Fanfics Brasil - A menina do capuz vermelho. O conto esquecido

Fanfic: O conto esquecido | Tema: Fantasia


Capítulo: A menina do capuz vermelho.

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   Devo ter ficado aproximadamente uma hora parada olhando para o nada tentando entender o que tinha acontecido, e mesmo assim tudo que consegui entender foi que aquele lugar, definitivamente, não era a biblioteca de dona Renata.


  Em uma hora eu estava abrindo um livro, na outra estava no meio de um furacão e na outra estava aqui. Não consigo entender como isso aconteceu. Quer dizer, como eu posso estar em outro lugar se eu não saí daquela biblioteca?


  Meu Deus, eu nunca deveria ter entrado lá. Talvez devesse ter ficado no orfanato.


  Sentei-me á sombra de uma das árvores gigantes querendo que tudo isso fosse um sonho muito estranho, no entanto sabia que não era; eu sempre sabia quando estava sonhando.


  Olhei para o livro me perguntando onde estava. Suspirei olhando para o céu azul celeste tentando encontrar coragem para abri-lo novamente.


-Seja o que Deus quiser. –Sussurrei para mim mesma abrindo o livro em seguida.


  Nada.


  Fechei-o e o abri de novo. Nada. Fiz isso mais umas seis vezes até perceber que eu estava sendo completamente idiota.


   Passei os dedos pela página em que o livro estava aberto, decepcionada.


  Onde eu estou? Como eu vim parar aqui? Eu me sentia completamente perdida. Foi então que tomei um susto ao ver que havia um desenho de uma caneta na página que, há um segundo, estava em branco.


  Um perfeito desenho de uma caneta, ela era dourada e tinha as letras L. C gravadas na lateral. Minhas iniciais. A caneta do desenho que tinha acabado de surgir magicamente naquele livro tinha as minhas iniciais. Passei os dedos por cima do desenho um pouco assustada, só para quase ter um ataque cardíaco. Por quê? Sabe o desenho da caneta? Pois é, não era mais um desenho, era uma caneta de verdade.


  Peguei o objeto, incrédula. Como isso era possível? De repente tive uma ideia. Uma ideia bem louca, mas ainda assim era uma ideia. Usando a caneta que eu acreditava ser minha escrevi: ”Que lugar é esse?”  no livro do mal. A pergunta simplesmente desapareceu diante dos meus olhos. Tentei novamente, desta vez perguntando: ”Pode me ajudar?”. A pergunta desapareceu e, quando eu ia jogar o livro longe, uma resposta apareceu. A essa altura eu já estava rezando todas as orações que eu conseguia me lembrar. Tomei coragem e comecei a ler:


“É um prazer conhecê-la senhorita Líria! Respondendo á sua pergunta, posso ajudar sim! Na verdade é para isso que eu existo! Pela pergunta anterior imagino que esteja um pouco perdida, não? Bom, caso não tenha reparado na placa você está em Flórea. Não, você não está no Brasil. Na verdade não está nem no mundo em que cresceu.


  Espero ter ajudado! Até logo!”


  Ok. Eu não sou louca. É absolutamente normal um livro responder alguém.


  Com minhas mãos trêmulas rabisquei outra pergunta na página do livro, que logo foi respondida:


“Como você veio parar aqui?


  Sinceramente? Nem mesmo eu sei, senhorita. A mágica não responde tudo.”


  Ai meu Jesus amado! Ele escreveu “mágica” ou eu estou delirando? Acho que eu vou morrer! Vou me internar no melhor hospício do Rio de janeiro e com direito a tratamento de choque!


  Apavorada continuei meu estranho diálogo com aquele objeto:


“Mágica?”


“Sim, senhorita, mágica. Como acha que estou lhe respondendo? Telepatia?”


“Por acaso isso é um sonho? Ou eu sou mesmo louca? E, por favor, chame-me de Líria.”


  Meu Deus, eu estou sendo simpática com um livro!


“Não LÍRIA, você não está sonhando e não, você não é louca. Nunca foi.  


  Mais alguma coisa?”


“Sim. Como eu volto para a biblioteca?”


  Vi as palavras desaparecerem e darem lugar á uma seta que apontava na direção de uma trilha, ao lado da placa que marcava o início desse tal reino.


  Vamos ignorar o fato de que eu nem tinha reparado que ali tinha uma trilha.


  Fechei o livro guardando-o em minha mochila, juntamente com a caneta, e segui a trilha. Coisa que eu não deveria ter feito. Por quê? Porque andei o dia inteiro tentando sair daquela floresta em vão e agora a noite já havia chegado e eu não conseguia enxergar nem um palmo á minha frente.


  Eu já tinha passado um dia em um lugar desconhecido sem nem ter ideia de como cheguei aqui. Eu deveria sentir saudades da freira Joana? Ou do meu mundo? Não sabia dizer.


  Adivinhem o que aconteceu? Não, eu não encontrei um ogro cor-de-rosa. Não, eu também não falei com uma árvore falante.


  O que aconteceu foi que, enquanto eu tentava chegar á algum lugar onde pudesse pedir abrigo e, quem sabe, comida, começou a chover. Sim, eu sei que sou muito azarada.


  Quando a chuva se tornou uma tempestade com direito a raios e trovões eu desisti de encontrar algum lugar naquele breu e me encolhi debaixo de uma árvore tentando me aquecer.


                             ❀✿❀


  A floresta era fria e cinzenta. A neblina não ocupava todo o espaço, apenas a copa das árvores, impedindo-me de ver o céu.


  Tudo parecia tão sem cor, tão sem vida.


  Eu andava normalmente, mesmo achando aquilo tudo estranho. Os pássaros não cantavam, os grilos tampouco, além de que as borboletas e abelhas tinham sumido, assim como os outros bichos.


  Um estranho barulho ecoou pelo silêncio assustador fazendo um calafrio percorrer meu corpo. O que era aquilo? Será que alguém estava precisando de ajuda?


  Corri na direção do som com uma estranha vontade de ajudar esse alguém que eu nem sabia se existia. A floresta se fechava á minha volta e a neblina ocupava cada vez mais o lugar.


  Parei quando minha “ótima” condição física não me permitiu mais continuar. O estranho foi que, no exato momento que parei apoiando as mãos nos joelhos, vi um vulto atrás de uma árvore próxima.


-Tem alguém aí?


  Ninguém respondeu. Comecei a me arrepender de ter vindo. Eu sendo eu, a idiota.


  Ouvi o barulho de gravetos se partindo, como se alguém estivesse andando discretamente - Pelo menos tentando.


 Queria que a neblina não fosse tão densa aqui.


  De repente uma pessoa usando uma enorme capa negra apareceu bem na minha frente. Meu coração batia acelerado e eu queria fugir dali, todavia meus pés pareciam estar colados no chão.


-Fique longe. –A voz máscula e assustadora falou. Um homem. Eu queria poder ver seu rosto. –Você já destruiu muita coisa. Fique longe.


-Não. –As palavras saíram da minha boca.


  Eu não queria falar aquilo. Não queria nem falar! Como isso aconteceu?


  O ar á minha volta parecia mais rarefeito, provavelmente era por causa do medo que eu estava sentindo.


-Então sofra as consequências.


  E então o emo gótico das trevas veio em minha direção, até aí tudo bem, o problema foi quando ele fez uma das mãos pegar fogo.


  E não ficou só por aí não! Ele começou a tentar acertar bolas de fogo em mim que, desesperadamente, tentei me esconder atrás de uma árvore.


  Antes que o carinha do mal me encontrasse outro encapuzado agarrou meu pulso e me arrastou pela floresta. O que eu estranhei foi quando ele gritou: “Corre!” com uma voz infantil. Quer dizer, eu até tinha achado ele baixinho, mas jamais iria imaginar que fosse uma criança.


  Quando não havia mais nenhum sinal do homem a criança e eu paramos.


-Quem é você? Qual seu nome? –Perguntei ainda perdida com aquela confusão.


 A criança se virou para mim e enormes e hipnotizantes olhos dourados invadiram minha visão.


-Tenha cuidado.


  Acordei com um salto. Estava em pé antes mesmo de abrir os olhos.


 Era uma garotinha. Tenha cuidado, foi o que ela disse. Mas cuidado com o que?


  Eu queria não ter ficado tão hipnotizada pelos olhos dela, queria ter reparado mais em seu rosto.


  Esqueça isso Líria, foi apenas um pesadelo esquisito.


  Aproveitei que já estava em pé e segui em frente. Procurei por algum alimento pela milésima vez em minha mochila, mesmo sabendo que não havia nada comestível ali. Nessas horas eu queria ter algum poder mágico que fizesse... espera aí...


  Peguei o livro dos contos e a caneta dourada e comecei mais uma conversa -Agora eu sabia que isso tudo realmente não era um sonho, nem uma alucinação, mas conversar com um livro ainda era bem estranho.- estranha e surreal:


Você pode me arrumar comida?”


  Após alguns minutos –Com isso eu quero dizer que demorou- ele me respondeu:


“Só mais cinco minutinhos...”


  Espera aí, o que?


  Ele demora para me responder e quando responde ainda responde errado. Eu mereço...


  Mesmo assim escrevi outra pergunta:


“O que?”


“Ãh?”


“Como assim “mais cinco minutinhos”? Não entendi nada.”


“Livros também dormem sabia?”


“Não, não sabia.”


“O que quer de tão importante para me acordar cedo desse jeito?”


“Desculpe-me, não sabia que era cedo, também não sabia que livros dormiam. Mas, enfim, eu queria saber se você pode me arrumar comida.”


  Eu queria rir de mim mesma por fazer uma pergunta tão idiota. Deveria perguntar se tinha como ele me ajudar a conseguir umas roupas secas, não comida. Espera, comida é mais importante que roupas secas. Esqueça o que acabei de dizer.


“Querida o que você acha que eu sou? Uma fada chef de cozinha? A borboletinha confeiteira que faz chocolate para a madrinha? Claro que não posso te arrumar comida!”


  Nossa, que vontade de jogar esse livro mal educado no mar. Isto é, se aqui tivesse algum mar a vista.


“Nossa! Você podia ser mais gentil.”- Escrevi irritada.


“Gentileza e acordar cedo são coisas completamente opostas. Ou eu sou gentil, ou eu acordo cedo. As duas coisas juntas não rola.”


  Ok, tenho que concordar com ele nesse ponto. Mas isso não resolve o meu problema.


  Continuei insistindo:


“Será que não tem nem como me dar uma direção? Uma dica de onde posso achar comida?”


“Guarde-me nessa sua bolsa cafona e olha para a sua frente.”


  -É uma mochila. –Resmunguei enquanto guardava o livro mal-humorado e a caneta.


  Quando olhei para a minha frente, como o livro havia me pedido, dei de cara com um filhotinho de urso que brincava com duas maçãs.


  Ok, filhotes de urso são mansos. Eu acho.


-Olá fofinho! –Comecei a falar com o filhote pensando que tudo bem se ele não fosse manso, pois, por ele ser pequeno, eu provavelmente conseguiria fugir. –Que tal me dar uma dessas maçãs, hein?


-Uuuuoooorrrr! –Ele falou em resposta.


   Isso é um “Sim, eu te dou uma maçã.” Ou um “A única coisa que eu vou te dar serão ossos quebrados”? Queria saber falarursês” nessas horas.


  Cuidadosamente me aproximei do bebê urso e peguei uma das maçãs, que ele havia acabado de soltar.


-Obrigada amiguinho. –Agradeci, como se ele pudesse me entender.


  Perguntei-me se ele agora desejava saber falar “humanês”.


  Quando me virei quase caí para trás. Um enorme urso me olhava com todo o ódio com o qual um urso pode olhar para alguém.


-Oi. Quer uma maçã? –Foi a única coisa que me veio em mente.


  Eu sei que foi bem idiota, mas o que você faria?


-Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuooooooooooooorrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!!!!!!!!!!!!


  Isso com toda a certeza significou um “Eu vou te matar!”.


  Corri pelo único lado disponível: a esquerda.


  Naquele momento eu me senti como quando corria com medo das vozes em meu pesadelo e já aviso que não é nada melhor na vida real. Ainda mais quando você dá de cara com um paredão de pedra, isso aí um paredão de pedra.


  Agora é oficial, eu sou muito azarada.


  Na hora que me virei para correr para outro lado já era tarde demais, a mamãe ursa - Ou papai urso. - já ocupava minha passagem. Olhei para aquele animal gigantesco e a única coisa que consegui pensar foi em como eu odiava ter entrado naquela biblioteca. E então, só para piorar a situação, o ursão - Ou ursona, é bom ressaltar que eu não sei ver o sexo dos animais. - urrou:


-Uuuooooooooooooooooooooooooooooooooooorrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!!!!!!!!


-Aaaaaaaaaaaaaaaaaah!!!! –Meu grito de pavor misturou-se ao do animal.


  Foi então que uma mão pegou meu pulso e me arrastou para trás de uma árvore não muito próxima.


  Uma criança. Se eu me lembrei do meu pesadelo? Claro que não! Imagina!


  Exatamente como no meu pesadelo, a criança usava uma capa. Devo dizer que não era uma capa gigante e preta, e sim curtinha e vermelha. Justamente pela capa ser curta eu podia ver que a criança usava um vestidinho branco encardido, ou seja, era uma menina. Enquanto eu tentava recuperar o fôlego a menina tentava avistar o urso, provavelmente tentando se certificar de que estávamos seguras.


-Me diz que você tem um plano, por favor. –Falei quando ela olhou para mim.


  A menina tinha o cabelo escuro preso em duas tranças que, por ela estar usando o capuz vermelho, estavam jogadas sobre os ombros, seus olhos eram de um azul escuro lindo, seu cabelo era extremamente negro e ela tinha um rostinho de boneca de porcelana.


-Eu tenho um plano. Só não sei se é bom. –Ela respondeu arfando.


-Me diga qual é e eu falo se acho que ele é bom ou ruim.


-Meu plano é...


  Não pude ouvir a resposta dela, pois o urso havia acabado de nos achar e, mais uma vez, urrou.


-Qual é o seu plano mesmo? –Sussurrei olhando apavorada para o animal, assim como a menina.


-Correr. –Ela sussurrou em resposta antes de ouvirmos mais um urro assustador.


-Norte, sul, leste ou oeste?


-Sul.


 Então nós duas corremos para o sul como nunca havíamos corrido antes.


-Ótimo plano! –Gritei enquanto desviava de galhos, raízes, troncos, plantas e animais.


-Obrigada! –Ela gritou em resposta.


  Só paramos de correr quando chegamos a uma vila, mesmo que o urso tivesse desistido de nos perseguir muitos quilômetros antes.


-Qual é o seu nome? – Perguntei arfando.


  A menina tirou o capuz vermelho e me olhou de cima á baixou como se procurasse alguma característica específica em mim.


-Você deveria tomar mais cuidado quando anda pela floresta. Se eu não tivesse aparecido você provavelmente estaria na barriga daquele monstrengo.


-Pode deixar, tomarei mais cuidado daqui para frente. –Respondi antes de repetir minha pergunta. - Qual é o seu nome?


-É Helena.


                   ✽Continua...


 


 


 



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Autor(a): TrisDosAnjos

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