”
Sirius fez que sim e mostrou um sorriso amistoso enquanto mantinha a mão estendida para ela. Solar aceitou a mão dele e levantou-se com sua ajuda. Aquele foi o pacto que fizeram para formar uma dupla.
Autor(a): satrak_aznik
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).