Fanfic: Ucker (ADAPTADA) | Tema: Vondy

Dois dias depois...
— O quê? — Christopher perguntou com uma voz lacônica, sem tirar
os olhos da TV. Na tela, um jogo de hóquei se enfureceu, alguém contra
alguém. Não, eu sinceramente não me importava o suficiente para
descobrir quem estava jogando.
Nós voltamos para Portland há dois dias e tínhamos voltado para
a nossa rotina habitual, com apenas uma ou duas diferenças de
comportamento menores.
— Hum? — Eu perguntei, o dedo brincando sobre a tela do meu
e-reader.
— Você fica me olhando estranho.
— Não, eu não fico.
— Sim, você fica. — Ele se mostrou indignado, dando-me os
olhares laterais impacientes. — Você vem fazendo isso todos os dias.
— Eu não fico. Você está imaginando coisas.
Ele não estava imaginando coisas. Desde aquele dia em Coeur
d'Alene, as coisas estavam sendo diferentes. Eu tinha estado
diferente. Eu não conseguia ver, ouvir, ou estar perto dele sem reagir
de maneiras que eu sinceramente desejava não fazer. Ao contrário das
minhas esperanças, os sentimentos não haviam se dissipado. Em vez
disso, eles pareciam ter se estabelecido para durarem, afundando mais
e mais no meu coração e mente. Todos esses vislumbres de sua psique
e seu passado conturbado tinham mudado as coisas de forma
irrevogável. Tanto na forma como eu olhava para ele, e com que
frequência. A verdade é que essa idiota e horrível paixão, ou seja lá o
que era, provavelmente, se mostrava em meu rosto toda vez que eu
virava no seu caminho. Certamente parecia como sendo isso.
— Eu não vou surtar novamente ou algo assim, Dulce. — Ele
disse. — Relaxe.
Uma pausa.
— Não, eu sei. Eu não estou preocupada com isso.
— Então pare de olhar para mim. — Ele resmungou.
— Eu não estou! — Eu protestei, dando uma olhada.
Ele afundou ainda mais para baixo, no canto do sofá, uma
carranca embutida em seu belo rosto. Jeans e uma camisa Henley
preta formavam um traje casual para Christopher usar em casa. Não
duvidava que um modelo masculino pudesse estar usando este traje
também. O homem tinha show e um estilo inato. Com meu cabelo
desordenadamente amarrado em cima da minha cabeça e óculos
sentado no fim do meu nariz, eu provavelmente parecia uma forte
candidata para a senhora louca dos gatos. Dê-me uma ninhada de
gatinhos e eu estaria pronta.
Eu coloquei o meu e-reader de lado, dando-o como uma causa
perdida. Com ele na sala, eu aparentemente tinha a capacidade de
concentração de uma criança de quatro anos de idade, carregada de
açúcar. Mas também, eu tinha, de fato, vindo aqui por um motivo
especial.
— Você não ligou para seu irmão de volta.
— Hmm.
— Ele ligou duas vezes.
Um encolher de ombros.
Rios minúsculos de chuva escorriam pelo lado de fora da janela
e um poste de luz brilhava na distância. Clima frio e úmido, típico para
essa época do ano. Apenas o pensamento de como estaria do lado de
fora foi o suficiente para me fazer tremer.
— Eu poderia pegar o telefone para você se quiser. — Eu disse. —
Eu estava prestes a ir buscar algo para beber.
Ele alisou o cabelo para trás com a palma da sua mão.
— Por que você está aqui? Você normalmente se fecha em seu
quarto à noite.
— A minha presença aqui é um problema?
— Não disse isso. Apenas querendo saber o que mudou.
Muito tinha mudado. Muito e, em seguida, um pouco mais além,
a maior parte dos quais eu ainda estava tentando descobrir. Nenhuma
conclusão pura havia ainda sido apresentada. Eu poderia ter mentido
um pouco sobre não estar preocupada com ele. Ele parecia bem. Não
queria dizer que não era ainda o meu trabalho manter um olho nele. O
funeral e seu grande golpe ainda estavam frescos.
— Nada mudou. — Menti. — Só fiquei entediada sozinha, eu
acho.
Eu puxei meu grande cardigã verde velho e confortável mais
apertado em minha volta, me sentindo insegura. Além disso, os meus
faróis estavam altos por algum motivo. Não vamos explorar o
porquê. Mas a minha irritação era um dado adquirido, eu
provavelmente poderia controlá-la simplesmente respirando, tamanha
era a glória de disposição de Christopher. Na verdade nunca deveria ter me
preocupado antes, no entanto. Eu devo estar ficando mole. Talvez eu
não devesse ter descido. Talvez eu deveria abortar a missão gastartempo/
verificar ele e recuar para o meu quarto.
— Ok. — Ele disse.
Era isso. Todo esse tumulto interior e ele não podia sequer ser
incomodado dizendo uma palavra inteira com relação a minha
presença. Eu acho que ele realmente não se importava.