Fanfics Brasil - O acordo. O conto esquecido

Fanfic: O conto esquecido | Tema: Fantasia


Capítulo: O acordo.

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   Pense em um peixinho nadando livremente pelo oceano. Esse peixinho está nadando por águas perigosas, e ele sabe disso, mas acha que se for discreto nada acontecerá. Agora imagine que um tubarão surge na frente desse peixinho.


  Era assim que eu me sentia. Um peixinho de frente para um tubarão.


_Olhe, talvez seja melhor que Ari vá com Fira, não? – Perguntei delicadamente, com a voz levemente tremida.


  Arthur soltou uma risada de escárnio e a menina se agarrou ás minhas pernas, provavelmente tão assustada quanto eu.


_Então agora você não a quer por perto? – Zombou.


_Não foi o que eu disse.


_Não me importa o que você disse. Fique longe de Ariana, faça o se trabalho, é para pagar uma dívida que você está aqui, não para brincar de mamãe e filhinha.


  Reviro os olhos automaticamente.


_Para começar foi o senhor que inventou essa palhaçada de dívida, em nenhum momento eu, realmente, lhe devo alguma coisa. E outra, se eu quiser brincar de mamãe e filhinha, eu brinco. A vida é minha, eu faço o que eu achar melhor. – Retruco exaltada apontando o dedo indicador.


  Arthur parece inicialmente chocado, mas depois isso se converte em raiva. E é aí que as coisas começam a ficar feias.


_Pois bem, não se esqueça que sua irmã ainda está comigo, senhorita Peterson.


  Engulo em seco quando alguns homens se aproximam á pedido de Arthur. Ariana me agarra mais forte, mas é puxada pelos homens sem qualquer delicadeza.


_Não! – Grito tentando pegá-la de volta. – Soltem ela!


  Mais homens se aproximam e me agarram.


_Lilly, pare, ele vai matar você! – João sussurra me impedindo de correr até Ariana, que está se debatendo nos braços de um dos ladrões.


  Por um momento me distraio tentando me soltar das várias mãos que me impedem de ajudar minha amiguinha e quando vejo ela está um pouco mais a frente, Arthur segura seu braço e ela o olha com tanta raiva que penso que há fogo em seus olhos.


_Você vai vir comigo. – O líder dos ladrões afirma, autoritário.


  E é aí que as coisas ficam esquisitas, como se tudo acontecesse em câmera lenta.


  Quando o irmão a puxa em direção á tenda, Ariana grita em alto e bom som “NÃO!”.


  Todos ficaram tão surpresos que eu paro de lutar, os homens param de tentar me deter e Arthur solta a irmã. Ariana, por sua vez, corre até mim e abraça minha cintura, quase me derrubando com o impacto.


  Eu continuo estática, com os braços levemente abertos, olhando para onde ela estava antes. Arthur olha para mim, tão surpreso quanto todos nós. Eu não sei o que está acontecendo. Não faz sentido. Ariana não fala há dois anos, não é? Então por que ela acabou de gritar? O que está havendo?


  Então no extremo silêncio que recaiu sobre o acampamento, Ariana diz em meio ás lágrimas:


_Lilly, eu t-te amo.


  Todo o ar escapa dos meus pulmões e, antes que perceba, estou chorando. Todos estão nos olhando, esperando alguma reação minha.


   Respiro fundo, me abaixo e devolvo o abraço.


_Também amo você, querida. – Sussurro em resposta.


  Então fecho os olhos e me entrego ao momento. Eu não estou sozinha, sei disso, mas as palavras de Ariana são o que me fazem sentir em casa. Sempre ouvi que as crianças são sinceras, e é estranho pensar nisso. Eu só ouvi essas três palavrinhas de uma pessoa em toda a minha vida, e essa pessoa estava mentindo. Receber um “eu te amo” que eu sei, é sincero, me faz desabar. Não de um jeito ruim. Mas não é algo que eu esperava ouvir. Acho que ninguém esperava, já que veio de Ariana.


  Não sei quanto tempo passa, todavia só solto Ariana quando nós duas já paramos de chorar.


 Tudo parece meio aéreo, meio irreal e eu estou entorpecida demais para compreender as palavras que saem da boca de Arthur quando ele se vira e vai para sua tenda.


                             ❀✿❀


_Eu pedi tantas vezes para você não fazer isso! – João ginchou.


  Ele estava me dando um sermão desde o dia anterior por ter levado Ariana no “maldito campo de flores”. Eu não podia contar para ele sore o sonho que tinha tido, tempos atrás, onde aquela menina me aconselhava a fazer exatamente isso. Ela havia dito que as coisas se tornariam mais fáceis, mas tudo ainda está da mesma forma, senão pior.


  Arthur não dá sinal de vida desde o acontecido e os homens estão apreensivos, inclusive eu e a própria Ariana que nem entende direito o que está acontecendo.


_Ok, eu sei, mas eu não achei que pudesse causar confusão! Era só um passeio! – Replico.


  João cruza os braços.


_E o que você vai fazer agora? E se Arthur tiver feito alguma coisa com a sua irmã? E se...


  Somos interrompidos por Beto, um ladrão corpulento e atrapalhado, mas muito gentil. Ele engole em seco e olha para mim. Meu sangue gela e já sei que não é notícia boa.


_O líder está chamando você, Lilly. – Ele diz, com a voz trêmula.


_Ela não vai. – João diz rapidamente.


  Arregalo os olhos.


_É claro que eu vou!


_Não vai não! – Ele insiste. – Não quero te ver morta debaixo de sete palmos de terra!


_Eu tenho que resolver isso tudo. – Explico com calma. – Prometo que volto viva, é só uma conversa.


  Antes que ele possa me impedir acompanho Beto para a maior tenda do acampamento.


  Tentei disfarçar o nervosismo estufando o peito e erguendo o queixo, mas minhas mãos suadas e trêmulas não mentiam. Quando finalmente chegamos Beto me deseja boa sorte e me deixa.


  Respirei fundo e contei até três.


_Mandou me chamar? – Pergunto ao entrar.


  O lugar é incrivelmente organizado, com algo que poderia ser chamado de cama mais ou menos no centro da cabana, uma mesinha onde estavam alguns pertences de Arthur e um baú á direita.


  Ele estava sentado na cama, com a cabeça baixa e os cotovelos apoiados nas pernas enquanto massageava as têmporas.


_Sim. – Diz e se levanta, respirando fundo. – O que foi aquilo ontem?


  Franzi o cenho.


_Perdão?


_Ariana. Como fez ela falar?


  A voz dele soava tão baixa e ressentida que fazia algo dentro de mim se quebrar em milhões de pedacinhos. No fundo ele amava Ariana, só queria o bem dela. E, obviamente, não sabia como fazer isso.


_Eu não fiz nada. Só me aproximei, e nós ficamos amigas. – Respondo simplesmente.


  Arthur sacode a cabeça  e passa as mãos pelo cabelo nervosamente.


_Não, não é possível. Eu tento me aproximar dela e ela está sempre tão distante!


  Encolho os ombros.


_Talvez eu possa ajudar.


  Arthur me olha de forma inquisidora.


_Faria isso?


  Assinto. De repente sinto algo estalar dentro da minha cabeça. Tenho uma ideia.


_Mas com algumas condições. – Aviso.


  Ele para um instante, analisando a situação.


_Certo. Quais são suas condições? – Cede, por fim.


  Sorrio.


_Quero minhas coisas de volta e minha irmã. E que essa ajuda conte como pagamento para a tal dívida. – Digo, revirando os olhos no final.


  Arthur torce o nariz.


_Fechado.


  Dou pulinhos batendo palmas, até que respiro fundo e estendo a mão. O líder olhar para ela sem entender. Reviro os olhos pela milésima vez.


_Não vai apertar? – Pergunto erguendo a sobrancelha.


  Arthur hesita por um momento, mas acaba apertando minha mão.


_Acordo fechado. – Digo sorrindo para ele.


                             ❀✿❀


  Saio da tenda de Safira, onde Helena estava presa. As duas continuam lá, mas agora é por vontade própria. Caminho até o local onde eu e Arthur marcamos.


  Acabei de trocar de roupa, já que estava usando a mesma a séculos e ela já estava insuportavelmente suja. Graças aos céus Safira se apiedou de mim e me emprestou um de seus vestidos. Ela tinha me pedido desculpas diversas vezes por não ter me contado onde Helena estava, mas eu não estava com raiva dela.


  Vou um pouco além da grande árvore e o encontro caminhando em círculos.


_Para que isso? Não é só irmos lá, eu falar com ela e pronto? – Ele pergunta um pouco alterado.


  Coloco as mãos na cintura.


_Claro que não! Temos que ver como vamos fazer isso, não podemos assustar a menina! Lembre-se de que ela é uma criança!


  Ele revira os olhos.


_Você tem problemas mentais. – Afirma semicerrando os olhos.


_E você só percebeu agora? – Devolvo. – Ok, vamos logo com isso. Vamos fazer assim, eu falo com ela e aí te chamo. Pode ser?


_Mas e depois?


_Ué, apenas tente se aproximar. Não é tão difícil.


  Arthur bufou.


_Isso não vai dar certo.


  Ando com determinação e o puxo pelo braço, surpreendendo-o.


_Se continuar sendo pessimista assim, realmente, nada vai funcionar.


  Quando chegamos perto de Ariana peço para que Arthur fique um pouco mais distante para que eu possa falar com ela primeiro. Ele obedece e eu sigo em frente.


_Ei, Ari, seu irmão quer brincar com a gente hoje.


  Ela olha de solsaio para Arthur.


_Diz para ele ir embora, Lilly. – Pede baixinho.


_Mas ele quer tanto brincar! Você não sente saudades de brincar com ele? – Insisto.


  Ariana nega.


_Eu não quero ficar com ele. Ele é mentiroso.


  Franzi o cenho.


_Não quer nem dar uma chancezinha?


  Ela volta a negar.


_Tudo bem. – Digo com um suspiro triste. – Vou falar com ele e já volto.


  Quando me ergo e meus olhos se encontram com o de Arthur ele percebe imediatamente que não consegui, mesmo assim vou até onde ele está.


_Sinto muito, teremos que tentar de novo amanhã. –Falo.


_É melhor esquecermos isso, ela nunca vai me perdoar.


  Penso em pergunta o que, exatamente, ela deveria perdoar, mas lembro que esse é meio que o grande mistério e o motivo de ela ter parado de falar, então digo:


_É claro que vai. Ela só está magoada, mas quando entender que você não fez por mal, vai ficar tudo bem.


  Ele assente e disfarça quando uma pequena lágrima escorre por sua face. Finjo que não percebi pegando sua mão e apertando-a em um sinal de apoio.


_Você vai ver só. Logo logo serão vocês correndo no acampamento e fazendo bagunça. Eu prometo, tudo bem?


  Arthur solta minha mão e simplesmente vai embora para algum lugar. Fico triste por ele, mas logo volto e me junto á Ariana. Em pouco tempo Safira, Helena e João aparecem e se juntam a nós, enquanto brincamos de pique-esconde.


                    ✽Continua...


 



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Autor(a): TrisDosAnjos

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