Fanfic: O Resgate - Adaptada AyA | Tema: Rebelde
No carro, ainda à frente da tempestade, Anahí recordava a visita ao médico, nesse mesmo dia, sentada na sua sala enquanto ele lia o relatório sobre Kyle.
Criança do sexo masculino, com quatro anos e oito meses de idade à data dos exames médicos... Kyle, uma criança bonita sem deficiências físicas visíveis na cabeça e na zona do rosto... Não há registros de traumatismos cranianos... gravidez descrita pela mãe como normal...
O médico continuou a ler ao longo dos minutos seguintes, descrevendo os resultados específicos dos vários testes, até que, finalmente, acabou.
Apesar de o Q.I. se encontrar dentro dos padrões normais, a criança está profundamente atrasada quer ao nível da linguagem receptiva quer ao nível da linguagem expressiva, provavelmente, uma perturbação do processo auditivo central, se bem que a causa não possa ser determinada... Capacidade linguística avaliada relativa a uma criança de vinte e quatro meses... Eventuais capacidades lnguísticas e de aprendizagem desconhecidas a esta data...
Mais ou menos como as de uma criança que acaba de começar a andar, não podia ela deixar de pensar.
Quando o médico terminou a leitura, pôs o relatório de lado e olhou para Anahí com simpatia.
— Por outras palavra - afirmou ele, falando devagar como se ela não tivesse compreendido o que acabara de ler - O Kyle tem problemas de linguagem. Por qualquer razão, não sabemos qual, não é capaz de falar nos padrões adequados ao seu nível etário, conquanto o seu Q.I. seja normal. Nem é capaz de perceber a
linguagem equivalente às outras crianças de quatro anos.
— Eu sei.
A convicção da sua resposta apanhou-o desprevenido. Parecia que ele teria esperado uma discussão, uma desculpa ou uma previsível série de perguntas. Quando se deu conta de que ela não ia dizer mais nada, clareou a garganta.
— Esta nota aqui se refere a já lhe terem sido feitos testes em outro centro. — Anahí acenou com a cabeça.
— É verdade.
O médico vasculhou nos papéis.
— Esses relatórios não se encontram no arquivo dele. Não lhes entreguei.
Ergueu ligeiramente as sobrancelhas.
— Por quê?
Ela pegou na carteira e a colocou no colo enquanto pensava.
— Posso ser franca?
Ele estudou-a uns momentos antes de se reclinar na cadeira.
— Faça o favor.
Ela relanceou os olhos pelo filho antes de encarar o médico outra vez.
— O problema do Kyle tem sido mal diagnosticado ao longo destes dois últimos anos. Tudo, desde surdez a autismo, a disfunção de desenvolvimento difuso, a descoordenação deficitária da atenção. Com o tempo, nenhuma destas coisas parece ser exata. Compreende o quão difícil é para uma mãe ouvir semelhantes coisas sobre o filho, acreditar nelas meses a fio, investigá-las a fundo e acabar por aceitá-las antes de lhe dizerem que estavam erradas?
O médico não respondeu. Anahí olhou-o nos olhos e fixou-os antes de continuar.
— Sei que o Kyle tem dificuldades de linguagem e, acredite, li tudo sobre problemas do processo auditivo. Com toda a honestidade, provavelmente li tanto quanto o senhor sobre este assunto. Não obstante, quis que as suas capacidades delinguagem fossem testadas por uma fonte independente para eu poder saber exatamente como ajudá-lo. No mundo real ele tem de se comunicar com mais pessoas para além de mim.
— Então... Nada disto é novidade para você.
Anahí acenou com a cabeça.
— Não, não é.
— Está em algum programa de reabilitação?
— Trabalho com ele em casa.
Ele fez uma pausa.
— Vai a consultas com algum especialista da fala ou de comportamento, alguém que já tenha trabalhado com crianças como ele?
— Não. Fez terapia três vezes por semana durante um ano, mas parece não ter surtido efeito. Ele continuava atrasado, portanto tirei-o em outubro passado. Agora sou só eu.
— Compreendo.
Era óbvio, pela forma como falou, que não concordava com a decisão dela. Ela semicerrou os olhos.
— Tem de entender: embora este exame mostre que o Kyle se encontra ao nível dos dois anos, houve uma melhora relativamente ao seu estado anterior. Antes de trabalhar só comigo nunca tinha havido progresso.
Na verdade, era mais fácil proteger Kyle de um médico do que dela própria. Estava, de fato, mais preocupada do que deixava transparecer. Não obstante o seu filho ter melhorado, a capacidade de falar como uma criança de dois anos não era motivo de regozijo. Kyle faria cinco anos em outubro.
Ainda assim, ela recusava-se a desistir, conquanto trabalhar com o filho fosse a coisa mais difícil que jamais fizera. Não só desempenhava as tarefas normais(fazer a comida, levá-lo ao parque, brincar com ele na sala de estar, mostrar-lhe lugares novos), mas também o treinava nos mecanismos da fala durante quatro horas por dia, seis dias por semana. Os seus progressos, embora inegáveis desde que começara a trabalhar com ele, dificilmente se consideravam sem espinhos.
Alguns dias, o menino repetia tudo quanto ela lhe pedia, outros, nem dizia palavra. Horas havia em que ele compreendia coisas novas com muita facilidade, outras em que parecia mais atrasado do que nunca. A maior parte das vezes era capaz de responder a perguntas começadas por "o quê" e "onde"; mas as perguntas "como" e "por que" continuavam incompreensíveis. Em termos de
diálogo, a corrente de pensamento entre dois indivíduos, não passava senão de uma mera hipótese científica, muito para além das suas capacidades.
No dia anterior tinham passado a tarde nas margens do rio Chowan. Ele gostou de observar os barcos cortando água a caminho da baia Batchelor, e isto permitiu uma mudança na sua rotina habitual. Por norma, quando trabalhavam, ele costumava ficar preso a uma cadeira na sala de estar. A cadeira ajudava-o a concentrar-se.
Ela escolhera um lugar bonito. As nogueiras alinhavam-se ao longo das margens. Estavam sentados, só os dois, sobre a terra coberta de trevos. Kyle olhava fixamente a água. Anahí registrou cuidadosamente no diário os progressos do filho e terminou rabiscando umas últimas anotações. Sem levantar os olhos perguntou:
— Vês alguns barcos, meu amor?
Kyle não respondeu. Em vez disso, ergueu no ar um pequeno jato, fingindo fazê-lo voar. Tinha um olho fechado e o outro fixo no brinquedo que tinha na mão.
— Kyle querido, vê alguns barcos?
O rapazinho fez um pequeno ruído de aceleração com a garganta, o som da simulação de um motor aumentando a potência. Não estava prestando atenção à mãe.
Ela dirigiu o olhar para água. Não se viam quaisquer barcos. Inclinou-se e tocou-lhe na mão certificando-se de que obtinha a sua atenção.
— Kyle? Repita: "Não vejo barco nenhum”.
— Avião. (Vião)
— Sim, é um avião. Repete: "Não vejo barco nenhum."
Ele levantou o brinquedo um pouco mais no ar com um olho ainda posto nele. Após uns momentos voltou a falar.
— Avião a jato. (Vião jato)
— Sim, está segurando um avião.
— Avião a jato. (Vião jato)
Autor(a): adaponny
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Ela suspirou. — Sim, um avião a jato.Ela olhou para o seu rosto tão perfeito, tão bonito, parecendo tão normal. Com um dedo voltou-lhe o rosto na sua direção. — Mesmo estando aqui fora ainda precisamos trabalhar, está bem?... Tem de repetir o que eu te digo ou voltamos para a sala de estar, para a tua cadeir ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 3
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Jéssica Nascimento Herrera Postado em 10/11/2016 - 02:55:26
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Jéssica Nascimento Herrera Postado em 08/11/2016 - 00:45:25
Poooosta maaais
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fersantos08 Postado em 07/11/2016 - 22:29:43
Oiie Primeira leitora! Amei a sinopse *-* vou ler os capitulos ! Posta maaiiis